Há cinco mil táxis em Belém. Metade deles tem um ponto fixo como base. Praticamente todos os motoristas recebem, em seu local de trabalho, um exemplar de O Liberal e do Amazônia. Outro par de jornais é enviado para a residência. Se considerado um universo de dois mil taxistas, são oito mil exemplares gratuitos todos os dias. Quanto representará do total de exemplares vendidos dos dois jornais da família Maiorana?
Em qualquer hipótese, não menos do que um terço. Numa auditagem rigorosa, esses oito mil exemplares não podiam ser incluídos na tiragem paga. Foi por uma fraude semelhante que o IVC (Instituto Verificador de Circulação) rejeitou a informação jurada do editor de O Liberal. Metade da tiragem declarada não era vendida. Houve época em que jornais eram impressos e jogados fora, só para fazer volume na hora da verificação na boca da máquina. Deu certo só por um tempo. Logo a manobra foi descoberta e denunciada pelo IVC.
Agora os jornais dos Maiorana não são submetidos a qualquer auditagem de circulação, nem mesmo de empresas que não atuam nessa área, como chegou a ser feito. Sem poder apregoar liderança de vendas, O Liberal se proclama “o maior e melhor” do Norte e Nordeste. Mas quem lhe conferiu esse título? Os Maiorana, é claro. Sem o menor reparo por parte das agências de publicidade, que continuam a programá-lo sem qualquer respaldo objetivo, vinculadas mais ao veículo e muito menos aos seus clientes (que também não se mexem na defesa dos seus interesses).
Voo cego
Mesmo porque não há muita alternativa. O Diário do Pará a ofereceria se apresentasse ao público os dados sobre circulação apurados pelo IVC. Paga para manter a filiação ao instituto sem transformá-la em atestado diferencial em relação ao concorrente. Prefere o Ibope. Por que, perguntam alguns leitores. Porque o Ibope mede audiência: quantas pessoas estão ligadas a emissoras de rádio e televisão em determinados momentos. Da mesma maneira, quantas pessoas leem um único exemplar de jornal.
O IVC, porém, checa a vendagem. Não só verificando o registro na impressora: também examinando as contas da empresa, a compra de papel, sua utilização na produção do jornal e outros dados, que lhe permitem abandar da vendagem real os exemplares gratuitos ou que são oferecidos abaixo do custo de produção. Aquela falsa vendagem, como a dos oito mil exemplares distribuídos a taxistas.
Em matéria de venda de jornal, o que há em Belém é voo cego. E, como se sabe, o pior cego é aquele que não quer ver.
******
Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)