Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

“O papel do jornal sempre será o de articulador da sociedade”

Nascido dentro de um império jornalístico – o Grupo Estado –, Rodrigo Mesquita se articulou com o futuro da informação, e acredita que a atual crise seja do “jornal de papel” e não do “papel do jornal”. Para o exercício do jornalismo, Mesquita acredita que nunca o campo esteve tão aberto. Abaixo, segue os principais pontos da entrevista que Rodrigo Mesquita concedeu a Página 22 (leia mais em “Assim estava escrito).

Ninguém podia assinar textos “porque não é nosso, é do público”

Rodrigo, você acredita na existência de uma crise dos meios jornalísticos provocada pelo descompasso entre a novíssima sociedade do conhecimento, revolucionada pelo digital, e as antigas estruturas da informação?

Rodrigo Lara Mesquita – O apogeu da indústria de jornais acontece na década de 1940. A partir daí, este setor da indústria de comunicação social começa a envelhecer. Assim como as redes sociais atuais, os jornais também eram plataformas de articulação das comunidades em que estavam inseridos. Alexis de Tocqueville (filósofo político francês, 1805-1859) aborda, na Democracia da América, o papel dos jornais que estavam se estruturando no século 18 nos Estados Unidos. Para Tocqueville, os jornais contribuíam para os cidadãos se sentirem parte de uma comunidade local, que por sua vez fazia parte de uma comunidade maior, que era a nação americana nascendo. O jornal teve durante dezenas de anos o papel de plataforma de articulação das comunidades locais. Veja o caso do meu bisavô, Júlio Mesquita (jornalista, 1862-1927)…

Júlio Mesquita foi o fundador do jornal O Estado de S. Paulo?

R.L.M. – Não, meu bisavô foi um self-made man e não foi o fundador do Estadão. O jornal A Província de S Paulo foi fundado por um grupo de republicanos em 1875 e tinha como objetivo promover a República e a abolição da escravatura. Ele foi levado como colaborador para este jornal por Rangel Pestana (jornalista e político, 1839-1903) no final do século 19. Para os republicanos, o jornal não era um negócio. Era uma ferramenta para se atingir seus objetivos. Depois de a República ter sido proclamada e a escravatura abolida, este grupo de republicanos perdeu o interesse no jornal. Ele não tinha mais nenhum valor para eles. Meu bisavô, com a ajuda do pai, um imigrante português, começou a comprar as ações do jornal até adquirir 100%. Quando fez isso, uma das suas primeiras ações foi romper com o Partido Republicano, que subsidiava o jornal. Desde a proclamação da República, o nome do jornal tinha sido alterado para O Estado de S. Paulo. Meu bisavô promoveu uma profunda reforma editorial no jornal e fez uma série de inovações empresariais. Ninguém podia assinar textos no jornal, nem ele, “porque não é nosso, é do público”. Com isso ele indicava que considerava o jornalismo uma atividade coletiva e colaborativa e começava a definir a missão do jornal. Era um homem além do seu tempo, como fica claro nesta antevisão do que seria colaboração em rede.

“A partir do final da década de 40, o papel do jornal começa a mudar”

E qual era esta missão?

R.L.M. – A missão do O Estado de S. Paulo era levantar os problemas que preocupavam a comunidade de São Paulo e promover o debate destes problemas pela comunidade. Ele tinha uma frase que considero lapidar, verdadeira até hoje para as empresas jornalísticas e que mostra que suas ideias (de rede) continuam contemporâneas: “Jamais sonhei que tinha o direito ou o dever de formar a opinião pública de meu estado. Tudo o que eu fiz na minha vida foi sondar a opinião pública e me deixar levar tranquilo e sossegado pela corrente que me parecia mais acertada.” Um exemplo disso foi a greve operária de 1917, liderada pelos operários anarquistas. O governo criou um comitê de arbitragem, que não chegava a uma solução. Aí chamaram o jornal para arbitrar o comitê de arbitragem. E O Estado de S. Paulo ficou do lado dos operários anarquistas porque as condições dos trabalhadores eram desumanas. Nesta época, os jornais estavam tão inseridos na vida das comunidades que podiam representar este papel: o de árbitro de uma crise da comunidade que serviam.

A partir do final da década de 1940, o papel de articulação da sociedade do meio jornal começa a mudar. O jornal deixa de acompanhar proporcionalmente o crescimento da população, começa a enfrentar a concorrência de múltiplas plataformas de mídia, a explosão demográfica e o crescimento desmensurado das cidades, que fazem que o meio jornal comece a se distanciar do seu público. A sociedade vai ganhando um outro grau de complexidade e vão se fragmentando de tal forma que começa ficar difícil para o meio jornal fazer a cobertura jornalística com a mesma amplitude e profundidade do início do século passado até meados da década de 1940. É bom lembrar que desde o final da década de 1940 a comunidade científica acadêmica já estava estudando infraestruturas na direção da internet e prevendo a possibilidade de sistemas de comunicação distribuídos. Em 1968, o cientista J.C. Licklider já dizia que, em poucos anos, iríamos nos comunicar melhor através de uma máquina do que face a face.

“Hoje, todas as pessoas são parte do setor de informação”

Mas se um afastamento de sua missão e novas formas de articulação já se formavam há tanto tempo, por que os jornais continuaram com o mesmo modelo?

R.L.M. – Os graves problemas que a indústria de jornais está enfrentando é resultado da sua acomodação. Esta crise não surgiu de repente. Os jornais tiveram o monopólio dos “classificados” das comunidades em que estavam inseridos durante cerca de meio século. Do início do século 20 aos anos 40, eram a ágora política e comercial das cidades que serviam. Todas as empresas que atingem uma posição monopolista emburrecem. Os administradores das empresas jornalísticas se dedicaram apenas a gerenciar fluxo de caixa, relevando as possibilidades de empreenderem como empresários do setor de comunicação social. A maioria deles não tinha e não tem a visão empresarial dos patriarcas. E isso ocorre até hoje. Por isso, o que está em risco hoje é o jornal de papel. O papel do jornal, ser um instrumento de articulação com a sociedade, é um espaço que continua aberto para ser ocupado. A nova infraestrutura de comunicação abre espaço para o que chamamos de “jornalismo cidadão” e novos players sem legados. No futuro, todo cidadão que tiver um compromisso com o processo institucional de alguma forma vai estar ligado ao que chamamos de jornalismo. O jornalista profissional será necessário para realizar a filtragem daquilo que tem consistência do que é besteira, bobagem.

Não existem dois mundos hoje – um analógico, outro digital. O rejuvenescimento e revigoramento da economia analógica depende da evolução da economia digital, que é consequência da evolução da economia da era industrial e do gênio humano. Uma das principais áreas de cobertura jornalística hoje é a própria internet, na medida em que as fontes primárias estão presentes na rede e que o público, a cidadania, está lá num processo de conversação sem fim debatendo seus problemas, ansiedades, sonhos e perspectivas. Hoje, todas as pessoas e todas as empresas são parte também do setor de informação. Até muito pouco tempo atrás, as empresas tradicionais de informação tinham o domínio da audiência. E qualquer pessoa que, por motivo político, econômico, institucional, comercial, quisesse se relacionar com o público, precisava fazer lobby sobre as estruturas jornalísticas e jornalistas para que a sua informação, a sua mensagem, chegasse ao público. Ou comprava espaço publicitário. Hoje isso não é mais necessário. No futuro, a publicidade e o marketing serão substituídos por um processo de conversação contínuo das empresas, das pessoas, das entidades com o público na Web, na rede. Isso estará inserido nos processos de cada profissional e de todas as empresas, nas suas redes sociais.

“Empresas da velha economia têm medo do que veem pela frente”

E as empresas de informação tem dificuldade em aceitar esta nova realidade?

R.L.M. – O problema dos jornais e jornalistas é que se consideravam (e em alguns casos ainda se consideram) superiores aos mortais comuns e por isso, no início da internet como Web, eles não mergulharam nas peculiaridades da rede. E a principal peculiaridade da rede é que, por meio do algoritmo, ela permite a criação de comunidades sobre comunidades a partir do nada. Historicamente, os jornais eram plataformas de articulação das comunidades em que estavam inseridos e articularam essas comunidades dentro de comunidades em torno de ideias e ideais, problemas, questões de consumo, da conversação política. Enfim, o papel do jornal era contribuir para articulação da sociedade para que ela fizesse valer seus interesses frente ao poder público e frente aos poderosos da sociedade. Se os jornais tivessem mergulhado na Web, rede, e procurado entendê-la desde o início, com certeza teriam encontrado caminhos para continuar cumprindo sua missão neste novo ambiente da informação, comunicação, da articulação, da conversação da sociedade.

Esse papel continua aberto para ser realizado e existem formas de monetizar isso oferecendo novas formas de serviços para pessoas, para empresas e para setores da economia que vão inexoravelmente entrar neste processo de digitalização da economia. As empresas têm que organizar suas redes sociais nas mídias sociais. Elas tem que monitorar sua marca, entender como o público enxerga a empresa por meio da rede, o seu setor. Têm que estabelecer canais de conversação com seu público potencial, seus fornecedores e distribuidores. O monitoramento se faz através de softwares, os processos de big data. A empresa tem que identificar quem são simpáticos a ela, saber quais são os problemas que ela enfrenta em relação à distribuição, ao preço, entender como sua marca é vista, cumprir também com seu papel social.

O problema é que as empresas da velha economia têm medo do que estão vendo pela frente e não sabem como fazer isso. As agências de publicidade tradicionais também não sabem fazer isso, transferem processos analógicos para o mundo digital, mas fazem no máximo buzz, quase um barulho inócuo. Existem, é claro, as exceções, empresas modernas que já estão fazendo isso e que deveriam ser vistas como exemplo. Se existe um setor da economia velha que tem cultura para fazer isso são as empresas jornalísticas, desde que tenham humildade para olhar para o papel histórico delas, que é sua capacidade para articular públicos.

“O modelo de negócio tem que ser aberto”

Isto está acontecendo?

R.L.M. – Não na dimensão que poderia ter, mas há movimentos nesta direção. O Nieman Journalism Lab, fundação voltada para o jornalismo da Harvard University, tem alguns trabalhos nesta direção. Mas os Estados Unidos é prático demais. Para eles é a indústria do news print. Pra mim, a notícia não tem sentido por si só, distribuída no etéreo. As empresas não fizeram dinheiro pela sua capacidade de distribuir informação. Numa perspectiva histórica, legitimaram-se, fizeram e ainda fazem dinheiro por causa da sua capacidade de articular públicos. É o conceito do meu amigo Walter Bender, que é uma das minhas premissas sagradas: “Notícias não mudam o mundo, mas nos dão uma nova inteligência e as ferramentas com as quais explorá-la. Notícias não nos dizem o que pensar ou para onde ir, mas nos ajudam a navegar. Notícias abrem a porta para participação.”

É também por isso que os processos de informação, comunicação e articulação na rede, na Web, impactou e impacta as tradicionais estruturas das empresas jornalísticas e seus modelos de negócios. Em vez de procurar um caminho neste novo mundo e mexer na sua estrutura e processos, as empresas jornalísticas estão mandando embora os jornalistas mais experientes e mais caros e contratando mão de obra inexperiente e barata.

A rede permite e fomenta novas formas de relacionamento de capital e trabalho e é sobre isso que todas as empresas (não só as jornalísticas) deveriam estar refletindo. As jornalísticas deveriam pegar diversos grupos de jornalistas experientes e criar condições para que estes pequenos grupos formassem suas ilhas jornalísticas, criassem pequenas empresas voltadas para fornecer notícias sobre um nicho, cobrir um nicho. Subsidiá-los por um período curto. As velhas empresas jornalísticas criariam um canal de relacionamento com eles e juntos desenvolveriam formas de monetização não exclusivas, mas parcerias. Um processo de satelização, consequência na nova infraestrutura da economia: a internet, a web, a rede.

Se você ficar em uma estratégia de cortar custos em função de queda da publicidade que está sendo registrada e que vai continuar sendo registrada, é a morte. Eu acho também que esses sistemas de paywall [acesso a conteúdo da internet apenas através de pagamento de uma tarifa] é uma barreira para a missão dos jornais, que vai além do informar. A informação que o jornal distribui tem sentido na medida que é um fator da articulação da sociedade e se você coloca limites cria-se uma barreira também para sua atuação.

Faz sentido você ter sistemas de micropagamentos para informação superespecializada e setorizada, mas não para o geral. Empresas que usam paywall, como o Financial Times e o New York Times, estão fazendo pouco dinheiro. Sou mais pela abertura de novos caminhos trilhados pelo The Guardian, Forbes e outros. A Web é aberta e não adianta lutar contra isso. O núcleo principal da sua atividade não pode ser fechado, o modelo de negócio tem que ser aberto.

“Enquanto a velha indústria fica parada, veja o Google”

Mas de onde virá a receita destas empresas?

R.L.M. – O processo de digitalização da economia é irreversível. As empresas têm que procurar caminhos de monetização em função de serviços de articulação na rede e no processo de digitalização das empresas. Hoje você tem softwares que podem monitorar as informações que estão sendo publicadas nas diversas mídias/ferramentas sociais que estão dentro da internet, como Google+, Facebook, Twitter, Linkedin, Pinterest, Path, YouTube, Tumblr, Orkut etc. Você pode acompanhar as discussões de assuntos específicos ou de determinada indústria ou governo ou entidade, praticamente em tempo real, em cada uma dessas mídias. Por outro lado, estes softwares mostram apenas estatísticas que precisam ser analisadas. E este papel de análise tem que ser feito por jornalistas com a eventual contribuição de outros profissionais.

A rede hoje em certa medida é uma balbúrdia. Você tem uma percentagem muito grande do público, com certeza mais de 50%, que não consegue fazer distinção entre informação estruturada, relevante, primária ou uma análise fundamentada e com valor da “informação” dos espertalhões que estão fazendo marketing no mau sentido, retrabalhando informações de terceiros sem acrescentar nada, fazendo barulho para pegar vítimas. As tradicionais empresas jornalísticas, com a força de suas marcas e sua relação centenária com a cidadania, deveriam estar oferecendo este serviço também. De monitoramento, de curadoria da rede, de agregação temática e de público. Com isso, se colocariam como um dos vetores do processo de debate da sociedade na rede. Enquanto a velha indústria fica parada, veja o Google… Com menos de 15 anos de idade, fatura mais com publicidade que todos os grupos jornalísticos norte-americanos juntos.

“A notícia é um meio, não o fim. Sempre foi assim”

E os jornalistas? Qual o futuro para estes profissionais?

R.L.M. – Antes, o profissional de informação se preparava para fazer carreira em uma empresa que o ajudava a expô-lo para o público, ajudava a promovê-lo como jornalista. Agora, ele terá que encontrar seu próprio caminho. A Universidade de Stanford e outras nos Estados Unidos estão discutindo como fomentar o empreendedorismo entre os estudantes da área jornalística. Os novos jornalistas terão que criar sua própria estrutura de trabalho. As oportunidades são muitas, este campo nunca esteve tão aberto. É um momento de profunda e acelerada mudança. Os profissionais que já percorreram meio caminho de suas vidas na estrutura antiga sentem uma justificada insegurança. Tecnologia é tudo aquilo que inventaram depois que você nasceu. Não está no seu córtex, você não sabe pensar naturalmente com aquilo, não é ainda uma extensão da sua inteligência, das suas possibilidades.

Para quem está começando agora, as oportunidades são infinitas. O futuro do jornalista está no empreendedorismo. E o futuro das tradicionais empresas jornalísticas está no processo de digitalização das empresas de todos os setores, que abre um novo campo de receitas que pode ser tão importante quanto os classificados, o velho market place, foi para o jornal de papel. Em outra dimensão, é importante frisar. A Ágora agora é pública. Cada um de nós está no centro do processo na Web, na rede.

Ao criar um sistema de informações econômico-financeiras em tempo real, o Broadcast, sucesso instantâneo no início dos anos 1990, você previa esta migração do jornal de papel para o eletrônico?

R.L.M. – Minha visão, ainda nos anos 1990, era que a empresa jornalística que ia dar certo nesta nova fase seria aquela que tivesse coragem de se “perder na rede”. Quando criei, na Agência Estado, o serviço de informação em tempo real (pregões das bolsas, notícias e análises), broadcast, a ideia era construir um bom negócio e a plataforma de aprendizado da “S.A. O Estado de S. Paulo” para o mundo das telecomunicações, da computação e do software, para o mundo da economia digital, que batia nas nossas portas.

Em 1992, éramos líderes deste mercado, posição que a Agência Estado ainda ocupa mesmo com a competição de gigantes como Reuters e Bloomberg. Naquela época, desenvolvemos um serviço taylorizado para o mercado brasileiro em relação às bolsas e mercados usados pela maior parte dos agentes do setor financeiro e injetamos no serviço uma competentíssima cobertura jornalística técnica do mercado financeiro e de informações locais de cunho geral que impactavam os mercados. Isso com um preço adequado. A Broadcast era o fuscão envenenado; o Rolls Royce era a Reuters. Hoje, o Rolls Royce é a Bloomberg, mas a Broad continua liderando o mercado.

Mas tanto a Broadcast quanto os outros serviços que criamos na Agência Estado estavam estruturados sobre o velho modelo de monetização a partir da sua capacidade de distribuir informação. Quando propus para o Conselho do Grupo Estado o projeto Broadcast, entre os argumentos estava o de que os classificados iriam migrar para o resultado da convergência entre telecomunicações, computação e software. O MIT – Media Lab, foi um dos primeiros centros de think tank do novo cenário que estava se desenhando e eu estava lá, desde o início da década de 90. Em 1997, escrevi um artigo que já previa o desenvolvimento do cenário que estamos vendo hoje.

Empresarialmente, meu objetivo era vender o sistema Broadcast a partir do momento em que a internet estivesse mais estruturada e a banda larga mais disseminada no Brasil – isso ocorreu em meados dos anos 2000. E colocar o foco no varejo da economia brasileira, se voltar para setores como micro e pequenas empresas, agronegócio, tecnologia, educação. A informação jornalística seria uma cunha para entrarmos com serviços de articulação de setores e mercados no processo de digitalização da economia. A receita viria de processos de gestão de relacionamento e não da venda de informação.

Era esse o plano porque estava claro para mim que o mercado financeiro é um mercado das empresas que estão nas capitais financeiras do mundo e por isso nasceram globais. Nova York (Bloomberg) e Londres (Reuters). Em termos locais, o mercado brasileiro, é um mercado pequeno. A capacidade de investimento das empresas globais neste mercado é muito maior do que o nosso. Enquanto o mercado de articulação e digitalização do varejo da nossa economia tem um potencial muito maior e tem muito mais a ver com o papel histórico dos jornais: servir como plataforma de articulação da sociedade. A notícia, a informação editorial e a comercial, é um meio, não o fim. Sempre foi assim.

“Estamos chegando à terra prometida”

Entendo que você levou adiante seu projeto de criar processos de articulação na rede.

R.L.M. – Sim, desde 2002, quando profissionalizamos a gestão da “S.A. O Estado de S Paulo” e eu saí, desenvolvo projetos de gestão de relacionamento na Web, rede, para empresas, setores e entidades. Começamos em Birigui, com uma rede de colaboração, conhecimento e negócios para a capital do calçado infantil. Perdi dinheiro, mas aprendi muito. Depois disso, desenvolvemos dezenas de projetos. Entre eles, a plataforma Peabirus, o TEIAmg, maior projeto de processos crowdsourcing do Brasil, a Rede CIM, Pequenas Empresas & Grandes Negócios da Globo, Museu em Rede, O Milagre de Santa Luzia, Raio Brasil, a República Popular do Corínthians entre outros. Um longo caminho de aprendizado, da minha adolescência e meu sonho de ser o repórter dos confins às novas fronteiras do desenvolvimento da sociedade humana, a Web, a rede.

Breve, estaremos lançando novos projetos. Agora, com o objetivo de criar uma empresa de informação aberta na Web, na rede, da qual não seremos donos nem teremos o controle, mas teremos o domínio e a gestão. É o máximo que posso adiantar.

Acompanho-o por meio do blog Confins e outros canais que você mantém na rede. Que objetivos você tem com eles?

R.L.M. – Sou jornalista, com uma forte e acentuada tendência para o empreendedorismo. Acho que esta característica por causa das circunstâncias do tempo que vivi e vivemos e por respeito, admiração e amor pelo meu bisavô, meu avô e acima de tudo pelo meu pai, o jornalista Ruy Mesquita [diretor e editorialista do Estadão, 1925-2013]. Na “S.A. O Estado de S. Paulo”, fiz tudo o que pude para contribuir para a perpetuação da empresa, para abrir um novo caminho no novo sertão, que é a fronteira da Web, da rede. Dei à empresa muito mais do que recebi nos meus quase 30 anos de dedicação exclusiva a ela.

O blog Confins é a minha landing page. Minha formação teórica é em História. Para desenvolver os meus projetos, tive que me debruçar sobre a cobertura jornalística da evolução do ecossistema de informação, comunicação e articulação da sociedade e procurar dominar as mídias/ferramentas que vão surgindo na Web, na rede. Daí, o jornal dos Confins, o meu canal no rebel mouse, no google+, no linkedin, no facebook, no youtube, no peabirus, no twitter, no pinterest, no scoop.it, no scribd, no slideshare, no delicious, no instagram e outros. Eles estão mais ou menos interligados e em todos é o mesmo foco de conversação: a evolução do ecossistema da informação… Além desta função, há a do aprendizado para usar estas ferramentas na construção das nossas redes sociais.

Não trabalho sozinho, tenho sócios, somos um time. Eles são mais moços do que eu. Têm mais agilidade e conhecimento para o desenvolviento dos ambientes de monitoramento, curadoria, agregação, articulação e governança que desenvolvemos. O new new new jornalismo. Eu trouxe esta visão que desenvolvi graças a ter “nascido dentro das redações” da “S.A. O Estado de S. Paulo”, de ter sido primeiro sponsor de programas do MIT – Media Lab e depois pesquisador afiliado, durante quase 15 anos, deste que foi naquele tempo a Escola de Sagres dos novos tempos. Além disso, puxo a articulação no mundo físico (analógico) e digital.

Atravessamos o deserto, estamos chegando à terra prometida.

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Eduardo Magossi, da revista Página 22