Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Contra o ‘fontismo’: alternativas para a apuração jornalística

Qualquer repórter, especialmente aquele que trabalha com política, deve evitar ao máximo ser refém de sua fonte de informação. Tem que se acabar com o que Gustavo Krieger, jornalista gaúcho que cobre política para o Correio Braziliense, chama de ‘fontismo’. Krieger esteve presente na VI Semana de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que vai até esta sexta, para falar sobre sua carreira. Aproveitou para desenvolver uma tese, baseada em 21 anos de profissão, de que há caminhos próprios de apuração para que não sejamos controlados pelos interesses das fontes.


Interesse esse caracterizado pelo que Hélio Shuch, professor do Departamento de Jornalismo da UFSC, chama, no artigo ‘O jogo do off: uma breve apresentação de pontos conceituais’ (2004), de ‘situação de dependência’ entre repórter e fonte. Assim, toda fonte tem algum interesse em transmitir informações, mesmo que seja ou pareça neutro perante alguém ou a opinião pública. A fonte deve conhecer o funcionamento do jornalismo, perceber o interesse do repórter e ser capaz de possuir, para repassar, informações de valor jornalístico. Está estruturado o jogo cooperativo, seqüencial, de informações assimétricas (a fonte possui mais informações que o repórter) e imperfeitas, já que os agentes não sabem com certeza o que pode ocorrer a cada etapa.


Krieger já acompanhou quatro presidentes da República e acumulou diversas coberturas de escândalos políticos, como o impeachment de Collor e o caso do mensalão, no governo Lula. Nesses trabalhos, aprendeu que é complicado depender de certos tipos de fontes, que sempre agem de acordo com interesses. Como exemplo, o jornalista cita o caso de corrupção nos Correios, no qual a fita com as imagens de Maurício Marinho aceitando propina foi divulgada por empresários que tinham o intuito de entrar no esquema de corrupção.


Outros jeitos de fazer matéria


‘Vocês devem desconfiar de tudo, inclusive de sua fonte’, ensina Krieger. ‘Ter espírito crítico, conversar com muita gente para saber o que se passa. Quando se tem muitas fontes, menos você depende delas.’


Ele fala do recente caso envolvendo a votação da cassação do mandato do senador Renan Calheiros. ‘Eu e o senador conversamos um tempão, tomando cafezinho, quando ele me contou que o Mercadante ia votar pela absolvição. Dias depois, o senador me liga e pergunta por que não publiquei essa informação. Simples: porque era uma informação errada. Eu falei com Mercadante e percebi que Renan mentira para mim.’ E isso acontece com freqüência, segundo ele. Políticos tentam usar a imprensa para gerar polêmica e ver se há repercussão. ‘Faz parte do jogo’, diz Krieger.


A solução estaria em usar informações públicas para fazer boas matérias, como na reportagem do Correio Braziliense sobre o rombo nos cofres dos partidos que disputaram o segundo turno das últimas eleições presidenciais. Krieger escreveu com base em dados abertos. ‘São outros jeitos de fazer a matéria sem que você fique preso ao que dizem as fontes.’

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Estudante de Jornalismo, UFSC, Florianópolis, SC