Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Desafio ao monopólio global

Domingo, 19 de fevereiro de 2017. Uma data que ficará marcada na história do futebol brasileiro. Não se trata de nenhuma partida épica, daquelas em que ocorreram viradas espetaculares ou com um gol decisivo nos últimos minutos. Tampouco foi uma final de campeonato, um título inédito, uma zebra monumental ou o despertar de um novo craque. O dia 19 de fevereiro passará para a posteridade, pois, pela primeira vez, duas grandes equipes – Atlético Paranaense e Coritiba – bateram de frente com a poderosa Rede Globo, emissora que possui os direitos de transmissão dos principais torneios de futebol na televisão aberta brasileira.

Este monopólio global permite à emissora da família Marinho impor suas vontades ao nosso futebol, o que representa a prerrogativa de escolher quais os clubes a maioria dos telespectadores assistirá com maior frequência e a determinação dos horários dos jogos que serão transmitidos. Isto é, as principais partidas do futebol brasileiro deverão se adequar à grade de programação da Rede Globo e não o contrário.

Não obstante, torcedores de todo o país que não têm acesso à programação televisiva paga devem se contentar em assistir as equipes do eixo Rio-São Paulo em detrimentos dos principais clubes de seus estados. Clubes tradicionais, como Atlético, Cruzeiro, Internacional ou Grêmio, podem até estar no topo da tabela de um determinado campeonato, mas mineiros e gaúchos, ao ligarem os seus aparelhos de TV, provavelmente vão deparar com partidas do Flamengo ou do Corinthians, mesmo que estas equipes estejam em posições inferiores na tabela de classificação.

Uma iniciativa corajosa

Diante dessa realidade, cansados de acordos desvantajosos com a Rede Globo, Atlético e Coritiba deixaram a rivalidade de lado e resolveram transmitir por conta própria o maior clássico paranaense através de seus canais no YouTube. Mesmo com as equipes já em campo, a Federação Paranaense de Futebol (FPB), provavelmente atendendo aos interesses da maior emissora de TV do país, impediu a realização da partida, salvo se a transmissão online fosse cancelada. Como a dupla Atletiba se recusou a aceitar a decisão, não houve o tão aguardado clássico no estádio Arena da Baixada.

Todavia, a iniciativa corajosa dos dois maiores clubes do Paraná repercutiu positivamente em todo o país. Furacão e Coxa ganharam admirações que extrapolam preferências clubísticas. Mesmo não tendo sido realizado, o jogo entre Atlético Paranaense e Coritiba, pela quinta rodada do estadual de 2017, ficará marcado para sempre, não só na memória daqueles que gostam de futebol, mas de todos que desejam uma sociedade mais democrática. Por mais que setores de nossa intelligentsia possam torcer o nariz para a ideia, é fato que o futebol é patrimônio legítimo do povo brasileiro e não deve ser, em hipótese alguma, monopólio nem de uma emissora, nem de dirigentes.

***

Francisco Fernandes Ladeira é mestrando em Geografia