Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O que faz um subeditor?

Os subeditores são muito criticados no site do Guardian e muitas pessoas não parecem ter certeza da necessidade de nossa função – exceto, talvez, arruinar um texto ou redigir manchetes maçantes/equivocadas/sensacionalistas. Porém nós somos, basicamente, a última linha de defesa – tanto para salvar um autor de um processo legal, pela falta de sentido ou simplesmente por ser ininteligível – e nossas ferramentas (manchetes, subtítulos e legendas) podem ser decisivas para que uma matéria seja lida ou ignorada.

Fui ensinada a subeditar por um maravilhoso grupo de canalhas de meia idade, todos do sexo masculino, que trabalhavam na edição de notícias de um jornal nacional – e um deles amavelmente avisou-me que ninguém gosta de subeditores. Eles tinham lá suas idiossincrasias. Quando chegava ao trabalho, muitas vezes encontrava alguém estendido no chão, tentando alguma coisa que não era exatamente ioga e uma ligeira fragrância de uísque no ar. Às vezes, alguém cantava músicas do folclore popular ou descarregava, falando bem alto, em sua mulher. De certa forma, eles pareciam os excêntricos frequentadores diurnos do bar mais próximo. Porém, uma hora antes de seu turno, cada um estava com o nariz colado ao teclado, consertando raivosamente os textos, disparando uma porção de manchetes com trocadilhos com a complexidade de definições de palavras cruzadas e selecionando alterações de última hora noite adentro por parte dos editores até chegar a hora do fechamento, quando todo mundo ia para o bar.

Linha de coerência

O ambiente mudou bastante desde aqueles dias excitantes. Alguns jornais optaram pela terceirização, enquanto outros passaram a eliminar os subeditores por completo. Agora, trabalho principalmente na internet, na editoria de “Comentários”, com uma turma bastante mais diversificada. Ocupamo-nos de um modo mais consistente – e estamos 100% mais sóbrios, com certeza –, mas os talentos fundamentais exigidos não são tão diferentes. Ainda nos preocupamos para que o texto seja legível, fazendo alterações onde sejam necessárias e checando os fatos. Não fazemos cortes no texto para que caiba, como é o caso dos jornais, mas às vezes a matéria precisa de um copidesque pesado e podemos nos equilibrar numa linha fina – entre garantir que o texto ficou claro ou aborrecer os leitores que têm familiaridade com o tópico, com explicações excessivas sobre referências ao assunto.

Trabalhando online, escolhemos e anexamos fotos e acrescentamos palavras-chaves – para colocar a matéria no índice do site do jornal guardian.co.uk – e links, tentando, sempre que possível, usar as fontes originais. Mas a grande diferença está nas manchetes. Num jornal, as manchetes podem ser líricas ou imaginativas, retendo um ar de mistério. Na internet, é necessária outra abordagem.

Em muitos casos de conexão online – um celular, por exemplo –, de início os usuários só veem a manchete e, portanto, ela deve se destacar e deixar claro o assunto de que a matéria trata. Além disso, o Google e outros motores de busca avaliam principalmente a manchete quando arquivam as matérias – embora o texto no subtítulo, a legenda e o primeiro parágrafo também sejam relevantes. Portanto, para que uma matéria seja facilmente localizada devemos incluir tais termos o mais próximo possível do início da manchete. O desafio é tornar a matéria interessante e divertida apesar dessas restrições.

Às vezes, introduzimos um trocadilho depois de superar as palavras-chaves, ou usamos as palavras-chaves como uma súbita mudança de rumo, ou algo similar. O macete é tentar integrar, de preferência de maneira coerente, as palavras-chaves numa linha de coerência. Caso você queira ler mais sobre, por exemplo, a tartaruga de Galápagos Lonesome George, você jamais irá encontrar uma matéria com a manchete “Lenta, mas sem dúvida simbólica”, que funcionaria melhor nas páginas de um jornal.

Em busca de leitores

Outra reclamação comum do trabalho do subeditor é de que a manchete e o subtítulo abordaram o assunto de um ângulo errado. Frequentemente numa matéria complexa, abordando a força do argumento em poucas palavras, pode ser nossa tarefa mais difícil e, às vezes, os leitores discordam de nossa decisão. Aqui, há um elemento de subjetividade que é um dos motivos que levam o subeditor a “revisar” seu trabalho antes que a matéria seja colocada online.

Decisões sobre fotos também podem irritar os leitores. Sempre preferimos usar imagens quando podemos – e um outro desafio é encontrar algo relevante. Às vezes, nossa opção pode parecer tangencial, mas pode representar uma oportunidade para destacar uma citação da matéria, assim como pode reforçar as palavras-chaves para os motores de busca. Há exceções – se uma matéria é delicada delicada ou filosófica, o uso de imagens pode ser indelicado ou irrelevante.

Embora alguns possam fazê-lo, não tentamos apelar para o sensacionalismo; apenas tentamos ter certeza de que as pessoas interessadas no assunto leiam o que nossos autores têm a dizer. Queremos que a nossa matéria seja lida pelo maior número de pessoas possível – não se trata de uma caçada ávida por sucessos (embora, evidentemente, queiramos ser populares…), e sim de fazer com que todo o processo valha a pena.

Faça o dia do subeditor

É claro que cometemos erros e, acertadamente, chamam nossa atenção. Mas procure vê-los como enganos, e não como conspiração. Tentamos corrigi-los assim que podemos – mas continuem apontando os erros que virem. Se você depara com algo factualmente incorreto, mande um e-mail, por favor, para o editor da coluna do leitor.

Quando comecei neste trabalho, esperava que não fosse verdade que ninguém gosta de subeditores. Ainda tenho fé de que verei, no final de uma matéria, um comentário dizendo: “Nem um único erro, factual ou gramatical, nesta matéria. Ela flui maravilhosamente, a manchete combina perfeitamente com o texto e a legenda é magnífica”. Vamos em frente, faça-nos o dia do subeditor.

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[Charlotte Baxter é subeditora do Guardian]