Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Artur Xexéo

‘O presidente Lula não está dando sorte com a coluna. Depois de passar mais uma semana inteirinha sem mostrar o livro que está lendo, o que incentivaria o hábito da leitura, uma das metas de seu governo segundo revelou na inauguração da Bienal do Livro, Lula agora dá o vexame de abandonar no meio, em Manaus, uma récita da ópera ‘Aída’.

É preciso admitir que há um ou dois motivos que justificariam a atitude do presidente. Afinal, ‘Aída’ é difícil de aturar até pelo mais fanático melômano. Além disso, o que o Teatro Amazonas reservou ao presidente não foi exatamente uma montagem da ópera. Era uma espécie de recital, onde os cantores interpretavam a ópera sem a ajuda de cenários, figurinos ou ação. Mais chato do que aturar uma ‘Aída’ inteira é acompanhar um espetáculo de ópera sem todos os seus atrativos.

A debandada do presidente e de dona Marisa no meio da ópera – ou da quase ópera – revela ao país a decadência de um festival que já foi o mais importante do país. Então, o Festival de Ópera de Manaus programa para a abertura um arremedo de montagem de ópera? E ainda tem a cara de pau de convidar o presidente da República para assistir?

Mesmo assim, num governo que não vem se destacando pela atenção à cultura, definitivamente, não pegou bem ver o presidente assumir de público que não é capaz de agüentar uma ópera inteira. Só daria para perdoar Lula se ele começasse a semana revelando que livro está lendo.

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E já que a gente não lê e nem gosta de ópera, vamos, então, falar de novela. Gilberto Braga está quebrando duas regras que pareciam imutáveis em novela. A primeira é a de que a heroína é sempre uma chata, não reage às maldades de vilões, não percebe que está cercada pelo mal e só encontra a redenção no capítulo final. A outra é a de que a vilã é bem-sucedida durante toda a trama, consegue enganar todos que a cercam e só será punida no último capítulo.

Pois os capítulos de ‘Celebridade’ que estão indo ao ar atualmente demonstram que não precisa ser sempre assim. Maria Clara despertou, promete reagir, insinua uma vingança que, tudo indica, será maligna. E Laura nem vai poder aproveitar a glória de ganhar o troféu Celebridade (ou alguém duvida que ela será a vencedora na categoria incentivo às artes?). Falta muito para acabar a novela e o autor tem capítulos de sobra para fazer a malvada sofrer. Com Maria Clara redimida e Laura punida, o que sobra para acontecer em ‘Celebridade’? O autor que não é bobo nem nada tem um coelho na cartola: quem matou Lineu Vasconcelos?

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Wanessa Camargo, a jovem protegida de Marlene Mattos, está se tornando figura onipresente na Rede Bandeirantes. Depois de ser uma das juradas do concurso de Miss Brasil, Wanessa foi uma das entrevistadas no programa especial que a emissora exibiu no domingo passado sobre Renato Russo. Wanessa Camargo e Renato Russo? Tudo a ver.

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Não é que seja uma má idéia. É até boa, o que é surpreendente vindo do governo de dona Rosângela Matheus. A partir de segunda-feira, o Teatro João Caetano volta a abrigar apresentações de música popular brasileira a ingressos populares em horário compatível com o fim do expediente de quem trabalha no Centro da cidade. É a tentativa de trazer de volta os bons tempos do Projeto Seis e Meia. Só que agora o horário é 18h e o projeto chama-se Fim de Tarde. Outra característica nova: o ingresso popular é exatamente R$ 1, como de hábito nos projetos populistas de dona Rosângela.

Primeiro problema: por que seis da tarde? O Seis e Meia não era às seis e meia por acaso. O trabalhador tinha meia hora para sair do emprego e chegar ao teatro. Para chegar ao teatro às 18h, ou o público vai ter que pedir ao patrão para sair mais cedo ou o João Caetano vai ficar cheio de desocupados.

Segundo problema: a agenda do Fim de Tarde já está pronta até 16 de julho. Dela fazem parte alguns nomes do primeiro time da boa música brasileira: Velha Guarda da Portela, Dona Ivone Lara, Nei Lopes, Nelson Sargento, Dudu Nobre e Elza Soares, entre outros. Mas quem dona Rosângela contratou justamente para abrir o projeto nesta segunda-feira: Elymar Santos, é claro.

Pegou mal. O maior cabo eleitoral da governadora é a primeira atração do projeto com mais visibilidade da até agora invisível Secretaria de Cultura de dona Rosângela. Tem alguma coisa fora de ordem aí. Dona Rosângela e Elymar deveriam vir a público dizer qual é o cachê que o cantor está recebendo para fazer a minitemporada (cada show fica em cartaz por uma semana). Ou será que, seguindo o estilo de sua política predileta, Elymar também está cobrando só R$ 1 de cachê?’



James Allen

‘Presidente grava com Ratinho para divulgar projetos’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/04/04

‘O presidente Lula recebeu ontem na Granja do Torto o apresentador do SBT Carlos Roberto Massa, o Ratinho, e gravou participação no seu programa de televisão. A aparição de Lula no programa faz parte da estratégia de comunicação para ocupar mais espaço e divulgar projetos e obras do governo. Mas a estratégia não se limita a atingir as classes populares, alvo do Programa do Ratinho. Lula deve gravar entrevista para o programa de Jô Soares, na TV Globo, para atingir as classes A e B.

A conversa com Ratinho acabou incluiu um almoço na Granja do Torto, com direito à participação da dupla Bruno e Marrone e do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. O ministro disse que a conversa foi descontraída, mas não tratou de nenhum dos temas que incomodam o governo, como as invasões do Movimento dos Sem-Terra (MST) em áreas produtivas ou seus efeitos sobre investimentos na agricultura. Segundo Rodrigues, a conversa teve conteúdo apenas informal.

Os cantores também almoçaram com Lula, mas não se apresentaram. Segundo Rodrigues, o presidente estava bem-humorado: ‘Ele não se embaraça com essas coisas.’’