Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Família Murdoch parte para o ataque

A família Murdoch trocou drasticamente de posição com o governo britânico ontem (24/4), ao assumir a ofensiva e pressionar o primeiro-ministro David Cameron e um de seus principais ministros a responder a perguntas difíceis sobre o estreito relacionamento que eles mantinham com a News Corp. Em provas apresentadas sob uma investigação oficial sobre a imprensa, James Murdoch, vice-principal executivo da News Corp., pôs a nu as íntimas relações entre sua empresa e o gabinete do ministro Jeremy Hunt, responsável por áreas como cultura e mídia, que assumiu prerrogativas quase judiciais ao decidir sobre a oferta de 8,3 bilhões de libras esterlinas apresentada pela News Corp. para assumir o controle integral da emissora britânica por satélite BSkyB.

Cameron, que apareceu na noite de ontem ao lado de Hunt, o ministro encarregado da Olimpíada de Londres, está preparado para a artilharia mais pesada a ser desfechada hoje, quando Rupert Murdoch vai depor na investigação conduzida pelo juiz Brian Leveson – conhecida como o Inquérito Leveson – sobre os procedimentos da imprensa. “Não temos a menor ideia do que ele vai dizer”, reconheceu um traumatizado parlamentar graduado do Partido Conservador, embora os recentes comentários de Rupert Murdoch no Twitter – e o tom editorial do jornal The Sun, controlado pela News Corp. – sugiram que o magnata da mídia passa por uma disposição de ânimo implacável.

O escândalo em torno dos grampos telefônicos, revelado no ano passado, pôs um ponto final à tentativa da News Corp. de comprar a BSkyB e levou à ruptura dos laços entre o governo de Cameron e o império de mídia. Ontem, porém, James Murdoch levantou o véu sobre as relações mantidas pelas duas partes em épocas mais felizes.

Pedido ao juiz

James Murdoch disse ter tido uma conversa muito rápida com Cameron sobre a oferta pela compra da BSkyB em um jantar de Natal na casa de Rebekah Brooks, ex-principal executiva da News International – braço de jornais do grupo no Reino Unido, em 23 de dezembro de 2010. O gabinete de Cameron tinha reiterado anteriormente que o primeiro-ministro não “se envolvera” em discussões sobre a oferta de compra e negou inicialmente a realização do encontro no Natal. A participação de James Murdoch na investigação foi acompanhada pela divulgação de dezenas de e-mails que detalhavam as relações entre a empresa e políticos de alto escalão, entre os quais Hunt.

Fred Michel, diretor de assuntos públicos da News Corp., reproduziu uma conversa com o gabinete de Hunt dizendo que o ministro havia recebido “orientação muito forte” de não se reunir com James Murdoch, mas que o executivo poderia telefonar para o celular de Hunt. Os e-mails estão cheios de informações particulares supostamente obtidas de assessores de Cameron, de Vince Cable, secretário de negócios, e de George Osborne, ministro da Fazenda.

Hunt disse que tinha pedido ao juiz Leveson que antecipasse sua participação na investigação sobre padrões da imprensa, acrescentando estar “confiante de que, quando eu apresentar minhas provas, o público verá que conduzi este processo com escrupuloso senso de justiça”. (Colaboraram Jim Pickard e Kiran Stacey)

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[George Parker e Ben Fenton, do Financial Times, em Londres]