Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Como confundir o leitor

A Folha de S.Paulo trata de recuperar o espaço deixado pela dianteira dos concorrentes, o Estado de S.Paulo e o Globo, na cobertura dos escândalos que ameaçam o cargo do presidente do Senado, José Sarney. Na edição de terça-feira (7/7), a Folha revela, com chamada na primeira página, que, em 2005, Sarney ampliou os poderes do então diretor geral do Senado Agaciel Maia para administrar contas secretas que hoje somam 160 milhões de reais.


O Estadão dá uma folga para Sarney na sua primeira página, enquanto o Globo escolheu para manchete a denúncia de que, mesmo depois dos sucessivos escândalos sobre a farra de viagens de parentes, assessores e amigos ao exterior, o Senado gastou no primeiro semestre deste ano, com passagens aéreas, três vezes mais do que havia gasto no primeiro semestre do ano passado.


Nas páginas internas, o Estadão preferiu destacar a decisão de José Sarney, de determinar a abertura de processo administrativo contra Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, o outro ex-diretor apontado como autor dos atos secretos.


Notícia supreendente


Lido isoladamente, o material pode induzir o leitor distraído a entender que o presidente do Senado está tentando moralizar a Casa e que toda responsabilidade cabe aos ex-diretores. Maia e Zoghbi foram apontados, por uma comissão de sindicância criada por Sarney há dez dias, como autores da decisão de omitir do conhecimento público cerca de 600 medidas administrativas nos últimos anos.


Eles serão processados por crimes de improbidade administrativa e prevaricação, ou seja, de se valerem de cargo público para obter proveito para si próprios ou para outras pessoas.


Ora, a reportagem da Folha, revelando que, quando ocupou a presidência do Senado pela segunda vez, José Sarney ampliou os poderes de Agaciel Maia para gerir o dinheiro do plano de saúde dos servidores, depositado em três contas paralelas, revela de fato a quem o ex-diretor geral prestava contas. Mas essa relação só pode ser feita por quem lê pelo menos dois jornais por dia – o que, convenhamos, é muito raro.


Do jeito que as coisas se encaminham no noticiário, ainda seremos surpreendidos com a notícia de que José Sarney foi o verdadeiro moralizador dos costumes políticos no Brasil.


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O papel do jornalismo


A imprensa segue tendo dificuldades para relatar os conflitos que ocorrem em países onde não impera a total liberdade de informação. Tem sido assim nos protestos contra o resultado oficial das eleições presidenciais no Irã e, conforme publicam os jornais de terça-feira (7/7), com relação à violência na província chinesa de Xinjiang.


A maior parte do noticiário provêm da agência oficial Nova China, que induz a desconfianças, mas os jornalistas ocidentais apelam também para os novos meios que formam a redes sociais digitais.


Mas será que se pode confiar completamente nessas novas fontes?




Alberto Dines:


O que aconteceu nas ruas de Teerã não é muito diferente do que aconteceu no passado em Pequim, em Berlim Oriental, Praga ou Budapeste. Onde existe a vontade de resistir à opressão, sempre aparece o meio apropriado para se comunicar. O Twitter, os blogs e os torpedos pelo celular parece que foram os preferidos para convocar os protestos contra a reeleição de Ahmadinejad e informar a imprensa internacional do que se passava no Irã.


O jornalismo-cidadão é essencial em certas situações, mas sem o jornalismo profissional é impossível ter uma noção exata do que aconteceu ou está acontecendo. O Observatório da Imprensa na TV vai discutir nesta terça-feira (7/7) à noite o que se passa na imprensa. E isto interessa a todos e não apenas aos jornalistas. Às 22h40, ao vivo pela TV Brasil. Pela Net, canais 4 (SP), 16 (DF), 18 (RJ e MA); pela Sky-Direct TV, canal 116; pela TVA digital, canal 181.