Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dorrit Harazim

‘Como Pelé, Mohamed Ali sempre rouba qualquer cena. Nas raras aparições públicas que o avanço progressivo do mal de Parkinson ainda lhe permite, ele opera uma mesma mágica – deixa em estado de enlevo a quem estiver por perto. Não foi diferente na quarta-feira, ao receber a Medalha da Liberdade do presidente americano George W. Bush. O boxeador nada falou e moveu só um pouco os punhos mais idolatrados do boxe para responder à inevitável simulação de golpe encenada pelo anfitrião. Mesmo assim ofuscou por completo os outros 12 agraciados reunidos na Casa Branca e iluminou os noticiários televisivos do dia. Para George Bush, foram os únicos momentos de comunhão com uma América atordoada. Segundo a última pesquisa NBC/Wall Street Journal, seis em cada dez americanos acham que o presidente perdeu o rumo.

Ou melhor, entrincheirou-se numa mentalidade de bunker. Mais do que qualquer ocupante da Casa Branca em tempos recentes, Bush opera em ambiente blindado contra dissenso – depende de um punhado de assessores movidos a disciplina, lealdade e, se necessário, compromisso pétreo com o erro. Difícil explicar de outra forma a acolhida dada pela cúpula do poder à figura pouco recomendável de Ahmed Chalabi, no mesmo dia em que Bush condecorava a maior unanimidade nacional, Mohamed Ali. Chalabi, apesar de suspeito de ter passado informações secretas do governo americano ao Irã – país que encabeça o Eixo do Mal segundo o mapa ideológico em vigor -, teve direito a encontros com Dick Cheney, vice-presidente, Condoleezza Rice, secretária de Estado, e Stephen Hadley, assessor de Segurança Nacional de Bush. Nada mal para quem parecia ter caído em desgraça definitiva como principal carta americana no Iraque.

Chalabi, ou Ahmed-o-Ladrão, apelido que ganhou nos anos 90 junto com uma condenação por fraudes bancárias na Jordânia, é um desses operadores que sabem circular tanto nas sombras quanto nos holofotes do poder. Exilado durante o regime de Saddam Hussein, aproximou-se dos serviços de inteligência dos Estados Unidos como detentor de valiosos segredos das entranhas do regime a ser derrubado. Só que era tudo falso. Durante quase cinco anos alimentou a CIA com copioso material de inteligência fabricado para sustentar a necessidade e viabilidade de uma invasão. Providenciou ‘desertores’ que despejavam ‘segredos’ avidamente colecionados pelo governo de Bush. Entre outros, plantou a informação de que Saddam Hussein tinha laboratórios móveis de armas biológicas – fantasia que acabou constando da malfadada apresentação de ‘provas’ feita pelo então secretário de Estado, Colin Powell, perante a ONU, em 2003.

Judith Miller, a premiada repórter do New York Times que esta semana perdeu o emprego, foi uma das jornalistas mais habilmente manipuladas por Chalabi. E o secretário de Defesa Donald Rumsfeld chegou a elaborar um plano secreto para empossar Chalabi no poder em Bagdá através de manobra que deu errado. A estrela do líder exilado começou a embaçar quando ele não deu nenhum retorno dos milhões de dólares que recebeu do Departamento de Estado e da CIA. Foi dado como banido dos gabinetes de Washington quando se soube que repassara ao Irã a informação secretíssima de que os EUA tinham quebrado o código de comunicação dos serviços de inteligência iranianos.

Mas Chalabi não é mais descartável e ressurgiu das cinzas como vice-primeiro-ministro encarregado dos contratos com empresas estrangeiras. Foi com essa roupagem que efetuou visita oficial a Washington na semana passada. Acabara de retornar de visita oficial ao Irã, o que lhe confere novo poder de barganha com o governo Bush.

É de autoria do americano George Packer, repórter da revista New Yorker, a melhor crônica até agora dessa insana marcha rumo ao desastre. Em The Assassin’s Gate, recém-chegado às livrarias dos Estados Unidos, Packer esmiúça cada passo da opção pela guerra que há quase três anos é acompanhada em silêncio por um país entorpecido de patriotismo. As próximas gerações de americanos terão dificuldade de explicar por que foi tão fácil a George W. Bush lançar o país na sua mais ambiciosa e arriscada cartada mundial do pós-guerra, sem um planejamento adequado. Quanto à geração atual, somente agora ela começa a se dar conta da enormidade com a qual compactuou: a pretensão de ocupar um país mais do que estrangeiro, de 25 milhões de árabes, fincado no coração do Oriente Médio e com uma história mais antiga que a americana. Quis acreditar que seria uma guerra de libertação, seguida de uma rápida reconstrução. Achou normal a indicação, na época, de L. Paul Bremer para comandar a segunda fase, apesar de a única experiência administrativa do indicado ter sido a chefia da Embaixada dos Estados Unidos na Holanda.

Por enquanto, apenas os dados numéricos computados no Iraque, inerentes a qualquer guerra, começam a intranqüilizar: 2.034 militares americanos mortos em combate, outros 198 soldados de países aliados, 300 baixas entre agentes terceirizados, 73 de jornalistas. Do lado iraquiano não há dados confiáveis. Mas existe um estudo sobre distúrbios pós-trauma publicado pelo New England Journal of Medicine que aponta para um quadro duplamente dramático: 41 mil soldados americanos declararam acreditar que mataram pelo menos um civil iraquiano nos 15 meses que se seguiram à invasão de 2003.

O silêncio da liderança democrata tem sido ainda mais retumbante do que a docilidade de uma nação levada à guerra em nome de uma missão.

O senador John Kerry, cuja posição sobre o envolvimento americano se move mais do que as areias do deserto, somente na semana passada propôs o repatriamento dos primeiros 20 mil soldados até o Natal. Hillary Clinton e Howard Dean permanecem mudos. Enquanto isso, o Pentágono aumenta ‘temporariamente’ o número de efetivos de 138 mil para 160 mil.

Nesse quadro, não surpreende a iniciativa de um grupo do Estado de Massachusetts que se intitula HomeFromIraqNow.org e pretende contornar a paralisia das lideranças políticas. ‘Em nossa história, nunca houve a oportunidade de o povo votar a favor ou contra uma guerra’, diz o co-fundador da empreitada, Harold Hubschman. ‘O governo pode ignorar uma marcha de protesto, pode ignorar um debate no Congresso, mas não pode ignorar um voto. A iniciativa visa impedir que mais levas de integrantes da Guarda Nacional, única unidade militar sob controle do governador de cada Estado, possam ser requisitadas para o Iraque sem autorização expressa da Câmara local. Para registrar a iniciativa seria preciso obter 66 mil assinaturas até o dia 23 de novembro. Vale acompanhar esse teste de militância da geração iPod que assina panfletos pela internet.’



Ali Kamel

‘A demissão de Judith Miller’, copyright O Globo, 15/11/05

‘O leitor interessado no assunto já tem um veredicto a respeito da repórter Judith Miller, do ‘New York Times’: antiética, incompetente e mau caráter. Pelo que se lê aqui e lá fora, ela publicou inúmeras reportagens atestando que Saddam possuía armas de destruição em massa, e deu, assim, sustentação à principal alegação dos EUA para invadir o país. Muito mais tarde, com a reputação em ruínas, Miller passou 85 dias na cadeia alegando que preferia a prisão a ter de revelar o nome de uma fonte, mas, na verdade, tudo não passou de uma manobra para que ela pudesse ressurgir como heroína. Será fato? O ‘Times’ publicou uma crítica sobre sua cobertura da guerra em maio de 2004, citando 16 reportagens problemáticas, sendo que nove delas anteriores à invasão e, destas, quatro, as mais polêmicas, de autoria de Miller.

Em 20 de dezembro de 2001, Miller publicou a reportagem ‘Desertor iraquiano relata obras em 20 ou mais esconderijos de armamentos’, em que Adnan Saeed diz que trabalhou em reformas de instalações para armas biológicas, químicas e nucleares até um ano antes da entrevista. Miller é honesta sobre como conseguiu a entrevista e mostra as conseqüências de entrevistas desse tipo? Sim: ‘A entrevista com Saeed foi conseguida por meio do Congresso Nacional Iraquiano, o principal grupo de oposição do país, que procura derrubar Hussein. Caso comprovadas, as alegações de Saeed forneceriam munição para as autoridades do governo Bush, que vêm usando o argumento de que Hussein deveria ser banido do poder em parte devido à sua recusa de parar de fabricar armas de destruição em massa, apesar de suas promessas nesse sentido.’ A matéria faz alguma ressalva a respeito das informações do desertor? Sim: ‘As autoridades de inteligência americanas sempre tiveram dúvidas sobre o que dizem esses desertores. Embora alguns tenham fornecido informações ‘valiosas’ sobre essas atividades, dizem elas, muitos exageram seus feitos e o que realmente sabem para conseguir asilo nos EUA e em outros países.’ Miller faz alguma advertência sobre o uso das informações que divulga? Sim: ‘É preciso agir com especial cautela, declara um especialista em armamentos, à luz do atual debate interno entre as autoridades do governo Bush sobre a conveniência ou não de ampliar a guerra contra o terrorismo para o Iraque.’

Na reportagem ‘EUA dizem que Hussein intensifica esforços em busca de peças para bomba atômica’, publicada em oito de setembro de 2002, Miller dá uma informação: o governo Bush teria descoberto que Saddam comprou tubos de alumínio indispensáveis para a feitura da bomba atômica. Mas, mais uma vez, Miller destaca que a informação serve aos propósitos dos que eram a favor da invasão? Sim: ‘Embora não haja qualquer indício de que o Iraque esteja prestes a lançar sua bomba nuclear, sua procura por armamentos nucleares vem sendo citada por membros linha-dura do governo Bush para sustentar o argumento de que os Estados Unidos têm que agir já, antes que Hussein adquira armas nucleares.’ Miller dá espaço para os céticos em relação ao poderio nuclear iraquiano? Sim: ‘O Iraque, dizem os críticos, ainda é altamente dependente de ajuda externa a fim de levar avante seu programa nuclear. Washington, no parecer dos críticos, tem tempo de aplicar a diplomacia e deveria buscar o apoio das Nações Unidas para obrigar o Sr. Hussein a aceitar de volta os inspetores. Há unanimidade entre os críticos ao insistirem que informações da inteligência sugerem que não há motivo para uma ação militar apressada.’

Em 13 de setembro de 2002, Miller publicou a matéria ‘Casa Branca revela lista de etapas para que o Iraque construa armamentos proibidos’. Logo no início, ela enfatiza que o documento ‘procura reforçar os argumentos para ação militar contra o Iraque’. E, a seguir, dá espaço aos que desqualificam a iniciativa: ‘Alguns parlamentares veteranos do Partido Democrata reclamaram que a CIA ainda não entregou nenhum relatório atualizado que documente os programas militares do Iraque. Afirmam também que algumas informações de inteligência fornecidas pelo governo sobre as atividades armamentistas do Iraque são imprecisas e desatualizadas.’

Antes da invasão, Miller ainda publicou em 24 de janeiro de 2003 a reportagem ‘Desertores reforçam argumentos dos EUA contra o Iraque, afirmam autoridades’. Nela, Miller diz que o governo Bush já tem uma estratégia para contornar o fato de que os inspetores nada encontraram no Iraque até ali: produzir e divulgar um relatório baseado em relatos de desertores. Miller faz alguma ressalva quanto ao valor do documento? Sim: ‘Entretanto, Washington está muito dividida quanto ao valor das informações provenientes de desertores. A Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono até agora foi a mais receptiva, afirmando que os desertores são essenciais para se penetrar nas práticas de engodo comuns no Iraque. A CIA por diversas vezes descarta o que dizem os desertores e questiona sua credibilidade, segundo autoridades do governo.’ Ora, tal matéria foi exatamente um furo, pois foi isso o que aconteceu: Bush desprezou o relato dos inspetores e confiou no relato dos desertores. O resto é história.

Independentemente do comportamento pessoal de Miller, na análise das matérias dela nada encontro que as desabone. Ela certamente estava convencida de que havia armas, mas deu as informações que existiam no momento e as contextualizou, abrindo espaço a quem as contradizia. Isso me leva a discutir uma noção de jornalismo que volta e meia vem à tona: o bom jornalismo teria o condão de chegar à realidade de uma maneira inequívoca. Se não existem armas de destruição em massa no Iraque, o bom jornalismo jamais produzirá uma reportagem sugerindo o contrário. Seria como se jornalistas fossem pitonisas. Nada mais falso. A verdade é sempre construída num processo longo de idas e vindas, numa marcha contínua de reportagens, umas aperfeiçoando as outras, às vezes umas desmentindo as outras. Depois da invasão, com a certeza de que não havia armas, Miller passou a ser execrada. O maior fracasso do ‘Times’, até aqui, porém, não foi publicar as matérias de Miller, mas não ter avançado no diagnóstico: Bush mentiu, os serviços secretos foram enganados, foi incompetência ou tudo junto?

Nisso, Miller não teve culpa: o próprio jornal anunciou que a proibira de continuar trabalhando no tema. Antes da proibição, Miller procurou I. Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente, numa tentativa, segundo ela, de entender o fracasso dos serviços secretos. Em uma das conversas, surgiu a informação de que a mulher de um detrator de Bush trabalhava na CIA, informação que Miller jamais usou. Mas que foi publicada por um jornalista conservador, dando origem ao inquérito para apurar quem do governo revelara a identidade de um agente secreto, um crime federal. Miller se manteve calada, para proteger a sua fonte. Foi presa. No fim, ao ser liberada oficialmente por sua fonte, consentiu em depor.

Nos editoriais, o ‘New York Times’ a apoiou, mas, no fim, os colegas de redação, na impossibilidade de dar um xeque-mate em Bush, provando que ele mentiu deliberadamente, deram um xeque-mate na colega. ALI KAMEL é jornalista.’



RADIODIFUSÃO / CONCESSÕES
Agência Câmara

‘Câmara aprova dez concessões de radiodifusão’, copyright Agência Câmara (www.camara.gov.br), 10/11/05

‘A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou, na última terça-feira (8), dez projetos de decreto legislativo que autorizam ou renovam concessões de serviços de radiodifusão em vários estados. As propostas, da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, serão agora analisadas pelo Senado. As concessões são as seguintes:

AMAPÁ

Associação de Comunicação Alternativa do Novo Horizonte – Macapá

BAHIA

Associação Comunitária de Comunicação e Cultura de Ubaitaba – Ubaitaba

CEARÁ

Associação Comunitária Vale do Groaíras – Groaíras

Associação de Radiodifusão do Vale do Curu – São Luís do Curu

MINAS GERAIS

Associação Beneficente e Cultural Comunitária de Comunicação Viva-Voz – Limeira do Oeste

PARANÁ

Associação de Moradores Águas Cantantes de Ivaté – Ivaté

PERNAMBUCO

Associação Comunitária Nossa Senhora da Penha – Gameleira

RIO DE JANEIRO

Associação Artística Virtulino Antônio Mairink – Iguaba Grande

SANTA CATARINA

Rádio Raio de Luz Ltda. – Guaraciaba

SÃO PAULO

Fundação Cásper Líbero – São Paulo’



IMPRENSA & VIOLÊNCIA
Álvaro Lins

‘De quem é a burrice?’, copyright O Globo, 10/11/05

‘Na edição do GLOBO de 04/11/2005, o jornalista Jorge Antonio Barros escreveu o artigo ‘Desculpem, mas é burrice mesmo’, no qual critica a polícia pela forma como conduziu a operação que retirou do convívio social o traficante Bem-Te-Vi. Critica a morte do bandido porque seria mais útil às investigações se preso; critica a divulgação da operação porque poderia ser novamente utilizada e por fim critica o despreparo da polícia no trato com a imprensa.

Confesso que minha primeira reação diante do artigo foi de desânimo, pois, como povo, acabamos achando que os jornalistas são deuses e que estão sempre certos. Mas um segundo de reflexão já nos põe de volta à realidade e percebemos que é muito fácil dar palpites estando fora do problema. Difícil é o chefe de qualquer organização pedir a seus homens que se arrisquem numa operação sabendo que, por mais bem-sucedida que seja, haverá alguém para criticá-los. Numa guerra, as críticas deveriam vir dos inimigos, mas aqui o fogo é amigo mesmo.

Mais difícil ainda é continuar em frente quando se vê, na mesma página do jornal, um outro artigo no qual se comenta a libertação do acusado de associação ao tráfico de drogas Willian de Oliveira – o Willian da Rocinha – após 15 outros pedidos de liberdade negados. Willian, para quem não sabe, avisava os traficantes sobre operações policiais, orientava os comparsas de Bem-Te-Vi a esconder fuzis roubados do Exército em favelas rivais, além de comprar e pagar a conta dos aparelhos de rádio usados pelos traficantes. Foi solto sob o argumento de ruim com ele, pior sem ele, como se fosse peça chave para o controle sobre a Rocinha.

Talvez este seja o real motivo de sermos burros: insistir numa missão que não nos rende glória, mas sempre questionamentos e ver que o crime pode compensar. Enfrentemos então as críticas:

Prender Bem-Te-Vi era sim um dos nossos objetivos, mas ele pareceu não estar de acordo com o que foi ensaiado e preferiu enfrentar o estado até seu último minuto, ladeado por cúmplices armados até os dentes e à espera do encontro com celebridades. Desta vez o encontro foi no cemitério São João Batista.

A divulgação da operação pretendeu primeiro esclarecer que não houve colaboração de moradores, o que, se omitido, poderia pôr em risco a comunidade. Além disso, era preciso dar transparência à ação da polícia para dissipar dúvidas ou desconfianças comuns nessas situações. Imagine como a própria imprensa estaria nos tratando se escondêssemos alguma coisa: Foi uma extorsão malfeita? Foi por acaso? O que os policiais faziam ali? Foram os moradores que o denunciaram? Por que a lei da mordaça?…

Talvez no século XIII a.C., quando os gregos ganharam a guerra com a operação Cavalo de Tróia, também tenham sido alvo de críticas por terem divulgado sua estratégia. Talvez um jornalista os tenha chamado de Burros de Tróia, mas se hoje a História os reverencia não é por causa de um ou outro erro, mas porque tiveram coragem e sabedoria de fazer o que julgavam certo e nos emprestar sua experiência.

Enfim, resta-nos aprender a lidar com a imprensa. Mas por que essa via teria de ser de mão única? Por que a imprensa também não deveria aprender a lidar com a polícia? Seria muito mais fácil cobrar isto de quem é formado para o jornalismo e não de quem é formado para ser um simples policial. Talvez a resposta seja porque já sabem tudo.

Conforta-nos pelo menos saber que a sua opinião não é comungada pela maioria, que, ao revés, elogiou a operação. O Editorial do GLOBO de 01/11/2005 diz exatamente o contrário:

‘Se não fosse um plano arquitetado com alguma antecedência, a polícia não apanharia Bem-Te-Vi. Teria sido mais uma dessas blitzes repletas de perigosas balas perdidas. Semanas atrás, em outra operação em que foi empregada alguma inteligência policial, havia sido a vez de Pedro Dom, assaltante de residências na zona sul. As duas ações são um exemplo prático de que o planejamento evita que armas e força bruta ponham em risco a população e os próprios policiais.’

Desculpe-me o articulista, mas a burrice parece estar ao lado dele quando perde a oportunidade de incentivar um pequeno grupo de homens que está disposto a dar a própria vida para defender a sociedade em que ele mesmo vive. Não é este tiro que vai nos derrubar. (*) Chefe de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.’



EDIR CENSURADO
Priscyla Costa

‘Justiça proibe livro de Edir Macedo sobre cultos afros’, copyright Revista Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 9/11/05

‘A igreja Universal do Reino de Deus terá de suspender a venda e recolher das livrarias o livro , Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios?, escrito pelo bispo Edir Macedo. A decisão é da juíza federal da 4ª Vara da Bahia, Nair Pimenta Bueno. A decisão, em liminar, vale para todo o território nacional. Os exemplares deverão ser recolhidos em 30 dias, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Cabe recurso.

A Ação Civil Pública foi ajuizada pelo Ministério Público Federal e assinada pelos procuradores Sidney Madruga e Cláudio Gusmão. Os procuradores alegam que, a obra é preconceituosa e discriminatória e ‘dedica quase que a totalidade de suas páginas a promover ofensas às religiões afro-brasileiras’.

O MPF sustentou que trechos da publicação tratam as religiões de origem africana como ‘seitas demoníacas’, ‘modo pelo qual o demônio age na Terra’ ou ‘canais de atuação dos demônios’. Os procuradores também afirmaram que o bispo responsabiliza a Umbanda, o Candomblé e a Quimbanda ‘pela destruição do ser humano’ e pelo uso de entorpecentes.

O livro é vendido nas igrejas, livrarias evangélicas e pelo sistema de entrega em domicílio. Em 2000, já haviam sido vendidos mais de 2 milhões de exemplares.

A advogada Adriana Guimarães Guerra, disse que a Igreja vai recorrer com o argumento de que a liminar fere a liberdade de expressão.’