Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Fernando Rodrigues

Cinismo e publicidade estatal

‘BRASÍLIA – É excelente o debate a respeito do volume de publicidade estatal existente no Brasil. O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) divulgou uma lista com gastos de estatais federais em propaganda. No ano passado, essas empresas torraram R$ 1,4 bilhão em campanhas publicitárias, segundo dados obtidos pelo tucano. ‘Isso foge a qualquer critério de razoabilidade’, reagiu o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin. Fica, porém, uma dúvida sobre a indignação seletiva de Alckmin. Em 2002, FHC fez uma maciça campanha em jornais, revistas, rádios e TVs sobre os oito anos do Plano Real (a propaganda do ‘oitão’, como ficou conhecida). A brincadeira foi paga por empresas estatais. Nesse caso, pergunta-se: houve ‘critério de razoabilidade’? Agora, a Petrobras fez sua campanha para propagar a quimera da auto-suficiência (o país nunca será independente; sempre será necessário importar determinados tipos de petróleo e de seus derivados). Pelo critério tucano, imagina-se, faltou razoabilidade. Durante os anos FHC, uma propaganda estatal descobriu um brasileiro engraxate nos EUA. Arrancou do rapaz uma declaração de amor ao Brasil: disse que voltaria ao país, pois o real dava a ele a segurança que não tivera no passado. O comercial foi pago com dinheiro público e, como asseveraria Alckmin, com ‘razoabilidade’. Cinismo à parte -os tucanos tiveram o cuidado de entregar para a mídia apenas os gastos petistas, de 2004 para cá-, a discussão é útil para fixar paradigmas. Admitamos que o PSDB, contrito, faz hoje um mea-culpa e promete não produzir mais esse tipo de propaganda inútil. Ótimo. Resta agora arrancar de Lula o mesmo compromisso. Difícil. Essas coisas os políticos só fazem quando estão na oposição.’



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TSE proíbe vídeo da CUT que faz elogios a Lula

‘Uma liminar do ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Ari Pargendler determinou que a CUT retirasse de seu site o programa ‘ReperCUTe’, veiculado na TV neste mês, e proibiu a central de divulgá-lo novamente.

Ele concedeu a liminar a pedido do PSDB e do PFL. Os dois partidos disseram que a CUT fez propaganda eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que mostrou os adversário de maneira negativa, o que é irregular, porque a lei só autoriza a publicidade eleitoral após 6 de julho.’



ALCKMIN SOB SUSPEITA
Frederico Vasconcelos

Associação de acupunturista devolve verba

‘A Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, presidida pelo acupunturista Jou Eel Jia, que atende Geraldo Alckmin, devolveu R$ 60 mil à Companhia de Transmissão e Energia Elétrica Paulista, alegando que não conseguirá editar neste mês a revista ‘Ch’An Tao’, patrocinada pela estatal.

A assessoria de Jia diz que a devolução foi ‘voluntária’ e que vários anunciantes privados suspenderam o apoio, o que inviabilizou a nova edição.

A suspeita de uso de dinheiro público para promover o ex-governador na revista levou o Ministério Público Estadual a abrir investigação contra Alckmin, para apurar eventual improbidade administrativa. Em 2005, a Cteep fez outro pagamento de R$ 60 mil para a revista de Jia.

Na edição de abril, patrocinada pela Sabesp, Alckmin aparece na capa e em nove das 48 páginas. Como a Cteep e a Sabesp são subordinadas à secretaria de Energia, o titular da Pasta, Mauro Arce, será convocado para prestar esclarecimentos na Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia.’



TV DIGITAL
Patrícia Zimmermann

Costa confirma padrão japonês para TV

‘O ministro Hélio Costa (Comunicações) confirmou ontem que o governo brasileiro fechou um acordo com o Japão para a implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD).

Costa disse que o ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, estará no Brasil no próximo dia 29 para participar, juntamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da solenidade em que será feito o anúncio oficial da escolha brasileira. A Folha noticiou a escolha do padrão japonês no início de março.

O ministro afirmou que o acordo prevê o uso de tecnologia japonesa com a incorporação de inovações desenvolvidas por pesquisadores brasileiros.

Entre essas inovações estão o sistema de compressão de vídeo (MPEG-4), o sistema operacional (middleware) e aplicativos (softwares), que seriam agregados ao sistema de modulação japonês no Brasil.

Segundo o representante do padrão japonês no Brasil, Yasutoshi Miyoshi, o acordo a ser assinado trata também do financiamento do JBIC (banco japonês de fomento) para a implantação da TV digital no Brasil e da proposta de trabalho conjunto para viabilizar a modernização da indústria eletrônica brasileira.

Miyoshi evitou dar detalhes da proposta japonesa negociada entre segunda e quarta-feiras desta semana, quando técnicos da indústria e dos governos japonês e brasileiro estiveram reunidos no Itamaraty, cujos termos foram aprovados ontem pelo governo brasileiro.

Sobre a instalação da fábrica de semicondutores (chips) no Brasil, o documento deverá tratar de um compromisso de formação de mão-de-obra especializada e da criação de condições no país que viabilizem a implantação dessa indústria.

Vazamento

Costa, que não está em Brasília, concedeu a entrevista após o vazamento da notícia sobre o acordo com o Japão no início da tarde, quando Miyoshi revelou que o governo do país asiático já havia tomado conhecimento da decisão.

A Folha apurou que o vazamento causou mal-estar no governo brasileiro, que considerou que a escolha da tecnologia seria uma decisão de governo, e que, portanto, a ‘palavra final’ caberia a Lula.

O embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, recebeu a notícia por meio de telefonema do diretor do Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Itamaraty, embaixador Antonino Marques Porto e Santos, na quinta-feira pela manhã.

Segundo Miyoshi, após o Brasil escolher o sistema, que hoje está em funcionamento apenas no Japão, cresce a possibilidade de conquista de novos mercados.

A ausência de tecnologia que permitisse a mobilidade foi um dos principais argumentos do governo brasileiro para descartar o sistema americano, que tinha como principal qualidade a alta definição.

Já o sistema europeu foi defendido principalmente por produtores de conteúdo, como uma oportunidade de abertura do mercado de televisão por privilegiar a multiprogramação, e também a entrada de novas emissoras no mercado, o que não agrada às grandes emissoras.

O sistema japonês, que tem a preferência das emissoras de TV brasileiras, saiu em vantagem porque era o que melhor atendias às condições impostas pelo governo brasileiro, permitindo alta definição, mobilidade (no ônibus), portabilidade (no celular) e interatividade. O avanço das negociações envolvendo contrapartidas principalmente para a indústria brasileira pesaram na escolha.

Toda essa tecnologia, com imagem e som de alta qualidade, possibilidade de interatividade, entre outras vantagens, no entanto, ainda vai demorar um pouco para chegar aos lares brasileiros. As emissoras de TV estimam que poderão iniciar as primeiras transmissões da TV digital em uma ou duas capitais brasileiras seis meses após o anúncio oficial do governo, se forem definidas agora as especificações técnicas do SBTVD.’



AFEGANISTÃO
Eduardo Simões

Livro-reportagem narra a dura vida das afegãs

‘Nascida em 1970, filha de uma mãe feminista e um pai socialista, a jornalista norueguesa Asne Seierstad não poderia, nem quis livrar-se das opiniões liberais que marcaram sua formação. Ao ver como as afegãs eram tratadas como cidadãs de segunda classe, Seierstad voltou sua pena para o homem que a acolheu em Cabul, para escrever um livro sobre uma família afegã, após a queda do regime Taleban. Foi acusada por ele de traidora, por retratá-lo como um ‘tirano’, e de etnocêntrica, por alguns críticos, pelo viés ocidental com que observou os costumes afegãos.

‘Eu não tento afirmar que meu ponto de vista é melhor ou mais justo. Mas acredito que é importante escrever sobre o sofrimento das pessoas. E acredito em direitos humanos universais. No Afeganistão, estes direitos são violados diariamente. Isto é tomar partido?’, indaga a jornalista.

A resposta para pergunta acima pode estar no relato, com tons literários, dos três meses em que Seierstad conviveu com a família afegã. ‘O Livreiro de Cabul’, best-seller já vendido para mais de 30 países, chega ao Brasil com chances de se tornar um novo ‘O Caçador de Pipas’, romance com tintas autobiográficas de Khaled Hosseini, que também tem o Afeganistão como pano de fundo.

Livro-documentário

O livreiro do título é Sultan Khan (nome fictício), homem a quem Seierstad conheceu após meses cobrindo a guerra contra os talebans. A jornalista viu nele -um homem aparentemente liberal, que resistira aos comunistas e ao Taleban para manter sua livraria aberta- a oportunidade de revelar outra faceta do país, diferente da dos comandantes, soldados e vítimas diretas da guerra a quem já havia entrevistado.

‘Uma família típica afegã seria analfabeta, estaria no campo, lutando para sobreviver, uma vida que não mudaria muito com a queda do regime.

Na família do livreiro os membros eram mais abertos, poderiam refletir sobre as mudanças no país etc. E, ao mesmo tempo, quando se trata de tradições, regras e costumes, eles eram típicos afegãos, embora tivessem mais dinheiro do que a maioria da população’, diz.

Na casa do livreiro, Seierstad conviveu com sua esposa, cinco filhos e outros parentes, com quem dividia quatro cômodos.

Chegou lá com a ‘roupa do corpo’ e, ao mesmo tempo em que sofreu com a burca (‘aperta e dá dor de cabeça, enxerga-se mal através da rede bordada’), tirou proveito da indumentária para circular incógnita em ônibus, mercados, e até um banho público de Cabul.

Sem falar o dialeto persa da família, a jornalista pôde, por sorte, falar em inglês, com alguns membros. Anotou relatos sobre suas infâncias, casamentos e memórias da guerra. Jamais se intrometeu em conflitos, mesmo quando testemunhou o filho adolescente de Khan ser obrigado a trabalhar 12 horas por dia, sem poder estudar. Ou quando seu anfitrião decidiu ‘exilar’ a primeira mulher no Paquistão, para casar-se com uma menina de 16 anos.

‘De que adiantaria tentar mudar uma família afegã? Preferi ficar com minha boca calada e escrever o que ouvia e via.

Mas é claro que algumas vezes fiquei com vontade de gritar que algo era injusto. Mas não fiz isso, escrevi o livro ao invés.’

A jornalista não só escreveu o livro, como partiu para uma ação mais concreta para ajudar os afegãos: doou US$ 200 mil (cerca de R$ 450 mil), parte dos ganhos com seu livro, para construir uma escola para 600 garotas nos arredores de Cabul.

Khan, cujo verdadeiro nome é Shah Mohammad Rais, ameaçou processar Seierstad, mas trocou o tribunal por um contrato com um editor norueguês, para um livro com o título ‘Eu Sou o Livreiro de Cabul’.

‘Ele que escreva o livro e os leitores vão julgar. É melhor do que tentar limitar a minha liberdade de expressão e mais democrático’.

O LIVREIRO DE CABUL

Autora: Asne Seierstad

Tradução: Greke Skevic

Editora: Record

Quanto: R$ 45,90 (320 págs.)’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Telefônica entra no mercado de TV paga

‘A Telefônica vai entrar no mercado de TV paga brasileiro até o final deste ano. A multinacional se prepara para lançar em São Paulo serviço inédito de distribuição de vídeo pela sua rede de internet de banda larga.

É a primeira vez que a concessionária de telefonia fixa confirma seu interesse no mercado de televisão brasileiro. Em nota à Folha, admite que ‘está desenvolvendo estudos e testes para prestar serviços diferenciados sobre rede IP de banda larga no Estado de São Paulo, incluindo IPTV’.

IPTV é a sigla para TV sobre protocolo de internet. É o ‘troco’ das teles à entrada das operadoras de cabo (como a Net) no mercado de telefonia fixa.

A Telefônica lançou na semana passada no Chile uma operação, chamada de Telefónica TV Digital, que combina TV paga, telefone fixo e internet rápida. No Chile, a Telefônica anunciou que em breve o serviço chegará ao Brasil, Argentina, Colômbia e Peru.

Inicialmente, a Telefônica não irá distribuir no Brasil canais pagos como conhecemos, mas apenas programas e filmes específicos, à la carte. Dessa forma, se livra das obrigações da TV a cabo, como carregar canais obrigatórios, e não precisa disputar concessões.

A oferta de IPTV pelas teles (Telemar e Brasil Telecom também a farão) já movimenta o mercado de produção independente para TV, que prepara um seminário sobre o assunto.

GLOBO APELA 1 A Globo está apelando para uma ‘baixaria chique’ na tentativa de segurar o telespectador do sexo masculino que está assistindo a ‘Cobras & Lagartos’ pela primeira vez, atraído pela Copa. Nesta semana, escalou Taís Araújo para um elegante striptease na novela.

GLOBO APELA 2 Pelo menos por enquanto, a tática está dando certo. A audiência da novela subiu de 32 para quase 40 pontos.

RECORD APELA A Record também tem lançado mão da ‘baixaria chique’ _aquelas cenas de erotismo, mas sem muita nudez_ em suas novelas. Mas isso tem causado muito desconforto na Igreja Universal do Reino de Deus. Vai contra os princípios morais dos evangélicos.

CONTRACULTURA 1 O Ministério da Cultura parece uma ilha dentro do governo federal. Já faz meses que o presidente Lula decidiu que a TV digital no Brasil terá a tecnologia japonesa.

CONTRACULTURA 2 Mas, em um seminário anteontem, o coordenador de políticas digitais do MinC, Claudio Prado, declarou total apoio ao sistema europeu, o único, para ele, que permitirá ‘uma TV digital pública’.

LINHA DE SHOWS O ‘Caldeirão do Huck’ tem dois novos diretores-gerais: Rodrigo Cebrian e Leandro Neri. Os profissionais substituem Mário Márcio Bandarra, que vai assumir ‘O Profeta’ no lugar de Mauro Mendonça Filho, que não suportou o supervisor de texto, Walcyr Carrasco.’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

Terra Magazine

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