Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Zuenir Ventura

‘Pena que ‘Um só coração’ tenha acabado. Mesmo sem assistir a todos os capítulos, não tenho dúvida, pelo que vi, de que foi uma obra de arte televisiva para nenhum homem de letras botar defeito. Quase cult, cheia de referências literárias, com diálogos sofisticados e personagens da elite paulista da primeira metade do século passado, a minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira transformou-se num sucesso de crítica e de público. Desmentindo o preconceito de que na televisão inteligência e bom gosto não dão ibope, bateu recordes de audiência, embora sem horário certo para ir ao ar. Às vezes ia tarde da noite.

Quando é que Mario e Oswald de Andrade poderiam imaginar que a Semana de Arte Moderna, que em 1922 contou com meia dúzia de gatos pingados, iria chegar à casa de quase 20 milhões de pessoas? Oswald dizia que ‘a massa ainda comerá o biscoito fino que eu fabrico’. Como ele reagiria vendo-se devorado pela massa, ao lado de Tarsila, Anita Malfatti, Paulo Prado, entre outros que nunca haviam saído dos livros de literatura e das galerias de arte? No museu onde estão alguns quadros que apareceram na minissérie, como o auto-retrato de Modigliani, presente de Ciccillo Matarazzo a Yolanda Penteado, a freqüência aumentou consideravelmente.

Ainda é grande a resistência que intelectuais manifestam em relação aos escritores de novelas e minisséries – que aliás nem são chamados como tais. Não se fala: ‘as escritoras Glória Perez e Maria Adelaide’ ou ‘os escritores Gilberto Braga e Manoel Carlos’. E, no entanto, eles são uns craques da escrita, dignos de admiração não só porque produzem por dia o que a gente não consegue em uma semana, mas também pela excelência artística de muitos trabalhos seus.

Num jantar em São Paulo que, pelo clima, poderia estar na minissérie, pessoas que conviveram com os personagens reais lembravam aqueles anos dourados. Maria Adelaide estava feliz com o sucesso. A anfitriã, a escritora Edla Van Steen, recordava sua amizade com o casal Matarazzo e contava que um dia quis saber o nome de um pintor: ‘Ciccillo, de quem é esse quadro?’. Resposta: ‘É meu.’ Era um mecenas que se sentia ao mesmo tempo dono e autor da obra que comprava.

Alguém sugeriu que Adelaide escrevesse sobre o Rio. Que tal os anos JK? Por coincidência, ela já ia apresentar o projeto à TV Globo, pois acredita que a história e a época têm tanto ou mais glamour do que as de ‘Um só coração’. O Rio agradece, mesmo considerando que foi Juscelino quem nos fez perder a condição de corte.’



Cristina Padiglione

‘Tudo valeu a pena em ‘Um Só Coração’, exceto a maquiagem’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/04/04

‘Como diria a Hebe Camargo – aliás, mencionada no penúltimo capítulo da minissérie -, Um Só Coração foi uma ma-ra-vilha. O grande problema da produção foi de fato a preguiça – melhor seria atribuir a falha ao orçamento – da maquiagem, que manteve quase todos os personagens em puro formol durante três décadas. Quando a platéia se lembra do trabalho feito com Regina Duarte em Chiquinha Gonzaga, a frustração com a caracterização dos ‘velhinhos’ de Um Só Coração é inevitável.

Mesmo realizada em ritmo mais caprichado que as novelas, minissérie não é produto que escape tanto assim das rédeas industriais da TV. E é dentro desse contexto que vale bem a pena aplaudir a performance de alguns nomes no elenco, a começar por Cássia Kiss e Antônio Calloni. Ela, sim, só com uns fios brancos e mesmo grávida, conseguiu nos convencer de que sua Guiomar Penteado envelhecera 30 anos. Genial, dona Cássia. Quanto a Calloni, impossível não se encantar com alguém que já nos convenceu ser italiano (Terra Nostra), depois marroquino (O Clone), e agora se mostra perfeito como nordestino. Qualquer Chateaubriand que venha a seguir, incluindo o do (competente) Marco Ricca no filme de Guilherme Fontes, sofrerá a árdua comparação com esse Chatô que Calloni nos apresentou.

Também são dignas de bis as interpretações de Ana Lúcia Torre, a brilhante Dona Sawa, a breve participação de Camila Morgado como Cacilda Becker e o comovente Davi de Carlos Vereza. Também foi bom de ver a Tarsila Amaral de Eliane Giardini, o Oswald de Andrade de José Rubens Chachá, a Anita Malfati de Betty Goffman e o Mário de Andrade de Pascoal da Conceição, sem esquecer da Elvira de Mika Lins e do coronel Totonho de Tarcísio Meira.

Diante de todo esse time, como não reparar na falta de comoção da belíssima Maria Fernanda Cândido ou do bonitinho Erik Marmo? Cada cena dele ou dela parecia tão fake, que chega a dar pena.

Em tempo: o figurino e a direção de arte fizeram bonito. E o Ibope respondeu bem, apesar do horário ingrato, com patamar de 33 pontos na Grande São Paulo (1,63 milhão de domicílios).’



Silvana Arantes

‘Minissérie abre TV a celebridades teatrais’, copyright Folha de S. Paulo, 8/04/04

‘Intelectuais incendiários na vida real, os escritores modernistas Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945) levados à ficção pela minissérie global ‘Um Só Coração’ contribuíram para encurtar a trincheira da disputa ‘ator de teatro’ versus ‘ator de TV’.

Os intérpretes de Oswald (José Rubens Chachá, 49) e de Mário (Pascoal da Conceição, 50) são grandes nomes do teatro paulistano que nunca haviam aparecido na tela da Globo.

Conceição tornou-se ator nos anos 80, quando abandonou um emprego no Banco do Brasil pelo trabalho não-remunerado com o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. Com Zé Celso, respondeu até a processo, por uma peça baseada em poema de Oswald de Andrade.

Pela apresentação de ‘Mistérios Gozozos’ em Araraquara (SP), em 1995, diretor e atores do Oficina foram acusados de aviltar valores e objetos religiosos. Em 2000, foram absolvidos.

‘Trabalhar no Oficina tão profundamente durante tantos anos me preparou para fazer com a devida humanidade esse personagem’, diz Conceição.

São Paulo

O ator diz que, durante as gravações, teve sempre presente o objetivo de ‘representar bem os atores de São Paulo, o teatro de São Paulo’. E serviu-se da nostalgia de sua cidade para a passagem em que a minissérie relatou a morte do escritor, por exemplo.

Apenas a voz de Conceição seria usada na cena, com a narração de ‘Poemas da Amiga’, em que o escritor elege os lugares de São Paulo onde gostaria que seu corpo sem vida fosse enterrado.

Como a leitura era em ‘off’ (sem imagem simultânea), o diretor da cena supôs que Conceição teria o texto à mão. Mas o ator preferiu decorá-lo e dizê-lo pensando em seu próprio afeto por São Paulo e no fato de que ‘estava longe da cidade, do Teatro Oficina, dos amigos, de casa’. O resultado, segundo Conceição, ‘é essa emoção verdadeira, que a televisão e qualquer lugar quer’.

Antes de viver o papel de Oswald em ‘Um Só Coração’, Chachá interpretou-o no teatro, em ‘Tarsila’, escrita por Maria Adelaide Amaral, co-autora da minissérie, com Alcides Nogueira.

Chachá aceitou o convite para trabalhar na televisão sem negar o ‘preconceito velado que as pessoas de teatro têm das que trabalham na TV’. No desenrolar das gravações, o ator reconsiderou sua expectativa -’Conheci atores oriundos de TV que são maravilhosos’- sem abandonar a convicção de quem escolheu o palco como o seu lugar definitivo. ‘A primeira coisa que eu dizia para esses atores era: ‘Pô, você é tão bom! Por que não vai fazer teatro?’, conta Chachá e ri, ironizando a si mesmo.

Outro veterano do teatro paulista que fez sua estréia na Globo é Leopoldo Pacheco, 43, intérprete do personagem Samir.

Pacheco protagonizou no teatro a montagem de ‘Pólvora e Poesia’, escrita por Alcides Nogueira. O ator recebeu o Prêmio Shell pela interpretação, e o autor ficou com vontade de apresentá-lo à Globo. Pacheco diz que gostou da idéia de ser apresentado, embora receasse o formato industrial de produção dramatúrgica.

Os receios se dissiparam com a prática. ‘Quando assisto, percebo que estão lá as sensações que eu tinha ao interpretar para a câmera.’ A popularidade da minissérie -que chega hoje ao último capítulo havendo conquistado um lugar entre as maiores audiências da Globo desde a sua estréia, em janeiro- deixou Pacheco em ‘uma situação, no mínimo, curiosa’.

‘As pessoas na rua vêm me dizer que sou ótimo ator, que fiz um lindo trabalho, mas não sabem quem eu sou’, diz. Não há mágoa na constatação de Pacheco sobre seu anonimato para o grande público, depois de 23 anos de carreira teatral. ‘O teatro tem cada vez menos público. Tenho noção de até onde chega esse alcance.’

Conceição, Chachá e Pacheco dizem que encerraram a primeira experiência na tela da Globo sem arrependimentos e com o desejo de repeti-la. Conceição/Mário anda até rememorando uma frase de Oswald/Chachá: ‘A massa ainda vai comer o biscoito fino que eu fabrico’.’



TALK SHOW NA RUA
Carol Knoploch

‘Goulart terá sofá colorido na Praça da Sé para um talk show’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/04/04

‘Mais mudanças na Band: Goulart de Andrade, que renovou contrato com a emissora até 2005 (o vencimento era no dia 15), dará uma ‘oxigenada em seu Comando da Madrugada’, segundo afirmação do próprio jornalista. ‘Uma das novidades é que farei um Programa do Jô na rua. Dentro do Comando da Madrugada terei um talk show, que será realizado em qualquer rua de qualquer cidade ou país. Vamos usar uma poltrona inflável para os entrevistados. Sempre teremos um famoso, além de pessoas interessantes que estiverem passando pelo local’, adianta Goulart, que já havia pensado no assunto, mas utilizando bancos de praça. A tal poltrona deve ser amarela ou vermelha e será inflada na frente das câmeras. O apresentador, que ainda não sabe se sentará ao lado dos entrevistados em outra poltrona ou se ficará atrás de um pulpito, deve gravar o primeiro programa na Praça da Sé.

De acordo com Goulart, o Comando será temático. A cada semana, vai ao ar um assunto diferente. Além do talk show, terá atrações em que as estrelas serão personagens interessantes (dará o tom de que saíram de um álbum de figurinhas), ou mulheres superpoderosas – ‘a Marlene Mattos não topou ser uma das homenageadas’, brinca Goulart -, ou ainda, em que o foco será a vida de um repórter da casa. ‘A cada semana vou abordar um destes assuntos. Vamos ter também sempre uma viagem. A primeira será para a China.’

Goulart conta que está em discussão a mudança de nome do programa – um para cada tema. Isso porque o Comando da Madrugada o acompanha há 25 anos.

Transferido da área jornalistica (cujo diretor é Fernando Mitre) para a de entretenimento (de Marlene Mattos), Goulart pediu a diretora geral que sua atração, ao menos, mudasse de horário. Na contramão da maioria dos televisivos que tem horror à madrugada, Goulart tem público fiel após à meia-noite. Hoje, o Comando vai ao ar às 23 horas e tem média de ibope entre 2 e 5 pontos. Quando estava na madrugada, chegava a 7 pontos. A previsão para a estréia deste novo formato é maio, às sextas ou sábados, à 1 hora.’



SBT
Daniel Castro

‘Saneador de Silvio Santos deixa o SBT’, copyright Folha de S. Paulo, 9/04/04

‘Homem do ‘núcleo duro’ de Silvio Santos, o advogado Jean Teppet foi afastado anteontem à tarde das funções de superintendente das áreas artística e de produção do SBT, após um ano e dois meses no cargo. Ex-profissional do mercado imobiliário e ex-assessor de Orestes Quércia, Teppet assumiu em fevereiro do ano passado com a missão de sanear financeiramente a emissora e impedir que ela tivesse prejuízo em 2003. Derrubou o então homem-forte do SBT, José Roberto Maluf, e logo de cara promoveu um corte de cerca de 300 profissionais. Estima-se que a economia com a ‘política’ de Teppet tenha sido de cerca de R 100 milhões no ano. Oficialmente, o SBT declarou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o afastamento foi uma ‘decisão estrutural’. A saída de Teppet (que deverá ir para outra empresa do grupo Silvio Santos) abre caminho para a volta de Luciano Callegari, ex-braço direito de Silvio Santos, que acaba de romper com a Record e passou o final de semana com Silvio Santos, na Flórida (EUA). ‘Ainda não está certa a minha volta. Estamos conversando, e o assunto deverá ser solucionado em 15 dias’, afirmou ontem de manhã Luciano Callegari. Além do possível retorno de Callegari, faz parte da ‘nova estrutura’ do SBT o mexicano Eugenio López Negrete, consultor que ocupa a sala do ex-vice.

Pendenga

A Record não respondeu ao pedido de direito de resposta do BNDES, que foi chamado de ‘ralo do dinheiro público’ em especial na emissora sobre o projeto do banco de socorro à mídia. O banco decide na segunda-feira se irá partir agora para a via judicial, pedindo quase uma hora de espaço na Record.

No ar 1

A Band estréia domingo, às 22h30, ‘Fogo Cruzado’, programa que reunirá o ‘elenco eclético’ da emissora para discutir assuntos da semana, como acontece no ‘Manhattan Connection’, do canal pago GNT.

No ar 2

Neste domingo, Astrid Fontenelle, José Luís Datena, Jorge Kajuru, Preta Gil e Barbara Gancia vão tratar de temas como ‘por que os filhos estão matando os pais?’. Será um ‘piloto ao vivo’. O programa, até agora, só foi testado no sofá da sala de Marlene Mattos.

Na novela 1

Inácio (Bruno Gagliasso) voltará a namorar Darlene (Deborah Secco) em ‘Celebridade’. E a mãe de Inácio, Beatriz (Débora Evelyn), começará a receber cartas e telefonemas de alguém que ameaça revelar um grande segredo de seu passado.

Na novela 2

Darlene, então, pegará uma dessas cartas no lixo e passará a chantagear a sogra. Ganhará o sonhado programa de TV.’



TV RECORD
Daniel Castro

‘Celso Freitas troca a Globo pela Record’, copyright Folha de S. Paulo, 8/04/04

‘Voz dos principais jornalísticos da Globo nas últimas três décadas, Celso Freitas, ex-apresentador do ‘Jornal Nacional’ (1983/ 1989), do ‘Fantástico’ e do ‘Você Decide’, está deixando a emissora na qual trabalha há 31 anos.

O jornalista é a mais nova aquisição da Record. Será o principal apresentador do ‘Domingo Record’ (nome provisório), a versão da emissora para o ‘Fantástico’. O dominical tem previsão de estrear no próximo dia 18, mas a data pode mudar dependendo da disponibilidade de Freitas.

A Folha apurou que Celso Freitas já assinou contrato com a Record. Mas não confirma a informação porque ainda não conseguiu antecipar sua liberação na Globo _que tenta mantê-lo.

‘Já acertamos todos os detalhes’, diz Hélio Vargas, diretor artístico e de programação da Record. ‘Celso Freitas será o homem da notícia do programa’, afirma Carlos Amorim, diretor do ‘Domingo Record’.

Segundo Freitas, seu contrato com a Globo vai até 30 de abril. A emissora afirma que vai até 30 de junho (mas essa data, conforme o jornalista, é do término de seu vínculo com a rádio CBN). ‘Eu tenho interesse em fechar [com a Record]. A gente já está praticamente fechado’, diz Freitas.

Freitas é o segundo nome de peso do jornalismo da Globo a deixar a emissora neste ano. Em janeiro, Carlos Nascimento trocou a Globo pela Band.

Fechado

Marília Gabriela assinou contrato com a Globo na semana passada. Por enquanto, o acerto só prevê participação na primeira fase da próxima novela das oito. Uma ampliação, para o jornalismo e novas produções de dramaturgia, está em estudos.

Bombardeio 1

A novela ‘Metamorphoses’ vem sofrendo uma acirrada campanha na internet. Jornalistas receberam segunda um e-mail em que aparecia como remetente o nome de Del Rangel, atribuindo o fracasso da novela a Arlette Siaretta, da Casablanca.

Bombardeio 2

O e-mail, um Hotmail, é falso, não é de Del Rangel, que até a semana passada era diretor de teledramaturgia da Record. A história virou caso de polícia. O setor de investigações de crimes de internet da Polícia Civil já está na trama.

Reciclagem

O SBT vai gravar cenas de ‘Seus Olhos’, sua próxima novela, no Palácio dos Cedros, no Ipiranga. O casarão, que já foi cenário de várias novelas da emissora, foi usado pela Globo em ‘Um Só Coração’. Era a fachada da mansão dos Penteado.

Acasalamento

A MTV já selecionou os quatro rapazes e quatro moças que irão participar do ‘reality show’ ‘Vida de Solteiro’, que estréia em agosto, em 12 episódios de 30 minutos. O programa irá mostrar pessoas solteiras em busca de relacionamentos.’