Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Compromisso para os jornais populares

Os jornais ditos populares poderiam, muito bem, ter, entre seus objetivos e sua missão, um item a mais, além de ganhar dinheiro: melhorar o nível do público brasileiro. Eles podem. Na verdade, isso deveria ser uma obrigação desses jornais.

Estão baseados em uma fórmula antiga: mulher nua, esportes, escândalos, crimes e, agora, serviços para aposentados. Mas seu grande trunfo é um preço de capa altamente atrativo, menos de 1 real em alguns casos. Assim, conseguem números muito expressivos, em termos de venda avulsa.

O Super Notícias, de Belo Horizonte, por exemplo, é um fenômeno: chega a uma venda avulsa, média, de 295 mil exemplares diários. Com essa tiragem, o volume mensal de dinheiro (supondo um preço de capa de 25 centavos de real) proveniente de circulação chega a 2, 2 milhões de reais. Pode até ser pouco, para o tamanho da operacão, mas essa receita é fortemente reforçada com as chamadas promoções.

No Rio de Janeiro, o Extra vende 240 mil exemplares por dia, o Meia Hora 176 mil e o Expresso da Informação, outros 77 mil. No Rio Grande do Sul, o Diário Gaúcho chega aos 144 mil exemplares por dia. Em São Paulo, o fenômeno venda avulsa parece não ser tão forte: o Agora São Paulo fica apenas nos 64 mil, complementados por 24 mil assinantes. De todos, o Agora é o único que trabalha com assinaturas.

(A fuga das bancas, principalmente em São Paulo, vem sendo discutida por marqueteiros das editoras e dos jornais. Alguns atribuem o fato à falta de segurança: parar em uma banca pode ser um convite ao assalto. Outro, às próprias condições da cidade: o cidadão hoje trabalha ponto-a-ponto. Vai do estacionamento da empresa à garagem de casa. Mas são hipóteses insatifatórias: e os milhões que usam metrô e ônibus?)

Bancas e assinaturas

É claro que a discussão sobre o futuro dos jornais impressos diante da revolução da informática fica meramente acadêmica. Jornais impressos, neste momento, no Brasil, vendem.

Mas é possível discutir esse fenômeno diante do que ocorre com os jornalões, com sua circulação baseada, principalmente, em assinaturas. A postura do cidadão que se desloca até uma banca ou algum ponto de venda alternativo para comprar seu jornal é bem diferente daquele faz uma assinatura.

A Folha de S.Paulo, hoje, tem 276 mil assinantes e inexpressivos 20 mil exemplares de venda avulsa diária. O Globo tem 213 mil e o Estadão 175 mil assinantes. Os gaúchos também vão bem de assinaturas: 166 mil para Zero Hora e 152 mil para o Correio do Povo. A venda avulsa, para estes, fica entre 15 e 20 mil exemplares por dia, com exceção do Estadão, que vende em média mais de 30 mil exemplares diários. No Rio, o total de jornais vendidos diariamente supera o de assinaturas.

Rentabilidade preservada

O assinante, muitas vezes, nem abre seu jornal. Alguns até deixam acumular, para ler no fim de semana.

Já o cidadão que foi à banca está motivado para ler aquele jornal. Seja pela fofoca da velha atriz e seu marido jovem, seja pela vitória do seu time, seja pela bela mulher da capa, seja pelo sequestro daquela celebridade – ele está motivado. E mais motivado ainda pelas promoções, com prêmios às vezes mirabolantes, às vezes muito simples.

Esta motivação torna o leitor receptivo para tudo o mais que o jornal trouxer – e aí é que há uma boa oportunidade para melhorar o nível desse público: o jornal ‘popular’ poderia ter também uma função educativa.

Sem prejuízo dos objetivos de marketing, usando o mesmo tipo de liguagem em textos curtos, esses jornais poderiam enriquecer suas páginas internas. Os jornalões têm seus cadernos de ‘Cultura’ e ‘Economia’ e muitas vezes mantêm ali uma postura pedante. Esse não é o caminho para os populares.

Dez ou quinze linhas sobre o país para onde foi vendido o jogador, ou dez linhas para contar por que tal ator é chamado de shakespeariano, ou ainda um contra-e-a-favor curtinho sobre a barragem do São Francisco são modestos exemplos do que poderia ser feito.

É um tema e um desafio que fica para a consciência desses profissionais, os editores dos jornais populares, que têm acesso a milhões de brasileiros que sabem ler e lêem: levar para eles alguma leitura de melhor qualidade, sem matar a galinha dos ovos de ouro.

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Jornalista