Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Futuro incerto para a rede Patch da AOL

Até agora, a maior parte dos analistas de mídia e especialistas em jornalismo é quase unânime em proclamar, com base no que está se mostrando errado, a morte prematura de Patch, a rede de sites de informação e noticiário local criada pela AOL.

Embora os problemas da companhia tenham se avolumado nos últimos anos, a combinação de demissões com a recente reportagem publicada no “The New York Times”, que levou muitos a acreditarem que Patch estaria ‘recolhendo as velas’, serviu para colocar a já combatida empresa no alvo dos críticos que acompanham os passos da mídia.

Algumas das críticas mais frequentes e causas apontadas para o insucesso de Patch em tornar-se rentável incluem seu inusitado e rápido crescimento. Essa expansão não poderia ser suportada por um modelo de negócios não testado antes pela companhia. Em muitos casos, sites foram criados na correria, antes de garantia de apoio publicitário.

David Carr, que escreveu o pseudo obituário de Patch no “NYT”, usou referências bíblicas, qualificando Patch de a desaparecida “baleia branca” de Tim Armstrong, o CEO da AOL. O especialista em novas mídias Jeff Jarvis descreve o fracasso de Patch como se esta fosse o mais importante mercado de mídia, levando todos a criticarem os executivos da AOL por agirem nos moldes da “velha mídia”, por quererem disseminar a rede Patch rápido demais e possuir tudo o que fosse possível em negócios de mídia hiperlocal.

Questionado sobre Patch e sua visão do futuro do jornalismo hiperlocal, Jim Brady, presidente da Associação dos Noticiosos Online e ex-editor do portal Washingtonpost.com, mostrou cautela. “Acho que temos de ter cuidado ao usar o sucesso ou fracasso de qualquer entidade como um termômetro para determinado tipo de jornalismo”, disse Brady. “Cada produto é diferente. Então, eu não acho que o que aconteceu com Patch seja a história mais importante sobre as ações hiperlocais. Não é nada tão significativo, assim como o malogro da Friendster (rede social fundada em 2002 por Jonathan Abrams, na Califórnia) nada representou de mais importante para as mídias sociais como um todo.”

Negociações em curso

Apesar de todas as “autópsias” a que foi submetida nas últimas semanas, a Patch ainda navega, mesmo que em águas muito turbulentas. A partir de agosto passado, a rede iniciou demissões que, no final das contas, resultaram no abandono de quase 40% de sua força de trabalho. Cerca de 500 funcionários foram cortados, incluindo jornalistas, vendedores e outros.

Assim, as conclusões que podem ser tiradas até agora são de que a falha não está em uma ação hiperlocal, mas na estratégia de execução adotada pela AOL para Patch. Alguns especialistas em mídia chegaram a dizer que a definição de um padrão de rede para todos os locais, ignorando algumas cidades em favor de comunidades suburbanas abastadas, foi em si mesmo uma falha fatal.

Editores locais mais antigos concordaram em afirmar que muitos dos problemas de Patch resultaram, quase sempre e em pouco tempo, da junção de fatores como a diminuição dos orçamentos para freelances e a falta de foco na contratação de representantes de vendas de publicidade. Em geral, não eram representantes locais, mas representantes regionais que tinham dificuldade em vender para as empresas locais.

Mitchelle Stephenson, ex-editora de Patch na localidade de Edgewater, no estado de Maryland, comentou em agosto passado no site jimromenesko.com que, “no final, uma execução ineficiente, mais do que a ideia, matou Patch”.

Como ex-freelance de vários sites de Patch em Long Island, tenho algumas ideias próprias sobre o que ocorreu com a rede. Para começar, parece-me que foi pedido demais aos editores locais, incluindo tarefas que mais se coadunavam com marketing e promoção do que com edição e redação. Além disso, senti que boa parte do foco editorial era muito superficial, com ênfase exagerada em calendários e listas, em histórias de “os melhores”, que mais pareciam entretenimento do que informação.

Oficialmente, a AOL nada comentou além do que Tim Armstrong já disse durante sua teleconferência de dezembro passado, na qual falou sobre a “opção” da Patch, sinalizando para este ano de 2014 uma propriedade com provável “parceria” em torno dela.

E, ainda mais revelador, foi um recente memorando interno da Patch que vazou para o site Businessinsider.com e foi enviado a funcionários da empresa. O memorando pedia, essencialmente, que os funcionários permanecessem à espera, porque negociações com “potenciais parceiros” estavam em curso.

Então, o que exatamente parece ser o futuro de Patch? Será que vai surgir uma parceria com uma grande empresa de mídia? Será vendida diretamente a investidores? Ou será enxugada ainda mais, permitindo crescer mais “organicamente”, como muitos disseram que deveria ter sido feito desde o início?

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AOL fecha acordo sobre a rede Patch, afirma ‘Financial Times’

Emily Steel, do Financial Times, 16/1/2014 

A AOL fechou um acordo para criar um empreendimento comum com a empresa de investimentos Hale Global, desfazendo-se da rede online de jornalismo hiperlocal Patch, que vem dando prejuízo para a companhia.

Patch será agora uma nova empresa a ser operada majoritariamente pela Hale Global, que se define como uma compradora de “desinvestimentos de baixo desempenho de outras empresas”. A AOL continuará a ter uma presença minoritária na rede, mas os termos específicos do acordo não foram revelados.

A AOL investiu milhões de dólares na rede Patch, gastando cerca de US$ 160 milhões, somente em 2011, para construir uma rede com mais de 900 sites que cobrem as notícias de pequenas cidades dos EUA.

No entanto, Patch foi um para-raios de críticas durante o mandato de cinco anos de Tim Armstrong como o chefe executivo da AOL. Armstrong foi o cofundador de Patch, que a AOL adquiriu por menos de US$ 10 milhões em 2009 como parte de uma estratégia ampla para capitalizar em cima das predições de rápido crescimento dos mercados de mídias digitais locais.

“Patch é uma importante fonte de informação e o empreendimento comum que criamos tem a missão de prover plataformas locais e conteúdos hiperlocais”, disse o chefe executivo da AOL.

Armstrong considerava Patch como um veículo que poderia prosperar enquanto a tradicional imprensa local sofria com a queda de assinaturas e de publicidade. Todavia, a estratégia começou a ruir em 2012 durante a batalha entre Armstrong e a empresa de investimentos Starboard, que criticou o investimento. Armstrong prometeu que Patch seria lucrativa até o final de 2013 ou então a AOL iria vende-la.

Em agosto, foi revelado que Arsmtrong demitiu um empregado durante uma reunião confidencial para se discutir o futuro do Patch. No mesmo mês, a AOL anunciou que iria fechar, vender ou encontrar parceiros para cerca de um terço dos 900 sites de Patch, o que causou a demissão de cerca de 500 pessoas.

O lucro da AOL caiu em 61% durante o período por causa dos US$ 44 milhões em multas relacionadas a Patch.

A AOL iniciou então discussões com a Hale Global, que procura negócios sofrendo prejuízos ou ceticismo, mas que possuem base para crescimento e estabilização. A empresa de investimentos diz que planeja investir em nova tecnologia e iniciativas móveis para Patch.

Apesar da renda de Patch ter aumentado no último bimestre, a audiência da rede diminuiu 26% em comparação com o mesmo período do ano passado, de 18,6 milhões de visitantes únicos mensais para 13,8 milhões.

“Estamos comprometidos em unir usuários, empresários locais, escritores e anunciantes para uma experiência cheia de inovação e crescimento”, disse Charles Hale, chefe executivo da Hale Global.

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Alan Krawitz, do Mediabistro