Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A controvérsia do consumo

A imprensa brasileira ainda está comemorando os números que mostram o comércio varejista crescendo em ritmo acelerado, mesmo sob ameaça de inflação. Reproduzindo dados do IBGE, os jornais informam que as vendas do comércio cresceram 10,6% no primeiro semestre, apesar do repique inflacionário.


Alguns analistas consideram que a classe média tradicional e as classes de renda mais baixa ainda não refrearam o consumo depois de alguns aumentos de preços, enquanto a chamada nova classe média, aquelas famílias que vêm sendo promovidas da zona de pobreza, continuam deslumbradas com sua nova capacidade de compra.


Os jornais também lembram os temores do Banco Central e do Conselho de Política Monetária, observando que uma das prováveis causas do aumento de preços é o descompasso entre o crescimento mais forte da demanda interna e a oferta insuficiente de produtos e serviços. Mas o noticiário também destaca outros fatores, como a ascensão dos preços de produtos básicos no mercado internacional.


Acontece que as análises da imprensa sobre o risco da inflação em 2008 são muito parecidas com o que foi publicado há dez anos, quando o governo da época alterou bruscamente a política cambial.


Estratégia adequada


Naquele período, também se noticiava que uma parte da população havia obtido um ganho de renda – que a imprensa representava através do aumento do consumo de iogurte e de biscoitos recheados. Mas é preciso levar em conta que o cenário hoje é muito diferente.


Nos últimos anos, o Brasil se consolidou como um grande exportador e importador, ou seja, tornou-se um protagonista mais relevante no comércio global, o que também afeta o mercado interno.


O Brasil é outro, o mundo também mudou bastante depois da crise na Ásia, com a escalada do preço do petróleo e principalmente com a recente derrocada do crédito imobiliário nos Estados Unidos.


Em meio à turbulência geral, o Brasil parece navegar em águas relativamente calmas. Mas o noticiário fragmentado e ainda preso a referências do passado não ajuda o cidadão a entender o que realmente vem por aí – e a adotar a estratégia mais adequada para defender seu patrimônio. Poupar ou atender os desejos reprimidos pela pobreza?


Enquanto isso, o consumo segue desenfreado.


E a imprensa? A imprensa ganha com a publicidade.