Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Zangado, o adjetivo persistente

As reportagens da imprensa brasileira, direto da Copa do Mundo na África do Sul, referentes à seleção canarinho têm se destacado, em grande parte, por um adjetivo direcionado ao técnico Dunga: zangado. Não que ele seja um exemplo de simpatia, mas ‘forçar a barra’ e mostrar o quanto o comandante do time verde e amarelo é invocado chega a ser irritante e tendencioso. É difícil saber como é o tratamento nos bastidores durante as coletivas e os treinamentos – se realmente se comprova essa ‘fama’ de Dunga. No entanto, as imagens editadas mostraram mais poder de argumento no off do repórter (a sua fala) do que um registro filmado com áudio que certifica o quanto é zangado o técnico. A verdadeira prova cabal.

Não querer mostrar jogadas ensaiadas é direito do técnico, é do jogo. Fora isso, Dunga responde todas as questões, porém não abre gratuitamente um sorriso. Aliás, é pago para treinar e não para posar de bom moço e ser estampado em capa de revista de moda. Em modo geral, a mídia está focando na falta de cordialidade de Dunga e as suas respostas que não saciam necessidades editoriais dos veículos de comunicação. Cabe ao diferenciado repórter coletar informações únicas nesses momentos, o que seria o momento de marcar seu golden goal.

As contestações quanto ao trabalho do mandatário das quatro linhas da seleção precisam estar mais focadas nos resultados, em possíveis erros táticos. Claro, temos que considerar que, no Brasil, um técnico de seleção de futebol é praticamente um cargo abaixo ou da mesma envergadura que o de presidente da República. A intensidade das exigências é semelhante. No entanto, elegância não ganha jogo; capacidade, sim. Isso é que precisa ser averiguado, questionar e demonstrar à audiência se isso está sendo ou não efetivado por parte do técnico. O mau humor da imprensa com o zangado Dunga é uma questão a ser resolvida fora de pauta, ou melhor, ‘fora de campo’.

Notícias perdem de goleada

Aliás, um grande exemplo de que elegância e liberdade não são essenciais foi o time de Carlos Alberto Parreira na Copa do Mundo na Alemanha em 2006. Foram escancarados todos os treinos e a imprensa pode acompanhar passo a passo a seleção, bem como a torcida presente por lá. Sabia-se até o que o Ronaldo ‘Fenômeno’ tinha tomando de café da manhã. Praticamente um reality show da seleção brasileira, uma exposição demasiada. E o resultado, todos sabemos: um fiasco. Eliminado pelo ‘paredão francês’ e pela meia do lateral Roberto Carlos, que insistia em cair no momento do gol do atacante Henry.

Que se dê início a uma partida com matérias sem julgamentos pessoais. O jogo tem que ser limpo e as notícias, em detrimento de rusgas, estão sofrendo uma derrota, e de goleada. Além do mais, o ‘Ministério do Bom Senso’ adverte: imprensa zangada traz males à boa (útil) informação.

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Jornalista e radialista, Porto Alegre, RS