Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Folha de S. Paulo

AUTO-REGULAÇÃO
Folha de S. Paulo

Mídia deve se auto-regular, diz Mendes

‘O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, defendeu que os veículos de comunicação criem uma ‘auto-regulação’ para tratar temas específicos, como o direito de resposta.

Mendes disse que ‘a regra é a liberdade de expressão, mas que há casos em que a Justiça tem que intervir’.

‘O exercício do direito de resposta nos nossos jornais e nos nossos meios de comunicação é extremamente difícil, pelo menos de forma voluntária’, afirmou ele. E, se isso é assim, disse Mendes, é preciso recorrer à Justiça, o que demora.

Questionado se poderia haver uma outra forma de resolver essa questão que não fosse pela lei de imprensa, disse: ‘Os próprios órgãos de mídia poderiam trabalhar num processo de auto-regulação’.’

 

CERVEJA
Folha de S. Paulo – Editorial

Propaganda a ser limitada

‘É GRANDE a força do lobby de cervejarias, TVs e agências de propaganda. Mais uma vez, conseguiu evitar que a publicidade de cervejas fosse equiparada à das demais bebidas alcoólicas e proibida das 6h às 21h.

O projeto de lei do Executivo restituindo um pouco de lógica à legislação que regula a propaganda de álcool estava pronto para ser votado. Mas um acordo entre parlamentares e governo conseguiu retirar a urgência da proposta, que agora fica sem prazo para ir a plenário. A julgar pelos precedentes, isso dificilmente ocorrerá antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto, ou quem sabe da Copa de 2014.

Em termos de saúde pública e ciência, não há justificativa para tratar a publicidade de bebidas alcoólicas de qualquer gradação de forma diversa da do tabaco, que é vedada quase totalmente.

O álcool é uma droga psicoativa com elevado potencial para provocar dependência. Estudo da Organização Mundial da Saúde atribui ao abuso etílico 3,2% das mortes ocorridas no planeta (cerca de 1,8 milhão de óbitos anuais). Metade delas tem como causa doenças, e a outra metade, ferimentos. No Brasil, dados da Secretaria Nacional Antidrogas (2005) apontam que 12,3% da população entre 12 e 65 anos pode ser considerada dependente.

Não se trata de proibir o consumo de álcool, mas esses números deixam claro, por outro lado, que ninguém deveria ser estimulado a beber. A propaganda é uma atividade legítima para a esmagadora maioria dos produtos e serviços existentes. O caso das drogas lícitas é uma exceção. A Constituição Federal, em seu artigo 220, prevê restrições a esse tipo de publicidade.

Não faz, portanto, sentido a campanha que a Associação Brasileira de Agências de Publicidade mantém desde o final de abril afirmando que a restrição à publicidade de cervejas teria o mesmo efeito que proibir ‘a fabricação de abridores de garrafa’.

Louvar as virtudes reais ou imaginadas de abridores de garrafa não costuma levar jovens a consumir quantidades crescentes de drogas psicotrópicas. Já a propaganda de cerveja o faz.’

 

MÍDIA CEGA
Eliane Cantanhêde

Crimes há, criminosos não há

‘BRASÍLIA – Em março de 1998, as queimadas em Roraima evoluíram para o que se chamou de ‘megaincêndio do século’, mas a primeira foto de capa dos jornais foi de uma agência estrangeira. Só aí a imprensa nacional tomou-se em brios e deu o devido destaque.

O Norte volta à pauta. O principal mais-que-suspeito mandante do assassinato da irmã Dorothy foi inexplicavelmente (ou não?) inocentado, para espanto geral e vergonha brasileira, reforçados pela informação da Comissão Pastoral da Terra de que, de 1971 a 2007, houve 819 mortes por conflitos agrários no Pará, mas não há hoje um só mandante preso. Crimes houve, criminosos não há.

A reserva Raposa/Serra do Sol também virou um palco de guerra, com fazendeiros e índios armados, as autoridades da região divididas, a polícia sem saber para onde (e de quem) correr, enquanto o Planalto finge que é pró-todos, e o Supremo não decide pró-ninguém.

E o que dizer dos mortos no naufrágio de um navio que transportava pessoas como gado, sem registros legalizados, dando de ombros para a fiscalização e até para as multas? Foram 45 (ao que se saiba) pessoas, 45 brasileiros mortos. E pode ter mais. Quantas embarcações estão irregulares? Quantos passageiros estão ao deus-dará?

Vimos, com todo o horror que o caso merece, uma menina de cinco anos ser espancada, esganada e jogada do quinto andar de um apartamento de classe média em São Paulo. A comoção não pára nunca. Mas uma menina índia de cinco anos foi morta por dois homens armados que invadiram sua aldeia no Maranhão, na segunda-feira, na calada da noite. E a comoção, se houve, durou um dia, talvez algumas horas.

O Brasil é maior do que sua mídia, do que sua imprensa. Maior do que São Paulo, Rio, Brasília. Maior do que PT e PSDB. Maior do que Lula, Dilma, Agripino e dossiê. Mas continua um gigante sonolento quando quem sofre é o pobre, a periferia.

Acorda, Brasil!’

 

Janio de Freitas

Cobertura amazônica

‘O CONFRONTO de opiniões que acompanha o confronto físico de índios e fazendeiros (com seus jagunços), na reserva indígena Raposa/Serra do Sol, suscita dois aspectos que demonstram quanto o Brasil ignora, por desprezo, a mais fascinante parte do seu território -e, por isso mesmo, motivo da mal disfarçada ambição de interferência pelas estratégias das forças internacionais. Sejam nações-potências ou organizações sob seu domínio.

As constatações feitas agora pelo Ibama, e que o levam a multar em estratosféricos R$ 30 milhões o fazendeiro Paulo Cesar Quartiero, expõem o tipo de ‘empreendedorismo’ (como dizem os economistas da riqueza e seus jornalistas) predominante no ‘desenvolvimento sustentável’ da Amazônia e regiões adjacentes. Devastação, pelo fazendeiro, de quase três vezes a área ambiental autorizada, incorporando a propriedade de uma exploração territorial equivalente a muitos dos municípios brasileiros. No caso, exploração com arrozais. Mas outras culturas e a criação de gado não estão isentas das mesmas vastidões de devastação ilegal. Tantos desses ‘empreendedores’, se têm algum título de propriedade, movidos a incentivos fiscais e outros, além do apoio de infra-estrutura construída pelo Estado.

É a isso que a defesa da ‘exploração racional’ da Amazônia, em grande parte, tem dado cobertura, em má ou em boa-fé. Barbaridades lá e impressões impróprias aqui por dois motivos principais: a impossibilidade de fiscalização adequada e o baixo nível de informação do brasileiro, nisso, sem diferença de classe.

A carência generalizada de fiscalizações é imposta pela desproporção entre as dimensões amazônicas e as entidades paupérrimas que deveriam fiscalizá-las e estudá-las. O problema do desconhecimento, por sua vez, decorre das deficiências informativas dos meios de comunicação, que, ao alcançarem a fartura de recursos para uma ação enfim extensiva, não o fizeram. Preferiram uma prioridade estreita: a temática específica do interesse político e factual do poder financeiro. Como está bem ilustrado pela quantidade, nos últimos muitos anos, de manchetes de primeira página e de tempo nos noticiários de TV e rádio, voltados para aquele público mínimo de leitores/ouvintes. A depender da ótica dos meios de comunicação, todos os brasileiros somos jogadores da Bolsa e devemos tornar-nos economistas. O restante do Brasil e do mundo preenche os espaços vagos, com ajuda da corrupção e outras imoralidades administrativas e empresariais-financeiras.

A discussão em torno da soberania territorial, se seria ferida ou não pelas reservas indígenas, foi suscitada por militares e adotada pelos interesses econômicos, uma identidade velha conhecida. A tese ignora, primeiro, que os territórios estaduais, municipais e particulares são delimitações para efeitos legais e administrativos, não são propriedades soberanas. São partes do território nacional. Com isso, não há impedimento de soberania à ação do Estado em nenhuma de tais áreas, respeitadas as condições explícitas na legislação. As quais, de resto, favorecem muito mais a propriedade privada, em relação a ações militares e policiais, do que as reservas concedidas a indígenas.

A reserva em faixa de fronteira, outra inaceitação de militares, não cria, ou aumenta, possíveis ameaças externas à soberania. Uma pergunta, a propósito: seria mais fácil a violação, com origem externa, do trecho de fronteira onde há indígenas que adotaram o idioma e inúmeros costumes brasileiros, ou na imensa extensão da fronteira amazônica que, além de não contar com um só soldado, não tem nenhuma outra presença humana?

Mas é verdade, também, que muitos dos problemas nos Estados amazõnicos têm sido solucionados. A bala. E com impunidade de todos os mandantes desses empreendimentos resolutos, o que é outra forma de incentivo que os governos lhes dão para o ‘desenvolvimento sustentável’, porém à brasileira, na Amazônia.’

 

TSUNAMI DE INFORMAÇÕES
Carlos Heitor Cony

A pobreza da abundância

‘RIO DE JANEIRO – Crítico inglês de música pop, escrevendo para jornais não necessariamente ligados à temática que escolheu, Simon Reynolds, 45 anos, autor de ‘Bring the noise’ (Faber&Faber), reclama não da diversidade, mas da redundância e banalidade que penetram em todas as áreas do pensamento e da criação artística.

‘Há opiniões demais sobre música e tudo o mais’. No caso de sua especialidade, ele acrescenta: ‘Toneladas de jornalistas competindo para tecer opiniões (…) um universo incestuoso, comentários de leitores na seção de cartas, respostas enfurecidas dos artistas criticados’.

Mal comparando, a sociedade é invadida diariamente por um tsunami de notícias e comentários: quando vence ou é vencida por uma onda mais forte e letal, logo surge outra, a morte da menina de seis anos, o austríaco tarado que estuprava a filha, o craque de futebol metido com travestis num motel da Barra, a crise na candidatura de um candidato à Presidência dos Estados Unidos, a gradual e obsessiva caminhada de Lula para um terceiro mandato -tudo isso se amontoa nos jornais, revistas, rádios, TVs, internet, palavras, palavras, palavras.

Lembro um professor que decidiu ler apenas dicionários: um bom dicionário contém todas, ou quase todas, as palavras, e com elas se podem fazer todas as combinações, até mesmo de conceitos e de coisas inexistentes.

Dirão: mas o sentido, o conteúdo de tantas palavras? A resposta obriga ao uso de outras tantas palavras. Que sentido teve o assassinato da menina de seis anos, do pai que violentou as filhas, do craque escolado que não distinguiu um homem de uma mulher?

E aí estou, vítima e cúmplice da pobreza da abundância, colaborando para aquilo que são Paulo chamou de ‘confusão de nós mesmos’.’

 

PEQUIM 2008
Antônio Ermínio de Moraes

Um novo e melhor mundo!

‘AS OLIMPÍADAS da China poderão ser a faísca do início de uma virada política naquela nação. A China vem fazendo um esforço gigantesco para apresentar ao mundo um país bem organizado e, sobretudo, limpo. Os adultos vêm sendo treinados a fazer filas para respeitar os semelhantes. As crianças vêm sendo ensinadas a cuidar bem da natureza.

Esses ensinamentos têm desdobramentos. Inúmeros movimentos populares começam a surgir nas comunidades onde o ar e a água estão sendo diariamente poluídos. Além de protestos, passeatas e outras manifestações públicas, os chineses descobriram a internet como um potente canal de disseminação das idéias e de organização de campanhas.

É uma nova febre. Com isso, o povo começa a verbalizar seus descontentamentos. A promessa do governo e das empresas estatais de respeitar os direitos humanos, igualmente vem sendo levada a sério pela população. São vários os movimentos que clamam por justiça, liberdade de expressão, proteção ao trabalho e outros direitos. O governo está ficando em situação difícil. Se, de um lado, patrocina as novas idéias, de outro, tem de atenuar as formas de punição. As prisões dos que protestam continuam ocorrendo, mas com certa cautela. Os julgamentos teatrais nos tribunais continuam existindo, mas de forma dissimulada.

Mas nada escapa aos internautas, que, anonimamente, espalham as contradições governamentais nos seus blogs. As notícias, os protestos e os desmentidos se avolumam. É pouco provável que, passada a Olimpíada, as novas idéias venham a ser apagadas das mentes dos chineses.

Tem-se notícia de que, no nível local, já vêm ocorrendo vários ‘experimentos’ políticos que ampliam as liberdades. As denúncias de corrupção já partem de cidadãos comuns ou de grupos organizados. Será impossível fazer uma reversão das liberdades que o povo está saboreando nestes dias que antecedem o maior certame esportivo do mundo.

Há também a força da demografia. O envelhecimento da população fez a China revogar a lei que limitava o número de filhos a uma criança por casal. As necessidades básicas aumentarão ainda mais nas próximas décadas.

Todas essas mudanças podem favorecer o Brasil. Temos que cuidar bem de dois patrimônios -os recursos naturais, para fornecer alimentos, e a nossa democracia, para garantir os investimentos. Estão aí as nossas garantias para participarmos do novo e melhor mundo chinês.’

 

DOSSIÊ
Leonardo Souza

Mensagem enviada por vazador revela que dossiê estava anexado

‘A mensagem com o dossiê vazado pelo secretário de controle interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, revela que havia dois arquivos anexados ao e-mail. A cópia integral da correspondência, obtida com exclusividade pela Folha, contradiz Aparecido, que havia dito não ter enviado a planilha com gastos do ex-presidente FHC para o servidor do Senado André Fernandes, assessor do tucano Álvaro Dias (PR).

Na mensagem, encaminhada no dia 20 de fevereiro, às 10h47, do e-mail funcional de Aparecido no Palácio do Planalto, há um documento em Word e outro em Excel. O primeiro é um texto sobre supervisão ministerial. O outro é o dossiê, intitulado ‘Suprimento de Fundos 1998-2002’.

Aparecido havia admitido apenas ter enviado um texto, mas não o arquivo em Excel. Na mensagem, ele escreveu: ‘André, leia o texto’. Não há menção ao dossiê nem a gastos do governo passado na mensagem. O texto em Word é da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, mas não aborda assuntos de natureza sigilosa.

Na quinta-feira, contudo, o servidor do Senado havia confirmado à Folha que tinha recebido a mensagem com o dossiê anexado. Ele contou que, por dever funcional, repassou o caso ao senador Álvaro Dias, que corroborou a sua versão.

Na sexta, após a Folha ter revelado que a sindicância interna da Casa Civil e a Polícia Federal identificaram Aparecido como o vazador, o ex-ministro José Dirceu divulgou nota afirmando não acreditar que teria sido o secretário de controle interno o responsável pelo envio do documento à oposição. Foi Dirceu, antecessor de Dilma Rousseff na Casa Civil, que levou Aparecido para o órgão.

O dossiê foi extraído diretamente da rede de computadores da Casa Civil. O arquivo digital, com 27 páginas e 532 lançamentos de despesas ao todo, revela que, às 15h28 do dia 11 de fevereiro, a Casa Civil começou a lançar nas planilhas dados colhidos de processos de prestações de contas dos gastos de suprimentos de fundos da Presidência entre 1998 e 2002. Os processos foram retirados do arquivo morto, guardado num prédio anexo do Planalto.

No período de uma semana, foram criadas pastas diferentes para 1998, ano em que FHC foi reeleito, e os quatro anos do segundo mandato do tucano.

Foram agrupadas separadamente, também, as despesas de Ruth Cardoso e da chef de cozinha Roberta Sudbrack, além de pastas específicas para dois dos ministros mais poderosos na época, Eduardo Jorge (secretaria-geral) e Clóvis Carvalho (Casa Civil e Desenvolvimento), e uma outra para Arthur Virgílio, senador que foi secretário-geral da Presidência.

O arquivo mostra como estava o dossiê até 18 de fevereiro, mais de um mês antes de a revista ‘Veja’ noticiar a existência do documento destinado supostamente a constranger a oposição a Lula no Congresso.

A organização de dados seguiu uma lógica política, e não administrativa. As planilhas, fartas em registros de compras de bebidas alcóolicas, trazem anotações que poderiam orientar governistas nos trabalhos da CPI. É identificada também a sigla PR (Presidência da República) na planilha Excel como a empresa de onde foi gerado o arquivo.’

 

ELEIÇÕES NOS EUA
Daniel Bergamasco e Sérgio Dávila

Senadora baixa tom, mas rejeita derrota e pede a partidários que ‘desliguem TV’

‘‘Se vocês seguirem o conselho que dei à minha mãe, verão. Desligue a TV. Você irá adorar essa experiência’, bradou ontem a pré-candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton em celebração pública pré-Dia das Mães, em Nova York, em resposta ao ‘já perdeu’ sobre ela que toma o noticiário local.

‘Continuemos seguindo! Esta é uma grande aventura, fiquem comigo’, dizia a senadora, aplaudida em pé no salão de um hotel em Manhattan.

No discurso, ao lado da filha Chelsea, 28, ela abrandou o tom sobre seu rival no partido, Barack Obama, favorito na corrida. Só o citou uma vez, para falar que seu projeto para saúde pública era melhor que o dele. E disse que o mais importante é ‘ter um partido unificado’ para desbancar o republicano John McCain na eleição presidencial de novembro.

Na sexta-feira, ela já havia recalibrado seu ataque para o concorrente republicano e adotado uma atitude mais amigável em relação ao colega democrata. A avaliação de seus assessores é a de que continuar a criticar Barack Obama poderia prejudicar os dois no longo prazo, caso ele seja mesmo escolhido o candidato do partido.

‘O que Hillary fizer durante o próximo mês é importante’, avaliou o congressista democrata Rahm Emanuel em evento na sexta. ‘Se ela gastar tempo procurando ressaltar suas diferenças em relação ao senador McCain, para ajudar o Partido Democrata, será produtivo.’ Emanuel até agora não revelou quem apóia.

Sobre o Brasil

No evento em Nova York, Hillary voltou a citar longamente o Brasil como exemplo de independência do petróleo, diante do preço recorde do produto nos EUA, que passou dos US$ 126 por barril. ‘Em 30 anos, o Brasil nunca desistiu [de desenvolver etanol de cana-de-açúcar], mesmo quando o preço do petróleo estava baixo’, disse, citando o grande número de carros ‘flex’ na frota brasileira e propondo que os EUA busquem solução parecida.

Ao final do evento, nos cumprimentos ao público, a Folha recebeu um aperto de mão (bastante firme) da candidata e perguntou mais sobre o assunto. Hillary, que não tem falado com a imprensa estrangeira nesta campanha, disse apenas que o exemplo do país é ‘muito impressionante’.

Propaganda positiva

Nos últimos dias, a senadora viu seu oponente superá-la em número de superdelegados (que não seguem as prévias ao votar na convenção do partido), a única vantagem que mantinha até agora, e manter a liderança em todos os outros quesitos: voto popular, Estados ganhos, número de delegados eleitos e dinheiro arrecadado.

No último ponto, teve de emprestar dinheiro próprio e do marido para acertar contas de campanha. Ainda assim, anuncia mais gastos. Nas últimas horas, entrou no ar um anúncio nas TVs da Virgínia Ocidental, que vota terça, visando os operários, eleitorado crucial da senadora. O locutor diz: ‘Hillary está lutando pela classe média’.

Mas o esforço pouco ecoa. Ontem, Obama recebeu apoio de três superdelegados, somando 268, disse o ‘New York Times’. Hillary recebeu de um e foi a 264, e há outros 264 que não se declararam ainda. Os votos desses membros do partido serão essenciais para definir o candidato democrata.’

 

TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo vai vetar cena de beijo gay na novela ‘Duas Caras’

‘A anunciada cena de um beijo gay na novela ‘Duas Caras’, entre Bernardinho (Thiago Mendonça) e Carlão (Gui Palhares), ficará apenas na intenção do autor Aguinaldo Silva.

A Folha apurou que a direção da Globo vetará a cena, caso ela seja escrita. No máximo, os executivos da emissora aceitarão uma insinuação de beijo, como em ‘América’ (2005).

O argumento para vetar a imagem será o de que o documento interno ‘Princípios de Qualidade da TV Globo’ não contempla ‘carícias e beijos entre homossexuais’. O documento estabelece diretrizes para o controle de qualidade, espécie de censura interna. Veta, por exemplo, o abuso de palavrões e de atos sexuais.

A Globo avalia que o telespectador do interior do país ainda não está preparado para aceitar um beijo entre dois homens. Apenas uma parcela pequena da população aplaudiria a iniciativa. A emissora teme prejuízos institucionais e comerciais, além de eventual fuga de telespectadores.

Segundo Aguinaldo Silva, Carlão e Bernardinho se beijariam em uma cerimônia de união civil, em um cartório, diante de quase todo o elenco.

Silva pretendia concluir ontem a roteirização do último capítulo de ‘Duas Caras’, a ser exibido dia 30. Até quinta-feira, estava determinado a escrever uma cena de beijo explícito, o que foi entendido por setores da Globo como ‘provocação’.

OBJETO DE DESEJO

A escalação de Patrícia Poeta para a bancada do ‘Fantástico’ mexeu com as telespectadoras consumistas. Desde janeiro, os vestidos usados pela jornalista aparecem entre os dez figurinos que mais geram telefonemas à Globo de pessoas interessadas em comprar um modelo idêntico. Em março, um vestido laranja, como o da foto acima, foi o segundo item que mais despertou o desejo da audiência. Em quarto, oitavo e nono lugares no ranking, mais vestidos da jornalista. Patrícia só perde para as camisetas estampadas com santos de Bernardinho (Thiago Mendonça) em ‘Duas Caras’.

TRAMBIQUE NA MÃE

Às vésperas de completar 28 anos, o galã Cauã Reymond se prepara para enfrentar seu maior desafio na TV. Em ‘A Favorita’, próxima novela das oito da Globo, interpretará um personagem que oscilará entre a comédia e o drama, o alpinista social Halley. ‘Meu personagem dá trambique até na própria mãe’, conta Cauã. No começo, numa investida cômica, ele se passará por rico e gay. Atrairá o personagem de Iran Malfitano, um gay na porta do armário, e se verá numa enrascada, pois já será tarde para negar a homossexualidade. Mais adiante, formará um triângulo com Deborah Secco e Mariana Ximenes.

INDEFINIÇÃO 1

O SBT está levando uma surra para gravar novelas e programas em alta definição (HDTV). A nova tecnologia exige muito mais de iluminação, cenários e maquiagem. É por isso que as gravações em estúdio de ‘Revelação’, próxima novela, só devem começar dia 19.

INDEFINIÇÃO 2

Num outro capítulo da novela da alta definição, Silvio Santos mandou suspender o uso da tecnologia em seus programas de auditório assim que se viu no monitor de TV. É que as câmeras de HDTV não escondem idade como fazem as analógicas.

Pergunta indiscreta

FOLHA – Você ainda não contratou o travesti Andréia Albertini para fazer um programa na Rede TV!? O que está esperando?

MONICA PIMENTEL (superintendente-artística da Rede TV!, a emissora que mais contrata celebridades instantâneas) – Não (risos). Nem me fale nisso. Ele veio aqui [na Rede TV!] e quebrou tudo. Um absurdo, você não tem noção do surto! Quebrou duas câmeras, atirou uma TV de plasma ao chão. Não, pelo amor de Deus, a gente não quer [fazer programa com Andréia]!’

 

Folha de S. Paulo

Canal Brasil comemora dez anos com perfis de cineastas

‘A série ‘Canal Brasil 10 Anos’, que marca o aniversário do canal por assinatura, estréia amanhã, nos intervalos da programação. São episódios de três minutos em que serão exibidas entrevistas novas e antigas, costuradas por uma narração. São 30 programas -uma estréia por semana. A primeira homenageada é Laís Bodanzky (‘Bicho de Sete Cabeças’ e ‘Chega de Saudade’).’

 

Clara Fagundes

Vigiada pelo governo, âncora da CNN visita Coréia do Norte

‘A Coréia do Norte, uma das sociedades mais secretas do planeta, sorri neste final de semana na tela da CNN. Sorri e olha para os lados: estamos em uma ditadura. Christiane Amanpour, popular âncora da rede norte-americana transmitida no Brasil por cabo e satélite, liderou a equipe de reportagem que visitou o país, em fevereiro, quando a Filarmônica de Nova York apresentou-se na capital, Pyongyang, num estrondoso concerto político-musical.

Tecnicamente em guerra com os EUA -o cessar-fogo de 1953 jamais converteu-se em um acordo de paz definitivo-, 1.500 norte-coreanos assistiram, de pé, à execução dos hinos dos dois países. Outros viram pela TV o concerto -símbolo da ‘diplomacia dos povos’, para o chefe da delegação americana, Christopher Hill, ou um bem-sucedido golpe de relações institucionais da ditadura de King Jong 2º, para os detratores do evento.

Os 46 repórteres estrangeiros que foram ao concerto entregaram os celulares às autoridades e foram acompanhados por um atencioso agente do governo na viagem. ‘Podíamos perguntar o que quiséssemos às pessoas’, contou Amanpour à Folha. ‘Mas era impossível ter certeza de que estivessem respondendo livremente.’ O roteiro da CNN incluiu uma visita à planta nuclear de Yongbyon, desativada em 2007.

A imaculada Pyongyang construiu uma moderna sala de imprensa, num cenário cuidadosamente montado. E desmontado: tudo tomou seu lugar depois que a banda passou.

Sem acesso à internet ou aos canais de TV estrangeiros, os norte-coreanos não poderão ver o país descrito pela CNN.

CHRISTIANE AMANPOUR NA CORÉIA DO NORTE

Quando: hoje, às 9h e às 22h

Onde: na CNN’

 

Bia Abramo

A bossa suave de ‘Ciranda de Pedra’

‘TUDO PARECE direitinho em ‘Ciranda de Pedra’, a nova novela do horário das 18h.

A ação do romance de Lygia Fagundes Telles foi transposta do final dos anos 40 para 1958 -ano que é considerado o marco inaugural da bossa nova.

O final da década de 50 no Brasil é, de fato, um prato cheio para um ficcionista, de qualquer formato. É o período de otimismo juscelinista, no qual as metrópoles como Rio e São Paulo atingem um grau de civilização considerável, pelo menos para as classes médias, a cultura brasileira apronta-se para dar um salto à frente em todas as suas frentes e ainda está a uma distância segura do final convulsivo da década seguinte.

Todo o esforço cenográfico (e parte do dramatúrgico) desta nova versão para o texto de Lygia aponta nessa direção. Uma São Paulo espertamente recortada nas cenas externas dominou os primeiros capítulos, em que as linhas sólidas dos prédios do início do século 20 (estação da Luz, Teatro Municipal) convivem com a arquitetura, então moderna e ousada, e com uma agitação de cidade grande.

No interior das casas, entretanto, o que vai se configurar é um embate entre o velho e o novo: o mesmo país que se moderniza conserva relações familiares marcadas pelo autoritarismo masculino e pela submissão feminina. Nesta versão, é Daniel Dantas quem faz Natércio, o marido conservador e cruel, que impede a mulher, Laura, interpretada por Ana Paula Arósio, de viver seu amor com o médico Daniel (Marcelo Anthony).

Ana Paula, apesar de toda a torcida em contrário, não parece jovem demais para ser mãe de três moças. Sua beleza clássica e a formalidade de sua maneira de interpretar lhe dão um ar senhorial que combina com a personagem. O problema maior parecem ser as cenas de ‘loucura’, em que sua fragilidade como atriz fica mais evidente.

Já em relação às filhas, interpretadas por atrizes estreantes ou pouco conhecidas, há frescor, sim, mas há muitas limitações tanto na construção das personagens como na interpretação. Todas parecem se agarrar a um (e apenas um) adjetivo que caracteriza seu papel -assim, Virgínia (Tammy di Calafiori) é doce, Otávia (Ariela Massotti), mimada, e Bruna (Anna Sophia Folch), carola.

De resto, há o de sempre no horário -núcleo cômico e meio amalucado (de pobres, é claro) e amores idealizados (a professorinha simples e encantadora, Cléo Pires, e o jovem interiorano puro, Bruno Gagliasso).

Só não precisava cometer, justamente no ano em que se comemoram os 50 anos da bossa nova, o que é uma impropriedade histórica -a horas tantas, um personagem classifica o ‘Chega de Saudade’ como uma ‘música bem suave’. Ora, em 1958, os acordes dissonantes de João Gilberto, mesmo que como acompanhante de Elizeth Cardoso, causavam estranheza e não apaziguamento.’

 

Lucas Neves

Série marca consultas com o analista

‘Órfã das meninas buliçosas de ‘Sex and the City’ (1998-2004) e dos mafiosos de ‘A Família Soprano’ (1999-2007), que ajudaram a formatar sua identidade de canal ousado e inovador (além de adorado pela crítica), a HBO norte-americana resolveu marcar uma hora no terapeuta. Cinco, para ser mais preciso.

O resultado é ‘Em Terapia’, série exibida cinco vezes por semana na qual o psicanalista Paul Weston (Gabriel Byrne, de ‘Os Suspeitos’ e ‘O Homem da Máscara de Ferro’) ouve, de segunda a quinta, as agonias de pacientes de perfis distintos. Às sextas, é ele quem desfia suas dores para a colega de profissão Gina (Diane Wiest, de ‘Tiros na Broadway’). O primeiro dos 43 episódios da temporada inaugural vai ao ar amanhã na HBO brasileira.

A divisão da história em cinco subtramas independentes (o espectador pode escolher a que deseja acompanhar, já que os pacientes têm dia fixo para ‘voltar’) é parte do esforço da HBO para reconquistar o público e a imprensa especializada nos Estados Unidos.

Nos últimos anos, safras ruins (de ‘Carnivale’ a ‘John from Cincinatti’) deixaram a emissora sem ‘peças de reposição’ para suas séries-assinatura, que envelheceram e saíram do ar. As atenções e simpatias migraram para canais como Showtime (casa de ‘Weeds’ e ‘Californication’) e FX (‘Nip/ Tuck’ e ‘Damages’).

Modelo israelense

A HBO, então, foi às compras em Israel: adquiriu o formato de ‘Be’Tipul’, série em que um terapeuta escutava, entre outros tipos, uma anestesista desgostosa da vida afetiva e um militar com estresse pós-traumático causado por sua atuação na morte de inocentes em um conflito armado. Na transposição para a TV americana, manteve-se o registro austero, calcado em texto e atuações -a câmera raramente deixa o consultório.

O despojamento de ‘Em Terapia’ parece ter ajudado a encerrar a cisma da crítica com a HBO. Os comentários foram majoritariamente positivos. O ‘New York Times’, por exemplo, chamou o programa de ‘inteligente e hipnótico’, e os episódios, de ‘viciantes’.

Na contramão, a revista ‘Variety’ acusou uma certa empolação teatral nas atuações, além da escolha de uma fauna de personagens incapaz de gerar identificação no público. O público dos EUA se fiou nessa turma ‘do contra’, a julgar pelos índices de audiência da estréia, em janeiro passado. Menos de 450 mil pessoas viram a anestesista Laura reclamar do namorado e declarar seu amor pelo dr. Weston.

Em seus dias áureos, ‘A Família Soprano’ teve mais de 10 milhões de espectadores. O mulherio de ‘Sex and the City’ beirava os oito milhões. Preterido, dr. Weston já tem o que choramingar para sua terapeuta das sessões de sexta.

EM TERAPIA

Quando: estréia amanhã, às 20h30; de segunda a sexta, no mesmo horário

Onde: na HBO (classificação: 16 anos)’

 

Francisco Daudt da Veiga

Pensava que ia me irritar. Engano, achei bom

‘Magritte, em um de seus quadros, pintou um cachimbo com os dizeres: ‘Isto não é um cachimbo’. Ele estava certo. Não era um cachimbo, era um quadro.

Assim, também, a série ‘Em Terapia’ não é sobre uma terapia; é uma interessante ficção. O realismo é tal que as pessoas poderiam pensar que vêem um processo de psicoterapia tal como ele é. Lembrem-se, então, do cachimbo do Magritte.

O primeiro episódio trata de uma paciente apaixonada pelo terapeuta. Pode parecer um lugar-comum, mas, vistas por um psicanalista (eu, no caso), algumas coisas chamam a atenção. A paciente se declara apaixonada desde a primeira sessão e só o confessa um ano depois, para total surpresa do homem.

Ora, ele é perspicaz para outros assuntos, e isso também é mostrado no segundo episódio. Além do mais, é bem-educado, compassivo, nada arrogante, nem um pouco misterioso, fala com o paciente, dá opiniões com a humildade de apresentá-las como perguntas e ostenta uma atitude paternal.

Isso dificilmente desperta paixões, pois a atitude amistosa não é sedutora. O exato contrário é a caricatura do psicanalista; esta sim descobri despertar ‘paixões’ em nove entre dez pacientes.

A tal suposta atitude ‘neutra’ do ser silencioso, distante e cheio de mistério do analista que fica olhando para você sem responder à sua pergunta (uma falta de educação básica e hostil) é, na verdade, sedutora e idealizável. Paixão supõe idealização. Como idealizar quem se mostra tão transparente?

Mas, para melhorar, a série goza de um dos maiores privilégios do cinema americano: tem bons roteiristas, desses de matar de inveja os cineastas brasileiros. Quem viu dos filmes de Billy Wilder até a série ‘A Família Soprano’ sabe do que falo. Não há conversa real tão inteligente assim. Ninguém tem tanta presença de espírito.

São horas e horas de duro trabalho bolando diálogos. Resulta que as histórias se mostram capazes de fazer vislumbrar a complexidade da mente humana. A série rompe com a simploriedade psicanalítica hollywoodiana (como em ‘Marnie, Confissões de uma Ladra’, em que toda sua doença vinha de um único trauma de infância).

Eu pensava que ia me irritar.

Engano meu. Achei bom.

FRANCISCO DAUDT é psicanalista’

 

ENTREVISTA / UMBERTO ECO
Juan Cruz

O professor aloprado

‘Umberto Eco é um homem quase feliz.

Um professor que desfruta a companhia de seus alunos e que agora, aos 76 anos, aposentado de suas múltiplas ocupações acadêmicas [desde 2007, na Universidade de Bolonha], continua a trabalhar ‘ainda mais do que antes’, dando aulas doutorais, escrevendo livros (‘nem meia palavra sobre o livro que estou escrevendo agora!’, exclamou, colocando o dedo sobre os lábios), participando de congressos, lendo histórias em quadrinhos (‘hoje são intelectuais demais’) e rindo como um garoto.

Quando o fotógrafo lhe pediu que posasse com um ‘borsalino’, o tipo de chapéu que tornou mundialmente conhecida sua cidade natal, Alexandria, Eco se divertiu como se tivesse voltado ao quintal da casa de sua família, ao lugar que está cada vez mais próximo de sua memória, como se a idade o fizesse recuperar os sabores perdidos da adolescência.

Vive numa casa belíssima, repleta de livros e exemplares antigos, muitos dos quais consegue numa livraria perto dali, na via Rovello, em Milão.

Todas as tardes, quando está na cidade e não viajando, esse homem, que já se queixa de que tiram o sal de sua comida e afugenta os doces como se fossem uma tentação maldita, vai até essa livraria e sebo para vasculhar catálogos e procedências, antes de ir tomar seu aperitivo num café onde é conhecido como ‘il professore’.

Perto da livraria fica a barbearia de Antonio, que colocou um retrato de Eco com seu borsalino na porta de vidro; assim, Eco se vê retratado enquanto Antonio lhe faz a barba. Barba que já tem os fios brancos de um homem que se diz velho, mas que conserva o ritmo de vida que o tornou legendário entre os acadêmicos de todo o mundo, por sua atividade e a diversidade de gostos.

Umberto Eco continua sendo esse homem feliz (‘quase feliz -quem se diz totalmente feliz é um cretino!’) que canta, recita, conhece citações inteiras de memória, que se interessou antes dos outros pelas novas tecnologias, que as utilizou em seus trabalhos -o mais recente é ‘Quase a Mesma Coisa’, sobre tradução-, embora mantenha o celular quase sempre desligado.

No entanto usa o e-mail obsessivamente, como se fosse um prolongamento natural das conversas.

Quando bate papo, ainda é aquele homem tímido que teme cometer alguma gafe -’se falo demais, é para preencher os momentos de silêncio’-, mas, quando surge um assunto que o diverte, sua gargalhada enche o cenário.

Escreveu ‘O Nome da Rosa’, sucesso mundial absoluto, e abriu as portas da fama como ensaísta com ‘Apocalípticos e Integrados’, mas continua a acreditar que a comunicação só é digerida se aquele que a emite é capaz de colocar-se na altura daquele que o ouve.

Por isso, tanto ao conversar quanto em seus livros sempre entremeia suas reflexões ou apologias com piadas.

Eco continua a estudar; quando o deixamos, ele ia para sua casa, talvez para ocupar-se de Carlos Magno (‘Diga Carlos Magno, assim vão pensar que escreverei sobre ele em meu próximo livro, e começará o boca-a-boca’). Sempre divertido e sempre quase feliz.

FOLHA – Há uma cena em sua vida, quando toca trompete para os ‘partigiani’ [movimento antifascista], aos 13 anos, na praça de Alexandria, que transmite felicidade… O sr. sempre parece estar tão feliz!

UMBERTO ECO – Aqui há duas coisas: aquele garoto e a felicidade. São diferentes, não podem coincidir. Não acredito na felicidade -estou lhe dizendo a verdade. Acredito apenas na inquietude. Ou seja, nunca estou feliz por completo -sempre preciso fazer outra coisa.

Mas admito que na vida existem felicidades que duram dez segundos ou meia hora, como quando nasceu meu primeiro filho -naquele instante, eu estava feliz. Mas são momentos muito breves. Alguém que é feliz a vida toda é um cretino. Por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto.

Aquele menino é o que irá aparecer em ‘O Pêndulo de Foucault’, e aquele foi um momento feliz, sem dúvida, mas não estou certo se o foi realmente naquele momento ou no momento em que o estava narrando. Existem momentos de felicidade quando você consegue expressar alguma coisa que o deixa contente.

Além disso, enquanto contava sobre aquele menino, eu estava feliz porque -sei bem que é uma afirmação muito reacionária- acredito que a vida serve apenas para recordar nossa própria infância.

PERGUNTA – Aí entra a literatura.

ECO – É o que dizem. Cada momento em que consigo me recordar bem de um instante de minha infância é um momento de felicidade, mas isso não quer dizer que os momentos de minha infância tenham sido momentos de felicidade.

A infância e a adolescência são períodos muito tristes. As crianças são seres muito infelizes. Talvez eu, enquanto tocava trompete, com medo de que fosse a última vez em que tocaria aquele instrumento, tenha sido um menino infeliz.

Sinto-me feliz agora, ao lembrar disso, e talvez seja essa a razão pela qual escrevo, para encontrar esses momentos muito breves de felicidade que consistem em relembrar momentos da própria infância. Sim, é por isso que escrevo.

PERGUNTA – E é para isso que se envelhece…

ECO – Algo de muito bonito que ocorre ao envelhecermos é que nos recordamos de uma multidão de coisas da infância que tinham sido esquecidas.

Noutro dia me veio à mente o nome de meu dentista de quando eu tinha oito ou nove anos. Não apenas me lembrei do dentista, mas também do técnico que o ajudava. Eram o doutor Correggia e o senhor Romagnoli. Não sei, mas estava contentíssimo em voltar a pensar em meu dentista, de quem tinha me esquecido completamente. Por isso, vou ao encontro de minha velhice com muito otimismo, porque, quanto mais envelheço, mais recordações tenho de minha infância.

PERGUNTA – E a cada dia o sr. chega mais perto de Alexandria, daquela sua família?

ECO – Meu pai era o mais velho de 13 irmãos. Era uma família enorme. Houve um primo que morreu aos 20 anos e que não conheci. Faça o cálculo: se cada irmão teve dois filhos, eram 26 primos, de modo que era difícil ter uma relação com todos.

Minha relação mais estreita foi com minha avó materna, que foi quem me iniciou na literatura. Era uma mulher sem cultura nenhuma -acho que fez apenas os cinco anos da escola primária-, mas tinha paixão pela leitura.

Ela era cadastrada numa biblioteca, de modo que trazia um montão de livros para casa. Lia de forma desordenada. Um dia podia ler Balzac e, logo depois, um romance de quatro vinténs, e gostava dos dois. E assim fez comigo: ela me dava, aos 12 anos de idade, um romance de Balzac e uma história de amor de qualidade ínfima. Mas me transmitiu o gosto pela leitura.

PERGUNTA – Além de sua avó, quem foram seus outros mestres?

ECO – O professor da escola primária aparece em meu romance ‘A Misteriosa Chama da Rainha Loana’. Era um fascista que batia em seus alunos mais pobres. E, embora sempre tenha se comportado bem comigo, não era uma boa pessoa.

Em contrapartida, tive uma educadora fabulosa, embora por apenas um ano.

Era a senhorita Bellini, que ainda vive. Tem 91 anos, e, cada vez que sai um livro meu, envio um exemplar a ela. Era uma grande educadora, nos estimulava a escrever, a contar, a sermos espontâneos, e foi uma das pessoas que mais exerceram influência sobre minha vida.

PERGUNTA – Raramente se fala do sr. como professor. O que aprendeu para ensinar?

ECO – Antes de mais nada, continuo a aprender. O primeiro curso que dei como professor foi sobre a poética de James Joyce, que aparece em ‘Obra Aberta’. Eu conhecia o argumento, mas, ao começar a dar aula, me dei conta de que não sabia nada sobre o tema.

Aprendi e continuo aprendendo. Quando se escreve um livro, pode-se dar a impressão de saber muito, mas em sala de aula é diferente. O que fiz desde aquela primeira experiência foi falar a partir dos livros que iria escrever, não dos que já havia escrito. Quero dizer que minha relação com os alunos sempre foi uma relação de aprendizagem, porque, ensinando, eu também aprendia.

PERGUNTA – Uma relação de ida e volta.

ECO – Uma relação erótica, porque a relação de um professor com um aluno é como a relação de um ator com seu público: quando você aparece em cena, é como se o estivesse fazendo pela primeira vez, e você tem a sensação de que, se não tiver conquistado o público nos primeiros cinco minutos, o terá perdido. É isso o que eu chamo de uma relação erótica, no sentido platônico do termo. Além disso, há uma relação canibal: você come as carnes jovens deles, e eles comem sua experiência.

Há pessoas infelizes que passam os primeiros anos de sua vida com pessoas mais jovens, para poder dominá-las, e, quando envelhecem, estão com pessoas mais velhas.

Comigo aconteceu o contrário: quando eu era jovem, estava com pessoas mais velhas que eu, para aprender, e agora, tendo alunos, estou com jovens, o que é uma maneira de manter-se jovem. É uma relação de canibalismo; comemos um ao outro. Por isso não deixei de ter relação com a universidade, apesar de ter me aposentado.

PERGUNTA – E o sr. mordeu quem?

ECO – A pessoa que orientou minha tese, Luigi Paris, também Norberto Bobbio… Tenho uma boa lembrança de meus professores. Meu professor de filosofia no instituto era um daqueles que podiam interromper a aula para fazer você ouvir Wagner ou, se você perguntava sobre Freud, deixava de falar de Platão e lhe falava de Freud.

Era realmente um grande professor. Tudo isso está em meus romances, onde sempre há uma relação entre um jovem e um mestre mais velho.

PERGUNTA – Tantos alunos… Quem sabe, ao recordá-los, o sr. encontre uma história da evolução da juventude no último meio século.

ECO – Não se pode dar uma resposta porque o diálogo com os estudantes muda ao longo dos anos. A diferença ideal de idade entre professor e alunos é de 15 anos. Você tem trinta e poucos anos, e o aluno, 20.

Foi precisamente nesse período que tive uma relação mais intensa com meus alunos. Porque, se os alunos são mais jovens que isso, não existe relação, e, se a diferença for maior, já não poderemos ser amigos.

Com os alunos dos anos 1960, saíamos para jantar, dançar. Com os de agora, isso não seria possível. Sentiriam vergonha de sair com você. Em 1968 foi interessante: eu não podia ser como eles, mas não me viam como inimigo. Por isso, havia uma relação às vezes polêmica, às vezes amistosa e contínua.

PERGUNTA – Como está a Itália?

ECO – Está vivendo um dos piores momentos de sua história, com uma classe política velha e que não se renova. Houve um equilíbrio estranho entre a Democracia Cristã e os partidos de esquerda, que durou 50 anos. Agora ele se quebrou.

Cinqüenta por cento dos italianos votam em Silvio Berlusconi [líder da coalizão que venceu as eleições parlamentares do mês passado], o que é indicativo de uma profunda imaturidade política. É um momento extremamente triste, em que os elementos de esperança e entusiasmo são muito poucos. Cada vez mais vem à tona a maldição eterna dos italianos.

PERGUNTA – Qual é essa maldição?

ECO – Uma vez eu estava num táxi em Nova York, e o chofer, que era paquistanês ou indiano, me perguntou de onde eu era. Respondi que era da Itália, e ele quis saber onde ficava esse país.

Eu me dei conta de que ele tinha idéias muito vagas, como se eu estivesse falando de Suriname a um italiano, e continuou a perguntar: ‘Que idioma o sr. fala?’ ‘O italiano’, eu disse, e ele me perguntou: ‘E qual é seu inimigo?’.

Perguntei o que queria dizer, e ele me respondeu que cada país tem um inimigo contra o qual luta há séculos. Respondi que não tínhamos. E ele me olhou com cara feia, porque um povo sem inimigo é pouco viril.

Mas, então, refleti: nosso inimigo é interno. Ao longo de toda nossa história, nos massacramos uns aos outros, e é também essa a nossa maneira de entender a política.

Nossa fragmentação é em 200 mil partidos diferentes, o governo de Romano Prodi [que, sem o apoio do Senado, entregou o cargo de primeiro-ministro em janeiro] caiu pela mão de seus próprios aliados, não pela ação da oposição. Nunca a Itália caiu tanto em sua inimizade interna quanto hoje.

PERGUNTA – E de onde vem isso?

ECO – A Itália se tornou um Estado unitário há 150 anos -antes, não o era. Já a Espanha o é pelo menos desde 1300 -desde El Cid Campeador!-, e França e Inglaterra têm sido unitárias.

A Itália, antes da chegada dos romanos, era uma pluralidade de tribos que falavam línguas diferentes. A Espanha tem os bascos, os catalães e os galegos, mas nós éramos 400. A cada cinco quilômetros havia uma diferença como a que existe entre a Catalunha e a Galícia.

O Império Romano unificou, mas não o suficiente. Além disso, se não tivesse existido a igreja, talvez as cidades italianos tivessem encontrado uma forma de Estado unitário pela qual se regerem.

O único Estado que restou foi a igreja, e o resto foi uma fragmentação de cidades, o que fez com que a Itália não existisse, no sentido de um Estado. Por isso existe a corrupção: porque as pessoas não pagam impostos, porque não existe o sentido de Estado.

PERGUNTA – E por que Berlusconi ganhou?

ECO – Porque ele diz que não será preciso pagar impostos! Ele fomenta a falta de sentido de Estado, porque ele próprio não o possui.

PERGUNTA – O sr. falou de um taxista. Menciono outro, o que me trouxe do aeroporto. Ele disse: ‘Como se pode eleger para presidente um homem que tem tantos processos pendentes contra ele?’.

ECO – Ele dá por efeito aquilo que é a causa. Berlusconi conseguiu instaurar um tipo de poder fundamentado na desconfiança da magistratura e da Justiça, razão pela qual pode governar, apesar de ter processos pendentes.

Berlusconi não é o efeito nesse caso, e sim a causa. Criou algumas leis precisamente para permitir que pessoas que tenham pendências com a Justiça possam chegar ao Parlamento e ataca a magistratura continuamente. Berlusconi conseguiu chegar ao governo atacando as forças da ordem, estimulando os instintos mais baixos do italiano médio.

PERGUNTA – Quer dizer que o futuro italiano…

ECO – Vai depender de que morram algumas dezenas de pessoas que já são muito velhas. É um dado biológico. E, então, teria que surgir uma nova classe política. Somos o país cuja classe política é a mais velha do mundo.

PERGUNTA – E Veltroni [Walter Veltroni, 52, líder de centro-esquerda]?

ECO – Sim, Veltroni é jovem. Tem 50 anos, mas os demais são muito velhos. Berlusconi tem mais de 70 anos. Na Itália, mesmo que alguém perca as eleições, volta a se candidatar.

É como se Al Gore voltasse a ser candidato [à Presidência dos EUA] ou se Lionel Jospin se candidatasse novamente à Presidência da França. Na Itália, contudo, sempre volta aquele de antes. É o sintoma de uma classe política que não quer renunciar ao poder.

Talvez isso contribua para que as pessoas sempre critiquem a política, para que os jovens a vejam como algo que lhes é alheio.

Os jovens de todas as épocas e de todos os países sempre se entusiasmaram com as grandes idéias de transformação, eram revolucionários, mas se mantinham dentro do famoso esquema ‘todos nascemos incendiários e morremos bombeiros’.

Agora, com a globalização e o fim das ideologias, já não se apresentam tantas possibilidades de transformação, pois esta é planetária, e é preciso esperar as grandes tragédias ecológicas, a morte da Terra.

O grande erro das Brigadas Vermelhas [grupo terrorista de extrema esquerda, que assassinou Aldo Moro, então ex-premiê italiano] foi terem a idéia justa -embora muitos pensassem que fosse delirante- de atacar as multinacionais de todo o mundo.

Outra idéia equivocada foi a de que era preciso fazer terrorismo para criar uma revolução na Itália. Se existe o governo das multinacionais, você não vai mudar isso fazendo a revolução na Itália. O projeto comunista estava condenado ao fracasso. Já havia globalização naquela época, embora não tão intensa quanto hoje.

Agora já não existe possibilidade de transformação planejável, a não ser que ocorra como na época da queda do Império Romano, com o nascimento das ordens monásticas: você se encerrava na montanha, num convento, e tentava salvar o pouco de espiritualidade e de conhecimento enquanto o mundo desmoronava.

Hoje, pode haver jovens que vão ao deserto colocar em prática uma vida ecológica. É o máximo que se pode fazer: não mudar o mundo, mas retirar-se do mundo. Por isso ocorre o desinteresse pela política.

PERGUNTA – O terrorismo acabou na Itália, na Alemanha e na Irlanda, mas permanece na Espanha, além de surgirem outros. Qual é sua opinião sobre os terrorismos que surgiram nos anos 1990?

ECO – O desejo de ‘revolução’, entre aspas, permanece sempre. Inclusive ali onde não se pode fazê-la, tenta-se… Em países onde existem grupos étnicos e há território suficiente para que se produzam insurreições. Na Itália, esses enfrentamentos se converteram em embates futebolísticos. E em outros territórios acontecem violência, fanatismo, superstição. Quando isso é levado ao terreno da política, já se sabe como vai terminar.

PERGUNTA – O terrorismo da Al Qaeda é a celebração do mal?

ECO – É preciso diferenciar os terrorismos. O fato de que se utilizem métodos semelhantes não os torna iguais. Os terrorismos internos não empregam formas suicidas.

O terrorismo da Al Qaeda é um fenômeno bélico. Trata-se de um grupo fundamentalista que se sente em guerra contra o mundo ocidental e que, por não poder usar os instrumentos da guerra tradicional -não haveria exércitos suficientes-, emprega o terrorismo suicida.

Isso não quer dizer que haja um enfrentamento entre o mundo ocidental e o mundo islâmico, mas existe sem dúvida uma parte do mundo islâmico que se sente em situação de inferioridade e está em guerra.

PERGUNTA – O 11 de Setembro mudou o estado de ânimo do mundo. Somos menos felizes hoje.

ECO – O 11 de Setembro criou um estado de medo, mas antes já houve atentados, entraram e saíram assassinos, tivemos guerras civis.

No caso dos EUA, porém, foi a primeira vez que o país sentiu um ataque assim em sua própria carne. Os americanos não digeriram o que aconteceu e por isso vêm tendo reações irracionais, como a Guerra do Iraque, que gerou mais terrorismo do que havia.

É exatamente a reação de alguém que não estava acostumado à guerra em seu próprio território.

PERGUNTA – Existe alguma saída para esse mal-estar universal?

ECO – No momento, não. E, se eu tivesse a receita, a venderia ao presidente dos EUA por alguns bilhões de dólares!

PERGUNTA – Com certeza. E quem será ele?

ECO – E que sei eu? Os escritores não somos Nostradamus.

PERGUNTA – O que é certo é que alguns anos atrás o sr. disse que viveríamos de modo rapidíssimo, e agora vivemos em velocidades supersônicas.

ECO – E tudo o que existe agora será obsoleto dentro de pouco tempo. Até o e-mail será obsoleto, porque tudo será feito com o celular.

Talvez as novas gerações se acostumem a isso, mas existe uma velocidade do processo que é de tal calibre que a psicologia humana talvez não consiga adaptar-se. Estamos em velocidade tão grande que não existe nenhuma bibliografia científica americana que cite livros de mais de cinco anos atrás.

O que foi escrito antes já não conta, e isso é uma perda também quanto à relação com o passado.

PERGUNTA – A fé cega na internet, por outro lado, cria monstros.

ECO – Sim, parece que tudo é certo, que você dispõe de toda a informação, mas não sabe qual é confiável e qual é equivocada. Essa velocidade vai provocar a perda de memória.

E isso já acontece com as gerações jovens, que já não recordam nem quem foram Franco ou Mussolini! A abundância de informações sobre o presente não lhe permite refletir sobre o passado. Quando eu era criança, chegavam à livraria talvez três livros novos por mês; hoje chegam mil. E você já não sabe que livro importante foi publicado há seis meses. Isso também é uma perda de memória. A abundância de informações sobre o presente é uma perda, e não um ganho.

PERGUNTA – A memória é o esquecimento, como diria [o escritor uruguaio] Mario Benedetti.

ECO – É a história de ‘Funes, o Memorioso’, de Borges: aquele que tem toda a memória é um estúpido.

PERGUNTA – Tanta informação faz com que os jornais pareçam irrelevantes.

ECO – Esse é um de nossos problemas contemporâneos. A abundância de informação irrelevante, a dificuldade em selecioná-la e a perda de memória do passado -e não digo nem sequer da memória histórica. A memória é nossa identidade, nossa alma. Se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal.

Se você bate a cabeça em algum lugar e perde a memória, converte-se num vegetal. Se a memória é a alma, diminuir muito a memória é diminuir muito a alma.

PERGUNTA – Qual seria hoje o papel da informação?

ECO – Creio que perdemos muito tempo nos formulando essas perguntas, enquanto as gerações mais jovens simplesmente deixaram de ler jornais e se comunicam por meio de mensagens de texto.

Eu não posso me desligar dos jornais. Para mim, sua leitura é a oração matinal do homem moderno. Não posso tomar o café da manhã se não tiver pelo menos dois jornais para ler.

Mas talvez sejamos os resquícios de uma civilização, porque os jornais têm muitas páginas, mas não muita informação. Sobre o mesmo tema há quatro artigos que talvez digam a mesma coisa… Existe abundância de informação, mas também abundância da mesma informação.

Não sei se você se lembra de minha teoria sobre o ‘Fiji Journal’. Eu estava em Fiji coletando informações sobre os corais para meu livro ‘A Ilha do Dia Anterior’ [ed. Record], e em meu hotel chegava todas as manhãs o ‘Fiji Journal’, que tinha oito páginas -seis de anúncios, uma de notícias locais e outra de notícias internacionais.

No mês que passei ali, a primeira Guerra do Golfo estava prestes a estourar, e, na Itália, o primeiro governo de Berlusconi tinha caído. Inteirei-me de tudo porque em uma única página de notícias internacionais, em três ou quatro linhas, davam-me as notícias mais importantes.

PERGUNTA – Como a internet.

ECO – Vamos à internet para tomar conhecimento das notícias mais importantes. A informação dos jornais será cada vez mais irrelevante, mais diversão que informação. Já não nos dizem o que decidiu o governo francês, mas nos dão quatro páginas de fofocas sobre Carla Bruni e Sarkozy [atual presidente da França].

Os jornais se parecem cada vez mais com as revistas que havia para ler na barbearia ou na sala de espera do dentista.

PERGUNTA – Voltemos ao princípio, professor. O que o faz feliz? ECO – Não sei. Eu já disse que não acredito nisso, mas, enfim, fico feliz quando encontro um livro que estava procurando havia muito tempo.

Quando o compro e o tenho, olho para ele e me sinto feliz. Mas a sensação acaba ali. Enquanto a infelicidade é o que me provoca o fato de não ter este ou aquele livro. A verdadeira felicidade é a inquietude. É sair à caça, não matar o pássaro.

PERGUNTA – É raro: um espanhol e um italiano, uma hora e meia de conversa, e a palavra ‘igreja’ só foi pronunciada três vezes.

ECO – Está ocorrendo um retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a igreja. De quem é a responsabilidade por isso? Não é por acaso que esse confronto tenha se acirrado com a chegada de Ratzinger [o papa Bento 16]; portanto, talvez se deva à política clerical do novo pontífice.

Sua luta contra a cultura moderna, o chamado relativismo, voltou aos grandes temas da igreja do século 19, que falava contra a revolução e contra a ciência moderna.

Hoje, emergem muitas posições anticlericais, e muitas pessoas se declaram atéias. Ninguém estava pensando nisso antes. Subiu ao trono um papa que pensa como um papa do século 19.

PERGUNTA – O sr. escreveu que Napoleão viveu apenas a Revolução Francesa…

ECO – … E eu vivi a Segunda Guerra Mundial, a queda do fascismo, a guerra ‘partigiana’, a bomba em Hiroshima, a queda da União Soviética e a Guerra Civil Espanhola. Há uma maldição chinesa que diz: ‘Espero que vivas numa época interessante’. Há gerações jovens que viveram apenas épocas tranqüilas, como a da Guerra Fria.

O que eu disse sobre Napoleão com certeza está errado, porque ele não apenas viveu a Revolução Francesa como também a história de Napoleão. Rarará!

A íntegra desta entrevista saiu no ‘El País’. Tradução de Clara Allain .’

 

Folha de S. Paulo

Autor se consagrou com a ficção, mas é crítico de peso

‘Antes de se consagrar como romancista, Umberto Eco (1930) já era considerado um importante semiótico, autor de obras marcantes como ‘Apocalípticos e Integrados’ e ‘Super-Homem de Massa’ (sobre a cultura de massa, analisando romances de folhetim e quadrinhos), ‘Como Se Faz uma Tese’ e ‘Obra Aberta’ (Perspectiva).

Na ficção, além de ‘O Nome da Rosa’ (Best Seller), publicou ‘O Pêndulo de Foucault’, ‘A Ilha do Dia Anterior’, ‘Baudolino’ e ‘A Misteriosa Chama da Rainha Loana’ (Record). Sobre tradução, saiu no Brasil em 2007 ‘Quase a Mesma Coisa’ (também pela Record).’

 

LÍNGUA
Henry Hitchings

Inglês inglório

‘Qual é o futuro do inglês? Aqui estão algumas declarações que eu li, ouvi ou captei recentemente: ‘Se você não fala inglês, não pode se sentir parte do mundo’, ‘o inglês não passa de um feio símbolo da supremacia branca’, ‘toda essa imigração incontida está transformando uma língua que já foi bela em uma espécie de vira-lata’, ‘o verdadeiro inglês está sendo cada vez mais diluído’, ‘no futuro, todos vamos falar uma única língua: a nossa’.

Como sugerem essas evidências esparsas, as declarações sobre a língua geralmente são carregadas de opiniões políticas. As pessoas costumam identificar sua própria língua como preciosa -uma personificação de sua herança, uma medida de sua prosperidade. Elas vêem as outras línguas como rivais ou perigosas intrusas.

E os usuários nativos do inglês se orgulham em especial por saberem que o idioma de Shakespeare e dos Simpsons está se transformando no falar soberano mundial.

Mas o pensamento popular sobre a língua tende a ser míope. Os livros, artigos e reportagens sobre o assunto em geral adotam uma de três formas. Em primeiro lugar, há o lamento sobre o declínio do ponto-e-vírgula ou a proliferação de infinitivos divididos por advérbio. Depois há a abordagem arqueológica, em que a história da língua é garimpada.

Em terceiro lugar, há o método curatorial, em que estranhezas lingüísticas são expostas como peças de museu. Você sabia que ‘clone’ vem da palavra grega que significa ‘broto’? ‘The Fight for English – How Language Pundits Ate, Shot and Left’ [A Luta pelo Inglês, Oxford University Press, 239 págs., 6,99, R$ 23], de David Crystal, pertence ao primeiro grupo e se concentra nas mudanças ocorridas na língua.

No entanto Crystal, um renomado acadêmico com um toque populista, é o oposto do ‘purista’ estreito que treme ao ver uma palavra recém-adotada. Como diz, ‘não conhecemos uma língua ‘pura’. O mundo dos idiomas é um cadinho de fundição, segundo ele, e não uma tigela de salada.

Crystal indica que os guardiães da língua ‘apropriada’ invariavelmente erram, mas os pedantes são úteis ‘para nos alertar sobre as maneiras como a modificação da língua pode criar dificuldades’.

Crystal também tem um histórico de contribuição à arqueologia do idioma. Sua obra de 2005 ‘The Stories of English’ [As Histórias do Inglês] faz um relato convincente de seu desenvolvimento.

Ao invés de ser monolítico, o inglês existe em muitas variedades. Há uma clara diferença entre a gíria do hip hop e a terminologia profissional de um advogado ou entre as formas faladas em Manchester, Mumbai, Melbourne e Manila.

A tese é revigorada em ‘A Luta pelo Inglês’: ninguém mais é dono do inglês. Mas isso não impede que os falantes nativos se agarrem à ilusão de que cabe somente a eles moldar o destino do idioma.

Idioma vulnerável

A variedade também é o tema do vibrante e informativo ‘Semantic Antics – How and Why Words Change Meaning’ [Extravagâncias Semânticas, Random House, 288 págs., US$ 14,95, R$ 25], de Sol Steinmetz, que celebra a mutabilidade do inglês. Steinmetz observa que, se cada palavra tivesse apenas um significado, ‘ficaríamos paralisados pelo bloqueio verbal’.

Os significados se sobrepõem em camadas -as palavras são arquivos.

Mas, embora Steinmetz seja intrigante e Crystal, judicioso, ambos tratam de preocupações conhecidas. Por outro lado, ‘English Next’ [Inglês a Seguir, British Council, 132 págs., download grátis em www.britishcouncil.org/learning-research-english-next.pdf], de David Graddol, é algo completamente diferente.

Na verdade, não é um livro no sentido convencional, pois só está disponível para download. É uma das mais importantes discussões sobre a língua inglesa dos últimos 20 anos, mas desconfio de que poucas pessoas o conheçam.

Um motivo talvez seja o fato de ser publicado pelo British Council, a corporação educacional criada em 1934 para ‘construir relações culturais e educacionais mutuamente benéficas entre o Reino Unido e outros países e aumentar o apreço pelas idéias criativas e realizações do Reino Unido’. Diante disso, você poderia pensar que ‘Inglês a Seguir’ seria um exercício de patriotismo. Não é.

O estudo de Graddol explora tendências recentes no uso do inglês, para desenvolver uma idéia de como a língua pode mudar durante duas gerações.

Seu principal argumento é o de que, ao contrário da crença popular, a atual posição global do inglês está longe de ser invulnerável. No prefácio, Neil Kinnock, presidente do British Council, ressalta a conclusão do estudo de que os universitários britânicos que não falam outra língua além de inglês ‘enfrentam um sombrio futuro econômico’.

Em princípio isso parece improvável. O inglês é a língua nativa de cerca de 400 milhões de pessoas e é falado, com algum grau de fluência, por talvez outros 600 milhões. O número dos que estão empenhados em aprender o idioma se aproxima rapidamente de 2 bilhões.

Há alguns fatos inevitáveis sobre o papel global do inglês. Ele domina a diplomacia, o comércio e a navegação, assim como a indústria do entretenimento e a cultura jovem.

É a língua franca da computação e da tecnologia, da ciência e da medicina, e é proeminente nos negócios e nas academias internacionais. É o idioma de trabalho da ONU. E, talvez com menos glamour, é a língua oficial das instruções de segurança aérea e do controle de tráfego aéreo.

Estamos acostumados a ouvir falar sobre a globalização e a americanização (e portanto a anglicização) da cultura popular. Os adversários dessas forças percebem a disseminação do inglês como imperialismo lingüístico, que destrói as tradições e identidades culturais. Os que temem essa disseminação a relacionam ao cristianismo, ao colonialismo e ao intervencionismo político e militar norte-americano.

Mas isso é verdade? Por um lado, a difusão do inglês pode ser associada a alfabetização, democracia, modernidade e oportunidades de trabalho.

Por outro, o fato de que o número de falantes nativos já é superado -e em um futuro próximo será ‘significativamente’ superado- levanta algumas preocupações.

Em um nível prático, podemos ver que o inglês é influenciado pela imigração, a mudança de atitudes em relação à educação, novas tecnologias e aspectos da economia moderna como a terceirização. Grande parte disso acontece de maneiras que os falantes nativos não podem controlar. Enquanto o inglês cada vez mais se torna a língua dos negócios, os falantes nativos sentem, de modo muito compreensível, que estão levando vantagem.

Mas a discussão muitas vezes transcorre mais suavemente quando os falantes nativos saem da sala -os procedimentos não são enlameados por expressões idiomáticas e pelo uso intuitivo e impensado da gíria.

A conversa entre falantes não-nativos pode ser mais direta e pragmática -provavelmente correta, mas simplificada e funcional. As pessoas que se consideram facilitadoras são, na verdade, obstáculos. Isso fica cada vez mais evidente para os falantes não-nativos, e está tendo um impacto no ensino de inglês como língua estrangeira.

Novo padrão

De fato, a própria noção do inglês como ‘estrangeiro’ está se tornando obsoleta. O inglês é cada vez mais considerado uma parte necessária da educação básica. Em países tão diferentes quanto Coréia do Sul, Estônia e Chile, o bilingüismo é um objetivo nacional.

Sim, nota Graddol, para os novos estudantes de inglês a ‘inteligibilidade é de primeira importância, mais que uma precisão comparável à dos nativos’. As particularidades da pronúncia nativa -características que estão estabelecidas, mas que não têm importância real para a compreensão, como a articulação correta de um som ‘th’- podem parecer sem importância nesse contexto.

Os locais de ensino também estão mudando: o computador ou o shopping center podem ser tão importantes quanto o que ocorre na sala de aula. Graddol vai além: ‘O aprendizado de inglês parece estar perdendo sua identidade como disciplina autônoma e se fundindo com a educação geral’.

Muitos estudantes de inglês não aprendem com falantes nativos. Por exemplo, como Graddol nota, na década de 1990 a China empregou belgas para ensinar inglês porque eles eram mais sensíveis às dificuldades da educação bilíngüe.

Esse tipo de prática está criando um novo padrão internacional de inglês, em que os falantes nativos têm um papel minoritário. Uma consideração relacionada é esta: os falantes de inglês nativos tendem a ser complacentes sobre aprender línguas estrangeiras, porque há uma idéia geral de que basta ser proficiente em inglês.

Os outros se esforçarão para aprender inglês -nós não precisamos realmente ser recíprocos. Quanto mais disseminada a capacidade de falar inglês, porém, menos isso será um dado diferencial.

Se falar inglês está se tornando um requisito básico para fazer negócios, haverá vantagem para os que também falarem outras línguas -o britânico ou o americano monoglota parecerão comparativamente desqualificados. ‘Inglês a Seguir’ é um apelo à ação. Aprender outros idiomas é essencial. Mas, em vez das aulas tradicionais de francês e alemão, os falantes nativos de inglês deveriam aprender árabe ou mandarim -ou mesmo português, russo ou espanhol.

Além disso, o centro de gravidade do inglês se deslocou. O futuro da língua parece que será moldado não tanto na Grã-Bretanha ou nos EUA, mas na China e na Índia, por uma florescente classe média de trabalhadores urbanos.

A íntegra deste texto saiu no ‘Financial Times’. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .’

 

Folha de S. Paulo

Jogadores não-europeus farão teste de língua no Reino Unido

‘As novas regras do Reino Unido para a autorização de trabalho a imigrantes não-europeus obrigarão os próximos jogadores de futebol que ingressarem nesse mercado a fazerem um teste de inglês básico. A partir de agora, boleiros são considerados ‘trabalhadores qualificados’. Jogadores já empregados, mesmo tendo notórias dificuldades em se comunicar na língua local -como Tévez (Manchester United) ou Elano (Manchester City)- não precisarão fazer a prova.

O Reino Unido vem intensificando campanha para que se dê preferência a cidadãos locais nos postos de trabalho disponíveis, incluindo a obrigatoriedade de as empresas anunciarem suas vagas no país antes de oferecê-las a estrangeiros.’

 

INTERNET
Raquel Cozer

Caça de xarás passou por três continentes

‘Jim Killeen, como milhões de pessoas que têm acesso à internet, um dia fez uma busca no Google com o próprio nome.

A pesquisa conduziu o ex-ator americano ao site Ur Not Alone (você não está só), em que Jim Killeen se descrevia como um ‘homem atraído por transexuais’. Em outra página, Jim Killeen era um padre numa cidadezinha no sul da Irlanda.

Curioso, o primeiro Jim Killeen dessa história encontrou 24 homônimos dispersos por América do Norte, Europa e Oceania. E resolveu ir atrás de um por um para documentar suas histórias em um filme.

Há duas semanas, a jornada produzida, dirigida e co-roteirizada pelo ex-ator teve estréia virtual no YouTube e real no Newport Beach Film Festival, em Miami. Desde então, ‘Google Me: The Movie’ está disponível no canal on-line youtube.com/googlemethemovie.

Killeen não foi bem-sucedido na tentativa de localizar todos os xarás -uma parte não tinha contatos na rede, outra disse ‘não’. ‘Teve um que justificou: ‘Não posso correr o risco de parecer um tolo’. Eu não pretendia fazer isso com ele!’, conta Killeen, 40, à Folha, por telefone, de Los Angeles, onde mora com sua namorada brasileira.

Seis toparam participar, incluindo o namorado da transexual Eryn, que se revelou ainda um praticante de troca de casais, e o pároco irlandês, crítico da postura inflexível do papa em relação aos homossexuais.

‘Não me importei [com as recusas]. Os que disseram ‘não’ provavelmente estariam pouco abertos a revelar histórias mais pessoais. Não seriam bons entrevistados’, acredita o diretor.

Entre os que aceitaram, está ainda um detetive aposentado que combatia a pirataria em Nova York e que, desconfiado, aceitou encontrar o diretor só à luz do dia, em ambiente aberto, acompanhados por várias testemunhas, ou melhor, amigos.

(‘Eu vi gente [criminosos] pulando pela janela’, conta o detetive em seu depoimento, ao que Killeen pergunta: ‘E daí você correu atrás deles?’. ‘Era a janela do 56º andar!’)

Outro, um gerente de vendas pai de oito filhos, surpreende ao definir como ‘corajoso e lutador’ o presidente americano George W. Bush.

Regras

Antes de sair à caça, o diretor estipulou suas regras. Elas incluíam a idéia de os homônimos se submeterem a um teste de DNA (para revelar um eventual parentesco) e que só valeriam, como personagens, Jim Killeens localizados via Google.

‘Estamos no século 21. Quero encontrar pessoas usando a última tecnologia, não pesquisando em catálogos ou bibliotecas’, diz ele no filme, no que alguns podem entender como uma alfinetada a Dave Gorman, o inglês que, em 2000, com a ajuda da lista telefônica, partiu para uma busca por dezenas de xarás (leia ao lado).

Com tal discurso, o diretor logo conseguiu o aval do Google. A empresa deu entrevista e autorizou o uso de seu logotipo, mas, segundo ele, não ajudou financeiramente.

O filme arrisca um debate sobre a relação entre internautas e o excesso de informações na rede. ‘Não vemos Jim Killeen como um nome. Vemos Jim Killeen como um conceito’, tenta explicar Douglas Merrill, então vice-presidente de engenharia do Google. (Como se vê, a discussão não avança muito.)

Por mais que o diretor alardeie como tema a ‘possibilidade de conectar pessoas’, ‘Google Me’ é, acima de tudo, um filme sobre ele próprio -e, por vezes, até sentimentalóide.

Killeen teve a clássica frustração com Hollywood. ‘Estudei muito, fiz poucos testes, trabalhei menos ainda’, diz. Virou também adepto da religião de Tom Cruise, a cientologia.

De resto, colecionou pontas como o papel de um cabeleireiro no filme ‘The Sex Monster’, de 1999, sobre um homem que convence sua mulher a dormir com outras mulheres -depois, ela não consegue mais parar.

A cruel realidade da cidade dos sonhos o levou a trabalhar com vendas e como jogador profissional de pôquer antes de descobrir a rentável atividade de gerir uma rede de cadeiras de massagem.

Rentável, desconfia-se, pelo número de viagens que Killeen faz no filme, sempre acompanhado por sua equipe de três pessoas. ‘Como diz o padre, há aspectos da vida de um homem que não são para conhecimento público’, desconversa Killeen, quando questionado sobre gastos. Diz apenas que ‘estourou todos os limites dos cartões’.

‘Novo conceito’

Até a última quinta-feira, ‘Google Me’ (apenas em inglês, sem legendas) tinha sido visto mais de 35 mil vezes na rede.

‘Na internet, temos uma exposição que não teríamos num lançamento tradicional’, diz o diretor, antes de avisar que o documentário ficará no ar por apenas mais duas semanas ou até completar 100 mil visualizações -o que vier antes. ‘Estamos felizes com os acessos e tudo, mas, sabe como é, não temos vendido muitos DVDs…’

O DVD, vendido pelo site por US$ 29,85 (cerca de R$ 50) nos EUA, inclui a história de um oitavo Jim Killeen, morto ‘após se envolver em um culto’, segundo (não) explica o diretor. Pedidos de outros países podem ser feitos pelo e-mail info@googlemethemovie.com, com preço a ser definido.’

 

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Vaidade ou não, ‘egosurfing’ pode ser útil

‘Entre um e outro esbarrão com Jim Killeens pelo mundo, o diretor Jim Killeen percorreu ruas de Los Angeles com a enquete ‘Você já deu um google em seu nome?’.

Raríssimos negaram ter feito tal busca na internet, diz o diretor. ‘Google Me’ inclui depoimentos como o do estudante da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) Justin Hotter, que lamenta o fato de a busca por seu nome levar a ‘9 bilhões de páginas’, com debates sobre se Justin Timberlake é ‘hotter’ (mais quente) ou não que outros artistas.

Killeen acredita que ninguém sabe direito a dimensão de ter acesso a muito mais informações sobre outras pessoas do que se tinha há pouco mais de uma década. ‘Muita gente dá um google em um pretendente antes de marcar um encontro. Mas é o.k. revelar isso durante o encontro? Eu não sei responder a essa pergunta.’

‘Dar um google’ ou ‘googlar’ virou verbo, mas esse tipo de pesquisa é anterior ao sistema de buscas desenvolvido a partir de 1996 por dois estudantes da Universidade de Stanford (EUA). Em 1995, a revista americana ‘Wired’ já usava o termo ‘egosurfing’ para a navegação egocêntrica em bases de dados.

Especialistas no mercado de trabalho refutam a idéia de que se ‘autogooglar’ seja vaidade. Um artigo do jornal canadense ‘Globe and Mail’, por exemplo, orienta: com pesquisas regulares, um candidato a um emprego pode saber o que aparece na web a seu respeito e estar preparado para situações embaraçosas em entrevistas.’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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