Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Alto consumo e oportunidades de negócios

Levantamento realizado pelo Sebrae em parceria com o Instituto Data Popular mostra que o consumo fora das capitais e regiões metropolitanas do Brasil somou R$ 827 bilhões no ano passado, representando cerca de 40% do total no País. O número chama ainda mais a atenção considerando-se que cidades como Campinas e Ribeirão Preto, por exemplo, foram excluídas do conceito “interior”. Ao todo, foram retiradas mais de 900 cidades.

Esse universo é composto de 4,6 mil municípios, com aproximadamente 95 milhões de habitantes, equivalente a 49% de toda a população. “O consumo no interior hoje já é maior do que o PIB de países como Chile, Dinamarca ou Portugal”, explica Luiz Barreto, presidente do Sebrae. Esse cenário mostra um ambiente promissor para pequenos negócios e ainda um descaso das grandes redes varejistas.

 Renato Meirelles, presidente do Data Popular, conta que foi interessante verificar que a população tem dinheiro, mas não tem onde gastar. “O empreendedorismo cresceu no interior porque existe o consumidor com renda, mas não há oferta de produtos de grandes redes”, conta.

Um levantamento do IPC Marketing apontou que o consumo, apenas do interior paulista em 2012, representou 50,2% do total do Estado, somando R$ 382 bilhões. O que reforça a teoria de Meirelles: “Não podemos pensar em consumo e expansão de negócios sem olhar o verdadeiro interior. As grandes empresas precisam olhar com carinho para essas regiões”, afirma. Para ele, o aumento do salário mínimo e o crescimento do emprego formal impulsionaram o consumo, que além de alto se mostra peculiar.

Segundo o estudo, a forma como a população está consumindo retrata um mercado mais responsável e racional. Os consumidores do interior definem suas compras com base no preço e na qualidade dos produtos, dando menos importância às marcas, o que favorece ainda mais os pequenos negócios. Meirelles aponta forte potencial de crescimento em produtos e serviços de beleza, já que o crescimento econômico se deve, em boa parte, ao ingresso da mulher no mercado de trabalho. “Além de produtos, os serviços têm ganhado muito espaço. Existe grande potencial para o mercado do turismo, mas há muita dificuldade de capilaridade”, analisa.

Empreendedorismo

Enxergando essas oportunidades, muitos empreendedores buscaram auxílio nos programas do Sebrae para expandir seus negócios. Em Botucatu (SP), por exemplo, o metalúrgico Eliseu Semião decidiu investir em seu próprio negócio e criou a Pizza Frita Semião. Com o auxilio do Sebratec, ele ampliou o quadro de funcionário de três para 38 colaboradores, chegando a uma renda mensal de R$ 300 mil. Além disso, o Sebrae auxiliou no processo de abertura de franquias. Hoje, a Pizza Frita Semião está presente também em Indaiatuba, Piracicaba, Campinas, São Carlos, Sorocaba, Bauru, Jundiaí (todas no interior paulista) e em Joinville (SC).

No sertão de Pernambuco, Lyedja Santos Ferreira começou fazendo a decoração para as festas de aniversário de sua filha e, trabalhando em casa, teve a ideia de vender para outros clientes. Para não ficar restrita ao mercado local, criou uma loja virtual e fez sua primeira venda na cidade de Gravataí, interior do Rio Grande do Sul. Com o aumento no volume de negócios, abriu também uma loja física, em Cabrobó (PE).

Dono de um mercado em Jequitinhonha (MG), Marcos Vinicius de Sena e Paiva concluiu em 2013 a obra de ampliação de seu negócio, que começou em 2008. De 180 metros quadrados, a área de vendas passou para 600 e a clientela subiu de 1,2 mil para 1,8 mil pessoas por mês, com faturamento 50% maior.

Outro exemplo mineiro é o de Geraldo Fernandes, que há oito anos aposta no setor alimentício. Ex-pedreiro, agricultor e ajudante de padaria, o mineiro de Belo Vale usou o que aprendeu como funcionário para abrir a padaria São Geraldo, com apenas três funcionários. Em 2010, ampliou a loja e montou no mesmo espaço um mercado e, há dois anos, inaugurou o açougue. Hoje seu faturamento é de R$ 200 mil, diante de R$ 30 mil, quando entrou para a vida empresarial.

 O que os moradores do interior pretendem comprar em 2014
• 23,2 milhões querem comprar móveis para a casa
• 17,4 milhões pretendem adquirir uma TV
• 13,2 milhões desejam comprar geladeira
• 12,1 milhões planejam adquirir máquina de lavar
• 11,8 milhões querem fazer uma viagem nacional de avião
• 9,1 milhões desejam um notebook ou netbook
• 8,8 milhões pretendem comprar moto
• 6,9 milhões querem comprar um carro
• 5,1 milhões planejam ter um tablet
• 4,8 milhões planejam adquirir casa ou apartamento
• 4,1 milhões desejam fazer uma viagem internacional de avião
• 3,2 milhões querem comprar smartphone

 

O que consomem os moradores do interior
• R$ 265 bilhões com reforma do domicílio
• R$ 118,4 bilhões com alimentação no domicílio
• R$ 61 bilhões com medicamentos
• R$ 53 bilhões com material de construção
• R$ 52,4 bilhões com alimentação em restaurantes, bares e lanchonetes
• R$ 51 bilhões com veículo próprio
• R$ 36 bilhões com vestuário e confecção
• R$ 23 bilhões com eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos
• R$ 22 bilhões com higiene e beleza
• R$ 19 bilhões com educação
• R$ 19 bilhões com móveis
• R$ 18,5 bilhões com viagens
• R$ 17 bilhões com recreação e cultura
• R$ 14 bilhões com calçados
• R$ 12 bilhões com bebidas
• R$ 6,6 bilhões com produtos de limpeza
• R$ 5 bilhões com livros e material escolar

 

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Nathalie Ursini, do Meio&Mensagem