Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

ELEIÇÕES 2006
Comunique-se

Band x Globo: 2º round, 7/08/06

‘‘Para não sermos levianos, antes de qualquer atitude, optamos por questionar a emissora a quem o anúncio foi dirigido’. A informação é da Central Globo de Comunicação a respeito da reação à peça publicitária da Band publicada no final de julho na Folha e no Estadão. Segunda a mais recente edição de Veja, a Globo interpelou judicialmente, isto é, notificou em forma de perguntas, a concorrente, que a acusou de omissão e manipulação na cobertura das eleições do País.

‘Após a publicação de uma peça publicitária assinada pela TV Bandeirantes, a TV Globo foi procurada para se pronunciar a respeito, aparentemente por ter sido usado um formato parecido com um anúncio que publicamos anteriormente. Essa foi a nossa conclusão, uma vez que rigorosamente todas as informações factuais e objetivas ali listadas não correspondem à nossa trajetória, como poderá ser facilmente comprovado – em cada episódio mencionado – com farto material de arquivo nosso e de terceiros’, respondeu a CGCom.

No dia 31/07, a Band publicou um anúncio de página dupla respondendo ao anúncio ‘Eu Prometo’ da TV Globo. O título do texto publicitário ‘Eles prometem. A Band cumpre’ coloca uma série de fatos da política nacional que, segundo a Band, teriam sido omitidos pela concorrente.

A assessoria de imprensa da Band não havia recebido nenhum documento até o fechamento desta matéria.’



DO GOLPE AO PLANALTO
Antonio Brasil

Livro do Kotscho é bom de ler, mas decepciona!, 7/08/06

‘Li ‘Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter’, do Ricardo Kostcho, de virada! Comprei um exemplar na última sexta-feira, o primeiro dia de vendas aqui no Rio e só terminei na madrugada do dia seguinte. Assim como tantos colegas, aguardava ansioso para ler sobre a sua longa e brilhante trajetória no jornalismo, mas estava ainda mais interessado nas revelações do grande repórter sobre os bastidores do governo Lula. Afinal, apesar de ter se tornado assessor de imprensa da presidência, Ricardo Kotscho sempre foi um dos melhores jornalistas investigativos do Brasil.

A descrição da vida do repórter Ricardo Kotscho é ótima. Sua vida tão premiada é invejável. Mas gostei ainda mais das suas primeiras experiências na televisão. A transição dos profissionais de jornalismo impresso para a TV nem sempre foi fácil ou automática. ‘Gravava e regravava standup e passagens sem falar nas chamadas para a escalada… Lá pela milésima vez… entreguei os pontos: Não vai dar, Jorginho. Eu não estou torto, eu sou torto e não sei falar nessa porra de microfone’. Maravilhoso! Ricardo Kotscho sempre foi muito honesto com a vida e com as palavras.

Mas apesar dos bons momentos, o livro também ‘decepciona’. Pelo jeito, o velho repórter não quer mais se meter em confusões. No livro, por exemplo, ele demonstra muito cuidado ao tratar de questões polemicas do passado como a edição do debate do Lula pela Globo.

‘Lá em Pernambuco, quando alguém ofende a família, o sertanejo só tem dois tipos de reação: ou mata o desafeto ou fica magoado. Lula ficou magoado…’. Deu para perceber isso na edição do debate que foi ao ar no telejornal Hoje, da TV Globo… Lula não estava bem, perdeu. Mas o que se viu à noite no Jornal Nacional, da mesma emissora, foi o resumo de outro debate. Editaram só os melhores momentos de Collor os piores de Lula’.

O repórter Ricardo Kotscho, que hoje trabalha para o Globo, pisa em ovos quentes.

Seus comentários são ainda mais ‘cuidadosos’ quando descreve o governo do amigo Lula em meio à crise, tendo que enfrentar uma enxurrada de denuncias: ‘Em nenhum momento senti Lula fraquejar. Ao contrário’. É, pode ser.

Ricardo Kotscho é sem dúvida um grande jornalista. Muito jovem denunciou o escândalo das mordomias durante a ditadura, se tornou um herói e referência para toda uma geração de jornalistas. Mas no livro fica evidente que Ricardo Kotscho não quer mais se meter em confusões. Acima de tudo, é amigo de seus amigos. E o presidente companheiro Lula é um grande e velho amigo do repórter Ricardo Kotscho. Bom para ele. Pena para nós.

Apesar das boas histórias, ‘Do golpe ao Planalto’ demonstra como é difícil conciliar a amizade e admiração de um jornalista por um líder político com a prática da profissão, com a prática do jornalismo de verdade. É sempre melhor e mais seguro elogiar e aceitar suas explicações dos amigos, ou seja, fazer ‘assessoria de imprensa’.

Correspondente internacional

Sou um grande admirador do Ricardo. Ainda muito jovem, tive o privilégio de conhecê-lo na Alemanha no final dos anos 70. O meu colega de Globo, Hermano Henning me apresentou durante uma reunião de trabalho em que estava presente outro grande jornalista, o William Waack. Na época, estávamos cobrindo os polêmicos acordos nucleares entre o Brasil e a Alemanha. Confesso que estava emocionado. Ricardo Kotscho já era muito conhecido no Brasil pelas suas grandes e corajosas reportagens investigativas sobre a ditadura brasileira. Naqueles dias, passava por um período de ‘afastamento’ do Brasil e das ameaças dos militares vivendo em uma cidadezinha muito bonita, Bad Goldsberg, perto de Bonn, capital alemã dos anos 70.

Além de ser um dos jornalistas mais respeitados no Brasil, Kotscho também era muito querido por ‘quase’ todos. Amigo dos amigos, ele e a sua ‘grande família’ recebiam a todos os brasileiros com grande simpatia e carinho. Jamais esqueci um almoço de confraternização na sua bela residência. Kotscho não só conversou com todos, contou muitos ‘causos’ como foi para cozinha preparar um exótico ‘pato a moda do Kotscho’. Aqui entre nós, o pato não estava muito bom, mas a companhia era excelente e inesquecível. Além de muito simpático, era evidente que Ricardo Kotscho é amigo dos amigos. Sua simpatia e o bom caráter transcendem à sua enorme competência como jornalista. E este é o problema do livro.

Mesmo em um providencial ‘postfácio’, Kotscho é extremamente cuidadoso ao comentar as últimas crises políticas do governo Lula. Faz questão de dizer que não fazia mais parte da equipe – pediu demissão antes da crise do mensalão e de tantas outras –

e que, assim como o presidente companheiro, ele teria ficado muito surpreso com as denuncias. Ricardo Kotscho é amigo dos amigos. Aceita todas as explicações oficiais, não investiga nada e não denuncia ninguém. Sua crítica mais próxima de uma crítica é na verdade um alerta: ‘Trabalhar para o governo pode fazer mal a saúde’.

Amigo dos amigos

O livro ‘Do golpe ao Planalto – uma vida de repórter’,de Ricardo Kotscho é bom de ler. Principalmente, para os jovens futuros jornalistas. Muito antes de se tornar assessor de imprensa, Kostcho já estabelecia os objetivos maiores da profissão:

‘E esta a função do repórter: mostrar a nossa realidade para que as pessoas tenham elementos capazes de transformar esta mesma realidade, reagir diante dela, se quiserem. O resto é burocracia, propaganda ou literatice, não tem nada a ver com jornalismo. Complicaram muito as coisas, mas jornalismo é uma arte muito simples: um repórter e um fotógrafo na rua, mentes e corações abertos, contando as histórias do dia-a-dia da vida’. Tudo a ver.

Mas os tempos mudaram. Hoje, o depoimento ‘oficial’do livro de Ricardo Kotscho não é o documento histórico tão esperado e necessário para conhecermos os bastidores do governo Lula. ‘A gente tem que arriscar sempre’, diz Kotscho em seu livro. Mas, pelo jeito, desta vez, o ex-assessor de imprensa da presidência preferiu não arriscar nada. Deve ter suas razões.

Afinal, como ele mesmo diz ‘Um sábio de poucas palavras que me ensinou que só se deve fazer na vida o que se tem vontade…O importante é a vida’. Em tempos de tanta competitividade e ambição que justificam tudo no meio jornalístico, Ricardo Kotscho demonstra que é antes de tudo, ‘amigo dos seus amigos’.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça

O lucro dos juros básicos, 7/08/06

‘De novo uma safra de balanço dos bancos, de novo números para causar inveja. Não há setor no Brasil que dê tanto lucro. Culpa dos bancos? Sim e não. A mídia apenas noticia, fazer parecer que ter lucro no Brasil é proibido, que é ilegal, faz parte da interpretação comum dos mortais. Os bancos, sob o ponto de vista da imagem, do marketing, fazem muito pouco para reverter essa má fama. Os bancos poderiam reduzir o chamado spread (que a diferença de taxas entre o que eles captam e o que repassam), criar linhas mais populares, baixar a tarifa bancária (por esses dias saiu uma notícia de que de 9 entre 10 serviços tiveram reajuste medonho). Isso tudo todo mundo está careca de saber. Mas o que ninguém comenta é que o setor apenas saboreia o que lhe permite o próprio governo, quando fixa taxas de juros tão altas. Acabou a ciranda da inflação, começou a dos juros altos. Esse lado deveria ser mais explorado.

É preciso levar em conta ainda que o setor tem uma gestão impecável, se informatizou como em nenhum lugar do mundo e talvez seja o único que em vez de ser globalizado está globalizando. Todos os dias assistimos aos grandes conglomerados do Brasil incorporando instituições de fora. Então, há fatores contra e a favor dos bancos. Se o juro básico da economia baixar, o setor terá certamente de mudar de estratégia. No momento, vivem a uma espetacular onda de crescimento do crédito. A base de empréstimo se ampliou muito, os bancos passaram a criar financeiras populares e a disputar a tapa a preferência do cliente. Há também os empréstimos consignados com desconto em folha, seja para quem está na ativa, seja para quem está aposentado. Tudo isso faz com que se abram novas oportunidades de negócios para bancos.

O que os bancos fazem é tomar dinheiro no menor custo possível e emprestar a quem precisa ao maior que puder. Com esse enorme filão nas mãos e como essa nova turma que acessa crédito oferece mais risco de pagamento, os bancos simplesmente aumentam a taxa. Todo mundo faz isso desde que mundo é mundo. Se a chance de receber é menor, o lojista também faz isso. A idéia é que se alguns não pagarem, as prestações pagas amortizam o suposto prejuízo e, como num consórcio, os que pagam acabam custeando o mau pagador com folga. Desta forma, formam uma espécie de colchão de gordura que acaba por favorecer, no todo, a formação do lucro. É provável, portanto, que apesar de os lucros espetaculares os bancos estejam com índices recordes de inadimplência.

Falta portanto que se mostre ao cidadão comum esse efeito que o juro alto produz. Ele permite distorções, exageros, dá direito a um banco cobrar muito mais que outro (embora eles tendam a trabalhar em bases semelhantes em termos concorrenciais). Se a taxa de juro fosse bem menor, seria mais fácil de a população identificar até que ponto tal banco estava sendo profissional ou apenas ganancioso. Com taxas tão altas, faça-se o teste das ruas. Ninguém sabe que taxa pode ser considerada abusiva ou não. Isso acontece não só com bancos, mas com lojas de móveis. Na TV, as propagandas com preço da prestação não definem o tamanho do juro embutido. À primeira vista fica parecendo ser tudo tão baixo.

Não quero aqui isentar os bancos de culpa. Já disse várias vezes que eles poderiam usar mais esse poder de conglomerados em promover o crescimento e atuar em bases bem mais brandas, mas com essa taxa de juro, o governo continua dando munição farta para os lucros estratosféricos. Enquanto isso, a inflação deflaciona, a renda e emprego não se mexem, não há nem sinal de demanda aquecida. Mas há a situação externa a justificar a taxa de juro alta. Então porque temos de ter taxa de quase 15%? Se exagerarmos na cautela e fixarmos a taxa de juro no dobro da média dos emergentes teremos algo ao redor de 6%. É muita diferença.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’



JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Entre a esperança e o medo, 1/08/06

‘Olá, amigos. A chegada de Dunga ao comando da Seleção Brasileira criou entre os jornalistas um sentimento novo, ou pelo menos esquecido desde o ano de 1991, quando a CBF nomeou o ex-jogador Falcão para o cargo. Desde então, a Seleção sempre havia sido comandada por técnicos renomados e experientes. Entretanto, diante do fiasco que foi a Copa do Mundo da Alemanha, um comandante sem qualquer experiência na função foi a solução encontrada para atender aos pedidos de renovação que vinham de todos os cantos do país.

Na imprensa, as impressões foram divididas, em sua maioria, entre a esperança e o medo. Muitos jornalistas ficaram esperançosos tanto pelo descompromisso de Dunga com qualquer jogador quanto pelo seu perfil exigente e disciplinador, que muitos acham que faltou a Parreira no Mundial. Outros não acreditam que Dunga tenha a experiência necessária para superar as dificuldades e as exigências que assumir a Seleção traz a reboque.

Conversando com jornalistas mais antigos, com maior experiência na cobertura da Seleção, é possível perceber que a nomeação de Dunga é vista como uma solução simplista e pouco pensada. Para a maioria deles, se houve falta de vibração na Copa de 2006, traga-se um nome que vibre e agrade a opinião pública. E foi isso que, na opinião desta parte da imprensa, foi feito.

Para os mais jovens, a nomeação de Dunga foi um sopro de renovação, especificamente em São Paulo, onde é muito clara a impressão de que os cargos na Seleção Brasileira são direcionados a cariocas. Para os jovens jornalistas, a chegada de Dunga pode mudar o panorama das convocações da Seleção. Há a esperança entre os jovens jornalistas de que mais jogadores sejam observados, fora do eixo Espanha, Itália, Inglaterra e França.

A certeza de todos, no entanto, é de que Dunga acaba com a ‘preguiça’ que todos detectaram na Seleção. A sua convocação nesta terça-feira mostra que ele observará atletas que atuam na Holanda, na Rússia e na Ucrânia, por exemplo. Para os colegas jornalistas, a renovação passa, fundamentalmente, pela ‘fome’ de ganhar o que nunca se ganhou. É nisso que Dunga pode, de acordo com os profissionais de imprensa, marcar seu nome na Seleção.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’



DIPLOMA EM DEBATE
Milton Coelho da Graça

Para que queremos mesmo o diploma?, 2/08/06

‘É essencial continuar nosso animado debate sobre obrigatoriedade de diploma e registro profissional.

Num país democrático e republicano, que consagra a inexistência de privilégios e a igualdade de todos perante a Lei, evidentemente esses princípios se destinam a proteger a sociedade e não proteger ‘reservas de mercado de emprego’.

Quando um cidadão procura serviços de médicos, arquitetos, engenheiros, motoristas de coletivos, advogados, ascensoristas, pilotos de aeronaves ou preparadores físicos, exige garantia prévia sobre o nível de conhecimento adequado ao exercício profissional. E o Estado tem o dever de dar essa garantia, evitando e punindo a charlatanice.

Certamente o cidadão não exige esse cuidado em relação a economistas, artistas, bailarinos, administradores de empresa, técnicos esportivos, sapateiros. A eventual incompetência transparece. Pode até provocar derrotas ou prejuízos materiais, mas não ameaças à incolumidade de cada um de nós, principal razão do Estado e da Lei.

O Estado criador de privilégios deixa de ser democrático e republicano. Em relação ao funcionalismo civil e militar, temos abundantes exemplos disso, desde o uso abusivo do ‘direito adquirido’ (princípio fundamental do conservadorismo, que teoricamente teria até impedido a abolição da escravatura), porte de arma, estacionamentos privativos em ruas públicas, licença paga para disputar eleição (uma vantagem absurda em relação aos cidadãos não-funcionários), paridade entre trabalhadores ativos e aposentados, licença-privilégio, direito de greve com salário pago etc.

Se os jornalistas querem (e devem) se colocar na linha de frente da luta pelos direitos humanos não podem jamais deixar de defender os princípios democráticos e republicanos.

É fundamental termos objetivos claros: precisamos realmente da obrigatoriedade do diploma e do registro no Ministério do Trabalho para melhorar salários e preservar a qualidade do nível profissional? Ou seria mais correto buscar outros caminhos como um similar do ‘exame da Ordem’, acordos com os sindicatos patronais e o próprio Estado (hoje o maior empregador de jornalistas) e outras idéias que poderiam surgir num debate nacional sob o patrocínio da Fenaj e da ABI?

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Um presidente sem ligação com sauditas

Não deixem de ler o artigo do ex-presidente americano Jimmy Carter na página 11 do jornal VALOR desta quarta-feira (2/8). Carter dedica-se a grandes causas da Humanidade e convence na defesa de um caminho para a paz duradoura entre Israel, palestinos e Líbano. No meio de tantas notícias e opiniões controversas, Carter, com currículo de imparcialidade nesse tema, reconta com precisão as causas imediatas da atual fase desta trágica luta.

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

Carlos Chaparro

Pequena viagem à história do diploma, 4/08/06

‘O XIS DA QUESTÃO – Por boas e más razões, a obrigatoriedade do diploma moralizou a organização da profissão e se tornou ferramenta do poder sindical. Mas, atingida pelas transformações produzidas pela revolução tecnológica e pela redemocratização, a argumentação do controle da profissão pelo diploma perdeu força, principalmente depois da Constituição de 1988, a Carta das liberdades e dos direitos.

1. Contradições angustiantes

Aos 45 anos, depois de quase três décadas de percurso profissional no jornalismo brasileiro, decidi entrar na Universidade para estudar jornalismo. Fiz vestibular e entrei na ECA, empurrado pela angústia de não compreender as contradições entre o ideário simbólico da atividade jornalística, no qual a sociedade acreditava, e a rotina de comportamentos sujos, em redações e nas empresas jornalísticas. Ou seja, a contradição entre os ideais e a prática.

Do lado dos ideais e dos ideários, o imaginário coletivo trabalhava com a convicção de que o jornalismo tinha compromissos, históricos e vigorosos com valores básicos da cidadania e da dignidade humana, coisas como justiça, verdade, liberdade, igualdade, solidariedade, honestidade, fraternidade, democracia. Os próprios jornalistas articulavam esse discurso, entre si e para si próprios. E nessa crença se fundavam as expectativas sociais que atribuíam ao jornalismo, e aos jornalistas, a dignidade de instituição com o poder e o dever de investigar, denunciar e clamar contra injustiças sociais, imoralidades políticas e achincalhes da dignidade humana.

No plano das práticas, porém, a verdade era outra.

Claro que havia profissionais sérios e talentosos, assim como existiam veículos e espaços de jornalismo honesto. Alguns deles, faziam o jornalismo que ganhava Prêmios Esso, o único prêmio importante disputado por bons repórteres, nos idos anos de 60, 70 e 80. Mas, de alguma forma, a qualidade desses profissionais e desses veículos funcionava como cenário que alimentava o mito e disfarçava a realidade.

Abaixo da linha das aparências, a intimidade do jornalismo brasileiro foi, por longos anos, marcada pela vulgarização da publicidade disfarçada, das negociatas por baixo do pano, das isenções fiscais, do emprego duplo, dos empréstimos que não precisavam ser pagos, do emprego público fácil, da gratificação por fora, do alinhamento com os jogos de poder, das notícias pagas em colunas de prestígio, do ‘jeton’ que remunerava setoristas e do ‘viajar da graça’. Com algo ainda pior: a tolerância em relação a tudo isso, por parte de profissionais, patrões e sindicatos .

Mas a sociedade acreditava no mito do jornalismo independente, justiceiro, libertário, vigilante, honesto…

2. Argumentos em crise

Algumas das mazelas citadas foram debeladas ou amenizadas com a regulamentação profissional de 1969. Outras se agravaram, com os usos e costumes de promiscuidade que organizaram as relações entre o regime militar e os meios e processos de comunicação social pela via jornalística. Refiro-me, de modo particular, ao emprego duplo, ao fortalecimento do governo como empregador de jornalistas, ao leite generoso das tetas publicitárias das verbas oficiais e ao dinheiro fácil de outras tetas.

Reconheça-se, entretanto: ao imporem a obrigatoriedade do diploma como instrumento de controle no ingresso na profissão, e ao garantirem seriedade ao instituto do provisionamento para os que de fato trabalhavam como jornalistas, os sindicatos conseguiram expulsar da profissão quem nela estava apenas pelas benesses que a carteirinha de jornalista garantia. Não sei quantos, mas não foram poucos os advogados, os deputados, os padres e os empresários que, graças à obrigatoriedade do diploma, perderam a carteirinha de jornalista e as benesses que ela garantia.

Ocorreu, portanto, um banho de moralização na organização da profissão.

Porém, à custa de alto preço: a proliferação descontrolada dos cursos de jornalismo, muitos deles sem qualidade, sob o estimulo da enorme demanda garantida pela reserva de mercado.

Com seus aspectos positivos e negativos, por boas e más razões, a obrigatoriedade do diploma passou a ser uma eficaz ferramenta de poder sindical. Mas, atingida pelas transformações produzidas pela revolução tecnológica e pela redemocratização, a argumentação do controle da profissão pelo diploma perdeu força. A sustentação das razões pró-obrigatoriedade tornou-se particularmente difícil depois da Constituição de 1988, a carta das liberdades e dos direitos.

São conflitantes entre si várias das liberdades e vários dos direitos assegurados pela Constituição que Ulisses chamou de ‘Cidadã’. E os conflitos aguardam jurisprudência normativa. Enquanto a polêmica cresce.

Eis aí o território da crise que hoje põe em causa a obrigatoriedade do diploma: as colisões entre princípios, entre valores e entre direitos, numa democracia em construção. Para além da opinião de cada um, a favor ou contra, a obrigatoriedade do diploma está sob o fogo cruzado das contradições e dos conflitos de interpretação das ‘verdades’ constitucionais. E o debate continuará, até que os mecanismos da interpretação jurídica gerem, em seus lentos processos, a jurisprudência que algum dia virá, como sabedoria nova.

Aguardemos, portanto. Mas sem renunciar ao debate, mesmo que inócuo.

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Sei que frustrei a expectativa de alguns, ao não definir a minha posição sobre a questão do diploma. Afinal, sou a favor ou contra a obrigatoriedade?

Deixemos isso para a próxima semana. Antecipo, porém, que repetirei o início da coluna:

‘Aos 45 anos, (…) fiz vestibular e entrei na ECA, empurrado pela angústia de não compreender as contradições entre o ideário simbólico da atividade jornalística, no qual a sociedade acreditava, e a rotina de comportamentos sujos, em redações e nas empresas jornalísticas. Ou seja, a contradição entre os ideais e a prática.’

Garanto que a história a ser contada tem tudo a ver com a questão do diploma.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’



FENAJ DERROTADA
Eduardo Ribeiro

A humilhação tem limites, 3/08/06

‘Em 1983, ainda começando na atividade jornalística, militante caxias que era, acabei integrando a chapa que venceria as eleições ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Foi minha primeira experiência como dirigente sindical, num momento em que a atividade estava no auge, com intensa participação da categoria, disputas acirradas entre grupos de diferentes ideologias e práticas e um respeito sem igual na sociedade brasileira.

Vínhamos do fatídico assassinato de Vladimir Herzog, em 1975, e da fracassada greve de 1979, que foram acontecimentos que ensejaram mobilizações históricas dos jornalistas de São Paulo.

Eu, pouco mais que um foca, me vi, naquela diretoria, ao lado de Joelmir Beting, Luís Nassif, Juarez Soares, Vicente Alessi Filho, Sérgio Sister, José Paulo Kupfer e Gabriel Romeiro, para ficar apenas em alguns nomes mais conhecidos. Éramos todos, sim senhores, dirigentes sindicais, incluindo o Joelmir que era o vice-presidente.

Nossas discussões eram pautadas por um aguçado senso de profissionalismo e de realismo, fosse no campo político-ideológico e mesmo técnico-profissional.

Com raras exceções, éramos bem recebidos em todas as redações paulistanas e tínhamos o respeito cordial dos patrões, embora já naquele tempo fosse difícil arrancar deles reajustes mais generosos e melhores condições de trabalho, nas negociações coletivas. Mas havia um respeito mútuo que incentivava o diálogo e a busca de soluções negociadas que pudessem significar ganhos para os dois lados.

Não conheci, naquele tempo, a realidade de outros sindicatos de jornalistas do País, mas tenho comigo que muitos tinham esse mesmo perfil.

Isso, infelizmente, se perdeu e os jornalistas de prestígio se afastaram dos sindicatos e, mais do que isso, passaram a ser críticos ferozes das entidades. Ao invés de exercerem a liderança dentro das entidades, delas se distanciaram, num exemplo que acabou sendo seguido pela imensa maioria dos profissionais de redação.

As pessoas, como temos visto, ou não têm tempo para o Sindicato ou não querem proximidade alguma, seja por pura repulsa, seja para não se comprometerem profissionalmente ou mesmo por não terem paciência para discussões que consideram estéreis e inócuas – e que muitas vezes são mesmo.

Mas como fazer para melhorar os sindicatos e a própria Fenaj se os jornalistas de redação, sobretudo os de prestígio, não voltarem a freqüentar suas entidades sindicais?

Estamos vindo, como todos sabem, de duas derrotas fragorosas, humilhantes mesmo, neste cenário. Uma delas foi o fatídico Conselho Federal de Jornalismo, meses atrás, e agora, mais recentemente, com o veto do presidente Lula ao Projeto de Lei Complementar 079-04, do Pastor Amarildo, que deixaria a regulamentação profissional ainda mais corporativa e restritiva. Não bastassem ter contra si toda a mídia, Fenaj e sindicatos ainda foram obrigados a engolir manifestações de entidades de áreas afins com severas e agressivas críticas aos projetos

Mas quem perdeu, no fundo, com essas derrotas? Foi a Fenaj, foram os sindicatos? Não, claro que não. Foram os jornalistas e o jornalismo brasileiro, por terem entrado em embates como esses despreparados, divididos, difusos, confusos e fragilizados.

Fico aqui a imaginar uma assembléia no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, como nos bons tempos, com a presença de um Clovis Rossi, de um Alberto Dines, de um Chico Pinheiro, de um Paulo Markun, de um Celso Ming, de uma Ana Paula Padrão. Ou um encontro no Rio de Janeiro com um Jânio de Freitas, um Carlos Heitor Cony, um Luiz Antonio Nascimento, um Millôr Fernandes, uma Miriam Leitão, um Marcelo Beraba. Ou quem sabe negociação trabalhista com o sindicato patronal, em Brasília, com as presenças de uma comissão integrada por um Fernando Rodrigues, por um Amaury Ribeiro Jr, por um Vicente Nunes, por uma Eliane Cantanhêde, por um Alexandre Garcia, por um Franklin Martins ou por uma Zileide Silva.

Quantos jovens não se apressariam em também freqüentar esses ambientes para ficarem próximos e aprenderem com essas pessoas mais experientes e conhecidas? Quantas novas e boas idéias surgiriam da reunião de profissionais tão talentosos, com outros menos famosos mas nem por isso menos importantes? E quanto poderiam ganhar o jornalismo e os jornalistas com isso, ao serem representados em todos os fóruns por instituições efetivamente representativas e fortes?

Se individualmente as pessoas têm a perder – sobretudo o tempo (e, um pouco, a paciência) -, coletivamente só têm a ganhar. Digo mais, unidos e organizados, os jornalistas poderiam iniciar uma nova revolução ética em nosso País, a exemplo do que ocorreu em meados dos anos 70, quando a mobilização dos jornalistas brasileiros foi decisiva para o início do processo de redemocratização do País. Temos tudo para fazer isso acontecer.

Isolados, somos fracos e insignificantes, ainda que alguns façam sucesso individualmente. Juntos, temos todas as condições de fazer História, com H maiúsculo.

Não vejo luz – e já disse isso aqui mais do que uma vez – fora da organização. E enquanto não se cria outra forma mais eficaz de organização e de representatividade, no caso dos jornalistas, é nos sindicatos que as lutas devem ser travadas.

Como tudo vale a pena quando a alma não é pequena, quero continuar sonhando e acreditando que um dia vamos ter maturidade, discernimento e determinação para sermos uma categoria profissional à altura dos desafios de nossa atividade. Espero estar vivo para um dia ver isso.

Ainda sobre Comunicação Corporativa

No artigo anterior, em que comentei a movimentação no segmento da Comunicação Corporativa, deixei de mencionar algumas importantes mudanças ocorridas na Telemar, recentemente. Vamos a elas: George Moraes é diretor de pesquisas, vice-presidente do Instituto Telemar e diretor de Comunicação Corporativa. Suzana Santos e Paulo Henrique Noronha são gerentes de área e Graciela Urquiza Mendes, gerente de Comunicação Corporativa. Sob sua coordenação, na assessoria de imprensa do Instituto Telemar, estão George Patiño e Márcio Batista (21-3131-3086).

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Alencar na presidência, 3/08/06

‘Propagaram filhos

no ventre pardo da América

Propagaram filhos

no ventre negro da África

(Talis Andrade in Sertões de Dentro e de Fora)

Alencar na presidência

O considerado Carlos Henrique Cruz, de Manhuaçu, divisa de MG com ES, bem ao pé do Pico da Bandeira, é especialista em marketing, já viu coisas do arco da velha, mas assim mesmo espantou-se com este título cuja responsabilidade o UOL atribuiu à Folha Online:

Alencar se recupera bem da cirurgia e assume Presidência do hospital

Carlos Henrique quedou-se estupefato, porém o texto esclarecia melhor a extraordinária notícia:

O vice-presidente José Alencar deve assumir interinamente a Presidência da República nesta quinta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja para a Argentina. Alencar se recupera bem da cirurgia para a retirada de um tumor na região posterior do abdome, realizada na terça-feira no hospital Sírio Libanês.

(…) O porta-voz da Presidência, André Singer, disse na terça que não havia problema para Alencar assumir a Presidência interinamente, pois ele não precisaria necessariamente despachar de Brasília –ele poderia despachar do quarto do hospital.

Janistraquis deixou vazar sua decepção:

‘Considerado, não vi nada demais no fato de Alencar, homem riquíssimo, assumir a presidência do hospital; afinal, o doutor Antônio Ermírio é provedor da Beneficência Portuguesa de São Paulo e ninguém acha um absurdo!’

Confira a íntegra neste endereço (o leitor verá que ‘caparam’ a palavra hospital, porém o espaço em branco denuncia a, digamos, operação.)

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AdEvogados

Em matéria publicada no site Consultor Jurídico, Maurício Cardoso informa que o Brasil é o terceiro na lista dos países com mais advogados (o primeiro são os Estados Unidos e o segundo, a Índia, cuja população é cinco vezes maior do que a nossa). Temos 517.173, digamos, profissionais, a perambular por aqui entre portas de cadeia e outras portas também inconfiáveis.

Ao conhecer esses números assustadores, Janistraquis tomou um susto tão grande que se engasgou com um pedaço de pão, devidamente amassado pelo Capiroto:

‘Considerado, essa lista foi divulgada pela OAB; quer dizer: desses 517.173, a maioria sabe redigir uma petição, imagino; e os outros, aqueles formados em Direito que não conseguiram passar no exame da Ordem? Devem estar às portas do.. da… ah!, deixa pra lá, como dizia o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, aquele do Festival de Besteiras que Assola o País.’

Febeapá. É isso.

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Time inesquecível

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, extraiu das páginas do vetusto Estado de Minas, sob o título Apelidos na urna, uma lista de onze candidatos a deputado estadual capazes de formar um time inesquecível, assim escalado no velho e sempre bom 4-2-4, com Mestre Pavão no gol:

Pobretão, Barsa da Sucata, Zé Coador e Micharia do Mineirão; Sabonete e Toninho Pé Quente; Valdir do Bigode, Só Alegria, Canjiquinha e Ninguém.

O ponta-esquerda Ninguém, apelido de João Batista Ferreira de Almeida, explica a situação:

‘Muitas pessoas estão dizendo que não votam em ninguém. Então, eu sou esta opção, eu sou o Ninguém.’

Acontece que João Batista vai concorrer com outro Ninguém, o Fábio Campos, do PMN, e um certo Zé Ninguém, que é como se apresenta o candidato Gerson Patrício, do PDT.

Janistraquis leu, releu e chegou à conclusão de que esses ninguéns vão entrar pelo cano:

‘Ora, considerado; se os eleitores prometem ‘não votar em ninguém’, é certo que não darão seu voto nem ao João Batista, nem ao Fábio e nem ao Gérson. Ou esses caras não sabem ler?!?!?!’

Por falar em analfabetismo, nas eleições de 1962, quando morava em Belo Horizonte, Janistraquis conheceu um candidato a vereador que estendeu esta faixa à porta de sua banca de frutas no Mercado Municipal: Vote em Goão. Era João com G…

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Branco irresponsável

O inesquecível Celso Pitta, ex-prefeito de SP e agora candidato a deputado federal pelo PTB, escreveu ingente artigo na Folha de S. Paulo, intitulado A desigualdade racial nos envergonha, no qual exige providências para que os negros recebam o merecido reconhecimento da sociedade brasileira. Janistraquis, que detesta tanto preconceito quanto safadeza, leu e comentou:

‘Engraçado, considerado, muito engraçado; Celso Pitta posa de vestal afro-descendente, mas quando foi prefeito agiu como qualquer branco irresponsável…’

Leia no Blogstraquis o eleitoreiro discurso celsopital.

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Mestre Talis

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema intitulado Miscigenação, que encima a coluna e pertence à generosa lavra de Talis Andrade.

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Mendonças

Perguntei a Janistraquis por que a produtora de Alexandre Mendonça, filho de Duda Mendonça, arquiteto da campanha do petista Jacques Wagner ao governo da Bahia (conta-nos o considerado Ancelmo Góis), por que a produtora se chama Malagueta. Meu secretário não pensou duas vezes:

‘Ah, considerado, malagueta é a mais ardida das pimentas e, como todos sabemos, no dos outros é refresco…’

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Fome Zero

Janistraquis lia O Globo quando deparou com este título capaz de multiplicar por mil a aflição de qualquer funcionário da Varig:

PT quer levar o Fome Zero para a classe média

Meu secretário, que já passou muita necessidade nesta vida, conseguiu balbuciar:

‘Considerado, isso significa que a classe média, acostumada a almoçar e jantar, empobreceu bastante no governo Lula. Pelo menos é o que se depreende dessa idéia de enfiar o Fome Zero pela nossa goela abaixo…’

É mesmo. Carne, por exemplo, a gente não come há meses; e se não fosse um franguinho caipira aqui, um ensopadinho de repolho ali, estaríamos lascados neste humilde sítio!!!

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Artur Falk

Esse ‘empresário’ chamado Artur Falk, que está preso, condenado em primeira instância por gestão fraudulenta e crimes financeiros, crimes que causaram prejuízos a milhões de investidores daquele tal de Papatudo (Interunion Capitalização S/A), também quis espraiar a mão grande ao meio jornalístico.

Há alguns anos o finório anunciou que havia comprado os direitos da revista americana Harper’s Bazaar, para publicar uma chiquérrima versão brasileira, e chegou até mesmo a convidar uma grande jornalista para dirigir a futura Redação. A moça, que não quer aparecer, confessou ao colunista:

‘Foi impossível conversar com o sujeito, porque a cada instante ele dava uma bronca humilhante numa das muitas secretárias e atendia a três e quatro telefonemas de uma vez, sempre aos gritos. Aí, aproveitei um segundo de distração do cretino, peguei minha bolsa e saí de fininho, para nunca mais.’

A imprensa se livrou de um tremendo picareta, hein?!?!

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Em função

Pedi a Janistraquis para fazer uma pesquisa com o objetivo de descobrir por que os repórteres de rádio e TV, mais locutores e apresentadores, quase todos, enfim, trocaram a velha e boa expressão ‘por causa de’ pelas desagradabilíssimas ‘por conta de’ e ‘em função de’ – esta última, pela descarada e inoportuna repetição, é capaz até de levar o ouvinte à esquizofrenia ou paranóia.

Depois de um mês de trabalho, gasto em entrevistas via internet com especialistas e pessoas de gosto refinado do mundo lusoparlante, meu secretário apresentou a tão esperada resposta:

‘Considerado, as pessoas usam ‘por conta de ‘ e ‘em função de’ por excesso de inteligência e cultura.’

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O mé do Mel

Vexame na capa do UOL:

Ator Mel Gibson é preso em Malibu por dirigir bêbado

Janistraquis leu e deu boa risada:

‘Pois é, considerado, com todo aquele catolicismo, com toda aquela carolice que exibe nos filmes, certamente o Mel exagerou no vinho de missa…’

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Perversidade

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão com vista para o Congresso Nacional dá pra se ver uma verdadeira suruba de sanguessugas, pois Roldão deixou pra lá os jornais e revistas e resolveu provocar o colunista, reconhecidamente um vascaíno à beira do desespero.

‘Veja, meu caro, que belo livro estão a vender por aí: O Código do Vice – A História do Sem Título, por Eurico Miranda. Com a história dos campeonatos cariocas de 1999, 2000, 2001, 2004 e 2006…’

Janistraquis comentou:

‘Quando quer, Roldão pode ser mais perverso do que Ricardo Berzoini quando era Ministro da Previdência.Com todo respeito ao Mestre, é claro.’

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Nota dez

O considerado Augusto Nunes escreveu em sua coluna Sete Dias, do Jornal do Brasil:

(…) ‘Aquele-que-tudo-sabe-e-tudo-vê’ se torna ‘Aquele-que-nada-soube-e-nada-viu’ quando o assunto é roubalheira. Venerar a divindade esquizofrênica é menos arriscado do que rezar em altares tão consistentes quanto um prédio de Sérgio Naya. E o PT anda decididamente sem sorte, como reiterou o caso das ambulâncias superfaturadas.

Leia no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo.

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Errei, sim!

‘CURIOSAMENTE – O veterano radialista Enzo de Almeida morreu; a Folha da Tarde, de São Paulo, deu a notícia com o merecido destaque, mas sofreu ligeiro derrame na pesquisa: ‘Curiosamente, ele foi parceiro do compositor Adelino Moreira em Negue, clássico do samba-canção e um dos grandes sucessos de Nélson Gonçalves nos anos 60’, revelou o jornal. Sempre atento, Janistraquis me inquiriu: ‘Considerado, curiosamente por quê?!?!’. Infelizmente eu não soube responder.’ (agosto de 1991)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



MEIOS SEM CONTEÚDOS
José Paulo Lanyi

Muito pincel, pouco Leonardo, 4/08/06

‘Fui dar uma palestra no Senac em um curso para locutores e programadores musicais de rádio. O jornalista e professor Rogério Voltan estimulou o debate sobre a chamada convergência de mídias, no âmbito da história da comunicação. Um dos alunos presentes ressalvou: temos, hoje, muito meio e pouco conteúdo. Ou, ainda que haja o que dizer, a molecada não tem dado muita importância para o conhecimento disponível. Um pensamento: é muito Orkut, pouco tudo o mais.

Veio-me à cabeça um paralelo com o Renascimento, aquele período histórico que produziu um pessoalzinho que fazia de tudo, e muito bem. O Leonardo Da Vinci seria a síntese dessa disposição. Era pintor. Mas também uma espécie de projetista de material bélico. E escultor. E precursor da engenharia aeronáutica. E por aí vai, consulte o Google…

Agora temos a Internet, o carro-chefe do processo que chamamos de interatividade total. Antes havia o telefonema para o estúdio, havia a carta do leitor. Hoje tudo passa pelo computador e vai carregando o que vai pela frente… Gostamos, sim, dessa coisa, afinal estamos aqui, juntos, construindo uma civilização. Mas havemos de convir que este é, predominantemente, o Renascimento da forma, em detrimento do conteúdo. É como se acumulássemos pincéis e espátulas, baldes e baldes de tinta, mas não ligássemos para a pintura.

Este é o Renascimento das mídias. No Brasil, a TV digital virá para corroborá-lo. Temos, contudo- para usarmos uma imagem de e-mail-, muito lixo eletrônico e pouco interesse do que chamo de Geração Preguiça, coalhada de jovens que têm a faca e o queijo, mas sofrem de anorexia. Tempo demais no MSN, tempo demais no Orkut, no fotolog, tempo de menos para entender o que está acontecendo.

No jornalismo, alimenta-se de superficialidade. Na CNN parece que nada mais existe sobre a face da Terra, salvo o conflito mais fresquinho do Oriente Médio. Na Internet, como em outros meios, todos nós nos tornamos, na marra, suzanólogos, tal a ênfase que se deu ao julgamento da moça atormentada. Fora o banho de loja de PCC. Dois, três assuntos fortes, sobretudo o último, que mexe com a vida do País, e somos todos feitos do mesmo material. Somos um produto pop, com pose de Michelangelo e jeitão de Warhol. Muita inclusão digital, pouca inclusão mental. O jornalismo tem feito bem a sua parte, ou seja, mal. A César o que é de César, dirão. Se a Internet é rápida, os interesses também são voláteis. E o freguês sempre tem razão. Discordo, esse nem sempre sabe por que entrou na loja.

(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo três prêmios em equipe: Esso e dois Ibest. Nascido em Brasília, filho de um oficial do Exército e de uma artista plástica, é paulistano de coração e torcedor de um clube do Rio de Janeiro: o Vasco da Gama – time que escolheu aos sete anos, quando morava no Rio Grande do Sul.’



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