Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

2º Poder alia-se ao 3º para constranger o 4º

A censura togada voltou a se manifestar. A Folha de S.Paulo teve a sua edição da terça-feira (23/11) censurada por ordem do juiz César Augusto Bearsi, que atendeu a uma ação do réu Erik José Travassos Vidigal.

A interdição durou menos de 24 horas. A matéria foi suprimida do reparte nacional e substituída por outra no clichê que circulou na cidade de São Paulo. Censura de fancaria: o leitor ficou inteirado de tudo, inclusive no tocante ao objeto do ato censório.

Embora este tipo de violência não seja novo e a despeito da sua patética implementação, estamos diante de uma inequívoca rotina de intimidações. Os réus que não querem ver o seu caso impresso em letra de forma – e os magistrados que acolhem seus embargos sobre o noticiário – sabem perfeitamente que numa sociedade democrática é impossível suprimir a circulação de informações. Seu interesse é outro: amedrontar. Sobretudo quando existe a possibilidade de penas pecuniárias.

O Poder Judiciário, que é, em última análise, o defensor do Estado de Direito, está sendo paulatinamente convertido no Brasil na principal ameaça a uma das liberdades fundamentais – a de informar e informar-se.

Decência política

Dias antes da farsesca censura, os meios de comunicação brasileiros começaram a divulgar uma intensa campanha de publicidade com o inequívoco objetivo de melhorar a imagem da Câmara dos Deputados. Além da campanha de anúncios foi distribuída a primeira edição da revista Plenarium (em latim fica mais chique), editada pela mesma Câmara dos Deputados.

Qual o problema da Câmara dos Deputados? Está sendo diariamente desmoralizada pelo noticiário.

Quem está gerando este noticiário desmoralizador ? Os próprios deputados.

Qual o exemplo mais recente desta desmoralização? A chantagem de deputados contra empresários.

Qual o exemplo mais gritante da desmoralização? A obscena maquinação para reconduzir os atuais presidentes da Câmara e do Senado quando terminarem os respectivos mandatos.

Quem autoriza a despesa para a edição da revista e a inserção dos anúncios para limpar a imagem dos deputados? A Mesa da Câmara.

Quem dirige a Mesa? O presidente da Câmara dos Deputados.

Em outras palavras: a Casa do Povo pisoteia os mais elementares princípios de decência política e, com o dinheiro do povo, pretende calar aqueles cuja missão precípua é defender este mesmo povo daqueles que pretendem enganá-lo.

Dona República está envergonhada.