A dois meses das eleições, o Jornal Nacional quer percorrer o país de ônibus. Como num road movie, o jornalismo da Globo (nas palavras de seu principal executivo) vai buscar o que é notícia no Brasil. E o que é notícia no Brasil, a dois meses das eleições? Com certeza, o ônibus do Jornal Nacional. Equipado e tripulado para produzir e transmitir reportagens, o ônibus tem ainda cama, cozinha, banheiro e o Pedro Bial. A princípio, não há parentesco com o Big Brother. O título da série, contudo, parece de novela: ‘Desejos do Brasil’.
E quais seriam esses desejos? De que Brasil estão falando? Ninguém imagina que possa haver muito espaço para aventuras no esquema industrial do JN. Caravana Rolidei, nem pensar. Cada rota percorrida, cada parada, cada quilômetro vencido ou por vencer terá sido minuciosamente planejado.
O risco – para a equipe, o equipamento e o projeto (cerca de 60 matérias, e pelo menos quatro ancoragens remotas), assim como para o prestígio do telejornal e da emissora – precisa ser reduzido ao mínimo. Como resultado de tal previdência, tanto o que estiver no pré-roteiro quanto o que sair dele deverá virar notícia.
Já sabido
Mas que notícias serão essas? O que faz um desejo virar notícia? A dois meses das eleições, pode-se desejar praticamente tudo e qualquer coisa. E se os desejos dos brasileiros são combustível para o ônibus da Globo, ela própria um objeto de desejo movendo-se na paisagem do grande sertão.
Cidadezinhas disputarão o privilégio de recebê-lo. Candidatos farão atalhos para encontrá-lo na estrada. As transmissões ao vivo serão eventos memoráveis. A coreografia da espontaneidade televisiva, ensaiada até a exaustão, marcará mais um episódico encontro via satélite dos grotões com o resto do mundo.
Aonde a nave extraordinária nos levará, veremos. O que vamos encontrar lá, talvez já saibamos.
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Jornalista