Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Cobertura da BBC na mira dos críticos

Os israelenses sempre se julgaram vítimas da mídia européia. Na última semana de julho a frustração fez com que o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert dissesse que a cobertura internacional de TV interpretou seu país de forma completamente errônea. ‘A vítima está sendo representada como agressora’, disse.

A BBC é um dos principais alvos de críticas vindas de todos os lados. Extremistas de esquerda julgam a emissora pró-Israel, enquanto conservadores reclamam de seu favoritismo ao Hezbollah.

Exemplos infindáveis

Um exemplo é Stephen Pollard, que afirma poder ‘encher este sítio com exemplos de distorções da BBC ao relatar as ações militares de Israel nos últimos dias’, escreveu no dia 13/7. Ele comentava uma reportagem de Peter Marshall para o Newsnight. ‘Sobre uma imagem de uma ponte bombardeada, Marshall disse: ‘toda essa destruição, e ainda há mais sob ameaça’. Como se a Força de Defesa Israelense fosse algum tipo de destruidora desenfreada e sem sentido, só porque deu na telha. Que tal informar por que a ponte foi destruida? Porque Israel foi constantemente atacada pelo Hezbollah, e a FDI precisa agir para prevenir futuros ataques.’

Dez dias depois ele critica veementemente o programa de rádio de Andrew Marr. ‘A BBC não poderia transmitir programa mais vil’, afirmou. ‘Todos os convidados utilizaram o tempo que tinham para destilar o quanto pudessem de veneno anti-Israel. Não houve um só espaço dedicado a quem julgasse que Israel tivesse, pelo menos, uma base que justificasse sua causa.’

Beirut Broadcast Corporation

A corporação também despertou a ira da colunista do Daily Mail Melanie Phillips. ‘A BBC virou Beirut Broadcast Corporation [em vez de British Broadcast Corporation, de onde vem a sigla BBC], reportando a guerra quase completamente sob a perspectiva de um vitimizado e inocente Líbano’, escreveu em seu blog. ‘Isso sem levar em consideração que alvos israelenses estão sendo alvejados, enquanto que as casualidades libanesas são vítimas desinformadas dos ataques direcionados aos terroristas do Hezbollah e sua infraestrutura.’

Para James Silver [The Guardian, 31/7/06], é impossível julgar quem está certo. As reclamações de que a BBC é pró-Israel? Ou as igualmente indignadas vozes que insistem que a corporação é um poço de veneno anti-Sionismo? Uma porta-voz da BBC pôs panos quentes: ‘Pessoas com fortes opiniões tendem a achar tendenciosidade onde não existe. Nosso dever é reportar independentemente e analisar todas as perspectives de uma história.’

Distorção de imagens

Apesar de julgar sua cobertura justa, as reclamações trespassam a linha dos blogs e páginas pessoais. No dia 4/8, reportagem de Tom Gross para o Jerusalem Post diz que boa parte da mídia internacional não está apenas reportando de forma equivocada o atual conflito no Líbano, mas também está pondo lenha na fogueira. Como exemplo, o Post cita a BBC World, tida como vilã número 1. ‘Cada vez mais a corporação soa como ferramenta de propaganda do Hezbollah’, escreveu Gross. ‘Como se não bastasse o péssimo nível de entrevistas e comentários, o grau de distorção das imagens é ainda pior. A maneira como muitas emissoras de TV estão desenhando o conflito faz com que se pense que Beirute virou Dresden ou Hamburgo após as invasões aéreas na Segunda Guerra Mundial.’

O Post revela que fotografias aéreas da capital libanesa dariam uma idéia mais realista do que está acontecendo. Os focos dos ataques aéreos, segundo o jornal, eram edifícios que hospedavam centros de comando do Hezbollah.

A mídia dá a impressão, através de imagens distorcidas, seleção de testemunhas e constante ênfase no número de baixas, de que o estrago no Líbano se equipara ao do Tsunami no Sudeste Asiático, disse Gross. ‘Na verdade, Israel tomou muito cuidado para evitar a morte de civis – mesmo isso se provando extremamente difícil e até tragicamente impossível, uma vez que os próprios membros do Hezbollah se escondem em casas de civis.’

Hezbollah e o controle da mídia

A BBC jamais levantaria a bola para uma discussão sobre sua parcialidade no conflito do Oriente Médio, mas um jornalista britânico de outra companhia, revelou recentemente como a mídia noticiosa permite que a cobertura da crise no Líbano seja distorcida. Nic Robertson, aclamado correspondente internacional da CNN, admitiu que sua reportagem anti-Israel no dia 18/7, sobre casualidades no Líbano, foi controlada e administrada do começo ao fim pelo Hezbollah. Robertson afirmou que a milícia possui ‘operações de mídia muito, muito sofisticadas.’

Após ser pressionado, Robertson também admitiu que militantes do Hezbollah haviam instruido os câmeras da CNN sobre onde e o que filmar. ‘Eles têm controle da situação’, disse o correspondente. ‘Eles designavam onde deveríamos ir; não pudemos entrar nas casas e levantar a poeira para ver o que há debaixo.’

‘Infelizmente o programa Reliable Sources, em que Robertson apareceu revelando as táticas do Hezbollah para controlar a mídia estrangeira, só passa na CNN americana, e não na internacional’, afirma Gross em sua reportagem.

Christopher Allbritton, colaborador da revista Time, também deixou escapar verdades desconhecidas ao público. Em seu blog, declara: ‘ao sul, na curva costeira, o Hezbollah está lançando Katyushas, mas não posso falar muito sobre isso. O Partido de Deus possui uma cópia do passaporte de cada jornalista, e eles já perseguiram vários e ameaçaram um de nós.’

Richard Engel, da NBC, e Elizabeth Palmer, da CBS, além de representantes de emissoras européias, também foram conduzidos pelo Hezbollah pelas áreas atingidas. Elizabeth comentou em sua reportagem que ‘o Hezbollah faz questão de que os estrangeiros só vejam aquilo que quer que vejam.’

Para o Jerusalem Post, a sinceridade desses correspondentes é louvável, mas infelizmente não vai desfazer o estrago feito pela BBC. ‘Primeiro a emissora dá a impressão de que Israel detonou a maior parte de Beirute. Depois, para ser coerente com a reportagem tendenciosa, seu sítio fornecia todos os detalhes de pontos de encontro para uma marcha anti-Israel em Londres, mas não deu nenhuma informação sobre um protesto a favor de Israel, que também seria realizado em Londres pouco tempo depois.’