Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A notícia e a tentação do alarmismo

Como era esperado, o vírus da gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína, chegou ao Brasil. Os jornais de sexta-feira (8/5) registraram os primeiros quatro casos confirmados e, de modo geral, mantêm a linha de informar em primeiro lugar, evitando especulações e alarmismo. A exceção segue sendo o Globo, que não perde, ou até cria, oportunidades para deixar no ar a tese de que o Brasil não estaria preparado para uma epidemia.


Os três jornais considerados de maior influência nacional apresentam em manchete a confirmação do contágio em brasileiros que retornaram de viagem ao exterior no mês de abril.


A Folha de S.Paulo destaca em título da reportagem interna de duas páginas que, segundo as autoridades sanitárias, não há motivo para pânico: o vírus tem baixa letalidade, revelando-se pouco mais grave que o da gripe comum.


Também o Estado de S.Paulo, com três páginas para o assunto, dedicou amplo espaço a informar seus leitores sobre cuidados a serem tomados na fase de expansão da doença e destacando a estrutura montada nas principais cidades brasileiras para fazer frente ao possível agravamento do quadro.


O Globo também repete o quadro com informações sobre ‘cuidados a tomar’, mas dedica apenas uma página ao assunto e inclui nela uma nota sob o título ‘Tendência é aumentar’. Sob esse título, alinha-se uma curta entrevista com uma virologista que integra a Comissão para o Desenvolvimento dos Planos de Contingência Nacional para Influenza, órgão criado pela Organização Mundial da Saúde.


Limites da informação


O repórter começa afirmando que, ‘segundo alguns especialistas, o Brasil não estava preparado e demorou muito para fazer o diagnóstico’. A entrevistada rechaçou de bate-pronto, dizendo não concordar com a afirmação. Ainda assim, o repórter insiste em uma resposta alarmista, até que consegue ouvir a obviedade segundo a qual o número de casos no Brasil pode aumentar, porque continuam chegando pessoas que viajaram para os países de maior incidência e porque também podem ocorrer casos de transmissão aqui mesmo no país. O Globo, então, conseguiu o título que o editor buscava.


É assim que se produz o pânico: insiste-se na pior versão, até que um fato de menor importância acabe justificando a escolha pela interpretação mais tenebrosa.


Discute-se permanentemente o papel da imprensa diante de acontecimentos que podem provocar comoção geral ou movimentos coletivos de grandes proporções. Os jornalistas conhecem perfeitamente os limites entre a informação que produz cautela e a que leva ao descontrole. O Globo parece apostar na segunda alternativa.