Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dossiê bonitinho mas ordinário


A assessoria de imprensa do senador Renan Calheiros está distribuindo aos jornalistas um dossiê muito bonitinho e muito ordinário onde tenta colocar este observador como avalista da sua inocência.


Pagos com o dinheiro do contribuinte estes profissionais da desinformação pinçaram trechos dos comentários iniciais publicados no Observatório da Imprensa onde foram criticados os procedimentos jornalísticos da revista Veja. Em nenhum daqueles comentários tratou-se do mérito da questão: se o senador teve os seus gastos pessoais pagos por uma empreiteira ou se possuía renda pessoal para arcar com aqueles gastos.


Também foram omitidos neste dossiê os comentários posteriores deste observador nos quais se dizia de forma inequívoca que a defesa do senador Renan Calheiros seria incapaz de enfrentar um trabalho jornalístico efetivamente investigativo


Isso ficou comprovado com a reportagem do Jornal Nacional de quinta-feira (14/6), que comprovou o uso de documentos fraudados pelo presidente do Congresso Nacional e evidenciou-se de forma cabal e irrespondível a quebra de decoro parlamentar.


O senador Renan Calheiros conseguiu sobreviver ao longo de três semanas a um tipo de jornalismo descuidado. Não resistiu 24 horas a uma investigação competente.


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Jornalismo investigativo e denuncismo


Comentário para o programa radiofônico do OI, 15/56/2007


Na edição do Jornal Nacional de quinta-feira (14/6) ficou clara a diferença entre jornalismo investigativo e o denuncismo.


Enquanto a revista Veja aferra-se há três semanas às acusações da ex-namorada do senador Renan Calheiros e do seu advogado, os repórteres do telejornal preferiram gastar a sola dos seus sapatos para verificar a validade da documentação apresentada pelo senador para comprovar sua renda.


Resultado: pela primeira vez neste episódio, o presidente do Senado ficou numa situação muito incômoda, quase embaraçosa.


A generosidade do relator do processo de Renan Calheiros na Comissão de Ética do Senado até poderá livrá-lo da acusação de quebra de decoro, mas ficou muito difícil contestar as constatações da equipe da TV Globo. Isso ficou patente na própria reportagem de quinta à noite, quando o senador recusou-se a gravar uma entrevista e preferiu uma declaração por telefone.


No momento em que está novamente na moda acusar a mídia de todos os malefícios e de todas as mazelas, este minucioso trabalho de investigação desenvolvido pelos repórteres do Jornal Nacional reafirma a importância do jornalismo numa sociedade democrática. (A.D.)