Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Velocidade das mudanças dificulta planejamento perfeito

A Internet cresceu, apareceu e ganhou popularidade a partir de 1994. Ou seja, em 20 anos o mundo mudou. Até aí nada de novo, isso já foi tema de centenas de teses nas universidades de todo o planeta.

Mas vale a pena revisar arquivos dos anos 90 e buscar no fundo da memória. Qual era o grande browser do mundo web? Netscape. Procura-se algum hard user de Internet que prefira Netscape ao Chrome, ao Mozilla ou ao Safari. Isso que no ano 2000 o grande navegador era o Internet Explorer, que alguns teimosos ainda tentam utilizar.

Qual era o sistema de buscas preferido de 9 entre 10 internautas? Altavista, que aos poucos foi sendo engolido pelo Google e hoje é subproduto do Yahoo (outro que teima em seguir vivendo).

Rede Social era o Orkut, espaço para encontrar amigos MySpace. Facebook era uma aventura de alguns amigos.

Em São Paulo apareceu o Banco1 (quem lembra?), uma extensão digital do Unibanco (quem lembra de novo?). Mas com a gestão analógica, um dia os clientes desconfiaram da força daquela iniciativa. Não deu outra: o banco fechou. E as instituições bancárias entenderam que era preciso adaptar o modelo conservador em algo mais ágil, não criar novas bandeiras. Deu certo.

A conexão discada era o terror das famílias, uma vez que os jovens viviam plugados – e as linhas, portanto, ocupadas nas casas. Aliás, quem ainda tem saudades daquele barulhinho da conexão se estabelecendo precisa visitar a simulação do Google nos tempos pré banda larga. Um show.

Todos os meses aparecem novidades no mundo digital. O benchmark que esteve na moda em 2014 foi o Quartz, a seleção de conteúdos de qualidade para mobile com a curadoria de um jornalista de respeito. Mas aí o New York Times lançou o Now. E hoje tudo isso é passado.

O planejamento das empresas de comunicação precisa observar as boas práticas do mundo, mas é impossível querer copiar um modelo lançado com sucesso em um mercado para outra realidade. Em geral não funciona. E quando se adapta ao universo local já está velho.

O grande talento dos gerentes de projeto das empresas de mídia é saber o momento correto para lançar novos produtos. Elementos inéditos, construídos para aquele meio. E quando o acionista perguntar: “qual é nosso benchmark para isso?” a resposta deve ser: “nenhum”. Ou seja, se fosse para copiar não seria preciso gerentes de projeto, não é mesmo?

O risco de virar Netscape é muito grande para quem só pretende copiar outros modelos. É melhor pensar bem, desenvolver algo sob medida. E corrigir eventuais erros de percurso com a resposta em real-time da audiência.

Vamos inovar no mundo das comunicações?

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Eduardo Tessler, para o Meio&Mensagem