Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

A arte de captar erros

Edição foi o tema da coluna de domingo [31/8/08] de Deborah Howell, ombudsman do Washington Post. Os revisores editoriais ou responsáveis editoriais (copy editors, em inglês) são os últimos da ‘cadeia jornalística’ antes de um texto ser publicado – e aqueles que podem evitar que um verdadeiro desastre jornalístico ocorra. Eles não assinam a matéria e não recebem o reconhecimento do público – que muitas vezes nem sabe que seu trabalho existe.

Porém, são eles que escrevem as manchetes e legendas e ficam atentos aos erros (grandes ou pequenos), frases truncadas, mau uso da gramática e da ortografia, endereços de internet errados e nomes escritos de maneira incorreta. São eles que avaliam se o texto é coerente e checam os últimos dados, sempre perto do prazo final de entrega. Deborah, por exemplo, tem suas colunas lidas por Vince Rinehart, chefe da revisão editorial.

Embora sejam de extrema importância, os revisores estão em ‘extinção’. Eles estão deixando o Post e os jornais de maneira geral por conta dos cortes de custos nas redações. Segundo Chris Wienandt, presidente da American Copy Editors Society, entidade que reúne os revisores editoriais dos EUA, os membros reclamam das demissões em massa e das alegações de que o cargo é ‘dispensável’. ‘Estou preocupado que estes cortes afetem a credibilidade dos jornais’, opina.

Reestruturação

Os cortes orçamentários forçaram uma reestruturação nas funções editoriais do Post – e de outros jornais. No começo de 2005, o diário tinha 75 revisores editoriais em tempo integral. Mais de 30 já deixaram o jornal para outros empregos ou por terem aceito demissão voluntária. Atualmente, eles são 43 – o que representa uma perda de 40% em três anos. Há também um número de revisores editoriais trabalhando em período parcial.

Este tipo de profissional exerce uma função jornalística essencial, defende Deborah. ‘O trabalho que eu faço é importante por diversas razões. Além de checar gramática e ortografia, nós garantimos que a matéria faça sentido para alguém que não sabe do assunto’, avalia Bill Walsh, chefe dos revisores editoriais da seção nacional. Muitos trabalham à noite e nos finais de semana para assegurar que as matérias não tenham erro na edição do dia seguinte.

Há uma tensão saudável entre editores e repórteres. Alguns repórteres acreditam que sua matéria é bem escrita e seu estilo não deve ser mudado; muitos reclamam que, por vezes, os próprios revisores inserem erros na matéria. Já os revisores dizem que o número de erros cometidos por repórteres – e notados por eles – é muito maior.

Na opinião de Philip Bennett, chefe de redação do Post, os revisores editoriais são ‘essenciais para nossa credibilidade, mas, como outros cargos no jornalismo, têm que evoluir com as mudanças que afetam a indústria’. Antes dos cortes, Bennett diz que havia o mesmo número de revisores editoriais que de repórteres e é ‘vital manter um grande número de repórteres contribuindo com jornalismo original, mesmo que para isso seja preciso ter menos revisores’. Já Deborah acredita que, mesmo com os cortes, o cargo de revisor editorial deve ser uma prioridade dentro de um jornal.