Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Alberto Dines

‘Terra natal de René Descartes, pátria do cartesianismo, a França trotava garbosa, fascinada com a sua racionalidade. Não reparou no buraco. A Intifada que há duas semanas varre a periferia das suas grandes cidades revelou uma cratera cavada há algumas décadas.

Donos da razão, tanto os novos filósofos como os velhos pensadores, tanto a esquerda pura como as novas estrelas liberais não se deram conta de que a Bastilha poderia cair novamente. Não no centro de Paris ou nos campi da Sorbonne mas nos guetos suburbanos.

Quem está tocando fogo nos carros não são os gastarbeiter (trabalhadores-convidados, eufemismo alemão para designar as centenas de milhares de imigrantes mediterrâneos que construíram a prosperidade da Europa Ocidental a partir dos anos 50).

Os amotinados são seus netos. Os primeiros, bem-vindos, integraram-se mas seus descendentes estão sobrando. As estatísticas, mais uma vez, não conseguiram dar nome aos números. Esta Era do Conhecimento convive com uma Era da Distração, razão pela qual os fenômenos crescem nas sombras, como os furacões que, apesar de anunciados, só revelam sua força depois da devastação.

Este não foi o primeiro descuido dos sábios modernos. Há pouco mais de 80 anos, na então recém-criada República de Weimar, seus cintilantes centros de saber não conseguiram detectar o monstro que se cevava em seus porões. Sequer entenderam o assassinato de Walter Rathenau, o sofisticado milionário alemão que pretendia radicais mudanças sociais para evitar a colisão eminente. Adolf Hitler percebeu a oportunidade.

Mergulhada naquela grandeur tão bem interpretada por De Gaulle, Mitterrand e caricaturada por Chirac, a França só conseguia enxergar-se como matriz iluminada, sede do esclarecimento. Graças a isso, não teve dificuldades em esconder suas misérias debaixo do tapete. No centro do universo, não se deu ao trabalho de examinar as diferenças entre a maneira americana de absorver as sucessivas ondas migratórias e o seu sistema arrogante de lidar com as diferenças que lhe batem à porta.

As elites francesas jamais gostaram de remoer ou, pelo menos, rever suas culpas. O caso Dreyfus levou um século para ser encerrado. A vergonhosa colaboração com o invasor nazista custou a ser assimilada. A mão pesada que usou na Argélia está quase esquecida. A França gosta de julgar mas abomina ser julgada. Sua retórica é imbatível, fascina sobretudo os retóricos.

O saber ilude, a razão não é infalível, a cogitação exige contrapartidas sem as quais torna-se descartável. A principal delas é de teor moral. O ‘Auto-Engano’ de Eduardo Giannetti tornou-se um clássico porque desvendou a necessidade de um compromisso perene com a verdade e este compromisso é obrigatoriamente doloroso.

Quando o deputado José Dirceu declarou que estava cada vez mais convencido da sua inocência, virou alvo da galhofa mas falava a verdade: estava em pleno processo de auto-enganar-se. O idealista sincero e operoso militante reagia ao retumbante fracasso do todo-poderoso operador político. Isto leva tempo até completar-se.

Na histórica entrevista ao ‘Roda Viva’ da última segunda-feira, o presidente Lula enfrentou os impertinentes jornalistas com uma candura desconcertante. Suas afirmações foram tão autênticas e espontâneas, que desarmou a valente intenção de colocá-lo contra a parede. Ao longo de duas horas o presidente conseguiu produzir um tremendo apagão na memória: sumiu tudo o que foi impresso, falado e mostrado ao longo dos últimos seis meses.

Nos dias seguintes, ilusão desvanecida, desilusão. Nesta sexta-feira, a realidade. As manobras dos governistas na Câmara para impedir a prorrogação da CPI dos Correios são uma ressaca. À francesa. Reencontro com a verdade.’



ARGENTINA & BRASIL
José Paulo Lanyi

‘Argentinos: explicando a piada’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/11/05

´’‘Os americanos são muito melhores’. Quem mora em São Paulo deve se lembrar desse bordão humorístico – se não me falha a memória, de um personagem radiofônico dos Sobrinhos do Athaíde. Pois bem. Foi nele que me inspirei para redigir o título da minha coluna anterior (leia ‘Os argentinos são muito melhores’).

O Brasil tem sido o Atlético Mineiro nesses rankings mundiais de interpretação de texto. É grande mas envergonha. Talvez isso possa explicar o fenômeno recorrente do apoio integral à afirmação de que ‘os argentinos são muito melhores do que os brasileiros’.

Eu só poderia concordar com duas reações, na semana passada: para quem não entendeu a piada, a de achincalhe ao colunista, um tapado que ‘não compreende os princípios rudimentares da antropologia cultural’ (eufemismo para preconceituoso); a quem entendeu, o olhar compassivo, algo irônico, a identificar a hipérbole do título que chama a atenção para as nossas próprias moléstias e para as virtudes dos nossos vizinhos.

Vejamos o significado da palavra etnocentrismo:

Michaelis

et.no.cen.tris.mo sm (etno+ centrismo)

1 Tendência do homem para menosprezar sociedades ou povos, cujos costumes divergem dos da sua própria sociedade ou povo. 2 Disposição habitual de julgar povos ou grupos estrangeiros pelos padrões e práticas de sua própria cultura ou grupo étnico.

Houaiss

¦ substantivo masculino

Rubrica: antropologia.

visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais

Obs.: cf. absolutismo de grupo

Matada a charada? Pois é, aqui não tem essa de lead. E o resultado da leitura, com raras e honrosas, foi um ‘etnocentrismo vira-lata’, ou seja, às avessas.

O título, a construção das idéias, tudo no meu texto levava a exagerar as diferenças, como se fôssemos os ‘macaquitos’, e eles, os europeus, civilizados como os franceses. Uma provocação necessária. Estamos no intervalo entre as Eliminatórias e a Copa do Mundo. É um bom momento para pensar nas diferenças e nas semelhanças reais entre os dois povos. Isso é próprio do debate.

Anos atrás, a revista Notícias de La Semana publicou uma reportagem intitulada ‘Por que não podemos ser como o Brasil?’. Era uma autocrítica implacável do povo argentino, em contraste com os avanços brasileiros que, até então, eram tratados como tabu.

O artigo, de fundo econômico, mostrava o que muitos não queriam admitir: o Brasil era uma potência regional em expansão, à face de uma Argentina nos estertores. Para aplanar as opiniões no patamar do razoável, ouviram-se várias personagens dos dois países. De modo geral, algumas explicavam o sucesso brasileiro; outras, o fracasso argentino. A qualidade de um (otimismo e coragem para produzir mudanças, sob um prisma humilde e realista) era o que faltava ao outro (soberba, fixação em um passado de glórias; no presente, pessimismo e inação).

Uma das fontes foi o meu entrevistado da coluna anterior, o então correspondente da Veja em Buenos Aires, Raul Juste Lores. No box, ele enfatizava alguns fatos desconhecidos do argentino médio. Lembro-me de três: o Brasil era um dos maiores PIBs do mundo, tinha uma indústria capaz de fabricar e exportar aviões e uma vida artística pujante em centros como São Paulo.

A resposta correta para a pergunta ‘quem é melhor: o argentino ou o brasileiro?’ é a mesma para ‘quem é melhor: o inglês ou o francês?’, ou ‘quem é melhor: o indiano ou o paquistanês?’, ou ‘quem é melhor: o americano ou o japonês?’, ou, ainda, ‘quem é melhor: o sueco ou o senegalês?’. Povo nenhum é melhor do que o outro. O que se tem é a excelência ou a deficiência, nessa ou naquela área.

Correntes antropológicas trabalham com o parâmetro de que algumas sociedades são mais complexas do que as outras. Nada mais do que isso. Tudo dependeria da manifestação cultural em questão. Arrogante é quem se propõe a estabelecer critérios absolutos para rotular.

Escrevi tudo isso só para dizer que o Pelé é melhor que o Maradona.’



FRANÇA CONFLAGRADA
Gilles Lapouge

‘A falência da ‘liberdade, igualdade e fraternidade’’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/11/05

‘As periferias francesas aos poucos se acalmam. No campo de batalha ainda fumegante, faz-se a conta dos estragos, das vítimas e dos feridos – milhares de veículos calcinados, lojas arrombadas, pacatas famílias francesas ensandecidas ou arruinadas, escolas destroçadas.

Juntam-se a isso as feridas espirituais que vão continuar supurando, em silêncio, e atiçarão outros problemas, talvez mais sombrios, dentro de um mês, um ano. E entre as vítimas, a mais considerável de todas: o modelo de integração ‘à francesa’ dos imigrantes.

Podem-se distinguir, na Europa, dois modos de enfrentar o desafio formidável que representa a chegada às praias felizes do ‘Velho Continente’ de milhões de estrangeiros – exércitos de pobres, sem cultura e famintos que deixaram sua Ásia, sua África onde a vida tinha para eles as cores do inferno, convidando-se para o ‘banquete europeu.’

A Alemanha absorveu multidões de turcos. A Grã-Bretanha recebeu negros da África e asiáticos (paquistaneses, cingaleses, etc.), em geral muçulmanos. A França viu afluírem milhões de negros e árabes magrebinos (na imensa maioria, muçulmanos).

Dois modelos: a Grã-Bretanha empregou o chamado ‘comunitarismo’. Ela não procura fundir seus imigrantes no modelo inglês. Pragmática, aceita que os cingaleses, indianos ou quenianos formem, no interior da sociedade, comunidades onde eles devem viver sob a lei inglesa, mas sem abandonar suas especificidades étnicas, culturais ou religiosas.

A França, mais teórica, optou pela via contrária: os imigrantes devem se integrar, tornar-se franceses, esquecer – ou, ao menos, não manifestar – suas singularidades, tradições, cultos, símbolos, etc. É o sonho insano da República: liberdade, igualdade, fraternidade.

Dois anos atrás, um episódio ilustrou bem esse desejo francês de integração dos imigrantes: o véu. Nas escolas (que aceitam imigrantes e não imigrantes indistintamente), havia jovens muçulmanas que iam às aulas com os cabelos ocultos sob o véu islâmico.

A batalha foi terrível. Os muçulmanos diziam que sua religião os obrigava a usar o véu. As autoridades francesas uivavam: ‘Não. A França é um país oficialmente laico desde a lei de 1905, que dispõe sobre a separação de Igreja e Estado. Se este país é laico, está fora de cogitação aceitar que as jovens exibam na escola as insígnias de seu Deus.’

Esse conflito, que assumiu proporções de um drama, era incompreensível para a maioria dos outros países. Mas a razão era simples: a França oferece a seus imigrantes a República, que é una e indivisível e laica. Ela quer fazer de cada cidadão um súdito da República e o véu teria rasgado essa unidade.

Quando a França do século 19 se tornou colonizadora, seu fim não era anexar povos estrangeiros, nem oprimir os negros ou os árabes, nem roubar-lhes seus minerais. Não: o fim era oferecer-lhes este presente inesperado: a República Francesa, os direitos do homem, a liberdade, a igualdade, a fraternidade…

O modelo de integração oferecido aos imigrantes dos últimos 30 anos deriva dessas premissas. Mas é esse modelo que acaba de ser ferido, talvez morto. Em suas periferias, os imigrantes viam uma realidade oposta à das tribunas políticas. Eles viam desigualdade de oportunidades, escolas desiguais, periferias abandonadas.

Um dos garotos que participaram tolamente dos tumultos foi detido pela polícia e interrogado por um juiz. O juiz lhe perguntou por que ele havia feito aquelas tolices. O garoto respondeu: ‘Porque não quero que me digam ‘tu’. Quero que me digam ‘vous’. (Na França, só se usa o pronome ‘tu’ em condições de grande intimidade. O tratamento respeitoso e usado com estranhos é ‘vous’ – vós).

É a palavra de um garoto. É uma palavra profunda: o uso indiscriminado de ‘tu’ e não ‘vous’ com um imigrante é uma confissão de que a igualdade é pura mentira (talvez inconsciente, talvez perversa).

A França não procurou, cinicamente, instaurar o comunitarismo quando pretendia rejeitá-lo. É muito mais pernicioso do que isso. A França desejou sinceramente a integração, mas a rigidez da história francesa e as reticências da sociedade desviaram as populações de imigrantes para longe desse milagre.

Se as elites francesas e seu governo pecaram não foi por cinismo, foi por inércia, por incapacidade de olhar por trás da doutrina fascinante da integração, a realidade nua e apodrecendo.’



BUSH NA AMÉRICA LATINA
Antonio Brasil

‘Chávez enfrenta Bush e mídia ignora Lula’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 9/11/05

‘Na última sexta-feira, os principais líderes da América Latina se encontraram com o presidente norte-americano George Bush em Mar Del Plata, Argentina, durante a 4ª Cúpula das Américas. No final de semana, Bush também fez uma visita relâmpago a Brasília. Em um misto de ironia e preconceito, o jornal britânico ‘The Times’ publicou uma reportagem com o título ‘Bush vai para a terra dos foras-da-lei’. Não sei se a manchete se refere à viagem de Bush à Argentina ou ao Brasil. Mas os americanos e britânicos certamente têm problemas mais sérios para se preocupar. Em meio a notícias de escândalos ministeriais, guerra sem-fim no Iraque e quebra-quebra em Paris, mais uma vez, a América Latina tende a ser ignorada pela mídia internacional.

Mas as expectativas dos americanos em relação a essas reuniões de cúpula também refletem o humor e o preconceito: ‘América Latina? Da onde menos se espera, é de lá que não sai nada mesmo’.

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Brinde à Bolívia

Mas por falar em preconceito, também seria bom relembrar sabedoria popular mexicana ao negociar com os americanos: ‘Os gringos estão chegando. Rápido. Escondam a prata e, principalmente, as mulheres’. Ou o tão citado e triste ditado sobre a geografia do México que se aplica bem a todo o nosso continente: ‘Tão perto dos Estados Unidos e tão longe de Deus’.

As relações entre os norte-americanos e seus vizinhos latinos nunca foram fáceis. Participei de várias visitas presidenciais americanas ao Brasil. Nenhum outro líder americano conseguiu superar o impagável presidente Reagan. Parece piada, mas é verdade. Eu estava lá. Em pleno banquete de despedida durante a sua visita a Brasília, ele resolveu fazer uma gentileza aos brasileiros presentes: ‘Quero aproveitar essa ocasião para brindar o grande povo da… (breve pausa), o grande povo da Bolívia’. Mal estar geral. Um assessor fala ao ouvido de Reagan. Ele tenta corrigir. ‘Perdão, quero dizer, um brinde ao povo do Brasil. Bolívia é para onde vou amanhã’. Algumas risadas, mas o mal estar foi ainda pior. Todos sabiam que Reagan seguiria no dia seguinte para o Paraguai e não para a Bolívia. No dia seguinte, os jornais Sandinistas – os venezuelanos chavistas da época – destacaram a gafe em uma manchete brilhante e histórica: ‘Reagan não sabe onde está ou para onde vai’. Os americanos nunca foram muito bons de geografia e as visitas presidenciais americanas sempre reservam surpresas.

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Protestos e antiamericanismo

Mas, apesar das gafes e protestos, uma pesquisa recente do instituto chileno Latinobarómetro mostra que o antiamericanismo da opinião pública latino-americana diminui. Pode ser. Talvez no Chile. A situação excepcional e privilegiada da economia chilena pode ter influenciado a pesquisa. Ou talvez, seja influência da novela América. Cheguei a pensar que o presidente Bush estaria indo ao Brasil para gravar os últimos capítulos. Sucesso garantido de audiência. Capaz de superar beijo gay!

Ainda em relação à Cúpula das Americas, as agências internacionais têm dado destaque aos protestos. Segundo a Reuters, ‘mais de 10 mil pessoas participaram nesta sexta-feira de uma manifestação pacífica no balneário de Mar de Plata, na Argentina, contra a presença do presidente americano, George W. Bush’. Mas poderia ser pior. O correspondente do ‘Times’, Geral Baker, destaca que a América Latina é o continente onde George W. Bush é mais detestado, depois do mundo árabe. Considerando a comparação, isso não deve ser pouca coisa.

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Disputa de liderança

Mas, pelo jeito, nem todos detestam tanto o presidente americano. Muitos analistas lembram que Bush tem relações políticas e pessoais ‘decentes’ com a maioria dos dirigentes da região, a começar com o brasileiro Lula. O departamento de estado e a mídia americana enfatizaram que a escala de Bush em Brasília era mais importante do que o encontro de cúpula em Mar del Plata. Isso deve explicar porque o presidente americano vem dando cada vez mais destaque ao papel de Lula na América Latina. Em uma nova estratégia para a região, Bush pretende fortalecer a posição brasileira na América Latina e ‘contra-balançar’ a liderança de esquerda que vem sendo intensificada por Hugo Chávez. É, poder ser.

Mas, assim como no Iraque, os americanos podem apostar no governo errado. Os problemas brasileiros aumentam e já afetam a nossa política externa. Segundo o jornal argentino El Clarin ‘as relações entre o Brasil e a Argentina chegaram ao seu ponto mais baixo desde que Néstor Kirchner assumiu a presidência’.

As dificuldades brasileiras e uma possível aliança entre Bush e Lula talvez expliquem o comportamento histriônico do presidente venezuelano Hugo Chávez durante as cúpulas das Américas. Ele foi, sem dúvida, a grande estrela do encontro de Mar Del Plata. Foi o principal destaque da mídia em um encontro sem grandes expectativas. Ao enfrentar o presidente Bush e participar dos protestos, Chávez assume a liderança das esquerdas na América Latina. Tem ao seu lado a grande estrela do futebol argentino, o sempre polêmico Maradona. O seu trem Anti-Bush com milhares de manifestantes também foi destaque na mídia internacional. Chávez e Maradona dominaram as manchetes.

Mas, talvez, nem tudo esteja perdido para os brasileiros. Nesse campeonato internacional pela liderança do populismo na América Latina, talvez a única saída para Lula seja ‘convocar’ o Pelé. Foi só uma sugestão.’



Folha de S. Paulo

‘Chávez exibe na TV reunião com Bush’, copyright Folha de S. Paulo, 14/11/05

‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, divulgou ontem vídeos da reunião privada entre os chefes de Estado e de governo, na 4ª Cúpula das Américas, na Argentina, para demonstrar que o colega americano, George W. Bush, saiu derrotado.

‘Cavalheiro, não foi incluída no documento a sua proposta, foi derrotado, cavalheiro, nocaute, gentleman, nocaute, sir’, disse Chávez, no seu programa televisivo dominical ‘Alô, Presidente’.

Antes, foi transmitido o discurso de Bush na sessão da cúpula ocorrida no dia 5 de novembro, no qual o americano pedia apoio à proposta panamenha para incluir um parágrafo sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) no documento final.

‘Está claro que a sugestão do Panamá é de longe a vontade do povo’, diz Bush no vídeo.

‘No final, se impôs a proposta do Mercosul, que eram duas opções: que isso não aparecesse de forma alguma no documento ou que se incluíssem as duas posições, e no final se incluíram as duas posições’, disse Chávez.

Segundo Chávez, Bush ‘caiu no mutismo e foi embora com o rabo entre as pernas, pela porta de trás’, tripudiou o venezuelano.

Durante as quase quatro horas do programa, Chávez divulgou extratos de discursos que mostraram confrontações entre Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela, de um lado, e Estados Unidos, Canadá e Panamá, do outro.

Os primeiros insistiam que o tema da Alca não estava na agenda e criticavam a pressão para incluí-lo. Já o segundo grupo defendia a sua menção no documento.

‘Não estão dadas as condições para que cheguemos a um consenso. O único consenso que podemos tirar é que há uma dissensão’, disse o presidente uruguaio, Tabaré Vásquez.

Em outro trecho, o presidente argentino, Néstor Kirchner, discorda do colega mexicano, Vicente Fox, com quem trocou farpas após a cúpula. ‘Meu pensamento é absolutamente diferente da do presidente do México, porque me parece que não foi a convocação da cúpula o que ele está dizendo, com todo o respeito’, disse Kirchner, após Fox propor trabalhar ‘sem limite de tempo’ até chegar a um acordo sobre o documento.

Após concluir a divulgação e prometer mais vídeos para seus próximos programas, Chávez pediu a seus colegas da região que ‘não se sintam ofendidos. Apresentamos a verdade, pela verdade morreu Cristo’.’