Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Você confia em quê?

No dicionário Aurélio, credibilidade significa “qualidade do que é crível”, aquilo que se pode crer, é acreditável. São sinônimos da palavra “confiabilidade” e “credulidade”. Sendo assim, esta é uma característica apenas de quem conquista confiança. Você, leitor, confia em quê?

A “Pesquisa Brasileira de Mídia 2014” revela que o jornal impresso é o veículo de maior credibilidade: 53% das pessoas consultadas responderam que confiam sempre, ou muitas vezes, nos jornais. Na contramão, esta mesma porcentagem se refere aos internautas que afirmaram confiar poucas vezes em notícias de sites, redes sociais e blogs. Estes dois últimos nunca são confiáveis para 20% dos entrevistados, e os portais eletrônicos para 16%.

Para o levantamento, divulgado no dia 7 de março, foram entrevistadas 18.312 pessoas, entre outubro e novembro do ano passado, em 848 municípios de todos os Estados. A realização é do Ibope, encomendado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Boa política

A convergência das mídias impressa, eletrônica, digital e funcional, fenômeno latente com o avanço tecnológico, apresenta suas vantagens na propagação da informação a um maior número de pessoas, por meio de produtos complementares. Todavia, o processo é conflitante, uma vez que ainda não garante ao seu consumidor a segurança de conteúdo. O diário, ao contrário, mantém-se na ponta, fornecendo aprofundamento, veracidade e predominância do acerto.

Na luta incessante dos portais eletrônicos para vencer a concorrente atualização em tempo real, uma importante missão dos jornalistas tem sido esquecida: apurar os fatos. O imediatismo fala mais alto e, sem rodeios, postam “desinformações” no formato em que chegam às Redações, não levando em consideração a checagem da veracidade. Triste realidade!

As edições para correções dos frequentes deslizes pelos veículos que operam suas páginas na internet se dão, em muitos casos, de forma inconsequente, sem respeito algum ao leitor. Não são produzidos nem uma “errata” ou um “erramos”, aqueles que ainda se aprendem nos bancos acadêmicos. Devem ter caído no esquecimento, ou a correção “imperceptível” se tornou fácil de executar ou, quem sabe, o leitor não mereça saber que não era nada daquilo que já havia lido, não é?

Os de papéis podem não ser os mais lidos. Apenas 6% dos brasileiros entrevistados disseram ler jornais diariamente. Além disso, 75% afirmaram nunca promover este tipo de leitura. No entanto, esta posição favorável de maior emissor de conteúdo confiável, diante das emissoras de TV, rádio, revistas, sites, blogs, permite acreditar que o caminho traçado por esta mídia ainda é o mais seguro, até mesmo para os que nela confiam seus investimentos publicitários. A imensidão de conteúdo na internet, acessada por meio de computadores, smartphones, iphones, tablets e outros, muitas vezes alimentada pelos próprios usuários, não sustenta o cenário de segurança. Aliás, são muitos fakes.

A internet foi apontada como o meio de comunicação que mais toma tempo dos brasileiros. São 3h41min, em média, gastas por dia em navegação. Quanto aos endereços eletrônicos mais acessados, o Facebook, uma das new media (novas mídias) – plataformas que utilizamos para nos comunicar –, liderou com 63,6% de segunda a sexta-feira e 67,1% nos fins de semana. Esta rede social é formada por perfis pessoais e empresariais e por lá se escreve o que der e vier. E, muita coisa vira notícia.

O feedback e a repercussão na data de veiculação do impresso nos leva a crer em forte influência sobre a sociedade, e, principalmente, aos que ocupam cadeiras públicas – alvos de nosso trabalho, uma vez que operam não só o dinheiro da nação, mas a máquina que interfere para a garantia de serviços e direitos. Ao mesmo tempo, a mídia impressa torna-se fonte de conteúdo aos demais veículos de comunicação, mesmo estando bem distante de uma concorrência direta, já que a veiculação só ocorre no dia seguinte. O furo, quase sempre, vem dos periódicos.

A presença do jornal gera agentes públicos e sociais mais preocupados com a postura ética e a responsabilidade para a qual foram desempenhados. Este público se torna mira de um jornalismo investigativo, com linha editorial independente, que pretende denunciar malfeitos e malfeitores, porém valorizar a boa política e seus benfeitores. Já imaginou um país sem imprensa?

Senso crítico

A internet não é nenhuma vilã do processo de construção do conhecimento. Pelo contrário, é rica, uma indispensável ferramenta, sobretudo, para os impressos, que levam sua credibilidade ao formato digital.

Os jornais que convergiram mídias alcançaram o trunfo. É preciso saber usar a internet, já que está em 47% das casas brasileiras. Nestes locais, 84% têm acesso por meio do computador, 40% por celular e 8% tablets. Falta profissionalização da comunicação para esta plataforma e, com isso, ainda é restrita a promoção de jornalismo sério, responsável e ético, comprometido com a veracidade, enfim, que tenha atributos do impresso. Aliás, os princípios da profissão têm de ser os mesmos.

Embora os dados confortem pela manutenção da credibilidade histórica, provocam uma inquietação, relacionada à ausência da criticidade nas escolhas em uma farta fatia do público. De que adianta estar multiconectado se não confio no que recebo? O senso crítico é fator primordial para formação de valores que compõem uma única prática: a cidadania.

Leia também

A ‘Pesquisa Brasileira de Mídia 2014’ como primeiro passo – Wladimir G. Gramacho

Um retrato da mídia no Brasil– Luciano Martins Costa

A briga pelo leitor domingueiro– L.M.C.

A importância da observação crítica dos telejornais– Carlos Castilho

Sobre pesquisas de mídia, empadas e pastéis– Rogério Christofoletti

******

Leandro Nigre é jornalista, pós-graduando em Mídias Digitais Interativas e editor do jornal O Imparcial, em Presidente Prudente (SP), veículo assistido pelo projeto Grande Pequena Imprensa