Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Especialista e multimídia lado a lado na redação

O processo de migração das publicações impressas para o mundo digital tem trazido muito mais perguntas do que respostas às companhias do setor em todo o mundo. Não há dúvidas no entanto com relação a dois aspectos: a credibilidade e a imparcialidade são fundamentos que precisam ser preservados e que serão fundamentais para garantir o sucesso dos periódicos no futuro. Além disso, os jornalistas terão de ser cada vez mais multimídia, capazes de apurar informações e transmití-las nos mais diferentes formatos (vídeo, áudio, texto etc).

“Jornalismo é jornalismo em qualquer meio, os conceitos básicos são os mesmos no mundo digital”, disse Ascânio Seleme, diretor de redação de “O Globo”, ontem, em São Paulo, durante a assembleia geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

A opinião de Seleme foi corroborada por Cezar Freitas, diretor de jornalismo da RBS TV e Eurípedes Alcântara, diretor de redação da revista “Veja”. “A internet hoje é um mundo caótico e o jornalismo tem de estar aí para organizar”, disse Alcântara. Na avaliação de Freitas, a profusão de novas mídias e publicações digitais vai reforçar, e não enfraquecer o papel de organizações com histórico em meios tradicionais.

Para isso, essas companhias terão de manter a credibilidade do que publicam e contar com jornalistas multimídia, capazes de criar conteúdo em diferentes meios, não só naquele em que ele está mais habituado a trabalhar. Na avaliação de Sérgio Dávila, editor executivo da “Folha de S. Paulo” a capacidade de se adaptar a novas tecnologias é uma característica dos jornalistas. Foi assim, por exemplo, com o uso do telégrafo, no século XIX e do telex, no século XX, lembrou ele. A necessidade de jornalistas multimídia, no entanto, não eliminará postos de trabalho para os profissionais “monomídia”. “Você não pode ficar sem aquele jornalista que traz furos de reportagem, mas peca em outros pontos”, disse Dávila.

Hoje, essa característica multimídia está mais ligada aos jovens – a chamada Geração Y, que nasceu em meio a computadores e a internet. Para Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do grupo Estado, esse perfil não está atrelado somente à idade. “Temos gente com mais de 30 que trabalha muito melhor dessa forma que pessoas mais novas”, disse.

De acordo com Dávila, Gandour e José Antonio Vera Gil, presidente mundial da agência de notícias espanhola EFE, é preciso ter um balanço entre profissionais jovens e pessoal mais velho nas equipes para garantir a qualidade do que é publicado.

Vera Gil destacou que é importante ter profissionais multimídia, capazes de trabalhar com diferentes tecnologias, mas que também é importante ter jornalistas especializados em cada uma delas. “Não dá para apostar que todo mundo fará tudo corretamente em todas as plataformas. É preciso apostar também nos especialistas”, disse.

A 68ª Assembleia Geral da SIP começou na quinta-feira e segue até amanhã. A expectativa é receber cerca de 600 jornalistas e empresários de todo o continente. Hoje, a presidente Dilma Rousseff; o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin; e o prefeito da cidade, Gilberto Kassab participam da cerimônia de abertura oficial do evento.

***

[Gustavo Brigatto, do Valor Econômico]