Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A escolha entre ser relevante ou apenas atraente

O que você precisa saber? É uma pergunta básica para qualquer profissional de comunicação. Mas não só ao profissional. A questão deve ser feita a todas as pessoas. Vivemos dias em que as notícias de falência de jornais locais passam a não surpreender mais. Demissões em massa, fechamento de editorias e o encerramento de atividades por parte de inúmeros veículos de comunicação assustam quem ainda pretende viver de levar a informação. Hoje, será que o profissional deve se ater somente à relevância da informação, ou considerar também se a mesma é atraente, ou, no limite, apenas atraente, sem relevância?

O acesso e excesso de informação in natura e estímulos do mundo atual estão tornando os leitores cada vez plurais, em detrimento de qualquer tipo de fidelidade a um canal, jornal ou rádio. O novo hábito do público, seja ele ouvinte, leitor ou telespectador, considera cada vez mais as redes sociais como fonte de conhecimento e informação, em detrimento da mídia tradicional (impresso, rádio e TV), e traz ao processo de comunicação social outro viés: a do entretenimento.

Assim, o que gera audiência e atrai a atenção de todos? Quais critérios definem e criam novas referências de comunicação? Como blogs e vídeos no Youtube podem atrair mais receita e anunciantes que um telejornal com anos de experiência? Atualmente, as pessoas procuram algo importante ou divertido? Escolhem relevância ou apenas distração?

Filtro

As perguntas precisam ser jogadas na mesa. Não adianta defender o discurso de que o jornalismo cumpre uma importante função democrática e social, se em qualquer brainstorm para a criação de um produto em comunicação é considerado com cuidado o potencial para captar anunciantes. Por sua vez, quais tipos de critérios usam os anunciantes para definir seu cronograma de investimentos em mídias? Com certeza, entre os parâmetros para se decidir estará o de quanto tal produto trará de visibilidade à marca.

Se a música popular aponta para o que disse o poeta: “o artista vai onde o povo está”, não é essa a realidade do jornalismo comunitário. O jornalista anda em crise. A responsabilidade de filtrar e informar aquilo que se entende por relevante pode carregar a ameaça de não atrair público, ser impopular. Com isso, corre-se o risco de não ter condições de sobreviver no mercado. Quanto aos anunciantes, sua postura já é bem definida – e não está em discussão aqui se é certa, ou errada. Assim como o artista, eles também estarão onde o povo está.

Para análise nos trabalhos entre ‘comunicólogos’ é recomendável somar outras ciências. Sociologia, antropologia, filosofia podem indicar caminhos para traçar e entender o perfil do homem de hoje, e seus interesses. Hoje, o acesso à informação e a democratização da mesma transformam simultaneamente milhões de pessoas em comunicadores em potencial. A afirmação pode incomodar os mais ortodoxos da área, mas os últimos anos trouxeram, com o avanço da tecnologia, mais perguntas do que respostas, e em desatada velocidade.

Atualmente, a massa não é passiva, não fica aguardando pacientemente o que se apresenta no mercado. Ela não apenas interfere e decide o que terá vida longa, como também força a criação de novos produtos, não necessariamente forjados por profissionais, e, mesmo assim, ter apoio e aporte do mercado.

Antes, a concentração de esforços era para convencer o público de que seu veículo assegurava a informação e conhecimento que seu concorrente não poderia oferecer. Hoje, o foco é tentar garantir carisma, ser atraente. E, caso se conquiste público e anunciante, poder cumprir com a responsabilidade social de informar.

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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista