Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Carta Capital


PARAOLIMPÍADA
Sócrates


Puro preconceito, 19/9


‘A Paraolimpíada é tratada por alguns meios de comunicação como uma competição menor e mesmo descartável. Pode-se especular sobre as causas de tamanho desinteresse, relacionando-as ao materialismo dessas empresas ou a outras estratégias. Tenho, no entanto, uma opinião clara sobre o fato: puro preconceito.


Preconceito contra os portadores de necessidades especiais, que neste caso voltaram a ser tratados simplesmente como deficientes físicos, em uma clara manifestação do politicamente incorreto. A repercussão das intensas campanhas realizadas pela mídia para gerar efeitos de popularização em alguns atletas ‘não-deficientes’ poderia também ocorrer com os paraolímpicos, caso estes tivessem o mesmo tratamento. Se Cesar Cielo, ganhador de duas medalhas, uma de ouro, pode desfilar em carro aberto quando volta ao País, o colega nadador Clodoaldo da Silva, ganhador de 13 medalhas em três Paraolimpíadas, seis de ouro, também mereceria os seus dias de glória nacional. E assim por diante.


Há um mês, clamava-se por medalhas como se fossem necessárias para o orgulho nacional. Hoje se despreza o grupo de atletas que subiu ao pódio mais do que o triplo em comparação com os ‘olímpicos’. E com muito menos patrocínio estatal ou renúncia fiscal. Difícil engolir esse tipo de coisa.’


 


 


TELEVISÃO
Nirlando Beirão


As irmãzinhas e o os mermão, 19/9


‘É para iludir os protagonistas – e a equipe técnica – com o fugaz alento para a penosa jornada que os aguarda, meses a fio. Já houve Veneza e Amsterdã, em exagero de barcos e de canais. São Petersburgo, para um retoque imperial. Londres e Paris, menção ao clássico. Lisboa, afetuosamente familiar. Nova York, com aquele skyline que, se fosse cobrar copyright, quebraria Hollywood assim como a Rede Globo. E, num rasgo de exotismo, a Marrakesh de O Clone, em moldura tão forçada que não há um escasso marroquino que se identifique com aquilo lá. Parece caricatura forjada nos galpões do Projac. Xangai está a caminho, ou Hong Kong, sabe-se lá – com Miguel Falabella fazendo-se passar por Wong Kar-Wei.


Três Irmãs, que estreou esta semana, excursiona por praia ainda mais remota. Nem Bali nem o Havaí. Trata-se de um mundo fictício, que se assemelha remotamente com o que o Rio de Janeiro já foi e não é mais: paraíso de surfistas dourados e de criaturas indecorosamente felizes, típicos daquelas páginas coloridas de Manchete nos otimistas anos JK. É o cenário que coube ao autor Antonio Calmon, o mascate da clorofila e da progesterona, naquele horário propício das 7 da noite – em que a garotada espreguiça no sofá, em fantasias libidinosas confrontadas com a dura realidade da mamãe que, a distância, pilota o jantar.


A viagem de Calmon é outra, a espectral nostalgia que só uma câmera muito arisca – ou uma cenografia impecável – pode recortar nesse Rio das mil tragédias. De todo modo, é nação com dialeto próprio, numa multiplicação de síncopes, de vogais e de hipérboles. Você diz, por exemplo: mer’mão, para dizer meu irmão; meiiisssmo, quando a palavra é mesmo; douuuuze, no lugar daquele conhecido sinônimo de uma dúzia.


As três irmãs do título são umas belezinhas, mas só mesmo a presença de Regina Duarte, em surto de Viúva Porcina, e de Marcos Caruso, para quem fazer rir é que nem coçar, pode antecipar a expectativa do humor meio escrachado. Como diz a própria Regina, novela é bom para quem não tem o que fazer.’


 


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Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


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