Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A cobertura de saúde

O programa Observatório da Imprensa na TV de terça-feira (29/11) debateu a cobertura da imprensa das questões de saúde. Com doenças como gripe aviária, febre maculosa e dengue ganhando destaque recentemente, questionou-se a necessidade de especialização dos jornalistas em assuntos de saúde para que as informações sejam passadas à população de maneira mais transparente.


Em seu editorial [ver remissão abaixo], Alberto Dines lembrou que acabou o tempo em que os jornalistas eram especialistas em idéias gerais, escrevendo superficialmente sobre qualquer assunto. Agora, cada área tem sua especialidade e cada assunto demanda um mínimo de conhecimento necessário para evitar possíveis erros, com a cobertura de assuntos de saúde exigindo um grau de responsabilidade ainda maior.


Na matéria de apresentação, foram ouvidas autoridades de saúde e jornalistas da área. Para Antônio Ivo de Carvalho, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz, o papel da mídia é importante para esclarecer a população em caso de epidemias, que precisa ser informada das precauções a tomar. Mauro Blanco, coordenador do controle de vetores da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, acredita que o poder público e a mídia devem informar sem evitar pânico e para isso é importante recorrer a fontes seguras e confiáveis. A jornalista paulista Conceição Lemes, especializada em saúde, falou sobre o conflito de interesses que envolve a indústria farmacêutica, que muitas vezes recorre a médicos para passar informações otimistas sobre seus produtos.


O papel da mídia e do médico


Falando de Brasília, Jarbas Barbosa da Silva Jr., secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, informou que apenas de 5% a 6% das mortes no Brasil estão relacionadas a doenças contagiosas. Ele esclareceu dúvidas sobre a gripe aviária e afirmou que não cabe comparação com a gripe espanhola, como fizeram alguns jornais, pois o cenário atual é outro. Como um dos pilares da vigilância é a notificação precoce, o Ministério da Saúde faz um clipping dos principais jornais para observar o que está sendo divulgado pela imprensa. Em relação às campanhas do Ministério da Saúde, ele as considera importantes para que as pessoas fiquem mais informadas e preparadas para tomar decisões, além de acreditar que elas dão um tom de veracidade às informações.


Otávio Azevedo Mercadante, diretor do Instituto Butantan, de São Paulo, esclareceu dúvidas sobre a febre maculosa e observou que este foi um exemplo clássico do papel do jornalista, que não deve preocupar a população em casos que não constituem epidemia. Mercadante lembrou a censura no regime militar em temas de saúde, e disse acreditar que até hoje alguns jornalistas ficam na dúvida se as autoridades estão falando a verdade ou se estão escondendo dados.


O médico epidemiologista Roberto Medronho, professor-adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ, no estúdio da TVE, no Rio de Janeiro, comentou o papel do médico, que deve comunicar os fatos em linguagem mais clara. Ele considera o papel da mídia positivo e acredita que ela serve também para mobilizar o governo, mas cobrou cobertura mais constante, e não apenas em momentos de crise. No caso do óbito do jornalista Roberto Moura por febre maculosa, em outubro, ele fez um alerta: o profissional médico não deve se esquecer de fazer perguntas básicas ao paciente para descobrir onde ele esteve recentemente. Para Medronho, neste caso a imprensa foi fundamental para chamar a atenção dos médicos.


O Observatório da Imprensa na TV é exibido ao vivo pela rede pública de televisão às terças-feiras, a partir das 22h30. Em São Paulo, o programa não vai ao ar ao vivo e sua exibição começa às 23h, na TV Cultura.