Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Crise e demissões na mídia

Mais uma vez, o fantasma do passaralho (demissões em massa nos meios de comunicação) volta a assombrar os veículos do país. A Folha de S.Paulo já demitiu 25 jornalistas e, segundo o Portal Imprensa, a pretensão é chegar a 50. O Diário de Pernambuco e AquiPE, controlados pelo mesmo grupo, demitiram mais de 30 profissionais da área. O Popular, tradicional em Goiás, retirou de seu quadro quatro trabalhadores e deve anunciar mudanças. O Estadão cortou 40 funcionários da redação e, claro, isso provocou assembleias convocadas pelos sindicatos para a proteção dos direitos trabalhistas.

O grupo Abril acabou com várias revistas, desocupou metade do prédio que era sede da empresa e demitiu 150 funcionários.

A crise também chegou à televisão. Record, Band, Rede TV!, SBT e TV Cultura realizaram grandes demissões e a Rede Globo não renovou contratos, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo. Tudo isso acompanhado da perda de audiência.

As empresas alegam corte de gastos por conta de pouca verba publicitária. Outras falam em reajustes aos novos tempos, como o jornal O Sul, que deixou de circular a edição impressa e ficou apenas no mundo digital. Outros que aderiram à readequação foram o Jornal do Brasil, O Estado do Paraná e Diário do Comércio.

A era da comunicação todos-todos

A crise na mídia impressa, rádios e canais de televisão mostra que o receptor quer ser livre. Quer escolher onde e quando irá se informar, além de interagir com seu emissor. E é a internet, justamente, que possibilita essa liberdade. Ao falar da Cibercultura (cultura nascida a partir do uso da rede de computadores), antes da grande popularização da internet, o teórico Pierre Levy propunha a comunicação todos-todos, onde qualquer pessoa é emissora e receptora ao mesmo tempo. Agora, com muitos tendo acesso à internet e por diferentes plataformas (smartphones, tablets, notebooks…), as opções para receber informações são variadas e ainda é possível comentar e compartilhar as notícias em tempo real. Com este cenário, percebe-se a consolidação da comunicação todos-todos de Levy.

Além disso, o receptor também quer gerar seu próprio conteúdo. A exemplo estão as páginas no Facebook com notícias locais que acumulam milhares de seguidores e atraem anunciantes. Páginas estas que muitas vezes não são comandadas por jornalistas, mas por moradores da região que sentiram a necessidade de informar a população. Essa nova era traz benefícios e prejuízos aos jornalistas. Se por um lado, várias vagas de empregos são extintas e, muitas vezes, um profissional torna-se sobrecarregado de trabalho, por outro, será possível que muitos desenvolvam sua própria criação em um ambiente de livre acesso e que dispõe de espaço para todos.

Esse momento ainda não é de transição total no país, pois ainda há uma parcela da população que é considerada excluída digitalmente. Entretanto, o número de conectados só vem subindo e o Governo Federal prepara o programa Banda Larga para Todos para levar internet de banda larga de 25 Mbps a 98% dos domicílios até 2018. Além disso, a presidenta Dilma Rousseff anunciou parceria com o Facebook para levar internet a áreas mais pobres e isoladas no Brasil.

De forma alguma a extinção ou diminuição de veículos consagrados é boa, mas é um ajuste que deverá ser feito por conta do processo natural de evolução digital e que não é possível impedir. A solução fica mesmo na adequação à nova era, na criação de novos meios de informação e na busca por novas alternativas de comunicação que estão escondidas no mar da criatividade. Nessa briga por atenção em um momento onde todos podem ser ouvidos, se saíra bem quem mais tiver credibilidade, criatividade, qualidade, interação, rapidez e comprometimento, seja um grande veículo renomado ou uma pequena equipe novata.

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Julyete Farias Louly é jornalista