Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Murdoch nega troca de favores com políticos

Rupert Murdoch rebateu ontem (25/4) as reiteradas sugestões de que teria negociado o apoio de seus jornais em troca de favores comerciais e da facilitação dos esforços da News Corp. para assumir o controle integral da British Sky Broadcasting (BskyB). Ao longo de quatro horas de questionamento no “Inquérito Leveson”, que investiga a ética na imprensa, ele disse nunca ter condicionado o apoio de seus jornais no Reino Unido a vantagens comerciais solicitadas a qualquer político. “Nunca pedi nada a um primeiro-ministro”, disse Murdoch a Robert Jay, assessor jurídico do inquérito. Murdoch disse estar satisfeito com a instauração do inquérito – iniciado depois da descoberta de que o tabloide News of the World havia colocado escutas nos telefones de centenas de pessoas – porque “queria acabar com mitos”.

Em algumas ocasiões, Murdoch, de 81 anos, presidente do conselho de administração e executivo-chefe da News Corp., demonstrou frustração com as reiteradas insinuações de que teria negociado apoio em troca de favores políticos. “Não sei quantas vezes preciso afirmar, senhor Jay, que nunca falei sobre pagamentos comerciais [com políticos]”, afirmou durante a audiência, realizada ontem pela manhã, intercalando as palavras com batidas sobre a mesa.

Assim como no inquérito de seu filho James, na terça-feira (24/4), Murdoch foi questionado por diversas vezes sobre a natureza e o momento da proposta de 8,3 bilhões de libras esterlinas (US$ 13,4 bilhões) da News Corp. pela participação de 60,9% na BskyB, que ainda não possuía. A oferta foi apresentada seis semanas depois de David Cameron ter se tornado primeiro-ministro, em maio de 2010. Na terça-feira, James admitiu que o motivo da escolha desse momento para a proposta havia sido “esperar até a eleição estar concluída [para que] não se tornasse um jogo político”.

Brown nega que conversa tenha ocorrido

Perguntado sobre o mesmo assunto, no entanto, Murdoch fez uma pausa por algum tempo, rejeitou qualquer ligação com a eleição e disse que não houve motivo particular para a escolha daquele momento além do fato de que junho era o mês em que ocorreria a assembleia de verão da BSkyB.

Grande parte das perguntas de Jay se centraram na decisão de Murdoch e do filho de deixar de apoiar em setembro de 2009 o Partido Trabalhista, de Gordon Brown, então no governo, e passar para o lado dos conservadores de Cameron. Jay sugeriu que isso estava relacionado à decisão da News Corp, tomada cerca de um mês antes, de seguir adiante com sua proposta pela BSkyB. “Não havia relação em sua mente entre seu apoio a Cameron e a oferta pela BSkyB?”, perguntou Jay ao executivo. “Nenhuma”, respondeu Murdoch. Foi pedido a Murdoch, então, para confirmar ou negar reações noticiadas a respeito de vários políticos, como Cameron e Brown. Sobre a primeira vez que se encontrou com o líder conservador em 2006, Jay perguntou: “Você achou que ele era um peso leve?”

A resposta de Murdoch foi hesitante: “Não. Não, naquele momento, certamente. […] Acho que era muito cedo para fazer essa avaliação.” Ele acrescentou que, após uma conversa por telefone em que Brown disse que iria “declarar guerra” à News Corp. em retaliação pelo The Sun ter retirado seu apoio aos trabalhistas em 2009, ele disse achar que o então primeiro-ministro não “estava em um estado de espírito equilibrado”. Brown, posteriormente, divulgou comunicado negando que essa conversa tenha ocorrido. Oinquérito prosseguiria na sexta-feira, ouvindo Murdoch e provavelmente abordando suas afirmações de que esteve desvinculado dos escândalos de escutas telefônicas e supostos pagamentos de subornos a servidores públicos (colaboraram Esther Bintliff e Salamander Davoudi).

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[Ben Fenton e Andrew Edgecliffe-Johnson, do Financial Times, de Londres e Nova York]