Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Acordo da indústria alimentícia restringe publicidade infantil


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de agosto de 2009 


 


PROPAGANDA


Márcio Pinho, Ângela Pinho e Daniel Castro


Indústria alimentícia faz restrição tímida à publicidade infantil


‘Um grupo de 24 empresas do setor alimentício, entre elas McDonald’s, Coca-Cola e Kellogg’s, assinou ontem um acordo comprometendo-se a não fazer publicidade voltada a crianças de 0 a 12 anos em programas de TV em que 50% ou mais da audiência seja constituída por esse público. A regra vale para todas as mídias, como jornal, rádio, revista e internet.


A medida, contudo, pode se tornar inócua caso o documento seja seguido ao pé da letra. Isso porque nenhum programa da TV aberta comercial tem mais de 30% de seu público formado por pessoas de 4 a 11 anos, segundo dados do Ibope na Grande SP -que não mede audiência de telespectadores com menos de quatro anos.


Na TV Cultura, só dois programas (‘Tudo sobre Animais’ e ‘X-Tudo Mágica’) se enquadram na restrição. Mas a Cultura, desde o final de 2008, não veicula publicidade comercial em sua programação infantil.


A limitação nem sequer consegue atingir canais pagos feitos especialmente para crianças. De cada cem telespectadores do Discovery Kids, na média das 7h às 18h, só 31 têm de 4 a 11 anos. No Cartoon Network, essa participação é um pouco maior: de cada cem telespectadores, 41 têm de 4 a 11 anos, segundo a medição do Ibope nos oito maiores mercados de TV paga, de janeiro a 2 de agosto.


O anúncio é feito quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) realiza consulta pública de uma proposta com mais restrições -como veto ao uso de desenhos na propaganda de alimentos com muito açúcar ou gordura.


A autorregulamentação anunciada ontem é semelhante a acordos firmados na União Europeia e nos EUA em relação à publicidade de alimentos para crianças.


A Anvisa e órgãos de defesa do consumidor consideraram a medida positiva. Porém, dizem que não é suficiente, principalmente porque deixa brechas.


‘Não deixa de ser um reconhecimento de que as crianças são mais vulneráveis e precisam ser protegidas’, disse Isabella Henriques, do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana (ONG que atua na área de educação e cultura).


Isabella e a advogada Daniela Trettel, do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), contudo, dizem que é necessária a regulamentação por parte da Anvisa, porque evitará brechas.


A Anvisa aprovou a iniciativa, mas criticou o percentual mínimo de público infantil estabelecido. A resolução da entidade deve ser publicada neste ano.’


 


 


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Setor diz que anunciantes vão respeitar o bom-senso


‘A regra de não veicular propaganda voltada ao público infantil em programas cuja audiência na faixa de zero a 12 anos seja igual ou superior a 50% não será o único critério a ser usado pela indústria alimentícia, afirmou Rafael Sampaio, vice-presidente executivo da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes).


‘Acredito que vai prevalecer o bom-senso por parte dos anunciantes. Ao ver que um programa ou uma mídia, um gibi, é voltado para criança, não irá anunciar’, diz Sampaio.


‘O setor de alimentação é realmente responsável e preocupado em agir da melhor maneira’, afirma o presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), Edmundo Klotz.


O presidente da PepsiCo Brasil, divisão de alimentos, Otto von Sothen, empresa que também participa do acordo, confirma. ‘Não anunciaremos na programação infantil. Em outros programas, apenas produtos com maior valor nutritivo.’


Pelo acordo, produtos que atendam a critérios nutritivos específicos poderão continuar sendo anunciados.


Até o fim do ano, as empresas vão definir qual será o critério de alimento nutritivo. A Nestlé, por exemplo, diz que, em países onde já há medidas semelhantes, ela anuncia leite fermentado para crianças, mas não faz propaganda de chocolate.


Sobre o fato de o acordo ser anunciado pouco antes de a Anvisa divulgar a nova regulamentação, Klotz diz que foi a indústria quem iniciou essa discussão há alguns anos e várias medidas já são seguidas -algumas regras do Conselho Nacional da Autorregulamentação Publicitária.


Ele negou que a indústria queira criar uma autorregulamentação já prevendo regras mais duras por parte da Anvisa.’


 


 


Hélio Schwartsman


Anúncios massacram sossego paterno


‘Na condição de pai de um par de vorazes consumidores de sete anos, fico tentado a apoiar toda e qualquer iniciativa que limite a publicidade dirigida à garotada, não apenas de produtos alimentícios como também de brinquedos, jogos etc.


Como cidadão de uma República regida por princípios constitucionais e leis, entretanto, preocupam-me empreitadas que possam resultar numa tutela indevida do Estado sobre agentes privados.


Anunciar para crianças é uma atitude meio covarde. Elas não têm renda nem espírito crítico e são puro desejo. Acrescente-se a isso sua enorme capacidade de azucrinar os pais, e temos a receita para um massacre contra o sossego paterno.


A propaganda verdadeiramente ética de produtos infantis deveria ser dirigida aos genitores e não à garotada, assim como a publicidade de remédios é orientada aos médicos, não ao paciente. Não foi por outra razão que a Suécia e a Noruega baixaram normas simplesmente proibindo anúncios endereçados a crianças.


Enquanto a discussão por aqui se dá no âmbito da autorregulamentação, não há o que opor. Se a própria indústria propõe novas regras, mesmo que seja para não mudar nada, ela está apenas exercendo seu direito de simular o bom-mocismo -o que é legítimo.


A situação muda de figura quando se considera que a Anvisa estuda adotar normas contra a publicidade de alimentos, sob a argumentação de que muitos fazem mal à saúde.


É claro que fazem, mas há limites para a interferência do Estado. No caso da propaganda comercial, ele é dado pelo artigo 220 da Constituição, que prevê a possibilidade de restrições legais só para ‘tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias’. Para tudo o mais, vale a regra geral de plena tolerância criativa.


No que diz respeito às liberdades pessoais, as fronteiras são menos explícitas. Um bom marco é o proposto pelo filósofo John Stuart Mill, segundo o qual cada indivíduo é soberano para decidir o que faz consigo próprio; o Estado só pode intervir para evitar que dessas escolhas advenham males a terceiros. Ou seja, é permitido encharcar-se de álcool ou tabaco, mas não dirigir embriagado ou fumar em espaços públicos.


Quanto aos pequenos, bem, os pais precisam servir para alguma coisa. Educar implica dizer alguns sins e muitos nãos.’


 


 


TECNOLOGIA


Ruy Castro


Errando no analógico


‘RIO DE JANEIRO – Outro dia, uma amiga pediu licença e tirou o celular da bolsa. Manuseando-o com abismal intimidade, ouviu recados, pagou uma conta no banco, acertou um trabalho em São Paulo, abriu uma foto do namorado, ‘baixou’ uma canção de Sinatra e ligou para casa para dar instruções à criadagem. Tudo isso em minutos, e vindo de uma pessoa que, até anteontem, não sabia nem como clicar o botão de ‘play’ da vitrola.


Diante do meu pasmo por sua atualização tecnológica, ela me disse que usa o celular como computador, internet, câmera, vídeo, cinema, TV, filmadora, MP3, iPod, FM, videogame e, por fim, telefone. E não entende como já foi capaz de viver sem aquele treco que faz tudo, exceto tirar-lhe as cutículas.


Como sou dos três ou quatro no Brasil que não usam celular, até hoje preciso de máquinas específicas, ancoradas em consoles, cômodas ou escrivaninhas, para desfrutar de tais serviços. Algumas dessas máquinas ainda são equipadas com, pode crer, válvulas..


Outro dia, abrindo uma página na internet sem saber para onde ia, deparei com uma frase na tela: ‘Ruy Castro está no twitter’. Embora estivesse sozinho em casa, olhei em volta para ver se havia mais alguém ali com o meu nome. Não, não estou no twitter. E, sem me gabar ou me envergonhar, também não tenho site, blog, MSN, Facebook, Orkut, MySpace, Last.fm, Ning, Vimeo, Flickr, Tumblr ou rraurl. Estou para a blogosfera como o presidente Lula está para a fenomenologia de Husserl.


Sei bem que, acorrentado ao mundo analógico, posso logo me tornar inviável. Mas pretendo evoluir -sem cometer o recente erro do senador Mercadante. Entusiasta do twitter, ele prometeu algo no mundo digital que não cumpriu no mundo analógico. E deu-se mal, porque, na vida real, o analógico ainda é irreversível.’


 


 


MÍDIA E RELIGIÃO


Elvira Lobato


Altar eletrônico


‘A ARQUIDIOCESE de Aparecida (SP) está em busca de uma emissora de televisão comercial para comprar. Vem tendo problemas com o governo, porque a TV Aparecida tem concessão de emissora educativa e não poderia veicular publicidade. Para acabar com a dor de cabeça, decidiu comprar uma emissora comercial.


A iniciativa da arquidiocese é parte de um contexto geral de avanço das igrejas sobre os meios de comunicação, especialmente o televisivo. E por que o interesse?


‘A TV alcança um público muitas vezes maior que o rádio. Se o fiel não vem à igreja, temos que ir à casa dele’, resume padre Cesar Moreira, diretor da TV Aparecida.


O avanço das igrejas na radiodifusão começou a partir do início dos anos 90, quando o bispo Edir Macedo começou a montar a Rede Record. Os católicos responderam com a Rede Vida em 1995, e já têm mais duas redes com cobertura em grande parte do território nacional: Canção Nova e Aparecida.


Igrejas evangélicas neopentecostais partiram para a compra de emissoras na segunda metade dos anos 90, durante as licitações públicas realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. É o caso da Renascer em Cristo e da Igreja Pentecostal Deus é Amor. A ocupação religiosa no setor se dá até pela compra de empresas de TV por assinatura.


Nem o governo tem um mapeamento claro da presença das igrejas na mídia, e vários fatores contribuem para essa falta de visibilidade.. O principal motivo é que elas são proibidas legalmente de serem concessionárias de radiodifusão.


Para contornar a proibição, registram as emissoras em nome de pessoas físicas -dirigentes religiosos e seus parentes ou fiéis-, o que dificulta a comprovação do vínculo com as igrejas. No caso das emissoras educativas, são utilizadas fundações.


A própria Rede Vida é um exemplo disso. A concessão pertence ao empresário João Monteiro Barros Filho, de São José do Rio Preto (SP), mas a maior parte das estações retransmissoras, que levam o sinal da TV a todo o país, foi montada pelas dioceses, supostamente com recursos doados pelos fiéis.


É preciso haver transparência na atuação das igrejas na radiodifusão, por envolver concessões públicas e por ser um serviço de vital importância pra a sociedade. O tema deve merecer atenção da Conferência Nacional de Comunicação, convocada pelo governo Lula, que acontecerá no final do ano.


Se a sociedade concluir que não há mal em igrejas possuírem rádio e televisão, que se modifique a legislação. O que não dá para manter é o jogo de faz de conta.


ELVIRA LOBATO é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Delfim Netto.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Até segunda, confusão


‘No alto do UOL e da Reuters Brasil, ao longo do dia, ‘Definição sobre exploração do pré-sal sai segunda, diz Lula’. Porém no destaque do G1, portal da Globo, ‘Eu errei, diz Lula sobre valor destinado à União’. Da Folha Online, ‘Após errar, Lula constrange Aloizio Mercadante e menciona correção pelo Twitter’. Até ele faz piada com a renúncia ‘irrevogável’.


Sobre o marco regulatório, a Reuters despachou e foi a notícia de maior repercussão sobre Brasil no Google News, ao longo do dia, que o ‘Governo avalia se cobra royalties no pré-sal’, foco das divergências. Em ‘exclusiva’, o ministro de Energia declarou que, ‘se houver cobrança, todos os Estados receberiam os recursos, não apenas os produtores’, mas para tanto será preciso mais um projeto de lei, o quarto.


ELDORADO PETROLEIRO


Sob o título ‘Poço no Brasil põe Shell em boa posição’ (spot), o ‘Wall Street Journal’ deu longa reportagem anunciando que a ‘Royal Dutch Shell vai oficialmente se juntar hoje [ontem] a um grupo seleto de multinacionais que extraem petróleo no Brasil e espera que o projeto’, no campo Parque das Conchas, na Bacia de Campos, ‘sirva de porta de entrada para uma das mais cobiçadas reservas do mundo’, o pré-sal. O ‘Valor’ deu na submanchete, ‘Pré-sal, um Eldorado para multinacionais’.


O mesmo ‘Valor’ informou que ‘algumas companhias petroleiras’, convidadas para a cerimônia do pré-sal na segunda, ‘podem faltar’. Estão ‘irritadas’ por não terem participado da discussão do marco regulatório.


A EXXON É VERDE?


A revista ‘Forbes’ anunciou a Exxon como ‘a empresa verde do ano’, na capa, por sua aposta em gás natural no Qatar . Mas sites de mídia como o CJR já questionam, dizendo não passar de ‘window dressing’, exposição enganosa


OUTRAS MARAVILHAS


Já vem de algumas semanas, andou até pelo site do ‘New York Times’, e voltou ontem às agências uma votação mundial das sete maravilhas naturais. Entre os concorrentes estão, do Brasil, junto com outros, a floresta amazônica e as cataratas do Iguaçu. Também entre os pré-selecionados no painel chefiado por um ex-presidente da Unesco, o mar Morto, que precisou de entendimento entre Israel e a Autoridade Palestina, o Grand Canyon, a Grande Barreira de Coral (Austrália) e o Vesúvio.


A escolha é realizada no site New 7 Wonders, de um ‘aventureiro suíço’, e só deve terminar no ano que vem, quando se espera que atinja um bilhão de votos.


DE VOLTA AOS JUROS


Na primeira página do ‘Financial Times’, ‘Israel eleva as taxas de juros’, com seu banco central, dirigido por Stanley Fischer, sendo ‘o primeiro’ pós-crise.


No mesmo ‘FT’, a coluna Lex alerta que o movimento de Israel, ‘deixando a ordem unida’, poderá ser seguido por bancos centrais de outros países de ‘leve recuperação’, listando a Noruega, a Coreia do Sul e a Austrália.


DOS EUA AOS BRICS


Ontem Obama indicou Ben Bernanke para novo mandato no BC americano -e o ‘Wall Street Journal’ postou, logo abaixo na home page, como o ‘Dólar vem de forma estável perdendo influência’.


Avisa que ‘a economia dos EUA pode estar dando sinais de recuperação, mas o futuro do dólar segue em questão’. E ouve investidores privados ‘cada vez mais confortáveis’ nos quatro Brics.


TELES NOVAS?


Enquanto os portais Terra, da Telefônica, e iG, da Oi, seguiam passo a passo as notícias de ‘Lina e Dilma’, o portal, G1, da Globo, mudou sua manchete subitamente para ‘Aneel aprova internet e TV por assinatura via rede de energia’. A agência de energia liberou ‘distribuidoras’ para a concorrência com as teles.


‘CORREÇÃO’


A Reuters despachou, ‘Pênis de girafa de Lego é roubado na Alemanha’, de manhã. À tarde, novo despacho ‘informa que a parte roubada foi a cauda’’


 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


‘Selvagem’ da Record migra para SBT e vira internacional


‘Depois de cinco anos de Record, emissora que o revelou, o biólogo Richard Rasmussen, 39, é o mais novo contratado do SBT. A partir de dezembro, terá um programa semanal sobre fauna e flora selvagens, com uma hora, em horário nobre. E, em 2011, apresentará uma série no NatGeo (ex-National Geographic), no mundo todo.


Rasmussen apresentava na Record o ‘Selvagem ao Extremo’, um dos maiores sucessos do ‘Domingo Espetacular’. No quadro, ele segurou jiboias, se atracou com macacos e, sem cerimônias, rastejou na lama.


O contrato com a Record, que venceria no final do ano, foi rompido. A rede ainda tem dois meses de material inédito, que Rasmussen duvida que vá ao ar.


O biólogo diz que trocou de TV apenas porque a proposta do SBT era melhor financeiramente. ‘O quadro [na Record, com 15 minutos] era bacana, mas não dava conta. A aventura não tinha começo, meio ou fim. Era meio mandrake’, diz.


Com uma hora no SBT, Rasmussen poderá mostrar toda a aventura, que passará a ter ‘um objetivo, como encontrar um animal em extinção’. ‘Vou também explorar o homem, as culturas locais’, anuncia. Em setembro, ele viajará para a África, Indonésia, Austrália e América do Sul.


O estilo será o mesmo do ‘Selvagem ao Extremo’. A equipe também. A direção será de Paulo Nicolau, diretor nacional de jornalismo do SBT.


No NatGeo, Rasmussen começará com uma série de seis episódios sobre a Amazônia brasileira. Depois, explorará outras regiões do país. ‘Vou apresentar em inglês’, conta.


ACIDENTE


Não funcionou a estratégia da Record de exibir o ‘Tudo a Ver’ entre suas duas novelas. Anteontem, o programa marcou 6,6 pontos e derrubou ‘Poder Paralelo’ (7,4). Ainda explorando ‘A Fazenda’, o ‘Hoje Em Dia’ foi a maior audiência da Record na segunda: 10,2.


SOBRENOME


A cantora e bailarina Tatiana Cobbett é o destaque do ‘Ensaio’ de hoje. Ela é mulher de Paulo Markun, presidente da Cultura. A emissora diz que ela está lançando um novo CD.


FILOSOFIA NO AR


O governo de SP lança hoje a Univesp TV, que ocupará parte da banda digital da Cultura. Em 2010, o canal transmitirá curso de filosofia da Unesp.


SEM VOZ


Foi adiada a gravação da participação do jogador Ronaldo no ‘Programa Silvio Santos’, agendada para hoje. Resfriado, Silvio Santos está rouco. Segundo sua assessoria, deverá poupar a voz durante dez dias.


REDONDA 1


A ESPN renovou por três anos os direitos do Campeonato Espanhol, que pertencem à Sky. As transmissões, a partir de domingo, ocorrerão em três canais: ESPN, ESPN Brasil e ESPN HD.


REDONDA 2


Serão até três jogos ao vivo a cada rodada, entre eles sempre um do Real Madrid ou do Barcelona. O Espanhol reúne estrelas como Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de agosto de 2009 


 


CENSURA


Rudá Ricci


A ética da liberdade e a ética da democracia


‘Uma das máximas do bom jornalismo é nunca brigar com um fato. É possível investigar suas várias facetas, as várias verdades que explicam um fenômeno social, mas nunca se lançar contra o fato. Mas o que pensar quando a Justiça impede esse exercício básico? Temos, neste momento, um conflito entre duas lógicas que teoricamente são pilares da democracia. A decisão do desembargador Dácio Vieira, proibindo a publicação de diálogos telefônicos envolvendo o filho de José Sarney, cria, assim, um importante ‘case’ sobre ética democrática e limites das instituições. O que Sartre, um dia, denominou de conflito entre liberdade e ética da liberdade. Por este motivo, é importante decompor os elementos que envolvem este caso.


O primeiro aspecto a observar é a diferença entre intimidade e vida privada no caso de temas de alto interesse público. Este é o mote da decisão do desembargador. A esfera íntima se relaciona com os sentimentos de identidade próprios, autoestima e sexualidade. Trata-se de uma esfera efetivamente confidencial. Mas a esfera privada é mais ampla. Está relacionada às relações do indivíduo com o meio social, mesmo que não haja interesse na sua divulgação. Na sociologia, diríamos – cito Émile Durkheim, neste caso – que uma instituição é guardiã da moral coletiva, ou seja, dos valores e crenças que foram construídos historicamente e que cimentam as relações sociais da sociedade. Assim, uma conversa privada que implique a quebra dos valores morais, que sustentam as instituições democráticas de um país, deve ser questionada publicamente, porque põe em risco a unidade dos cidadãos e a legitimidade – a crença dos cidadãos – nas regras públicas. Este seria o caso-limite da troca de correspondência entre dois maníacos que tramam um genocídio. O que caberia à imprensa se soubesse deste fato? Teria de apurar com rigor, procurar estabelecer vários ângulos de interpretação, dar publicidade às versões em tela. Mas não publicar seria, ao mesmo tempo, um suicídio profissional e um desserviço à democracia.


Um segundo aspecto a considerar é o direito do cidadão em ter acesso às informações que se relacionam ao uso do dinheiro público e sua movimentação por seus representantes políticos. Não podemos esquecer que o cidadão possui a titularidade do poder dos eleitos. Em última instância, os funcionários públicos (incluindo os eleitos) são seus funcionários. Esta é a tese que está nos clássicos da modernidade, de Locke a Rousseau. Apenas para citar os clássicos. A conversa telefônica em questão não tratava de temas da intimidade do filho de um senador. Tratava de acesso privilegiado a órgãos e recursos públicos. Portanto, tratava de interesse do cidadão. Se a democracia tem como protagonista o cidadão, então este ‘case’ define o futuro de nossas instituições e sustentabilidade de nossa democracia.


Um último aspecto (dentre vários que poderiam ser listados) é a superação da estrutura elitista de nossos poderes públicos. Tema que se relaciona com o anterior. Simon Schwartzman detalhou o que seria esse traço neopatrimonialista tupiniquim: a existência de uma racionalidade de tipo técnica onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo ou inexistente. O Senado, enfim, como presenciamos diariamente, não se funda num contrato com a sociedade. Caso contrário, para que atos secretos? Por que no Senado existe tal subversão? Por que é a câmara legislativa mais elitista e apartada da sociedade brasileira. Por aí, a censura ao jornal Estado de S. Paulo reforça a lógica neopatrimonialista que, por definição, atua privadamente, nos bastidores da política, a partir das relações de fidelidade. O neopatrimonialismo despreza o que é público. E procura encobrir, assim, o fato.


De tal maneira que por aí o jornalismo teria de brigar com os fatos. Pior: teria de ficar de costas para os fatos. E morreria como profissão e instituição democrática. E, com sua morte, morreria um pouco mais a nossa peculiar e frágil democracia.


*Rudá Ricci doutor em Ciências Sociais’


 


 


TURISMO


O Estado de S. Paulo


Revista sobre cariocas tem de ser recolhida


‘A Justiça Federal determinou ontem que a revista de turismo Rio For Partiers (Rio Para Festeiros) seja retirada de circulação no País. A revista, que chama as cariocas de ‘máquinas de fazer sexo’ e define os bailes de carnaval como ‘festas ao ar livre com atividades de semiorgia’, incentivaria a exploração sexual.’


 


 


CIDADE LIMPA


Pedro Venceslau


PSDB pede a Kassab que vete publicidade em muro


‘Depois de uma reunião com 150 pessoas e presidentes de todos os diretórios zonais do PSDB paulistano, o partido decidiu enviar carta ao prefeito Gilberto Kassab (DEM). Pede-se o veto ao projeto de lei, aprovado na Câmara, que abranda as proibições da Lei Cidade Limpa, em caso de propaganda política, liberando a utilização de muros residenciais. A decisão contraria a bancada de vereadores do partido. Dos 12 parlamentares da legenda, apenas Gilberto Natalini se manifestou publicamente contra a brecha.


A carta foi assinada pelo presidente do diretório municipal do PSDB, José Henrique Reis Lobo. ‘Se isso realmente acontecer, 2010 será o ano em que vamos assistir à degradação da cidade, como nos anos anteriores aos da lei. Para quem acredita, como nós, que nenhum outro interesse deve sobrepor-se ao público, a informação causa perplexidade e, se a proposta vingar, representará um retrocesso’, diz Lobo na carta.


Para o Estado, ele afirmou que não pretende confrontar os vereadores.. ‘O objetivo é dar respaldo partidário para o prefeito vetar a lei. Os vereadores muitas vezes agem pela conjuntura.’ Para Carlos Bezerra, líder do PSDB, o texto é ‘fruto da desinformação do presidente Lobo’. ‘Quem o assessora não tem o histórico das informações. O que nós fizemos foi a correção de uma imprecisão no projeto de lei que acabava com o Cidade Limpa. Era um projeto que, na prática, o atropelava e criava um desordenamento jurídico na cidade.’


A decisão de liberar os muros para a propaganda política conseguiu unir PSDB e PT. ‘A proibição de usar os muros cria desigualdade com as campanhas de outras cidades. Os candidatos novos teriam dificuldade em se divulgar’, afirma José Américo, vereador e presidente do PT paulistano. O prefeito, que não se manifestou oficialmente sobre a carta de Lobo, deve sancionar a mudança. Ele avalia que qualquer decisão relativa às eleições de 2010, que são nacionais, deve ser tomada pelo TSE.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Remake dois em um


‘Vem aí mais um remake na Globo. Ou melhor, dois. Maria Adelaide Amaral voltará ao universo das telenovelas unindo duas tramas de Cassiano Gabus Mendes em uma só: Plumas e Paetês (1980) e Tititi (1985).


Pupila de Cassiano na TV, Maria Adelaide teve a ideia de fundir as duas novelas há três anos, proposta aceita sem pestanejar pela emissora para a faixa das 7, já em 2010.


‘Foi o Cassiano que, em 1990, me convenceu a fazer televisão. Ajudei-o a escrever Meu Bem, Meu Mal e O Mapa da Mina’, diz a autora, que conta com o apoio dos filhos de Cassiano no projeto, Cassio e Tato Gabus Mendes. ‘Inclusive já pedi ao Cássio para fazer o papel que foi de Luís Gustavo (seu tio na vida real) em Tititi’, explica ela, referindo-se ao estilista farsante Victor Valentin.


Focada no mundo da moda, a nova novela terá sua trama romântica baseada em Plumas e Paetês. Já a tensão no universo fashion virá de Tititi. Tudo devidamente atualizado, claro. ‘A moda mudou radicalmente nos últimos 20 anos. Mas o foco da novela continuará sendo a competição entre os estilistas André Spina (Jaques Leclair) e Ariclenes (Victor Valentim)’, adianta Maria Adelaide.’


 


 


 


 


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