Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Faturamento das emissoras
de TV cresce 10% em 2006


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 25 de dezembro de 2006


TELEVISÃO
Keila Jimenez


TV fatura 10% a mais em 2006


‘Ano de Copa, mais dinheiro na TV. Em 2006, como era de se esperar, as emissoras aumentaram seu faturamento comercial. Foi um crescimento de cerca de 10% com relação ao ano anterior, boa parte dele atribuída ao investimento pesado do mercado no meio em temporada de Copa do Mundo.


O primeiro semestre do ano foi o melhor. Para a Globo, por exemplo, começou muito bem. A emissora teve um faturamento líquido com publicidade de R$ 957,4 milhões no primeiro trimestre, cerca de 17,6% a mais do que no mesmo período do ano passado. Já no segundo semestre, sem Copa, com horário eleitoral e diminuição dos investimentos do governo em publicidade os números caíram. Mesmo assim, ficaram dentro do esperado.


Na divisão do bolo publicitário, a TV aberta foi o veículo que abocanhou a maior fatia, que, segundo o mercado, concentrou cerca de 60% de tudo o que foi investido em mídia no ano.


Já a TV paga cresceu em faturamento no primeiro semestre o equivalente a 67% com relação ao mesmo período de 2005. Faturou cerca de R$ 245 milhões entre janeiro e junho deste ano. Mesmo assim, não passa de 3% sua participação no total dos investimentos publicitários no País.


Além da Globo, outra emissora que recheou bem seus cofres em 2006 foi a Record. A emissora cresceu em faturamento o equivalente a 35% em relação ao ano passado. Animada, anuncia ao mercado que somou um crescimento de 173% em seu faturamento nos últimos três anos e promete mais para 2007. Quer crescer 40%.


Para o próximo ano, os mais animados esperam uma melhora na economia e, com isso, um ânimo que leve a um crescimento na faixa dos 15%. Os pessimistas acreditam que esse número não chega aos 7%.


Entre-linhas


Pela bagatela U$ 2,6 milhões um anunciante pode ter sua marca em uma inserção de 30 segundos no intervalo comercial de um dos eventos da TV mais caros do mundo: a transmissão do Super Bowl nos EUA, no dia 4 de fevereiro.


A SporTV assinou acordo para transmitir, por três anos, a Copa São Paulo de Futebol Júnior. As transmissões terão narração de Jota Júnior e comentários de Maurício Noriega. A competição começa dia 6 de janeiro.


Luciana Gimenez comemora o Natal no Superpop de hoje, às 22 horas, na Rede TV!.’


MÍDIA vs. LULA
Roberto Lira


Gamecorp teve R$ 3,5 mi de prejuízo


‘A Gamecorp, empresa que tem entre seus sócios Fábio Luis Lula da Silva, filho do presidente Lula, teve R$ 3,479 milhões de prejuízo em 2005. O mau resultado aconteceu no mesmo ano em que a Telemar virou acionista da companhia, comprando 35% de participação por R$ 2,5 milhões. Também em 2005, o filho de Lula e seus sócios originais aumentaram o capital da companhia em outros R$ 2,7 milhões, depois de terem recebido recursos da Telemar a título de exclusividade pelo conteúdo que produzissem.


O balanço da Gamecorp foi publicado na seção empresarial do Diário Oficial do Estado de São Paulo no sábado, dia 23 de dezembro. A empresa é sociedade anônima, mas não tem ações em Bolsa, o que a dispensa de publicar balanços com a regularidade exigida pela Comissão de Valores Mobiliários.


Apesar do prejuízo de 2005 – superior até ao valor de sua participação no negócio -, a Telemar decidiu colocar mais R$ 5 milhões na Gamecorp no ano seguinte, dessa vez por meio de contratos de publicidade. Segundo o presidente da Gamecorp, Leonardo Eid, também em 2006 houve prejuízo. A Telemar é concessionária do serviço público de telefonia celular, regulado pelo governo federal. Antes dos negócios com a operadora, o capital do filho de Lula e seus sócios era de R$ 10 mil.


A Gamecorp, criada em outubro de 2004, produz conteúdo para o público jovem e aluga um espaço na grade da PlayTV, antiga Rede 21. Surgiu da criação da BR4, uma associação entre a empresa G4, que tinha como sócios o filho de Lula e os irmãos Kalil e Fernando Bittar, e a Espaço Digital, que pertencia a Leonardo Badra Eid.


Ela iniciou suas operações em março de 2005. O prejuízo de quase R$ 3,5 milhões desse ano se explica por uma receita operacional líquida de R$ 2,358 milhões, contra custos de serviços vendidos de R$ 2,948 milhões e despesas operacionais de R$ 2,889 milhões. A compra de ações pela Telemar entra em outra conta, a do patrimônio.


Nas notas do balanço, a Gamecorp informa que fechou o ano com R$ 49 mil em salários a pagar e R$ 31 mil de pró-labore – a retirada dos sócios.’


Clarissa Oliveira


Sócio diz que lucro virá em 2007 e política atrapalha


‘O quadro deficitário registrado pela Gamecorp em seu primeiro ano de atuação deve perdurar até o segundo semestre do ano que vem, de acordo com o presidente da empresa, Leonardo Eid, que se juntou a Fábio Luis Lula da Silva – filho do presidente Lula – e a outros sócios, para criar o negócio no final de 2004. A expectativa é de que a companhia alcance o equilíbrio das contas somente no segundo semestre de 2007.


Admitindo que as discussões políticas surgidas em torno da empresa geraram alguns obstáculos, ele insistiu que o saldo negativo das contas reflete principalmente o fato de a Gamecorp ser uma empresa jovem, inserida em um mercado completamente novo. ‘Isso tudo está dentro do planejado. A receita vem depois das despesas’, disse o empresário, destacando, entretanto, que a Gamecorp já melhorou significativamente sua situação financeira desde 2005.


Para ele, o saldo negativo daquele ano não significa que os investimentos feitos na empresa – como os aportes de uma subsidiária da Telemar – não se justifiquem. ‘Isso se justifica plenamente. Há bons negócios, que precisam de um fôlego, mas que no futuro vão dar retorno.’


Questionado sobre sobre o impacto das denúncias envolvendo a Gamecorp sobre o balanço da companhia, Eid admitiu que surgiram alguns percalços no meio do caminho. Isso se refletiu, por exemplo, na maior dificuldade na captação de recursos e investimentos, segundo o empresário. ‘Qualquer passo nosso é mais vigiado’, afirmou. Mas a empresa, de acordo com ele, tem sido capaz de lidar com a situação. ‘Conseguimos superar isso tudo.’’


INTERNET
Marili Ribeiro


Sem conexão com a publicidade


‘Apesar de todo o barulho em torno do crescimento da internet, a publicidade online continua engatinhando. Não tem mais que 2% de participação do bolo publicitário, mas segue monopolizando 100% das conversas entre os executivos do meio e os anunciantes.


Não é para menos. Já existem 22,5 milhões de usuários residenciais, que podem gastar mais tempo na rede fazendo compras do que trabalhando, segundo uma pesquisa recém-concluída. O grande desafio dos publicitários e dos anunciantes é como impactar esse público que cresce vertiginosamente.


Todos concordam que o futuro da comunicação das marcas passa pelo universo virtual. A etapa a superar é a dificuldade de lidar com a falta de controles desse ambiente, pautado pela interatividade.


‘Ao se criar uma campanha, desenvolve-se um conceito que vai perpassar todas as mensagens. Ao se propor uma ação viral, dessas que se desmembram em filmetes espontâneos no YouTube, por exemplo, ninguém pode prever o desfecho. As grandes companhias têm políticas rígidas de proteção de suas marcas e não querem correr riscos,’ diz Luiz Lara, presidente da agência Lew, Lara.


Fora os canais de venda direta, a propaganda online ainda não atrai investimentos no mesmo ritmo da presença da internet na vida das pessoas. ‘A verba ainda é pequena, não passa de 4% das receita das maiores agências, mas há ações em expansão, como a dos links patrocinados (pequenos anúncios que remetem a outras páginas) e os banners turbinados (anúncios que ganham mobilidade quando acessados)’, diz Daniel Chalfon, diretor da MPM.


Se as agências convencionais não põem a internet no foco de seus negócios, há quem se dedique somente à causa virtual. Ana Clara Cenamo, diretora do braço interativo do grupo Havas, a Media Contacts, acha que o comportamento dos anunciantes está mudando rapidamente. ‘Hoje a internet está inserida no planejamento de mídia das empresas’. diz ela. ‘Caminhamos para superar o patamar dos 2% de participação no bolo publicitário. A briga agora é atingir de 6% a 8%’.


O que facilitará o avanço da publicidade online, diz Ana Clara, é o avanço de ferramentas que rastreiam a navegação do usuário com o máximo de precisão. ‘Temos condições hoje de apresentar um relatório que municia o anunciante de todo o caminho interativo feito por quem acessou seu anúncio.’


A vice-presidente da AgênciaClick, que foi uma das primeiras a se especializar em ações online, Ana Maria Nubié, também aposta no crescimento da receita. ‘A Fiat leva 2 milhões de pessoas às suas concessionárias por ano com ações convencionais’, conta. ‘Apenas no hotsite de lançamento do EstiloConnect teve 700 visitantes únicos em um mês’. Para ela, os números demonstram a inevitabilidade da publicidade online.


Os números são impressionantes. São enviados diariamente ao YouTube 100 mil vídeos. Em janeiro, serão 100 milhões de páginas de blogs na rede. As companhias mantêm endereços eletrônicos que geram espaço de comunicação para suas marcas. Um vídeo da campanha do sabonete Dove, que ensina truques para transformar uma mulher comum em uma deusa, feito para o site da Unilever, rendeu mais de três milhões de acessos em menos de três meses.


As empresas que nasceram virtuais estão tentando fazer os anunciantes entrarem na rede. No começo do mês, o Google reuniu na sede da empresa, nos EUA, 60 dos maiores anunciantes globais para apresentar novas formas de se anunciar na internet. No Brasil, o portal Yahoo! acaba de oferecer, para as empresas que anunciarem em sua primeira página, a possibilidade de receber relatórios diários sobre o que os usuários acharam da publicidade exposta.


Nos EUA, os investimentos em publicidade online devem chegar a 30% da receita do setor publicitário este ano. Apoiada pela popularização da internet de banda larga, os anunciantes começam a se render à comunicação online, em que pese a tão temida interatividade. Acreditam que marcas construídas com alicerces sólidos não têm medo de críticas ou gozações de internautas.’


PUBLICIDADE
O Estado de S. Paulo


Monges destróem Código Da Vinci


Na linha das ações de marketing para chamar a atenção das pessoas na rua, a agência MatosGrey convocou seis figurantes, todos trajando hábitos de monges franciscanos, para rasgar outdoors em cinco pontos de grandes congestionamentos em São Paulo, como nas marginais. A brincadeira fazia parte do lançamento do DVD Código Da Vinci, filme da Sony, que é cliente da agência.


COMUNICAÇÃO NA HISTÓRIA
O Estado de S. Paulo


Os comunicadores da antigüidade


‘A comunicação é, historicamente, o motor do desenvolvimento e da liberdade pública. Esse é o mote de Hermes – A Divina Arte da Comunicação (Ed. CLA, 128 pág.), do jornalista Francisco Viana. O autor recorre a personagens da história antiga, como Hermes, Aristóteles e Alexandre, o Grande, para contar a história da comunicação ao longo dos séculos.’


MEMÓRIA / BRAGUINHA
Rodrigo Morais e Bruno Lousada


Morre o compositor Braguinha


‘Autor de mais de 400 músicas gravadas, inclusive clássicos da música brasileira como Carinhoso (com Pixinguinha) e As Pastorinhas (com Noel Rosa), o compositor Braguinha morreu ontem, às 12h05, de infecção generalizada. Carlos Alberto Ferreira Braga tinha 99 anos e foi internado no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, zona sul, depois de sentir-se mal na noite de sábado. O velório seria na Câmara dos Vereadores, no centro, e o enterro está previsto para hoje, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.


Em boletim médico assinado por João Luiz Ferreira da Costa, responsável pelo Centro de Terapia Intensiva do Pró-Cardíaco, o hospital informou que Braguinha teve um ‘quadro grave de choque séptico de origem urinária’ que não respondeu ao tratamento, iniciado já na emergência da instituição.


O jornalista Sérgio Cabral contou que a filha de Braguinha, Maria Cecília, telefonou para informá-lo sobre a morte e disse que a viúva, Astréia, de 93 anos, que também tem problemas de saúde, ainda não sabia sequer que o marido tinha sido internado. ‘Nenhum compositor do mundo teve uma carreira tão longa quanto a de Braguinha. Ele fez parte de uma geração que considero, ao lado da década 60, a mais importante da música brasileira. Braguinha foi cantor e militante da música brasileira. Ele, até mesmo, foi um dos pioneiros do cinema brasileiro, como roteirista de música, em 1930. Ele fez de tudo. Todo ano, tinha um sucesso. Se há alguém que mereça um prêmio pelo serviço prestado à música brasileira, este é Braguinha’, afirmou Cabral.


‘O Braguinha é o mais completo compositor brasileiro do século 20. Influenciou várias gerações. Ele começou o século junto com a música e levou a beleza dela até o fim do século. A obra dele é magistral, tanto como melodista quanto letrista. Era craque nos dois e teve os maiores parceiros do século, como Noel Rosa e Ary Barroso. Viveu bem acompanhado. É uma pena que ele tenha morrido antes de completar 100 anos’, disse emocionado o compositor Paulo César Pinheiro, ao saber da morte de Braguinha.’


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Talento para fazer sucesso e para projetar novos nomes


‘Um dos autores mais populares da época de ouro do carnaval carioca, nos anos 1930, o compositor Braguinha iria completar 100 anos no dia 29 março. Filho do gerente da fábrica de tecidos Confiança, ele começou a gravar cedo contra a vontade do pai, numa época em que artistas eram vistos com preconceito pela sociedade – razão pela qual ele adotou o pseudônimo João de Barro. Sua primeira canção, Vestidinho Encarnado, foi composta aos 16 anos.


Mesmo sem ter estudado música ou tocar um instrumento, ele insistiu na carreira de músico, abandonando os estudos de arquitetura. Compôs mais de 400 músicas, entre elas marchinhas carnavalescas de grande apelo popular como Chiquita Bacana e Yes, Nós Temos Banana, além de trilhas de filmes. No cinema, além de trabalhar como compositor e diretor, atuou como roteirista de filmes, destacando-se Banana da Terra (1938), em que teve como parceiro de argumento o ator e compositor Mário Lago. Braguinha também assinou as versões dubladas dos temas musicais dos desenhos animados de Wal Disney, sendo pioneiro na gravação de canções e historinhas destinadas ao público infantil, para o qual criou o selo Disquinho, lançando adaptações de clássicos como Chapeuzinho Vermelho e Pinóquio.


Empreendedor, Braguinha ocupou cargo de destaque na indústria fonográfica, trabalhando como diretor artístico da Columbia. Nos anos 1940 e 1950 ele foi responsável pela escolha dos artistas e pelo repertório da gravadora, uma das três maiores do Brasil na época.


Quem impulsionou a carreira cinematográfica de Braguinha foi o americano Wallace Downey, diretor de Estudantes (1935). Sua atuação como roteirista é, no entanto, a faceta menos conhecida do artista, que escreveu o argumento e compôs a música desse filme estrelado por Carmen Miranda e acompanhada pelo bando da Lua. Braguinha foi um dos grandes nomes da Cinédia, assinando argumentos e roteiros com o médico Alberto Ribeiro, seu parceiro mais constante, também co-autor de canções como Sonhos Azuis, composta em 1936, um ano antes de Carinhoso (1937).


O ano mais marcante da vida de Braguinha seria justamente o de seu casamento com Astréa Rabelo Catolino, hoje com 93 anos. Nesse mesmo ano ele compôs três marchinhas famosas da MPB: Pastorinhas (com Noel Rosa), Touradas em Madri e Yes, Nós Temos Banana, manifesto pré-tropicalista regravado por Caetano Veloso e usado pelo diretor José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O Rei da Vela. Também em 1938 ele assinou a dublagem do primeiro desenho de longa-metragem da história do cinema, Branca de Neve e e os Sete Anões, de Walt Disney, o que lhe garantiria um contrato para dublar as músicas de outros três clássicos do desenhista e produtor americano: Pinóquio (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942).


Mas Braguinha será mesmo lembrado por Carinhoso e Copacabana, suas músicas mais gravadas. Carinhoso nasceu em 1937 por encomenda da cantora Heloísa Helena, que lhe pediu uma letra para um choro-canção instrumental de Pixinguinha. Copacabana foi composta um ano antes da guerra terminar, em 1944, recebendo uma histórica gravação de Dick Farney (considerada precursora da bossa nova) com arranjos do maestro e compositor Radamès Gnatalli, dois nomes projetados pelo Braguinha produtor musical da Continental, que substituiu a Columbia em 1943.


Como diretor artístico do selo, Braguinha teve importância decisiva na carreira de grandes nomes da música brasileira, sendo o principal dele Antonio Carlos Jobim. A Sinfonia do Rio de Janeiro, ambiciosa composição de Tom Jobim, foi gravada pela primeira vez por sua iniciativa. Braguinha lançou, além dele, nomes como Lúcio Alves, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney e Jamelão.


Braguinha começou sua carreira no lendário Bando de Tangarás, ao lado de Almirante e Noel Rosa. Foi o primeiro grupo a usar batucada na história do samba com a música Na Pavuna (anos 1930, quando o samba ainda era visto como divertimento de malandro). Sem alimentar preconceitos musicais, ele transitou pelo samba-canção de inspiração rural (Mané Fogueteiro) e tentou acompanhar a evolução comportamental da juventude dos anos 1960, compondo músicas como Garota Saint Tropez).


As criações inesquecíveis


CHIQUITA BACANA


TURMA DO FUNIL


BALANCÊ


TOURADAS EM MADRI


A MULATA É A TAL


YES, NÓS TEMOS


BANANAS


VAI COM JEITO


LINDA LOURINHA


CARINHOSO


A CANOA VIROU


A SAUDADE MATA


A GENTE


TWIST NO CARNAVAL


APAGA A VELA


AS PASTORINHAS


COPACABANA


PIRATA DA PERNA DE PAU


UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO


MORENINHA DA PRAIA


DEIXA A LUA SOSSEGADA


TEM GATO NA TUBA


ANDA LUZIA


CANTORES DO RÁDIO


CADÊ MIMI?


VESTIDINHO ENCARNADO’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 25 de dezembro de 2006


SEGUNDO MANDATO
Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite


Lula cria vocabulário próprio em discursos


‘O ‘dado concreto’ é que ‘nunca na história deste país’ um presidente esteve tão ‘convencido’ de que não existe ‘mágica na economia’, seu governo está fazendo uma ‘revolução na educação’ e o ‘século 21 será da América Latina’ -e tudo isso é ‘extraordinário’.


Os termos e as expressões acima são algumas das mais comuns nas 1.127 falas oficiais, a maioria delas de improviso, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez até o último dia 15 em seu mandato.


Em discursos, pronunciamentos ou declarações, ele recorreu a elas centenas de vezes para embasar sua retórica, diante de platéias tão distintas quanto sem-terra e banqueiros, seja em lançamentos de obras ou balanços de programas.


A média de Lula é próxima a um discurso a cada dia útil da semana. Já houve casos em que o petista falou ao microfone por quatro vezes num intervalo de 12 horas. Neles, adotou artifícios retóricos, amparou-se largamente nas metáforas, principalmente nas futebolísticas, e demonstrou habilidade oratória e espontaneidade ao deixar seu linguajar acessível a todas as classes sociais.


Mas a quantidade de improvisos e de discursos longos, alguns deles com mais de 40 minutos, também acarreta inconvenientes ao presidente, como gafes, inflação de ações e de promessas de governo e descontrole nos ataques à mídia e à oposição. Na semana passada, por exemplo, Lula causou reação negativa em políticos, acadêmicos e personalidades ao dizer que pessoas com mais de 60 anos que permanecem de esquerda têm problemas.


Vocabulário


Expressões como ‘dar um cheiro’, ‘bala na agulha’, ‘nego pisa na canela’, ‘café no bule’ e ‘colher de chá’ são comuns em suas falas, assim como locuções latinas, como ‘sine qua non’, ‘pari passu’ e ‘sui generis’, e um vocabulário específico no qual busca uma sintonia com os presentes, como ‘bagrinho’, ‘cascudo’, ‘cavoucar’, ‘desgramado’, ‘véio’, ‘véia’, ‘jumbão’, ‘léguas’, ‘matutando’, ‘taco’ e ‘urucubaca’.


Lula, por exemplo, repete que ‘dor de dente é coisa de pobre’ e somente são contra a transposição das águas do rio São Francisco aqueles que abrem a geladeira e têm ‘água francesa Perrier’.


Para Célia Ladeira, 60, professora da Faculdade de Comunicação da UnB (Universidade de Brasília) e especialista na análise de discursos, Lula adquiriu um vocabulário próprio ao longo dos anos e o utiliza de forma empírica em suas falas como presidente.


‘Não há falsidade em seu jeito de se expressar. De tanto ouvir ou de ler o que foi escrito por seus conselheiros, ele adquiriu um vocabulário próprio, se colocando no mesmo nível social das pessoas.’


Em cima de um palanque, Lula se transforma, principalmente em eventos com a presença de sindicalistas, metalúrgicos e movimentos sociais. É comum iniciar um discurso num tom de voz baixo, prometendo falar pouco e garantindo que apenas lerá algumas palavras sem atacar ninguém.


Mas, passados alguns minutos, o presidente joga o texto fora, discursa aos gritos e de improviso e, em clima de histeria dos presentes, ataca ferozmente seus opositores. ‘Ele utiliza essa capacidade de dizer o que sente, fazendo isso de forma bem inconsciente, primitiva e autêntica. Outros políticos tentam fazer o mesmo, mas com um objetivo calculado de adotar o estilo para conseguir algo em troca’, diz a professora.


Até o portunhol chegou aos discursos. Na América Latina, para buscar aproximação com os presentes às solenidades, Lula costuma usar palavras em castelhano. Exemplos: ‘Tinham o direito de gritar que estavam com hambre [fome], mas não tinham o direito de comer’ e ‘Vim aqui [na Venezuela] em 2003. Hace [faz] três anos, esta ponte estava apenas começando’.


Inês Signorini, 55, professora de lingüística aplicada da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que Lula se convenceu de que seu modo de falar é adequado e, ao longo dos anos, foi aprimorando seu estilo, sem vestir uma máscara.


‘A língua dele está em processo, agregando palavras’, diz a professora, que afirma enxergar uma evolução nas falas de Lula, numa comparação com tempos de sindicalismo e de candidato petista nos anos 80 e 90. ‘Hoje as frases fluem mais, e ele erra menos gramática. O trunfo dele é essa linguagem complexa’, declara.


Lula tem o costume de brincar com o público quando adota termos novos. Foi assim, em julho passado, em um evento sobre biodiesel no Planalto, ao falar sobre o trabalho de ‘transesterificação’. ‘Eu passei três meses para aprender a falar essa palavra sem gaguejar’, disse.’


MEMÓRIA / BRAGUINHA
Mário Magalhães


Morre João de Barro, o Braguinha, aos 99


‘A longevidade do compositor Braguinha, morto ontem no Rio aos 99 anos, não foi apenas física: autor de sucessos maiores da música brasileira -como ‘Carinhoso’ (com Pixinguinha) e ‘Pastorinhas’ (com Noel Rosa)-, o artista carioca se lançou na década de 1920, consagrou-se na de 1930 e alcançou o século 21 com crianças aprendendo suas canções das histórias de ‘Chapeuzinho Vermelho’ e de ‘Os Três Porquinhos’.


Conhecido como João de Barro em boa parte da carreira, Carlos Alberto Ferreira Braga morreu às 12h05 de ontem, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Pró-Cardíaco.


Estava ao lado da filha e de netos. Completaria cem anos no dia 29 de março. ‘Vovô se foi de forma serena’, disse o neto Carlos Alberto Braga Goes. O velório estava previsto para a Câmara Municipal. De lá o féretro sairia às 16h de hoje para o cemitério São João Batista.


A nota do médico João Luiz Ferreira Costa disse que Braguinha morreu devido a choque séptico (infecção generalizada) de origem urinária. Ele chegou ao hospital anteontem, com sinais elevados de glicose.


O último susto na saúde ocorrera havia um ano, quando um tombo provocou um ferimento na testa. Vítima da doença de Alzheimer, o compositor se afastara da vida social.


Ele, sim, mas não suas criações. Gigante da música popular, Braguinha assinou uma obra marcada tanto pelo sucesso instantâneo como pela capacidade de se perpetuar.


Mudou o nome para João de Barro porque o pai não queria o sobrenome da família associado ao mal falado meio boêmio.


Suas músicas marcaram o país. Na Copa de 50, o Maracanã celebrou os 6 a 1 do Brasil sobre a Espanha entoando a marchinha ‘Touradas em Madrid’. ‘Copacabana’, na voz de Dick Farney, virou hino do bairro.


Foi cantado por intérpretes como Orlando Silva, Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Jorge Goulart, Lúcio Alves, Maysa, Elizeth Cardoso e Elis Regina.


Se as parcerias com Noel e Pixinguinha nunca sumiram, ‘Balancê’ é exemplo dos ‘renascimentos’: estourou com Carmen Miranda no final da década de 1930 e ressurgiu com Gal Costa na de 1970.


Em 1984, a Mangueira venceu o Carnaval com o desfile ‘Yes, Nós Temos Braguinha’. Em 2007, a escola infantil Mangueira do Amanhã o repetirá, o que já estava previsto.


Roteirista de filmes, o compositor começou nos anos 1940 a adaptar fábulas e histórias infantis, compondo as trilhas.


Até hoje há quem pense que os temas do Lobo Mau, da Chapeuzinho, dos Três Porquinhos, dos Sete Anões e de tantos personagens têm origem no folclore, com origem desconhecida’. São, na verdade, obra inesquecível de Braguinha.


REPERCUSSÃO


ZUZA HOMEM DE MELLO, musicólogo e crítico musical: ‘Ele teve importância vital nas marchinhas carnavalescas, ocupando com Lamartine Babo a posição de maior destaque nessa arte. ‘Chiquita Bacana’ é a melhor marchinha da história. E ‘Copacabana’ deu novo rumo à música brasileira.’


LECI BRANDÃO, cantora: ‘Ele foi um dos compositores que mais se dedicou à música carnavalesca, coisa que hoje quase não existe mais’


ARLINDO CRUZ, sambista: ‘Tinha a qualidade de escrever sobre o que o povo gosta de ouvir. Não queria ser rebuscado, mas era muito bonito’


NEI LOPES, compositor: ‘Braguinha atravessou várias etapas da MPB, firmou-se como mestre e viveu uma trajetória luminosa. Como compositor, agradeço pela lição que deixou e pela beleza de sua obra’


JOÃO BOSCO, cantor: ‘Braguinha entendeu o Brasil como poucos e traduziu o país para as pessoas em geral, sem distinção de classe. Fez composições para todas as faixas etárias, para todas as épocas do ano. Braguinha tomou o Rio para si e falou de certos lugares com inspiração e intimidade, como Copacabana. Quem não gostaria de a qualquer momento estar cantando pelas ruas ‘A estrela dalva/ No céu desponta/ E a lua anda tonta / Com tamanho esplendor…’


MARLBORO, DJ: ‘Não existe compositor de música popular mais pop no Brasil do que o Braguinha’


PERCIVAL PIRES, presidente da Mangueira: ‘A Mangueira está de luto. Nos anos de ouro do Rio, ele preparou todas as lenhas que incendiavam a fogueira do Carnaval. Foi inspirada nas obras dele que a Mangueira saiu campeã no Carnaval de 84. A Mangueira do Amanhã vai reeditar o enredo ‘Yes, nós temos Braguinha’. Esperávamos contar com ele, infelizmente não deu’


NANA CAYMMI, cantora:


‘É o compositor mais importante do país, com marchinhas, sambas-canção. Não tem nada mais bonito do que ‘Copacabana’. Era um doce de pessoa. Hoje o céu está em festa, Deus quis ouvir ‘Carinhoso’ de perto’’


Carlos Rennó


Compositor foi o mestre das marchinhas


‘SE FÔSSEMOS aplicar aos grandes criadores da música brasileira a terminologia poundiana para as espécies de artistas, poderíamos dizer que, se Lamartine Babo inventou as marchas de Carnaval, João de Barro, o Braguinha, seu sucessor e parceiro, foi o mestre do gênero. Mas Braguinha, com Alberto Ribeiro como principal colaborador, também excursionou por outros terrenos, como os da valsa, da música junina e do samba-canção. Aliás, especialmente com ‘Copacabana’, ele, que compunha assobiando, se alinhou entre os antecessores da bossa nova. Muito mais do que pré-bossanovista, porém, Braguinha foi pré-tropicalista, como atesta ‘Yes! Nós Temos Banana’, marcha em que se percebe o emprego crítico da paródia, de que iriam se utilizar criativamente, 30 anos mais tarde, os artífices do tropicalismo. A precursora tropicalidade de Braguinha é também evidenciada por Caetano numa gravação, com Gil, da versão do bolero ‘As Três Caravelas’. Braguinha se notabilizou como criativo versionista, à moda antiga (sem muito compromisso com o sentido da letra original), de canções estrangeiras. Outra bela atuação sua nesse campo foi ‘Sorri’ (‘Smile’, de Chaplin), gravada por Djavan. Em uma bem-sucedida tentativa de revitalizar a marcha de Carnaval no início dos 70, Caetano ainda compôs ‘A Filha da Chiquita Baca’, obviamente aludindo à personagem-título, ‘existencialista, com toda razão’ (Chiquita era chique), da marcha de Braguinha. Uma demonstração da durabilidade da sua obra é a diversidade de releituras que ela recebeu. Algumas estouraram com Chico Buarque, Nara Leão, Bethânia e Gal.


CARLOS RENNÓ é letrista e jornalista, organizador de ‘Gilberto Gil Todas as Letras’ (Companhia das Letras)’


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