Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Candidato McCain diz que a
mídia é fascinada por Obama


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 24 de julho de 2008


ELEIÇÕES / EUA
Maeve Reston


McCain acusa imprensa de ser fascinada por democrata


‘Los Angeles Times – Após meses de frustração com o que consideram um favorecimento da imprensa ao democrata Barack Obama, assessores do republicano John McCain partiram para o ataque com um vídeo divulgado na internet, na terça-feira, intitulado ‘A imprensa e seu amor por Barack’.


A gravação mostra âncoras de noticiários e correspondentes discutindo a ‘Obamamania’ ao som de Can’t take my eyes off you (Não consigo tirar os olhos de você), de Frank Valli. Ela foi enviada a partidários com o objetivo de arrecadar fundos para a campanha justamente na semana em que McCain tem sido ofuscado pela viagem de Obama ao exterior.


Acusando a imprensa de ‘uma estranha fascinação por Barack Obama’, o vídeo mostra a reação de Chris Matthews, âncora do canal MSNBC, ao discurso de Obama. ‘Senti um arrepio subindo pelas pernas.’ Outro trecho mostra Lee Cowan, da rede NBC, falando sobre o entusiasmo das multidões com Obama. ‘Fica difícil manter a objetividade porque é algo contagiante.’


O vídeo de terça-feira, porém, também foi uma manifestação pública de meses de queixas dos assessores de McCain, que chamam sarcasticamente Obama de ‘The One’ (O Único).


Um de seus assessores, Mark Salter, citou o Projeto para a Excelência no Jornalismo, que analisa a imparcialidade em campanhas avaliando artigos da imprensa. Segundo o projeto, Obama desfrutou de uma ‘vantagem especial’ em relação a McCain desde que Hillary Clinton se retirou da disputa. Obama é a principal notícia em 78% do noticiário da imprensa americana sobre as eleições, enquanto McCain ocupa 51% do espaço.


O republicano evitou queixar-se, afirmando que a cobertura da TV tem sido imparcial. Seu comentário, porém, não reflete o humor de seus assessores. Alguns dizem que as viagens de McCain ao exterior receberam pouca atenção quando comparadas com os mais de 200 pedidos feitos por redes americanas para acompanhar a viagem de Obama. Âncoras de três redes de TV viajaram com o democrata.


Os assessores do candidato republicano reclamam que só alguns repórteres acompanharam McCain em sua viagem a Iraque, Israel e Europa, e dizem que não houve muito estardalhaço em torno de sua recente visita à Colômbia e ao México.


No entanto, a ‘viagem ao redor do mundo’ de Obama – como um assessor de McCain a chamou, em tom de chacota – teria pelo menos um aspecto positivo para o republicano: ela deu ao senador McCain um descanso das brigas diárias com Obama em um momento em que ele procura redefinir sua mensagem.’


 


 


 


TELESUR
O Estado de S. Paulo


Bogotá admite que usou logo de TV em resgate


‘O governo colombiano admitiu ontem ter usado o logotipo da rede de TV Telesur, de capital venezuelano, na operação que resgatou Ingrid Betancourt, ex-refém das Farc. Segundo o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, que está fazendo uma visita a Washington, na operação havia pelo menos um militar disfarçado de cinegrafista da Telesur.’


 


 


 


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Senador paga anúncio em ‘Berlim’


‘O republicano John McCain adotou uma estratégia fora do comum para responder à cobertura jornalística da viagem de Barack Obama para a Europa e o Oriente Médio. Em contraposição à visita de Obama hoje a Berlim – onde faz um esperado discurso diante da Coluna da Vitória -, McCain decidiu pagar anúncios de rádio para promover sua campanha também em Berlim. Com uma diferença: a ?Berlim? que se tornou alvo do republicano não é a alemã, mas cidades homônimas nos Estados americanos de New Hampshire, Pensilvânia e Wisconsin. Segundo a rede de TV CNN, a medida tem como objetivo ganhar a atenção da imprensa nacional e intensificar a campanha nesses três Estados.AP’


 


 


 


 


MERCADO EDITORIAL / EUA
O Estado de S. Paulo]


Cresce circulação do New York Times


‘A empresa dona do jornal The New York Times divulgou os resultados do primeiro semestre de 2008 e eles apontam uma tendência contraditória. Enquanto as receitas publicitárias registram queda de 10% no semestre ante o mesmo período do passado, as receitas com circulação cresceram 2,1%. O aumento das vendas em banca e das assinaturas bate de frente com a tese de que os grupos de mídia perderiam receita se insistissem com as versões impressas.’


 


 


 


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


SBT festeja empate


‘O SBT rufa tambores sobre os números do Painel Nacional de Televisão (PNT) de junho para informar que estancou, pelo menos por um mês, a tendência de queda de audiência em relação à cobiça da Record pela vice-liderança nacional no Ibope.


Em tese, a comemoração tem motivo torpe – a diferença, que era de 1 ponto em maio, caiu para 0,6 ponto em junho, configurando aí um empate para ambas na casa dos 6 pontos.


Além da reprise de Pantanal, novela que rendeu 38% de crescimento ao SBT na faixa das 22 às 23 horas, há outros méritos: a estréia, sob novos rótulos, de antigos quadros do Programa Silvio Santos, fez o ibope subir 30% aos domingos. Na seqüência, Gugu Liberato elevou os índices do SBT em 47% entre 22 e 23 horas.


A rede de Silvio Santos anuncia que cresceu 1,4 ponto entre 18 e 24 h, de segunda a domingo, enquanto a Record cresceu 0,6 ponto e a Globo caiu 2,5 pontos. Por isso, não se confirma aquela tese segundo a qual a Globo festejaria o efeito Pantanal como meio de frear a Record. Não tem outra origem, senão a saga de Juma Marruá, o diagnóstico para a mais baixa média mensal (29 pontos em junho) de A Grande Família.


Entre-linhas


A GloboNews calculou em 630 mil a platéia que passou pelo canal para acompanhar o funeral de Ruth Cardoso, retratado num Arquivo N especial e no Jornal das Dez de 25 de junho.


A libertação de Ingrid Betancourt pelas Farc foi outra cobertura bem avaliada dentro da GloboNews. Mais uma vez, com Arquivo N sobre o tema, o assunto rendeu, entre edição especial e telejornais, público de mais de 600 mil telespectadores.


Riz Khan, principal âncora da TV Al Jazeera em inglês agora é colunista do Bandnews. Ele apresentará boletins diários (três vezes ao dia) no canal pago a partir de sábado.


A quinta webnovela produzida pela Spetáculos, pioneira em novelas para a internet, já está no ar. Virados pra Lua, exibida via www.spetaculos.com.br, tem texto de Leandro Barbieri, que dirige a cena com Silvia Cabezaolias.


Virados Pra Lua conta a história de um advogado apaixonado por sua amiga imaginária. A trama terá 22 capítulos semanais, com média de meia hora de duração.


O último capítulo de Amor e Intrigas, exibido anteontem na Record, marcou 18 pontos de média e 29% de participação de audiência. O ibope da novela subiu 37% desde a estréia.


Vai ao ar ao vivo amanhã, às 22 h, a final do Countrystar, reality musical da Band. Para escolher entre os dois finalistas, o público deve votar por SMS.


Vera Platinum


Suzana Vieira sofreu com aquelas madeixas de Duas Caras, mas teve efeito. Agora é Vera Holtz quem surge platinada para Três Irmãs, novela das 7 que estréia em setembro na Globo. De quebra, reedita parceria com Dennis Carvalho, que a dirigiu em Paraíso Tropical. ‘


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 24 de julho de 2008


FICHAS-SUJAS EM DEBATE
Folha de S. Paulo


A lista da AMB, Editorial


‘PROVOCOU celeuma a divulgação, pela Associação dos Magistrados do Brasil, de uma lista de candidatos a prefeito processados na Justiça. Políticos que estão na relação reclamam de ingerência indevida de juízes no processo eleitoral.


De fato, magistrados não podem escapar da neutralidade em eleições. Seria temerário, por exemplo, se uma lista desse tipo surgisse com a chancela da Justiça Eleitoral. Mesmo que a iniciativa estivesse mergulhada em boas intenções, acabaria produzindo um estigma oficial contra candidatos apenas pelo fato, genérico, de serem réus.


O número de processos que recaem sobre uma mesma pessoa não pode ser tomado como índice de improbidade. O simples fato de um político ter passado quatro ou oito anos na chefia do Executivo o torna alvo natural de ações na Justiça.


No caso concreto, porém, não está configurada uma intervenção imprópria do Judiciário na disputa política. A AMB é uma entidade civil, que defende os interesses profissionais da classe dos juízes. Não tem poder de Estado, embora seus integrantes, individualmente, o detenham. Está, portanto, livre para divulgar a lista que bem entender.


Pode-se, no máximo, questionar a escolha da associação por intervir dessa maneira no debate. Sua ação seria muito mais efetiva se contribuísse com propostas para acelerar o trâmite de processos no país, o que permite que muitos políticos venais escapem de condenação definitiva.


Mas, de todo modo, os processos expostos na lista da AMB têm todos natureza pública. Sem embargo das críticas a que faz jus, a iniciativa contribuirá para aumentar a informação disponível ao eleitor, o que é sempre positivo. E os políticos, ademais, terão farto tempo de propaganda para fornecer as explicações devidas sobre as ações judiciais.’


 


 


 


CASO DANIEL DANTAS
Eliane Cantanhêde


Erros e acertos


‘BRASÍLIA – Não foi nenhum acusado, advogado ou curioso quem disse que há ‘erros’ no inquérito do delegado Protógenes Queiroz sobre o trio Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta. Foi, nada mais nada menos, o ministro da Justiça e chefe da PF, Tarso Genro.


Antes, os erros eram só de procedimento, a tal ‘espetacularização’ de prender os suspeitos com câmeras de TV adentrando a casa alheia e com o uso de algemas de pobre em gente tão rica. Agora, passaram a ser de conteúdo: a fundamentação da prisão temporária (como Gilmar Mendes já dizia), a referência leviana a pessoas inocentes e os rasgos messiânicos injustificáveis em peças policiais (como apontou o repórter Ranier Bragon). Sem contar as ações escondidas da cúpula da PF e a aliança com a Abin.


Segundo Tarso, o substituto de Protógenes, Ricardo Saadi, é de ‘altíssimo nível’ e o inquérito incorporará uma profusão de adjetivos: será ‘mais profundo’, ‘mais técnico’, ‘mais sofisticado’, ‘com mais qualidade’ e ‘menos midiático’.


O que, portanto, significa retirar trechos como o que trata uma boa jornalista como ‘integrante de organização criminosa’, por ter dado o chamado ‘furo de reportagem’, ou o que faz referência a um rapaz de Niterói como agente infiltrado de Daniel Dantas no Exército.


Ele fez engenharia da computação no Instituto Militar de Engenharia e se tornou tenente em 2007, mas desistiu da carreira. O Exército exigiu ressarcimento, e ele entrou na Justiça. Trata-se do primeiro espião que decidiu processar quem deveria espionar.


O grande escândalo poderia descambar para uma comédia de quinta, não fosse o principal: à parte as idiossincrasias e os erros de Protógenes, a essência do inquérito que ele comandou é consistente -ou ‘robusta’, como admitiu Tarso. E, assim, a investigação e suas conseqüências têm de ir adiante, porque a desmoralização não seria só de um delegado; seria geral.’


 


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Brasil & Índia


‘O enviado indiano só chegou ontem às negociações e, em manchete na BBC Brasil desde Genebra, ‘Brasil ganha força na Rodada Doha com apoio da Índia’.


Ato contínuo, o Valor Online, que passou a postar em tempo real as reportagens de Assis Moreira desde Genebra, destacou que ‘Brasil e Índia estão menos pessimistas sobre negociação’. É que os EUA fizeram uma nova concessão ontem pela manhã, negada pela representante americana no dia anterior, e aceitaram limitar subsídios por produto, ‘que o Brasil considera um dos maiores ganhos na negociação agrícola’ de Doha -ao restringir a proteção americana a alguns produtos em especial, como algodão, soja e milho.


BRASIL & CHINA


Mas o G20 liderado pelo Brasil corre risco de rachar, avisa o ‘Valor’, por diferenças entre emergentes sobre tetos para importações agrícolas. China e Índia querem conter as compras, Brasil e o Mercosul não aceitam. O enviado da China teria prometido ao brasileiro Celso Amorim, segundo o porta-voz chinês, ‘preservar a unidade do G20’.


Ontem, ressaltou a AP, a China sentou-se ‘pela primeira vez’ à mesa -ao lado de EUA, Europa, Brasil e Índia.


A ‘BRIGA’ CONTINUA


Sobre Doha, nas manchetes de Folha Online e outros no final do dia, ‘Lula critica inflexibilidade de EUA e Europa’, ‘Ricos estão habituados a impor vontade, diz Lula’. Junto à retórica, elogiou Amorim, ‘extraordinário negociador, estamos em boas mãos’.


Também fechando o dia, no Valor Online, Amorim ‘avisa que vai à briga para defender o etanol’. Pode até ‘bloquear o acordo’ se EUA e Europa insistirem em limitar o acesso do etanol a seus mercados.


SEM PARAR


Além de Doha, que cobre de forma intermitente, o ‘Financial Times’ agora segue com três correspondentes o minuto-a-minuto da economia brasileira. Antes de dar o salto de 0,75 ponto percentual nos juros à noite, como ‘confirmação da preocupação crescente do Banco Central com a inflação’, Jonathan Wheatley apostou em 0,5.


Ontem também, John Rumsey fez longo perfil da CSN. E o editor para América Latina do ‘FT’, baseado em São Paulo, Richard Lapper, discutiu a decisão do Banco Inter-Americano de abrir crédito milionário ao etanol no Brasil. E tome nova entrevista com Carlos Brito, da InBev.


PRENDAM O DELEGADO!


A ‘lista suja’ controla a cobertura, mas a Folha Online deu na manchete, à tarde, que o senador Heráclito Fortes ‘entra com ação contra o delegado da Polícia Federal por vazamento’, na operação que prendeu Daniel Dantas. Na ironia imediata do Vi o Mundo, ‘Prendam o delegado!’.


TRIBO


Na mídia de celebridades, que só cresce, o dia foi da foto do bebê de Matthew McConaughey com a brasileira Camila Alves, na ‘Ok!’. Ele diz que foi um parto ‘tribal’, com ‘música brasileira’. Ecoou de ‘Los Angeles Times’ a ‘Sun’, ‘NY Post’, Huffington Post etc.


MISTÉRIO


Para concorrer com o bebê hollywoodiano, on-line e nos canais de notícias, só os pingüins que morrem nas praias brasileiras. A CNN deu longa reportagem sobre o fato ‘alarmante’, talvez ‘início de uma tendência’, e culpou ‘pesca excessiva’ ou, quem sabe, ‘aquecimento global’’


 


 


 


TELESUR
Folha de S. Paulo


Bogotá admite ter usado nome de TV chavista


‘Após admitir ter usado o emblema da organização neutra Cruz Vermelha na recente ação que resgatou 15 reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, reconheceu ontem ter disfarçado um agente na operação de ‘câmera da Telesur’, rede de TV de venezuelano Hugo Chávez.


Ao falar sobre o resgate durante visita a Washington, Santos não citou uso de emblema ou logo da TV. Até o fechamento desta edição, não havia reação de Caracas, em rota de reconciliação com Bogotá, que já havia admitido ter mimetizado as ações da Venezuela para transportar ex-reféns neste ano.’


 


 


 


TELEVISÃO
Laura Mattos e Lúcia Valentim Rodrigues


Sucesso infantil estende shows dos Backyardigans


‘Sucesso na TV, o desenho animado ‘Backyardigans’ está indo bem também no palco. Baseado na série canadense exibida no Brasil pelo Discovery Kids, o espetáculo no Credicard Hall ganhou mais um final de semana (veja datas abaixo).


O programa -que é hoje o segundo mais visto do Discovery Kids e já levou o canal à liderança de 4 a 11 anos- mostra cinco bichos, entre eles o pingüim azul Pablo e o alce laranja Tyrone, que se aventuram no quintal. Um dos pontos fortes são as coreografias, feitas por meio de computação gráfica.


A migração para os palcos exigiu um trabalho engenhoso com o figurino. ‘Foi um grande desafio fazer bonecos grandes nos quais os atores pudessem ver, ouvir, respirar e não perder a mobilidade para dançar, que é a principal característica dos personagens’, conta à Folha o diretor do show, Jonathan Hofman, que trabalha para a empresa de produção de espetáculos Exim, na Argentina.


Além disso, os atores, que são dublados pelas mesmas vozes da TV, têm de saber dançar. ‘A Uniqua, por exemplo, a personagem que mais rodopia, quem faz é uma bailarina clássica.’ No palco, o resultado é bom.


Há um cenário móvel, que vai sendo trocado à medida que a história se desenrola. Começa com os personagens entrando pela lateral do Credicard Hall, o que os deixa bem próximos das crianças. Com a turma no palco, vem o hit entre os pequenos (‘Temos o mundo inteiro no nosso quintaaaaal…’).


Os espectadores são chamados pelos personagens a interagir cantando e gritando. Ninguém fica de fora.’


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Valor Econômico


Quarta-feira, 23 de julho de 2008


JORNALISMO ECONÔMICO
Pedro Cafardo


Alguém já viu uma jaca despencar 5%?


‘O leitor mais atento deve concordar que a imprensa freqüentemente exagera na criatividade, escorrega nas palavras e agride normas no uso diário da língua portuguesa. Pela repetição, alguns erros e manias certamente chegam a irritar esse leitor.


O ‘fim de semana’, por exemplo, foi quase extinto na imprensa, tanto em jornais e revistas quanto no rádio e na televisão. Usa-se, pomposamente, ‘final de semana’. Vá lá que o Aurélio admita o uso da palavra ‘final’ como substantivo, mas ela é primordialmente um adjetivo.


Não há explicação para o fato de que o adjetivo ‘final’ tenha, aos poucos, tomado o lugar do substantivo ‘fim’, muito mais elegante nesse caso. Afinal, se fim de semana fosse final de semana, o início dela seria inicial. Dói ouvir a todo instante no rádio e na TV a repetição de final de mês, final de semestre, final de ano ou final do filme. Isso chega a ser brega.


Jaca despenca de vez ou fica no galho. A bolsa, idem


Não há, obviamente, nenhuma regra para o uso de termos em inglês ou originários do inglês. O bom senso indica o que usar. Agride o bom senso, por exemplo, empregar a palavra ‘sítio’ no lugar de ‘site’ da internet. Pode ser que em Portugal, onde essa palavra é comumente usada com o sentido de ‘lugar’, sítio seja melhor que site. Mas, no Brasil, sítio sempre foi uma pequena propriedade rural. O ‘site da internet’ já ganhou a briga: não há por que se insurgir contra o termo. Puristas poderiam até tentar emplacar um aportuguesado ‘saite’, mas ‘sítio’ não dá. É pedante.


Outras palavras advindas do inglês, embora inadequadas, acabam ganhando também a briga e se impondo no dia-a-dia apressado dos textos da imprensa. É inútil combatê-las. ‘Volatilidade’, por exemplo, é um termo escrito sem nenhum receio pelos jornalistas de economia. No dicionário, ‘volátil’ é uma coisa que voa, que se reduz a gás ou vapor. É uma qualidade que, em português, se aplica perfeitamente aos gases, não às cotações das ações. Mas, quando as bolsas passaram a ter um comportamento instável, na crise da bolha da internet, a imprensa econômica importou o ‘volatility’ do inglês. E não teve a idéia de traduzi-lo por ‘instabilidade’. Para a imprensa, ‘volatilidade’ passou a ser uma instabilidade muito forte, significado que não encontra respaldo na origem da palavra.


Para dar mais ênfase a uma notícia, a imprensa de economia também acaba por escolher alguns verbos diferentes, que são usados de forma inadequada – como ‘despencar’ ou ‘desabar’ no lugar de ‘cair’ e ‘disparar’ no de subir. São muito comuns frases assim: ‘A bolsa de São Paulo despencou 5%’ ou ‘o dólar desabou 6%’. Isso chega a ser engraçado. Pode-se, é claro, usar esses verbos para retratar o dia-a-dia do mercado, mas sem perder a noção de seu significado. Despencar é um verbo usado para descrever a queda de frutas, objetos ou pessoas. Uma jaca despenca da jaqueira quando está muito madura. Nunca se viu, porém, uma jaca despencar 5%. Ou ela despenca de vez ou fica no galho. E se a jaca não pode despencar 5%, por que a bolsa de valores poderia? Desabar se aplica bem a um prédio que cai ou a uma ponte. Se uma obra dessas desaba, cai de uma vez. Também não dá para imaginar como seria possível um prédio desabar 6%. Se o articulista quiser ser grandiloqüente, até poderá dizer que a bolsa ‘despencou’, o dólar ‘desabou’ ou que a cotação da soja ‘disparou’. Mas nunca que ‘despencou 5%’, ‘desabou 6%’ ou ‘disparou 10%’.


Outro uso inadequado que deve irritar o leitor atento é o do verbo ‘acontecer’. São muito comuns frases assim: ‘A reunião do Conselho Monetário Nacional vai acontecer na quarta-feira’. Acontecer passa, necessariamente, a idéia do inesperado ou do imponderável. Então, um evento programado não pode ‘acontecer’. Ele ocorre ou realiza-se. Só acontecem mesmo acidentes nas estradas, desabamentos, enchentes nas cidades etc. Enfim, não podem acontecer coisas previstas.


Por falar nisso, é comum acontecer a troca de advérbios por adjetivos em textos jornalísticos. ‘Independente’ ocupa com freqüência o lugar de ‘independentemente’. Há dias, alguém escreveu que ‘independente do resultado final da inflação de junho, o Banco Central deverá aumentar os juros na próxima reunião do Conselho de Política Monetária’. No dia seguinte, a notícia de uma agência informava que ‘a confiança do investidor caiu ‘forte’ em razão dos aumentos de preços’. Aparentemente, a imprensa odeia advérbios e cultiva os adjetivos.


Pedro Cafardo, é editor-executivo do Valor. O titular da coluna às quartas-feiras, Cristiano Romero, está em férias.’


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