Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O processo revolucionário na comunicação

Na quinta-feira (29/5) o jornal inglês The Guardian anunciou mais uma adaptação para os leitores: a incorporação do Witness permite aos leitores colaborarem com comentários, fotos e vídeos. É um avanço sem igual em relação ao jornalismo colaborativo. Uma luz, talvez, no debate que se coloca sobre os novos rumos do jornal impresso. O acesso ao jornal britânico permite agora, por exemplo, que o leitor aprofunde o conteúdo, acrescente informações, compartilhe vídeos. Seria uma ideia parecida com o Wikipédia?

Não simplificaria tanto. É muito mais. A proposta é revolucionária. É permitir que o cidadão não só leia os fatos, mas participe de todo o processo. Arrisco até dizer que The Guardian instiga uma espécie nova de “corregedoria da comunicação”. Pelo ponto de vista de conteúdo, se algum leitor identificar alguma falha de informação ele tem em mãos recursos disponíveis para a promoção do diálogo. Se julgar, então, que a informação precisa de mais detalhes ou que algo não está bem explicado, estará lá com atalhos que lhepermitirão pontuar mais dados.

Do ponto de vista da integração entre produtor e consumidor, isso é fantástico! É, mais uma vez, o jornalismo cidadão mostrando a que veio. Vejamos: um grande marco revolucionário no mundo que diz respeito à atuação do open source teve início pós-atentados terroristas do 11 de setembro de 2001. O fato levou as pessoas a estarem mais dispostas a retratar fatos e fazer história. Não era só mais uma questão de somente debater tudo que era colocado nos veículos tradicionais. Fotos, vídeos, depoimentos: pessoas comuns escrevendo a História no mundo.

Jornalismo sem fronteiras

No Brasil, um dos pioneiros nesta perspectiva foi o jornal O Globo, que abriu o canal para o “Eu, repórter”, em que a sociedade compartilha situações do dia-a-dia, gerando, dessa forma, a notícia. Foi assim em abril de 2010, quando das enchentes no Rio de Janeiro: os veículos de comunicação não conseguiam acesso para relatar informações e a comunidade fez seu papel histórico: retratar os fatos.

Há ainda muito que se debater. No Brasil, a ação de compartilhamento de conteúdo nos veículos de comunicação ainda é muito tímida. Abre-se espaço para a sociedade compartilhar fotos e vídeos, mas não para edificar a notícia junto a um profissional de comunicação que dirige os grandes veículos de mídia. O que estamos acompanhando – e que é impossível de ignorar – é a imensa rede de repórteres amadores, cada qual com um recurso multimídia em mãos, prontos a captar informações. É a democracia, a participação e a troca de informações. Enfim, éum jornalismo sem fronteiras.

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Bárbara Lobato é jornalista e especialista em Comunicação e Multimídia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Atualmente é assessora de comunicação no Ministério da Justiça