Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunique-se

GRATUITOS EM ALTA
Milton Coelho da Graça

Jornal de graça assusta os grandes, 1/06/07

‘Nenhuma fonte das três partes envolvidas confirma, mas há rumores fortes no mercado editorial de que Folha, Globo e RBS estudam a possibilidade de se juntarem para lançar um jornal gratuito nacional. A iniciativa se deveria ao receio de que o lançamento do Publimetro, jornal do grupo sueco Metro em São Paulo, seja o início de uma ofensiva para se estender às outras maiores regiões metropolitanas do país.

Pesquisas teriam indicado um potencial publicitário maior para um jornal nacional e é sobre esse modelo que os três grandes grupos nacionais buscam montar um projeto comum.

O grupo Metro tem hoje jornais em 100 grandes cidades em todo o mundo – Europa, Ásia, Américas – com um total de 20 milhões de leitores diários, segundo a própria empresa. Em Estocolmo, cidades holandesas e Santiago existem também jornais semanais. (outras informações sobre o grupo podem ser obtidas no site www.metropoint.com).

Esses números poderão crescer rapidamente, porque o grupo está negociando lançamentos em várias grandes e médias cidades chinesas.

Os três grupos brasileiros lançaram recentemente jornais populares a preços baixos e temem principalmente o efeito de jornais gratuitos de grande circulação sobre as verbas publicitárias destinadas à mídia impressa.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Os cegos e a web – o que você tem a ver com isso, 31/05/07

‘Se você fosse deficiente visual, seria um esforço ler esta coluna. Em tempo: é bom dizer que os cegos acessam a web, sim, através de softwares que lêem as telas. Mas, para visitar o Comunique-se e tantos outros sites de boa estirpe, isso surtiria pouco efeito, pois é preciso, antes, adaptar o conteúdo para que o site possa ser ‘lido’ corretamente.

Não, ninguém precisa se sentir culpado – nem o Comunique-se, nem você, possível blogueiro, nem muito menos os profissionais de Comunicação que lêem esta coluna e acabam de perceber que nas empresas aonde trabalham são poucos os que conhecem o assunto. Infelizmente, a falta de Acessibilidade em sites é bem mais comum do que se imagina.

O tema Acessibilidade Digital não diz respeito só a deficientes. Quem não consegue ler textos na tela que estejam em corpo muito pequeno (e quem consegue?) torce para que os sites se tornem acessíveis. Entender é simples, complicado é partir para a prática.

Embora a população com algum tipo de deficiência no Brasil (visual ou não) aproxime-se perigosamente da casa dos 30 milhões, a Acessibilidade Digital é um peixe difícil de se vender – a exceção são os órgãos da administração pública, que estão tendo que adaptar seus sites a toque de caixa, por conta de uma lei baixada no final de 2004 e cujo prazo vem sendo prorrogado há dois anos.

Mas vá dizer para uma empresa privada que 1) o site não é acessível 2) precisa investir uma quantia razoável para adaptá-lo. A primeira questão já causa um incômodo, porque dá a sensação de que tudo foi executado de uma maneira errada – o que é um engano. Aplicar a Acessibilidade Digital é uma evolução, é dar um passo adiante na tarefa de atingir um público mais amplo.

Quanto ao investimento, é um fato. A não ser que você esteja começando um projeto web agora – neste caso, por Deus, contrate logo um consultor no assunto, não é caro -, é preciso abrir a carteira para adaptar o site aos ‘padrões web’, que atendem às questões da Acessibilidade e, de lambuja, ainda tornam mais ‘leves’ e ‘limpos’ os códigos que constroem as páginas.

Para quem está do lado de cá, ou seja, faz parte do grupo que trabalha para divulgar a Acessibilidade Digital no país – é o meu caso -, lidar com este assunto em pleno ano de 2007 é uma vantagem e tanto. Tudo por conta da Responsabilidade Social.

Graças a este compromisso (qual empresa quer ficar de fora deste ‘conceito’? hoje em dia, nem dá mais), muitos têm aderido ao movimento dos sites acessíveis. A bem da verdade, qualquer motivo que justificasse a ‘compra’ do conceito da Acessibilidade Digital pelas empresas já seria uma maravilha. Sendo, então, Responsabilidade Social, que ainda abarca centenas de outras boas intenções além de tornar sites acessíveis, muitíssimo melhor – agradeço de joelhos!

Na semana passada, participei do evento de lançamento de um vídeo lindamente produzido sobre Acessibilidade Digital, parte de um esforço conjunto do qual faço parte e que une empresas como o Serpro, consultorias como a Sirius, universidades como a UniRio e profissionais como o Professor Bechara, todos liderados pelo grupo da Acesso Digital. A idéia é usar o vídeo para divulgar a Acessibilidade Digital em empresas, faculdades e principalmente através da internet. Nem precisa dizer que ele já está, há dias, no YouTube.

Se Acessibilidade Digital lhe parece um tema novo ou modismo, perceba que o assunto é apenas um desdobramento natural da Inclusão Digital, um tema que é popular no país há anos e pelo qual trabalham pessoas geniais como o carioca Rodrigo Baggio, do Comitê pela Democratização da Informática. Se tiver que explicar o assunto a um cliente ou ao chefe, comece por aí, então.

Para conhecer o trabalho da Acesso Digital, que produziu o vídeo, e assisti-lo em diversos formatos, visite o endereço http://acessodigital.net/video.html.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

Eduardo Ribeiro

Vip começa a colher resultados no Second Life, 30/05/07

‘O dado é significativo: 19 mil avatares pegaram a 1ª edição da Vip Second Life, lançada no início do mês, nos diversos pontos de distribuição instalados pela Abril naquele metauniverso.

Em números do final de abril, isso significa mais de 6% do total de brasileiros que participam desse abstrato projeto de segunda vida, então estimado em 300 mil. Essa circulação foi auditada pela Resident, empresa de TI que assessora a editora nessa empreitada virtual. A Vip é a única revista a ter uma versão inteiramente dedicada ao SL, com pautas e capas relativas a esse mundo – a da primeira, deste mês, foi com a avatar Pamloira, e a segunda, que estará nas bancas do Second Life a partir da semana que vem, trará a morena Afrodite.

‘Nem a gente esperava tanto’, diz Klester Cavalcanti, chefe de Reportagem da Vip, guindado à posição de diretor de Redação da Vip SL (ele, não, seu avatar Kevinn Capalini). ‘Se a gente imaginar que cada um que copiou o arquivo mostrou-o para outros três – o que não é nenhum absurdo -, teremos 60 mil leitores, ou 20% do total. Para uma única edição, é um número fantástico. E a tendência é crescer, pois o SL tinha 5 milhões de freqüentadores um mês atrás e hoje eles já são 6,5 milhões’.

Apesar do trabalho extra (tem que acompanhar o que acontece no Second Life todos os dias, depois do expediente normal de Vip, e fechar a edição virtual quando a impressa está em gráfica), Klester afirma estar se divertindo com a tarefa, na qual é auxiliado por uma colega da Abril que conhece bem o metauniverso e por um estagiário. Os contatos são feitos via MSN, Orkut, e-mail e telefone. ‘Todos os nossos entrevistados são avatares, falando sobre temas do SL, nada a ver com o mundo real. Mas no caso das garotas da capa fazemos questão de que as criadoras sejam realmente mulheres, pois precisam transmitir o universo feminino nas entrevistas’, garante Klester/Kevinn. (A advertência não é sem razão, na medida em que o Second Life permite aos seus freqüentadores viverem os personagens que bem entenderem.)

Um fato que ele considera significativo na Vip SL foi que a primeira edição saiu com um anúncio de página dupla, da festa de lançamento da agência Lew Lara no metauniverso, e a próxima terá duas duplas, também anunciando festas: da Gillete/Prestobarba e de um avatar chamado Zé Branagh. ‘Temos uma tabela de publicidade específica para o SL, em moeda local, o linden dólar. Esses anúncios custaram 70 mil linden dólares cada, o que equivale a cerca de R$ 400’. Vale lembrar que um bom salário de avatar equivale a R$ 13 por semana, ou 2.275 linden dólares.

Estadão também adere

O Second Life está realmente atraindo cada vez mais freqüentadores e, na esteira deles, muitos negócios. Outra empresa que também se prepara para ingressar no SL é o Estadão, que em junho produzirá ali o MetaNews, publicação virtual com matérias feitas por avatares contratados. O diário fez uma parceria com a Kaizen Games, responsável pelo Second Life Brasil, e vai ser não apenas o primeiro jornal brasileiro a ter uma edição específica no universo virtual, como também o veículo oficial do Second Life Brasil.

O MetaNews contará com a colaboração de todos os residentes do SL Brasil que queiram enviar matérias, fotos e vídeos, que serão remunerados em caso de publicação (modelo jornalismo-cidadão). Trará matérias e fotos sobre o metauniverso, com destaque para programação cultural, notícias factuais, prestação de serviço e ainda o Zap – classificados online do Estadão -, com empregos, imóveis e outros anúncios disponíveis no SL Brasil, bem como publicidade. A parceria prevê também a instalação de um prédio para a Redação do MetaNews, onde os avatares poderão entregar suas matérias e fotos. Além disso, o caderno Link, que circula todas as segundas-feiras no Estadão, trará uma coluna com notícias do Second Life. O jornal ainda não definiu quem ficará responsável pela edição do MetaNews.

E para quem gosta de jornalismo online…

O portal Terra e o Itaú Cultural somaram forças para realizar, em conjunto o 1º Seminário Internacional de Jornalismo Online, o MediaOn, nos dias 12, 13 e 14 de junho, na sede do Itaú Cultural (av. Paulista, 149). Novos hábitos no consumo de informação; a informação e as novas tecnologias; as mudanças na formação e atuação do jornalista; o impacto dos blogs, podcasts e outros conteúdos independentes gerados por usuários e comunidades; a construção do conteúdo e jornalismo colaborativo; e os desafios para a mídia tradicional serão foco dos debates que reunirão profissionais da mídia nacional e convidados internacionais.

Entre os palestrantes convidados estão o pioneiro de mídia interativa Michael Roger, ‘futurista’ do New York Times (NYT), Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), e Rosenthal Calmon Alves, professor-titular da cadeira de Jornalismo Online na Faculdade de Jornalismo da Universidade do Texas, em Austin, além de Paulo Henrique Amorim (TV Record/iG), Américo Martins (BBC Brasil), Lillian Witte Fibe, Marion Strecker (UOL), Juan Luis Cebrian (Prisa/El Pais), Pedro Dória (No Mínimo/O Estado de S.Paulo), Ricardo Noblat (O Globo), Sally Thompson (BBC), Juan Gallo (La Nación), Helio Gurovitz (Época), Milton Jung (CBN), Mario Magalhães (Folha de S.Paulo), Caio Túlio Costa (iG), Sidnei Basile (Abril), Bob Fernandes (Terra), Silvia de Jesus (RBS), Ethevaldo Siqueira (O Estado de S.Paulo), Kurt Miller (CNN), Jaime Spitzcovsky (Prima Pagina), Mario de Andrada (Reuters) e André Lemos (UFBA). O evento tem o apoio da BBC Brasil, CNN.com e Abracom.

Segundo Antonio Prada, diretor de Mídia do Terra e curador do MediaOn, o seminário foi organizado de forma ecumênica, agregando profissionais de variados setores, com experiências distintas, de modo a se tornar um fórum anual entre todos os agentes envolvidos na criação, produção e recepção de conteúdos online. Em conversa com o editor-executivo deste Jornalistas&Cia, Wilson Baroncelli, ele diz:’Troquei o jornalismo tradicional pelo online há 12 anos. Como eu, outros profissionais fizeram o mesmo caminho e tivemos que inventar um jeito de fazer jornalismo na web, com base nas nossas experiências e no que se fazia em outros locais. Mas de lá para cá muita coisa tem mudado, principalmente no último ano e meio, no ciclo da informação, no modo de fazer jornalismo, na forma do usuário interagir com os conteúdos. Idealizamos o seminário porque precisamos tentar saber onde tudo isso vai desembocar, como atuar nesse novo universo, quais paradigmas precisamos quebrar e quais criar para ter sucesso nessa tarefa, o que acontecerá com os meios tradicionais nesse cenário’.

O MediaOn será aberto com uma apresentação de Michael Roger exclusiva para convidados no dia 12, das 19h30 às 21h30, sobre o futuro do jornalismo online. O jornalista americano foi contratado no final do ano passado pelo NYT para ocupar um cargo inusitado: futurólogo-residente. Ex-diretor de novas mídias da empresa que edita o Washington Post, ex-gerente-geral do site da Newsweek, e criador da Practical Futurist, a função dele no NYT é basicamente a de desenvolver novas estratégias para o site do jornal e pensar em inovações para outros produtos da empresa. Nos dias 13 e 14 o seminário ficará aberto ao público, das 9h às 19h30, mediante inscrições gratuitas, mas prévias, no site www.mediaon.com.br. Como deve ser muito grande o número de interessados e as dependências do Itaú Cultural têm capacidade máxima para 270 pessoas, o evento será transmitido ao vivo pelo Terra (www.terra.com.br) e seu conteúdo será posteriormente editado em formato de livro e de DVD.

Dois workshops encerrarão o seminário: um sobre jornalismo cultural online, cujas inscrições já estão esgotadas; e uma oficina de imagens promovida pelo Itaú Cultural, dirigida a estudantes, que fará uso de dispositivos como celulares, câmeras digitais de uso doméstico e de mini-tocadores de mp3 que gravam áudio. Segundo Prada, a preocupação em abrir espaços para estudantes se deve não apenas ao fato de o Itaú Cultural já ter tradição de promover atividades para esse público, mas porque é preciso tentar eliminar lacunas na formação acadêmica dos futuros jornalistas.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

Comunique-se

FizTV: projeto funde televisão e Web 2.0, 1/06/07

‘O branco das paredes lisas e o espaço livre na maior parte da sede do FizTV denotam aquele ar de ímpeto e criatividade típico de projetos promissores em seus primeiros dias. Iniciativa da Abril, o Fiz se propõe a fundir de forma inédita Internet e TV, veiculando online vídeos produzidos por sua comunidade de usuários e levando para a TV os mais bem avaliados. A comunidade de usuários, produtores e consumidores de conteúdo terá voz ativa na definição dos rumos do canal, podendo até mesmo definir sua grade horária.

Buscando ser mais do que reprodutores do que está na Internet, reprise do Youtube, o Fiz já assumiu a postura de estimular a produção do vídeo livre no Brasil, para depois organizá-la e distribuí-la. Universitários, pequenas produtoras e cineastas independentes terão no canal uma possibilidade de veiculação nacional. Cada uma começará com a exibição dos dados de quem é o responsável por sua produção, identificando, inclusive, a cidade de origem.

A equipe editorial do canal será responsável por unir os vídeos em programas temáticos como o Fiz.emcasa, Fiz.caca, Fiz.curta, Fiz.anima, Fiz.doc e Fiz.notícia, este provavelmente o primeiro telejornal nacional formado apenas com participação colaborativa da audiência.

Uma câmera digital na mão…

Marcelo Botta, gerente de conteúdo do FizTV, coordena a equipe que irá definir seu formato. Ele garante que o objetivo não é criar uma rede de besteirol, de vídeos de cassetadas ou performances pitorescas. ‘Se a gente tiver a postura de só esperar receber material, a maioria será vídeo comédia. Mas estamos indo atrás de universidades, de festivais, fazendo parcerias’, aponta.

Concursos que terão como prêmios equipamentos, softwares ou cursos estimularão a produção dos usuários, enquanto todo vídeo que fizer a transição da Internet para a TV renderá dinheiro a seu criador. O site terá também tutoriais e dicas sobre o processo de realização de vídeos.

Especialistas em áreas como direção e fotografia analisarão vídeos exibidos pelo Fiz e apontarão rumos, criticando de forma construtiva o trabalho. Além disso, um blogueiro a serviço do canal terá a função de acompanhar e analisar permanentemente os vídeos veiculados.

… e uma rede na cabeça

Existem iniciativas semelhantes pelo mundo, como o Currente.com e o Joost, mas o Fiz aprofunda o papel dos usuários na estrutura. ‘Não temos muitos pontos de referência, o que causa uma certa dificuldade, mas ao mesmo tempo nos dá muita liberdade. Temos que inventar esse canal, cada dia é um novo desafio criativo’, avalia Botta.

Com a evolução de sites como o Youtube, onde o espectador pode encontrar o vídeo que quiser no momento que quiser, a MTV tomou a decisão editorial de reduzir significativamente o papel dos videoclipes em sua programação. Botta, então, enviou um email para André Mantovani, então diretor geral da MTV e hoje diretor geral do grupo TV da Abril, avaliando como a emissora foi a primeira a se modificar pela influência da Internet.

‘Eles assumiram uma postura não de resistência às mudanças, mas de entendê-las e se modificar a partir disso’, considera. Mantovani, que estava germinando o Fiz, o contratou antes mesmo do projeto estar definido.

Aos 23 anos, Botta comanda uma equipe formada pelos editores de conteúdo Patrícia Vieira, 23 anos, jornalista, e Nikolas Fonseca, 22 anos, profissional de multimeios. Além de um jornalista para tocar o blog, um profissional de biblioteconomia será contratado para organizar o acervo do Fiz, que pode crescer exponencialmente. ‘É uma coisa completamente nova e a proposta é que a equipe seja jovem, para poder sacar melhor essa linguagem’, avalia.

Comunidade 2.0

O FizTV é filhote direto da revolução proporcionada pela web 2.0, marcada pela demolição das barreiras entre produtores e consumidores de conteúdo. No esquema tradicional, algumas redes de comunicação impunham às massas limitadas opções de consumo de mídia. Hoje, banda larga em expansão e preços de computadores em queda livre, indivíduos têm papel ativo na produção de conteúdo e força suficiente para obrigar as grandes redes a considerá-los com atenção e interesse.

Abraçando o conceito de comunidade colaborativa, a equipe editorial do Fiz se coloca aberta à participação dos usuários em todas as etapas e decisões do canal. Os usuários serão hierarquizados em sete níveis de acordo com sua participação no Fiz, indo desde espectadores até os veiculadores mais ativos. Usuários do topo da hierarquia serão convidados a participar do conselho do Fiz, que definirá seu rumos.

Os vídeos que realizarem a transição da web para a TV o farão de acordo com a avaliação do público, que poderá votar em cada trabalho e também marcá-lo com um selo de ‘esse é para a TV’. Cada usuário terá uma página de perfil e poderá interagir com os outros e definir a grade horária que acredita ser melhor para o canal. A média dessas sugestões determinará o formato final do veículo.

O site do FizTV deve estrear dia 01/07. Por enquanto apenas um teaser está no ar, onde os usuários podem enviar material para o acervo que já conta com cerca de 200 vídeos. A estréia do canal de TV está prevista para o começo de agosto e por enquanto apenas a TVA fechou a veiculação em seu pacote básico. As negociações com as outras redes de TV por assinatura ainda estão sendo realizadas.’

CRÔNICA ESPORTIVA
Marcelo Russio

A preocupação de Evo Morales com o futebol, 29/05/07

‘Olá, amigos. A polêmica em torno da decisão da Fifa proibindo jogos em altitudes superiores a 2,500 metros gerou na imprensa esportiva uma discussão sobre os critérios desta proibição. Conversando com colegas, ouvi que se era proibido jogar em altitudes elevadas, também deveria ser proibido jogar futebol em áreas de temperaturas muito baixas ou muito altas.

Em um primeiro momento, tendi a concordar com estes argumentos. Mas depois, refletindo um pouco mais, acabei concordando com a Fifa, por achar que os efeitos de temperaturas altas ou baixas se combate com água ou agasalhos. Mas e a falta de oxigênio para pessoas que jamais tiveram contato com estas condições? Balões de oxigênio não amenizam os efeitos, apenas dão alívio momentâneo aos pulmões, que quem passou pela experiência diz que queimam como se estivessem em brasa.

Entretanto, o ponto fundamental desta coluna é o contínuo ato de questionar. A imprensa em geral, e a esportiva em particular, por trabalhar em uma área em que a verdade nunca está ao alcance das mãos, sempre usa a dúvida como instrumento primordial de apuração.

Por exemplo: por que a Bolívia estaria tão interessada em jogar em La Paz, e não em Santa Cruz de la Sierra, principal cidade boliviana, e que se encontra ao nível do mar? Seria por motivos esportivos que o presidente Evo Morales deixou seus afazeres para criticar a Fifa? Ou seria porque Santa Cruz de la Sierra concentra o maior número de opositores do governo federal boliviano?

Pesquisando fontes de informação da distribuição política da Bolívia, foi possível achar uma explicação a que, normalmente, as pessoas não têm acesso, por buscarem apenas respostas esportivas para questões que envolvam também o esporte, mas não só ele. Para conseguir dar ao leitor a melhor informação, e criar a cultura da dúvida e do questionamento, a imprensa tem a função quase de responsabilidade social de apurar com base em perguntas dos mais diversos níveis e origens.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

COMUNIQUE-SE
José Paulo Lanyi

Adeus, leitores, 29/05/07

‘Nunca escrevi uma coluna de despedida. Não sei como se faz isso, então vou aprender fazendo. Acho que primeiro vêm os motivos. A eles: eu e o Comunique-se estamos juntos há cinco anos. Nenhum casamento meu durou tanto. Está na hora de mudar de coluna. Isso vale para ambos. Todo o caminho já foi percorrido. Daqui a pouco eu faço o balanço.

Antes, preciso dizer que sou um sujeito anômalo: gosto de me dedicar a várias atividades, não por hobby, mas por vocação. Gostaria de viver uns 142 anos para ser jornalista, escritor, ator, compositor, pesquisador científico e, quem sabe, até filósofo. Mas só deverei chegar aos 112, então preciso correr.

Nesse amontoado, escrever uma crítica por semana pode parecer pouco, mas não é. Não gosto de redigir qualquer coisa, nem de qualquer jeito. Expondo de maneira crua: eu não transo com o meu texto. Faço amor com ele. Tenho-lhe carinho. Trato-o bem, das preliminares ao paroxismo. Isso exige o tempo de que hoje não disponho.

Em meia década de parceria com este portal, Link SP abrigou mais de trezentos artigos. Em breve, vão compor uma ou mais coletâneas de críticas. A minha editora, Solange Sólon Borges, tem autorização do Comunique-se para publicá-las em livro.

Meu trabalho por aqui extrapolou o limite da análise da mídia. Tive a honra de criar, dirigir e ancorar o primeiro programa sobre jornalismo na internet brasileira, o Comunique-se, que em quatro anos entrevistou mais de trezentos profissionais de comunicação. Outro espaço que me permitiram idealizar foi o Literário, que em pouco mais de um ano publicou, até o momento, mais de 1.200 textos de ficção. Aliás, eu não enviava para cá apenas um artigo por semana, mas dois: um para a Link SP, outro para o Literário.

Poderia falar do prazer que tudo isso me deu, dos leitores que viraram amigos, dos amigos que viraram leitores, dos leitores que viraram inimigos, dos inimigos que viraram amigos e por aí vai. Mas significaria um adeus ao portal, o que não vai acontecer. A gente se encontra no Literário.

(*) Jornalista, escritor, crítico, dramaturgo, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Foi professor do curso de Jornalismo da Unisa e da Universidade Guarulhos. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’

LÍNGUA PORTUGUESA
Carlos Chaparro

A descoberta de um país bilíngue, 03/06/07

‘O XIS DA QUESTÃO – Cabo Verde pensa e fala em crioulo, mas tem três semanários, seus únicos jornais, redigidos e lidos em português. Discute os seus problemas em crioulo, mas se informa em português, pela televisão e pelo rádio. Canta e dança em crioulo, mas se expressa em português quando precisa perpetuar, em linguagem escrita, as emoções da alma poética do seu povo.

1. Crioulo, a língua materna

De Praia, Capital de Cabo Verde – A língua oficial é o português, ensinado com rigor gramatical nas escolas. Mas não deve ser nada fácil ensinar a escrever e a falar português a crianças que, nas ruas e na intimidade das famílias, só falam e só ouvem crioulo. Porque o crioulo é a língua que verdadeiramente dá identidade e unidade a Cabo Verde.

‘Em Cabo Verde, a vida decorre em crioulo’, disse ou escreveu Jorge Amado, ao visitar Cabo Verde já independente. E assim é. Do mais letrado e ilustrado habitante das cidades ao mais desprovido trabalhador dos campos ou dos mares, os caboverdeanos se entendem em crioulo, nas dez ilhas do arquipélago. Entre eles, o crioulo ocupa o lugar e a função de fator determinante da identidade nacional. Em crioulo tudo nomeiam e exprimem, nas tramas do comunicar-se, para viver e sobreviver.

Nem no seminário, que em duas tardes ministrei a jornalistas da terra, o crioulo desapareceu. Durante as palestras, eu e os colegas da platéia nos entendíamos perfeitamente em português. Mas, nos intervalos, entre eles, só se falava crioulo, mesmo quando eu fazia questão de permanecer nas rodas, tentando entender o que diziam.

Ainda que não compreendesse o que falavam, jamais me senti excluído ou indesejado. Ao contrário. Desde o início do convívio mais próximo com os caboverdeanos, ficou claro para mim que o que eles pretendiam, ao conversar em crioulo, não era excluir-me, mas que eu me habituasse à sonoridade da língua, e a aprendesse, para melhor me integrar aos grupos. E quase o conseguiram.

Na verdade, o crioulo é a língua materna de Cabo Verde. Como nos ensina a professora e pesquisadora caboverdeana Dulce Almada Duarte, em seu livro Bilingüismo ou diglossia (Praia, Spleen Edições, 1998), ‘nenhum de nós, por melhor que fale a língua portuguesa, se identifica através dela como caboverdeano. E isso porque o português, embora fazendo parte do nosso universo lingüístico, não é a língua materna dos caboverdeanos, mas um instrumento de comunicação de uma minoria que, por via de regra, o aprendeu na escola, e que dele se serve normalmente em situações formais (…)’.

2. Português, a língua da alfabetização

As palavras da Dulce Duarte, retiradas de obra editada em 1998, recortam um cenário herdado da época colonial, quando o acesso à língua imposta era uma forma de promoção social.

Mas, embora com raízes fincadas nesse passado distante, o cenário mudou. Cabo Verde é hoje um país de poucos analfabetos. Garante escola a todas as crianças em idade de freqüentá-la. E em português alfabetiza as novas gerações. Nem poderia ser de outra maneira, porque o crioulo, embora de uso intenso e generalizado, é ainda uma língua sem gramática e sem articulação sistêmica.

Na página 22 do seu livro, Dulce Duarte arrisca a tímida predição de que ‘pode acontecer que, um dia, todos os caboverdeanos venham a ser realmente bilíngües’. Pois em nove anos a predição se realizou, ou está a caminho disso. Falar e escrever em português deixou de ser privilégio das elites.

Tive prova disso na manhã de domingo passado, no mais belo pedaço urbano de Praia, o Platô. Em meio a um passeio pela principal e mais histórica praça da cidade, conversei longamente em português, sem dificuldades, com Maria da Graça, menina que não teria mais de 12 anos.

E conversamos sobre o quê? Sobre a escola onde ela estuda e aprende portuguiês; sobre o Brasil que ela gostaria de conhecer; e sobre as novelas brasileiras da Record, a que ela assiste na televisão.

Dois dias antes dessa conversa, visitei pela manhã um município do interior da ilha de Santiago. Em carro com tração nas quatro rodas, serpenteei quase cem quilômetros entre montanhas cinzentas, cobertas de jôrra vulcânica. Passei por vários lugarejos escassamente habitados, e por imponentes cenários de aparência desértica, onde, em meio às curvas, ora apareciam ora se escondiam casas isoladas de famílias que vivem do campo.

Quase não se via gente. Mas, no regresso a Praia, quando se aproximava o horário de início de aulas para as turmas do período da tarde, enchi os olhos com a mais emocionante imagem colhida nos poucos dias aqui passados: crianças, às centenas, de uniforme escolar, se aglutinavam nas proximidades das escolas, vindas de mais longe ou de mais perto, pelas ocultas veredas das montanhas.

Ali estava o retrato de um Cabo Verde que a professora Dulce ainda não havia vista, em 1998: um país com escola para todas as crianças e com todas as crianças na escola.

É a Nação bilíngüe em acelerada elaboração. Nação que pensa e fala crioulo, mas que tem três semanários, seus únicos jornais, redigidos e lidos em português. Nação que discute seus problemas em crioulo, mas se se informa em português, pela televisão e pelo rádio. Nação que canta e dança em crioulo, mas se expressa em português quando precisa perpetuar, em linguagem escrita, as emoções da alma poética do seu povo.

Que bom foi ter vindo a Cabo Verde!

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NOTA DE RODAPÉ – Depois de Cabo Verde seguirei viagem, para reencontros com a Primavera de Portugal. Sem autorização prévia, tirarei duas semanas de férias, nas obrigações de colunista do Comunique-se. Novo texto, portanto, só no dia 15 de junho.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

IV Seminário Esso-IETV de telejornalismo, 30/05/07

‘O Instituto de Estudos de TV dirigido pelo jornalista Nelson Hoineff promove nesta quinta e sexta-feira, o IV Seminário Esso-IETV de Telejornalismo (ver aqui). Trata-se do principal evento para ver e discutir os telejornais brasileiros. E em tempos de crise, com audiências descrescentes, desafios da Internet e problemas de identidade, o evento deste ano certamente promete grandes debates.

A programação do IV Seminário Esso-IETV de Telejornalismo inclui a exibição das melhores matérias telejornalísticas de 2006. Os jornalistas responsáveis estarão presentes para debaterem com o público suas matérias. Um dos objetivos do seminário é divulgar a produção de boas matérias nos nossos telejornais locais, discutir e refletir a importância do telejornalismo. O público do seminário costuma ser formado, na sua maioria, por estudantes de comunicação social de todo o país e profissionais de empresas de comunicação. A principal intenção, no entanto, é aprimorar a percepção crítica sobre o meio.

O Instituto de Estudos de Televisão que organiza o seminário é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo e aprimoramento da produção e da cultura televisiva. Promove mostras, realiza seminários e debates sobre o passado, o presente e o futuro da TV. Tive o privilégio de ser convidado para mediar os debates. Aproveito a oportunidade para propor alguns temas e lembrar outros tempos.

O Repórter

A Esso Petróleo do Brasil, uma empresa norte-americana, tem uma longa e bem sucedida trajetória de parcerias com o jornalismo brasileiro. Todos conhecem o prestígio dos seus prêmios.

Mas talvez as novas gerações desconheçam a importância do Repórter Esso para o radiojornalismo e telejornalismo brasileiros. Mas ainda hoje muitas pessoas, principalmente os mais velhos, ainda se referem ao nosso principal telejornal, o Jornal Nacional, como ‘O Repórter’. Essa denominação íntima e carinhosa vem dos áureos tempos do Repórter Esso. Hábitos antigos são difíceis de mudar.

Aprendi a assistir e gostar de telejornais com o Repórter Esso da antiga TV Tupi do Rio de Janeiro. Naqueles tempos pioneiros, anteriores às redes nacionais, cada grande capital brasileira tinha a sua própria edição do principal telejornal do país. Ainda não havia no Brasil um jornal centralizado, único, hegemônico, um jornal nacional.

Por outro lado, nos mesmos anos 50 e 60, a produção de TV e principalmente dos telejornais ainda buscava e experimentava uma linguagem própria. O meio hegemônico era o rádio e a TV simplesmente copiava suas fórmulas de sucesso. Assim como os programas de auditório e radionovelas, os noticiários de rádio eram adaptados de uma forma apressada e precária para o novo meio. Tudo parecia provisório e improvisado. Todos conheciam o rádio e ninguém conhecia ou sabia fazer TV. Os telejornais eram muito simples.

Seria ótimo poder rever hoje o tão famoso e poderoso Repórter Esso. Se tivéssemos acesso público e democrático à memória da TV brasileira qualquer um de nós poderia conferir essa precariedade com uma simples consulta à Internet ou Biblioteca Nacional. Infelizmente, isso ainda não é possível. Nossa memória é refém dos arquivos privados das redes de TV. Mas isso é uma outra história.

Na verdade, o saudoso Repórter Esso não passava de rádio na TV. Um discreto apresentador sentado na frente de uma única câmera – aqui no Rio era o excelente Gontijo Teodoro, muitas notinhas, alguns poucos filmes e radiofotos para ilustrar as matérias principais e a presença constante da marca dos patrocinadores no cenário. Os breaks comerciais destacavam animações com as famosas ‘gotinhas’ da Esso e o seu jingle fazia enorme sucesso: Só Esso dá ao seu carro o máximo… Lembram?

O Repórter Esso era um telejornal precário e simples. Mas, herdou do seu congênere radiofônico, a credibilidade. Grandes jornalistas como Heron Domingues e Luiz Jatobá garantiram o sucesso da marca tanto no rádio como na TV. O Repórter era líder absoluto de audiência e se tornou o modelo original para todos os nossos telejornais.

Nada muda

De lá para cá, os nossos telejornais estão bem mais sofisticados. Hoje temos casais de apresentadores ‘flutuando’ em cenários futurísticos, as matérias são produzidas com muitos efeitos especiais e apesar da tendência constante de queda de audiência, o telejornalismo ainda é o principal meio de informação dos brasileiros. O formato, a ‘cara’ dos nossos telejornais mudou muito. Mas a essência continua a mesma.

Não há competição verdadeira entre os telejornais. Sai o Repórter Esso, líder absoluto e isolado do passado e entra o JN. No Brasil, mudamos o cosmético, o formato, a tecnologia. Mas não mudamos a essência, a centralização e concentração exagerada do poder. Assim como nos tempos do Repórter Esso, ainda somos reféns de um modelo hegemônico e muito perigoso de telejornalismo.

No Brasil, a implantação de novas tecnologias como a TV digital pode aprimorar a ‘cara’, o formato dos nossos telejornais. Mas não garante um conteúdo melhor, mais diversificado e democrático.

Esses assuntos certamente serão discutidos na mesa de encerramento do IV seminário ESSO-IETV, As Novas Mídias e a expansão dos modelos de Telejornalismo com a presença de Humberto Candil da BandNews e Marcelo Tas, jornalista da UOL.

Conto com a presença de todos.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Mantenha-se esperto!, 31/05/07

‘Trouxe o bolso cheio

de balas pólvora

do coração ao largo

(Nei Duclós in Novos Poemas)

Mantenha-se esperto!

O considerado Renato Teixeira Mendes, professor em Porto Alegre, anda aborrecido com repórteres e apresentadores de rádio e TV que não acertam a conjugação do verbo manter:

‘O que se escuta de ‘…se ele manter’ não é normal; por que não consultam o dicionário? O futuro do subjuntivo é mantiver, mantiveres, mantiver; mantivermos, mantiverdes, mantiverem!!!

Janistraquis observa, ó professor Renato, que para muita gente boa o futuro do subjuntivo pode ser esse aí, mas o presente do indicativo é este aqui, sem nenhuma dúvida: eu manto, tu mantas, ele manta; nós mantemos, vós mantais, eles mantam…

Mestre Ostermann

O sempre e (injustamente) perseguido Galvão Bueno deu uma dentro ao contratar o excelente comentarista esportivo Ruy Carlos Ostermann para seu programa Bem, amigos, no Sportv.

O veterano Ostermann (meio século de carreira), de marcante vozeirão gaúcho, conhece futebol como poucos e, mestre que é, faz até embaixadas com as palavras, enquanto muitos tratam o idioma aos pontapés.

Janistraquis é fã desse que apresenta Sala de Redação, Gaúcha Entrevista e Encontros com o Professor, na Rádio Gaúcha, e ainda mantém coluna diária em Zero Hora.

Senso do IBGE

A considerada Maria Gizele da Silva enviou matéria do UOL Últimas Notícias, na qual se lêem estas indeléveis linhas, bem agachadinhas sob o título Em 60 anos, população brasileira mudou de perfil:

(…) Os dados mostram que, em 1940, 42,2% das pessoas com mais de dez anos eram casadas. Sessenta anos depois, o índice chegou a 49,5%. No senso mais recente, o IBGE registrou ainda uma grande proporção de ‘uniões consensuais’ que, em 1940, não foram pesquisadas.

Janistraquis, que adora a criatividade da imprensa deste país, aprovou:

‘Está corretíssimo o uso da palavra senso em lugar de censo. Como sabemos, existe o bom senso e o mau senso; bom senso é quando a gente lê uma pesquisa do IBGE e publica apenas os dados positivos, como, aliás, preconiza o nosso presidente; mau senso é quando se distorcem inteiramente os dados, para favorecer assins ou assados, se o considerado me entende. Agora, quando se lê apenas senso, sem nenhuma adjetivação, é porque está tudo nos conformes, como publicou o UOL.’

Então, tá.

Novo poema

Leia no Blogstraquis a íntegra de Pegada, novo poema do considerado Nei Duclós, cujo excerto encima esta coluna.

Convalescendo

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a falta de pudor dá para ver Renan Calheiros a procurar recibos, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando tropeçou no seguinte texto, abrigado sob o título Coréia do Norte– Ditador estaria com saúde abalada:

O líder norte-coreano, Kim Jong-li, está com problemas cardíacos e seu estado de saúde piorou nos últimos dias (…) A convalescência (sic) do líder de 65 anos, que também sofre de diabetes, intensifica a luta pelo poder da única dinastia comunista do mundo.

Sempre alerta, Mestre Roldão comentou:

‘Se a saúde de Kim Jong-li está piorando, ele não pode estar convalescendo, ou seja, melhorando de saúde.’

Janistraquis acha, ó Roldão, que o redator nem sabe o que significa convalescença; afinal, escreveu convalescência…

Memória

‘Murilo Felisberto era jornalista e artista. Deixa uma filha, Carlota, e um neto, Antônio. E um aperto no peito de um velho repórter’, escreveu o considerado José Hamilton Ribeiro na Folha de S. Paulo. Murilo e este colunista também foram grandes amigos, durante mais de 40 anos. Leia no Blogstraquis a íntegra do belo texto do Zé.

Xiranhas brasilienses

Velho repórter de tantos e tantos escândalos desde os tempos de JK, jornalista de Brasília escreve para Janistraquis e dá notícia de um novo tipo de moçoila que surge dos escombros da República:

O amigo certamente conhece as marias-chuteiras, essas meninas que cercam os estádios, assistem aos treinos dos craques e até se infiltram nas concentrações, tudo com o objetivo de engravidar de um desses ronaldinhos ou edmundos do futebol; pois aqui em Brasília elas ainda não têm nome, mas circulam pelo Congresso, freqüentam o aeroporto e os bares mais elegantes, sempre de olho nalgum deputado ou senador disposto a botar a carreira e o santo nome em risco por causa de uma intumescida xiranha (…)

E o amigo vai por aí afora, conta que Brasília é abastecida por Goiânia, lugar de mulher bonita, e garante que o ínclito senador Renan Calheiros jamais escaparia do assédio; se não tivesse desabado no colo da jornalista, certamente cairia de boca noutra qualquer:

O elemento é metido a gostoso, sempre derretido na presença de um rabo-de-saia; ia acabar assim mesmo.

Pois é. E resolveu supliciar-se e expôs até a matriz à visitação pública, ao bancar o Bill Clinton made in Maceió.

É o fim!

A considerada Rebecca Fontes, assessora de imprensa em Fortaleza, envia pérola cultivada no Diário do Nordeste, pérola que merece nossa reflexão:

Site cearense gerava pedofilia — Polícia Civil apreende material na casa de um dentista, em Fortaleza, onde eram feitas imagens pornográficas de meninas (…) O Diário do Nordeste acompanhou, com absoluta exclusividade, todo o sigiloso trabalho policial – que durou quase três meses – até o seu desfecho finall, ontem à tarde.

Janistraquis lembrou-se imediatamente daquele armazém que encontrou numa cidadezinha do norte de Portugal: Irmãos Brother & Cia. Ltda.

Nocaute técnico

Nocauteado várias vezes pelas transmissões da TV, Janistraquis perdeu a noite e a paciência:

‘Considerado, a ESPN Brasil deve compreender que os aficionados do boxe precisam ver imagens dos córneres dos pugilistas naqueles minutos de intervalo entre um e outro assalto. Pois a emissora adquiriu o feio hábito de abandonar o ringue antes mesmo de soar o gongo e, quando volta, depois de exibir ‘comerciais’ de seus próprios programas, muitas vezes a luta já recomeçou.’

É verdade. Quem gosta de boxe não pode dispensar tais imagens, porque é ali, ao lado dos ‘segundos’, que se avalia o real estado físico do lutador, pelas marcas no rosto, a expressão às vezes desanimada, a dificuldade para respirar. Muitas vezes, sentado naquele banquinho, o lutador mostra que já perdeu (ou ganhou) a luta. Ora, boxe é boxe e judô é judô.

Comunicando

Slogan de uma oficina de automóveis no subúrbio de Belo Horizonte:

CONSERTA, ENDIREITA, ADAPÍTA

Janistraquis adorou, principalmente pelo acento agudíssimo em a-da-pí-ta. E tem certeza de que nem Washington Olivetto seria capaz de tanta genialidade.

…e a web levou

De repente, sem nenhum aviso, como sói acontecer, esta máquina maravilhosamente diabólica que é o computador do colunista sumiu com um bloco de mensagens datadas de 15 a 21 deste friorento mês de maio.

Rogo aos considerados leitores/colaboradores que, se puderem, reenviem as mensagens para cá, despachadas no período supracitado, com perdão da linguagem cartorial. Mas, por favor, observem aí embaixo o novo endereço eletrônico da coluna.

Fonte criminosa

O considerado Marcelo Toledo, assessor de imprensa em São Paulo, recebeu um, com licença da palavra, release produzido e expelido pela Cedae, do Rio de Janeiro, no qual era possível ler-se, enterrado sob o título Operação papa-defunto descobre gato de água em funerária:

Técnicos (…) encontraram uma ligação clandestina, conhecida como ‘gato’ na Funerária Praça da Bandeira Ltda. Durante a blitz, batizada como ‘Operação Papa-Defunto’, foi encontrado um desvio de água com uma tubulação de 3/4 de polegada de diâmetro, que abastecia ilegalmente a funerária particular, já que mesma não pertence a Santa Casa.

‘É um desrespeito uma funerária atender famílias, num momento em que estão fragilizadas, com uma água oriunda de fonte criminosa’, disse o presidente da Cedae, Wagner Victer.

Janistraquis acha que o ‘gato’ só pode ter sido dedurado por uma alma indignada, porque nenhuma família, por mais fragilizada que esteja, vai identificar fonte criminosa.

Nota dez

Janistraquis compreende perfeitamente as agruras por que passa o Doutor Drauzio Varella diante do computador. Cientista brilhante, pesquisador da flora medicinal da Amazônia, escreve muito bem e ainda é um confiável repórter do Fantástico.

Doutor Drauzio contou, em divertido artigo na Folha de S. Paulo, como tem perdido a luta contra as mensagens que diariamente invadem sua caixa de entrada. Leia no Blogstraquis.

Errei, sim!

‘IDADE MORTAL – Robusto título da Folha de S. Paulo: Imperatriz Michiko desmaia ao comemorar seu 59º aniversário. Janistraquis ficou penalizado: ‘Considerado, coitada da rainha; se ela desmaia ao completar apenas 59 anos, dificilmente deixará de morrer ao chegar aos 60’. Tem lógica.’ (janeiro de 1994)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 3

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