Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Equipes reduzidas afetam qualidade dos jornais

Quase ¾ dos 351 executivos de diários dos EUA que participaram de uma pesquisa realizada pela Associated Press Managing Editors (APME) – associação formada por editores de jornais membros da agência de notícias AP – afirmaram que sua habilidade de informar os leitores diminuiu com as equipes cada vez menores.

As pesquisas da APME são compostas, em geral, por questões específicas sobre um tema do noticiário. Esta, no entanto, procurou saber como a administração dos jornais está lidando com uma crise que vem reduzindo US$ 11,6 bilhões, ou quase ¼, dos lucros publicitários anuais desde 2005. ‘Estas são as pessoas na linha de frente desta batalha e elas não sabem qual será o desfecho da situação’, avalia Bobbie Jo Buel, presidente da APME e editor-executivo do Arizona Daily Star.

Efeitos da crise na qualidade

Segundo a pesquisa, 75% dos entrevistados admitiram que os cortes ‘afetaram de alguma maneira’ ou ‘afetaram muito’ a qualidade da cobertura de seus jornais. Apenas 20% responderam que as reduções nas equipes tiveram ‘pouco ou nenhum efeito’. Os comentários que acompanharam as respostas estavam cheios de resignação, frustração, raiva, desespero e até mesmo humor negro sobre o atual cenário da economia americana. ‘A maior fonte de lucros do nosso jornal atualmente vem de notas para tomada de imóveis, por conta de pessoas que não conseguiram pagar o financiamento’, escreveu Clifford Buchan, editor do Forest Lake Times, semanário gratuito em Minnesota.

Por conta da crise, 65% dos pesquisados revelaram que vêm demitindo funcionários desde janeiro de 2008. Quase 30% diminuíram os salários de seus empregados. Durante o ano passado, o total de pessoas empregadas na indústria jornalística era de 407 mil, um número 20% menor que em 2005, segundo o Escritório de Estatísticas de Trabalho do governo. Jornais já cortaram milhares de cargos este ano.

Concorrência com a internet

Editores estão preocupados em não ter os recursos e habilidades adequados para manter os jornais relevantes, na medida em cada vez mais leitores buscam informações na rede. Quase 68% dos entrevistados citaram a redução na equipe como o principal impedimento para mudanças; mais de 57% alegaram que não têm dinheiro suficiente para inovar; 31% disseram que seus funcionários não têm as habilidades para mudar. ‘Não vale a pena ficar reclamando do número pequeno nas equipes, pois o que tínhamos há dois anos não vai voltar’, opina Jeff Gauger, editor-executivo do The Repository, diário de Canton, em Ohio, que tem tiragem de 65 mil cópias.

Por conta da migração de leitores e anunciantes para a web, os jornais vêm tendo de cortar custos. A recessão americana que começou em dezembro de 2007 acelerou o declínio nos lucros publicitários e contribuiu para uma queda na circulação, na medida em que as famílias estão revendo o orçamento doméstico.

Muitos editores pensam agora duas vezes antes de colocar suas matérias e fotos nos seus sítios: 28% dos pesquisados afirmaram que planejam cobrar por conteúdo online; 20% disseram que irão oferecer conteúdo exclusivo nas edições impressas para recompensar os clientes que pagam pela informação.

Foco no local e na missão jornalística

Com tanta informação já disponível online gratuitamente, mais jornais estão se concentrando na cobertura de temas locais. Quase 40% dos entrevistados informaram que estão dedicando mais espaço às notícias locais e reduzindo aquele destinado às matérias nacionais e internacionais.

Mesmo com todos os problemas, 72% dos que participaram da pesquisa disseram que permaneceriam na indústria jornalística porque acreditam na ‘missão do jornalismo’. Apenas 6% revelaram ainda estar na profissão apenas por conta do salário.

Em relação ao futuro, 59% avaliaram que suas publicações encontrarão maneiras de ser rentáveis, enquanto 17% confessaram estar preocupados com a falência dos seus jornais. Para aumentar o moral da equipe, muitos entrevistados disseram que iriam oferecer maneiras de reconhecer os melhores trabalhos e servir, ocasionalmente, lanches e almoços gratuitos. Outros apenas lembram aos repórteres que eles têm sorte de ainda terem emprego, em um período em que muitos de seus colegas já foram demitidos. Informações de Michael Lied [AP, 13/5/09].