Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A cidadania não empolga a mídia

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


Má notícia para os telespectadores deste programa servidos pela TV Cultura. A partir de hoje este Observatório passa a ser transmitido às 11 e meia da noite, portanto, uma hora depois da emissão ao vivo pela rede da TVE. Pela terceira vez em três anos este programa é punido por uma emissora pública cujo compromisso básico deveria ser com o conteúdo da programação. Mas fique tranqüilo: em qualquer horário, você pode contar com este Observatório.


Bolha é algo efêmero, sem sustentação. Este significado ficou evidente ontem, segunda, quando a mídia em uníssono agarrou-se às bolhas aparecidas nos preciosos pés de Ronaldo. Hoje as bolhas estavam cicatrizadas, tudo indica que a legião de jornalistas brasileiros na Alemanha terá que produzir outras bolhas até a próxima sexta, quando o importante será o placar.


A Copa do Mundo é uma espécie de coalizão nacional, uma frente ampla em torno das nossas cores, mesmo quando o goleiro engole um frango, um artilheiro perde um pênalti ou o técnico escolhe uma tática equivocada. Este pacto nacional em torno do futebol resistiu às ditaduras e o torcedor não conseguia deixar de sentir-se cidadão, esquecido de sua indignação ou mágoa com os donos do poder.


E por que razão não se consegue armar um pacto político suprapartidário para enfrentar o crime organizado agora, antes das eleições? Será verdade que o brasileiro só se comove e só se empolga com o futebol? Ou a imprensa não está conseguindo cobrar do governo e dos políticos um mínimo de coesão diante da calamidade que se estende de ponta a ponta do país?


Na hipótese de terremoto ou tsunami, a imprensa não conseguiria impor aos partidos um mínimo de solidariedade para enfrentar a adversidade de forma pronta e imediata? Se a imprensa não consegue engajar-se numa causa tão nobre como a defesa da cidadania contra os tentáculos do crime organizado, como esperar que consiga obter a credibilidade para exercer a vigilância que dela se espera?


Uma coisa é certa: Marcola não está preocupado com o calendário eleitoral.