Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Casa Branca critica edição de entrevista

Ed Gillespie, conselheiro político da Casa Branca, enviou uma carta ao presidente da rede televisiva NBC, Steve Capus, reclamando de ‘manipulação’ na edição de entrevista concedida pelo presidente George W. Bush ao jornalista Richard Engel, exibida nos programas Nightly News e The Today Show na semana passada. No sítio da Casa Branca, além da carta de Gillespie, há também um link para a transcrição da entrevista na íntegra, a entrevista em vídeo na íntegra e a versão editada.

No entanto, a entrevista não violou nenhuma norma jornalística que justifique as críticas recebidas, opina Dan Froomkin, do Washington Post [20/5/08]. A Casa Branca pode acreditar que as empresas de mídia são obrigadas a reproduzir integralmente todos os desvios que Bush dá em suas respostas, mas não é assim que a indústria jornalística funciona, completa Froomkin.

A questão central da qual Gillespie reclama diz respeito à parte da entrevista em que Engel pergunta a Bush se ele se referia ao pré-candidato democrata Barack Obama em sua afirmação sobre as negociações com o Irã. Em discurso no Parlamento Israelense, o presidente americano havia afirmado que os defensores do diálogo com países inimigos têm a ‘falsa comodidade da conciliação’, semelhante àqueles que tentavam apaziguar Adolph Hitler antes da Segunda Guerra Mundial.

A NBC cortou duas frases da resposta de Bush: ‘As pessoas precisam ler o discurso. Você não entendeu bem, também. O que eu falei é que nós precisamos levar as palavras do povo a sério’. A rede também omitiu o resto da resposta do presidente: ‘E se você não o levar a sério, então chegará um dia em que não levaremos as palavras a sério. Foi pensando nisto que eu falei sobre não levar a sério as palavras de Adolph Hitler, quando estava em Knesset [Parlamento de Israel]. Mas eu também falava sobre a necessidade de defender Israel, a necessidade de negociar com as vontades da al-Qaeda, Hezbollah e Hamas. E a necessidade de garantir que o Irã não fabrique uma arma nuclear’.

Se Bush tivesse explicado o que Engel entendeu errado, então a edição seria desnecessária, acredita Froomkin. Mas o que Bush fez foi sugerir – vagamente e de maneira confusa – que o jornalista havia chamado de conciliação o fato de ‘não levar as palavras [de inimigos como Irã ou Hitler] a sério’.

Irritação

Ao longo da entrevista, pode-se notar o aumento da irritação de Bush – por causa das perguntas de Engel. Fluente em árabe, o jornalista ficou mais tempo no Iraque que qualquer outro correspondente de TV e confrontou, em diversos momentos, o presidente.

Em um destes momentos, Engel questionou Bush sobre a falta de uma estratégia de saída do Iraque e o provocou sobre o legado de sua administração. ‘Se olhar para trás, nos últimos anos, o Oriente Médio que você está deixando para o próximo presidente é profundamente problemático: temos o Hamas no poder; o Hezbollah tomando as ruas e mais poderoso que o governo; o Irã com poder; o Iraque ainda em guerra’, disse, completando com uma acusação que parece ter deixado o presidente ainda mais enfurecido. ‘A guerra ao terrorismo foi o centro de sua administração. Muitos dizem que ela não tornou o mundo mais seguro, mas que criou mais radicais, que há mais pessoas no mundo que querem atacar os EUA’.

Provocação

Gillespie reclamou do modo como a NBC expõe a situação do Iraque e de como usa o termo ‘recessão’ para se referir à economia americana – segundo ele, a crise atual não chega a ser uma recessão. O conselheiro ainda alfinetou a rede de TV. ‘Acredito que vocês não querem que as pessoas pensem que não existe uma distinção entre as notícias divulgadas na NBC e as opiniões divulgadas na MSNBC, embora muitas vezes esta linha seja tênue’.

A NBC se defendeu das reclamações do governo. ‘Assim como a Casa Branca não participa no processo editorial do Washington Post, Wall Street Journal e USA Today, a NBC News, como parte de uma mídia livre em uma sociedade livre, toma suas próprias decisões editoriais’, declarou.