Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Direto da Redação


IMPRENSA / HISTÓRIA
Mair Pena Neto


Os novos barões da mídia, 15/03/07


‘Nelson Werneck Sodré no clássico ‘História da Imprensa no Brasil’ analisa
com propriedade que a nossa imprensa nasceu com o capitalismo e acompanhou o seu
desenvolvimento. No capítulo que acrescentou à última edição do livro, chegou a
analisar os conglomerados empresariais, que impossibilitavam o surgimento de
novos jornais.


O avanço tecnológico e a necessidade de capital levou as empresas
jornalísticas a investimentos elevados, que inviabilizaram o surgimento de novos
concorrentes, mas ao mesmo tempo as deixaram em dificuldades financeiras. Como
observa Sodré, ‘se fossem empresas de outra área estariam liquidadas pelas
razões de mercado. Razões que elas defendem com ardor infeliz, todos os dias,
atreladas ao neoliberalismo. Como as do condenado que elogia o dono da corda em
que será enforcado’.


Se vivo fosse, Sodré teria que analisar um novo fenômeno na imprensa, que
deixa de ser apenas a representante da estrutura social e política vigente, e
passa a ter entre seus donos os próprios detentores do capital.


Nos Estados Unidos, que conseguiu durante bom tempo evitar a concentração do
poder midiático em poucas mãos, proibindo que um mesmo grupo fosse dono
simultaneamente de canais de TV, revistas e jornais, os grandes conglomerados já
são donos dos meios de comunicação e exploram cada vez mais a integração de
novas mídias.


Esta semana, por exemplo, a revista Sports Ilustrated e a NBCSports.com
anunciaram que irão compartilhar vídeos, notícias e fotografias em seus sites. A
associação, que visa fazer dinheiro com mais oferta de vídeo pela internet, na
verdade é entre a Time Warner, dona da Sports Ilustrated, e a General Electric,
proprietária da NBC.


Aqui no Brasil, as empresas não jornalísticas ainda não detêm diretamente os
meios de comunicação. Mas Nelson Werneck Sodré teria novidades para analisar.
Empresários estranhos ao meio ingressaram no negócio, comprando jornais,
revistas e tevês. Não os tratam com nenhum idealismo, mas como um negócio
qualquer, como uma rede de farmácias ou produto industrial. O objetivo principal
é o lucro e o grande problema passa a ser os meios para obtê-lo.


O controle dos meios pelos donos do capital não deve tardar. Recentemente, a
Editora Três, responsável por títulos de prestígio na imprensa brasileira,
esteve em ‘leilão’ para contornar suas agruras financeiras. Entre os
interessados pelo negócio esteve o banqueiro Daniel Dantas, que articulava um
pool de empresas para comprar a editora. Acabou perdendo a disputa para Nelson
Tanure, que adiantou um dinheiro para a editora pagar seus compromisos enquanto
audita a situação da empresa.


Tanure, especialista na compra de empresas em dificuldades, seja de que ramo
forem, usou a mesma estratégia para assumir o controle do Jornal do Brasil, da
Gazeta Mercantil e da TV CNT. Com a editora Três completa o portfólio de seu
conglomeado e se torna um novo barão da imprensa. A história ainda precisará de
um tempo para analisar o alcance e a durabilidade desse fenômeno como novo
estágio do desenvolvimento do capitalismo na mídia.


(*) Trabalhou no Globo, JB e Agência Estado. Foi correspondente da F-1 em
Londres, durante três anos. Foi editor de política do JB e repórter especial de
economia. Atualmente trabalha na agência Reuters.’




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