Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A nova pauta do caso Petrobras

A cobertura do escândalo da Petrobras entrou em nova fase, com noticiário fragmentado nos vários jornais. Para acompanhar o caso, o leitor tem sido obrigado, mais do que antes, a buscar novidades em várias publicações. Esse é um sinal de pautas mais diversificadas e menos dependentes dos assuntos mais visíveis e obrigatórios para todos. Os grandes temas, agora, são menos policiais e mais econômicos. Já se avaliam os efeitos em grandes projetos de infraestrutura, a situação das fornecedoras da Petrobras e as eventuais consequências no mercado financeiro. Possíveis problemas para os bancos credores das companhias envolvidas na bandalheira são uma das novas preocupações das autoridades, segundo o noticiário.

Nem tudo mudou, é claro, de um dia para outro. Como as investigações continuam, ainda é preciso cuidar de uma pauta comum, como a prisão de uma das figuras mais conhecidas do escândalo. Detido pela Polícia Federal em mais um lance da Operação Lava Jato, Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, foi figura de capa de grandes jornais na quinta-feira (15/1).

Escoltado por policiais, o ex-diretor foi fotografado em Curitiba, onde já estavam presos vários outros acusados de participação na pilhagem da estatal. “MP diz haver indício de que corrupção não foi estancada”, informou o Globo em manchete acima de uma grande foto de Cerveró. “Corrupção na Petrobrás ‘não foi estancada’, diz MPF”, noticiou o Estado de S.Paulo no alto da primeira página. O fotógrafo Geraldo Bubniak, autor das imagens, dominou as capas de alguns dos jornais mais importantes.

Competitividade prejudicada

Os danos causados pela pilhagem podem ir muito além da estatal. Não se conhece ainda o tamanho do estrago. Enquanto avançam as investigações no lado criminal, o governo tenta avaliar os efeitos secundários no mercado financeiro, no andamento dos programas de infraestrutura e nas companhias afetadas indiretamente. Os saqueadores parecem ter subestimado as consequências do assalto a uma empresa do tamanho da Petrobras, a maior do país e, em termos internacionais, uma das grandes do setor do petróleo.

O rebaixamento das notas de crédito de várias construtoras investigadas na Operação Lava Jato poderá resultar em problemas para os bancos credores. Nesse caso, as condições de financiamento para outras empresas poderão piorar. Se isso ocorrer, companhias poderão ser afetadas mesmo sem ter participado de qualquer das ações investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Segundo o Estado de S.Paulo, o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) acompanham os efeitos colaterais no setor financeiro e estudam medidas para evitar a contaminação de empresas sem ligação direta com os fatos investigados na Operação Lava Jato. O foco de contágio, é claro, está nas construtoras investigadas. Se essas empresas tiverem dificuldades para liquidar seus compromissos, os bancos poderão retrair-se e os problemas tenderão a espalhar-se. Autoridades do Ministério da Fazenda, de acordo com o jornal, tratam o assunto discretamente, mas com claras demonstrações de preocupação.

O Valor Econômico chamou a atenção para outro tipo de problema. Empreiteiras investigadas no escândalo participam de importantes projetos de infraestrutura, como a construção da Usina de Belo Monte, citada diretamente na reportagem. Se essas construtoras tiverem problemas financeiros, grandes obras poderão ser prejudicadas.

Haverá, nesse caso, sérias consequências para a economia. De imediato, o atraso das obras afetará o nível geral de atividade. Em prazo mais longo, a redução dos investimentos privará o país de condições para ampliar a capacidade produtiva, retomar o crescimento e criar empregos. Além disso, a política de competitividade, prometida pela nova equipe econômica, será prejudicada. Os problemas de infraestrutura são uma das principais desvantagens do Brasil diante dos concorrentes no mercado internacional.

Controle de danos

Também o Palácio do Planalto está envolvido nas operações de conserto e de limitação de danos. Segundo a Folha de S.Paulo, a presidente Dilma Rousseff discutiu com os presidentes do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil a concessão de empréstimos à Sete Brasil, maior fornecedora de sondas para o pré-sal.

A Sete Brasil foi formada por vários sócios – Petrobras, bancos e fundos de pensão de estatais – para produzir sondas destinadas à exploração do petróleo no pré-sal. A formação dessa empresa atendeu a uma orientação do governo federal: favorecer o desenvolvimento de fornecedores nacionais para os programas de exploração e produção de petróleo e gás. . O material da Folha destacou um detalhe importante: Pedro Barusco, ex-diretor da Sete Brasil e ex-funcionário da Petrobras, declarou, num acordo de delação premiada, ter recebido propina quando trabalhava na estatal.

Os efeitos colaterais do escândalo, como lembrou o Estadão, podem complicar a tarefa da nova equipe econômica. Eles já teriam muito trabalho se o desafio imediato incluísse a arrumação das contas públicas, a redução da inflação e a recuperação do balanço de pagamentos. O sucesso dessa missão depende em boa parte da reconquista da confiança dos investidores na política econômica e nas perspectivas da economia brasileira. A agenda deve incluir, agora, o controle dos danos econômicos e financeiros produzidos pelo assalto à Petrobras.

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Rolf Kuntz é jornalista