Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

INTERNET
Ernane Guimarães Neto

O ideal hippie da web

‘A internet é um legado tecnológico dos hippies. Essa é a tese do livro ‘From Counterculture to Cyberculture’ (Da Contracultura à Cibercultura, University Of Chicago Press, US$ 29, R$ 63), de Fred Turner, que acaba de sair nos EUA. O autor, professor de comunicação na Universidade Stanford, na Califórnia (EUA), argumenta que os cientistas responsáveis por certas redes de segurança usadas na Guerra Fria -que deram origem à internet- ‘nadavam’ em contracultura.

Os valores hippies teriam impregnado a tecnologia hoje mundialmente disseminada -a comunicação entre pares, sem hierarquia, que é a web.

Uma peça-chave dessa influência, segundo Turner, foi o ‘Whole Earth Catalog’ (Wec), a enciclopédia alternativa editada por Stewart Brand, que se autodenominava um livro de ‘acesso a ferramentas’ como mapas, bibliografia, endereços de cursos e instituições, receitas ‘faça-você-mesmo’ -sempre de acordo com o viés do comunitarismo alternativo da contracultura.

Em entrevista à Folha, Turner qualificou sua obra como um trabalho de ‘história cultural da computação’ e estabeleceu ligações entre a tecnologia disponível e a forma como a cultura alternativa dela se apropria.

FOLHA – Como define seu livro?

FRED TURNER – Penso nele como uma história cultural da computação. Com isso quero dizer que, normalmente, se conta a história dos computadores como uma história de máquinas, de mudanças tecnológicas, enquanto meu livro tenta contar uma história ‘tecno-social’.

FOLHA – O livro gira em torno da história do ‘Whole Earth’ e de Stewart Brand. Qual sua importância para os desdobramentos da web?

TURNER – Foram muito importantes nas mudanças tecno-sociais, mas não tiveram reconhecimento. Foram eles que reuniram engenheiros, cientistas, representantes da contracultura e artistas. Juntos, esses grupos decidiram o sentido cultural do computador. Eles ficaram famosos, mas seu poder não foi reconhecido -o de juntar grupos que não se ligavam.

FOLHA – Eles deram cara à web?

TURNER – Muito. Pelo menos a forma como os norte-americanos a enxergam.

FOLHA – Por que o grupo de Brand teve tanta influência?

TURNER – Vamos imaginar a região de San Francisco em 1971, 1972. A era dos hippies, do rock and roll havia passado e San Francisco era o centro disso. O pessoal do computador, na época, estava fora da contracultura. Eles não eram ‘os bacanas’. Uma vez perguntei a um deles por que se aproximou de Brand. ‘Porque Stewart Brand arrumava namoradas.’

Assim, Brand e a contracultura trouxeram um valor social que eles não tinham. Queriam ser legais, arrumar namoradas, ter estilo. Mais tarde, no início dos anos 80, quando a contracultura já havia morrido, pessoas como Brand se voltaram para os pesquisadores em computação -que passaram, então, a ser as pessoas ‘bacanas’- e os ajudaram a recuperar seu status cultural.

FOLHA – Como comparar os anos 1960, quando havia muita discussão política e de modelos econômicos, aos dias de hoje, em que hackers e ativistas digitais têm questionado o capitalismo?

TURNER – É uma conseqüência negativa importante das coisas que assinalei no livro. A cultura hacker é geralmente sobre como invadir máquinas e fazer dinheiro; a luta política, para eles, é o mundo da engenharia. Enquanto pessoas morrerem no Iraque e no Afeganistão, alterar a configuração de um computador não é necessariamente um ato político forte.

FOLHA – Então os hippies não mantiveram seus ideais vivos, no esforço conjunto com os ‘nerds’?

TURNER – Eles mantiveram seus ideais, mas eram ideais antipolíticos. É o modelo hippie: dar as costas à política e construir uma vida privada melhor.

FOLHA – Mas isso não é o que qualquer pessoa comum faz?

TURNER – Concordo. Nos anos 60, as pessoas formavam comunidades, mas que se pareciam muito com os subúrbios que elas haviam deixado para trás: as distinções de gênero, o racismo freqüente etc.

FOLHA – E as comunidades virtuais têm os mesmos problemas?

TURNER – Em muitas comunidades, há uma retórica da comunicação entre pares, um legado da contracultura. Uma grande esperança da contracultura é erigir uma sociedade de iguais, sem governo hierárquico. Mas as pessoas não funcionam assim, nem a internet. Mesmo quando não há moderadores, há pessoas de diferentes capitais sociais -educação, relações, dinheiro.

FOLHA – Com as ferramentas de busca, as minorias podem se encontrar mais facilmente. Como isso afetou a contracultura?

TURNER – Ao tornar mais fácil a busca por outras pessoas, a internet exigiu menos compromisso do indivíduo. Nos anos 60, para encontrar quem compartilhasse de seus ideais, era preciso ler o jornal, usar o telefone ou, mais provavelmente, pegar um carro e ir até onde estavam. Isso dá trabalho.

Hoje, basta estar on-line, o que não exige tanto compromisso, mas dá a sensação de estar atuando. Há a ilusão de que falar é mudar, que é o aspecto ruim dos blogs. Falar às vezes gera mudança social, mas não com a freqüência que os falantes imaginam.

FOLHA – O sr. acredita que dessas palavras possa virá a ação?

TURNER – Não sei muito sobre a nova geração de ativistas, mas, em relação àqueles que vejo, são um pouco como os antigos.

Não estão dando as costas ao capitalismo; ao invés disso, estão usando negócios para agir. A maioria dos meus alunos, por exemplo, só quer saber de arrumar um emprego.

FOLHA – Então o sr. acha que os mais jovens tendem a deixar de lado esse viés revolucionário da internet?

TURNER – Há o indymedia [www.indymedia.org], que faz coisas para gerar mudanças. Mais poderosas que essas são as manifestações anônimas em sociedades mais repressivas, como a iraniana e a chinesa.

Nos EUA, muitos acham que a expressão individual é um ato revolucionário. É um pouco, mas não é o mesmo que formar um partido político.

Ainda não tivemos bons exemplos da internet como um lugar para forte organização. Ela funciona bem para juntar dinheiro, mas não para reunir pessoas e formar partidos.

A internet ainda está lá, pode ser usada por quem pensa em mudanças, mas aqueles que querem mudanças sociais precisam se concentrar em organização social, em política, e usar as ferramentas da internet -a habilidade de conectar, falar, representar- como apoio para a construção de novas instituições políticas -não apenas espaços de conversação política; esses já existem em número mais do que suficiente.

ONDE ENCOMENDAR – Livros em inglês podem ser encomendados no site www.amazon.com



O SORRISO DA SOCIEDADE
Carlos Heitor Cony

O sorriso da sociedade

‘Em 19 de junho de 1915, no saguão do ‘Jornal do Commercio’, na esquina mais nobre do Rio de Janeiro (rua do Ouvidor com avenida Rio Branco), o jornalista Gilberto Amado matou o poeta Annibal Theophilo.

A Objetiva está lançando ‘O Sorriso da Sociedade’, de Anna Lee, historiando as intrigas e um crime no mundo literário da ‘belle-époque’. O título é uma referencia à definição de Afrânio Peixoto: ‘a literatura é como o sorriso da sociedade’.

Anna Lee apresenta o avesso dessa definição infeliz. A sociedade a que Afrânio Peixoto se referia freqüentava os saraus do ‘Jornal do Commercio’, onde os temas em debate eram o ‘beijo’, o ‘galanteio’ e outros afins. Num desses saraus, sentindo-se insultado por Annibal Theophilo, o futuro embaixador e acadêmico Gilberto Amado disparou sua arma, matando o desafeto.

A sociedade não sorriu nesse lance. Ficou estarrecida. Toda a ‘entourage’ literária e política daquele tempo se envolveu no processo: Coelho Neto, Olavo Bilac, Pinheiro Machado e outros. O estudo de Anna Lee torna-se uma referência ao lado de ‘A Vida Literária no Brasil’, de Brito Brocca.

É um levantamento dos usos e costumes daquela época, quando outro escritor, Euclides da Cunha, também foi assassinado. Temos uma impressão folclórica desse tempo: poesia e prosa servidas nas mesas da ‘Colombo’ e da ‘Cavê’, as piadas de Emilio Menezes, as loucuras de José do Patrocínio e Olavo Bilac narradas por Ruy Castro em ‘Bilac Vê Estrelas’.

Nem a tragédia do ‘Jornal do Commercio’ quebrou o clima daquela turma. No enterro de Annibal Theophilo, cumprindo recomendação do próprio, aspergiram durante o velório o perfume francês que ele usava, ‘Idéal de Houbigant’.

Anna Lee garante que o estoque do perfume acabou em todo o Rio de Janeiro.’



O HOMEM QUE INVENTOU FIDEL
Elio Gaspari

O repórter que Fidel Castro destruiu

‘Está chegando às livrarias ‘O Homem que Inventou Fidel’, do jornalista Anthony De Palma. Conta três histórias: a vida do Comandante, a criação de seu mito e a decadência do repórter que se julgou dono ou, pelo menos, parceiro do urso. O doutor chamava-se Herbert Matthews e morreu amargurado, no interior da Austrália, em 1977. Ele criou o Fidel-Robin Hood em 1957, ao entrevistá-lo na mata da Sierra Maestra. Meses antes, a agência UPI noticiara que o guerrilheiro estava morto.

A sensacional entrevista com o barbudo dominou a primeira página de uma edição dominical do ‘The New York Times’. Até hoje há quem acredite que Castro é aquele garotão sonhador e libertário. De Palma mostra como Fidel manipulou Matthews e o tamanho de sua ruindade depois de se tornar Senhor da Ilha. O Comandante vangloriava-se publicamente de ter iludido o gringo, fazendo com que seus soldados andassem em círculo pelo mato, fingindo que eram muitos. Mentira. De Palma foi ao lugar da entrevista e constatou que ela aconteceu numa crista, sobre um riacho. O truque era topograficamente impossível.

Matthews morreu sustentando que Fidel tornou-se comunista por causa do governo americano. Quem quiser um passeio pelos meandros das cavilações de jornalistas estará bem servido. Verá um Matthews bem menor. Convidou a dona do jornal para madrinha de seu filho, tinha um pé na Redação e outro na seção de editoriais, viajava com a patroa (tudo pago) e detonava colegas que supunha rivais. Adorou o papel de dono do urso barbudo e foi comido pelo mito que criou.’



FIM DOS JORNAIS
Clóvis Rossi

Férias, as últimas?

‘Saio hoje de férias (até o começo de dezembro) com a sensação que deve sentir o mico-leão-dourado: a de uma espécie em vias de extinção.

Um estudioso norte-americano, que já citei neste espaço, chegou a pôr até a data do fim na lápide do jornalismo impresso (2040, salvo erro de memória).

A coisa é tão feia que a revista francesa ‘Marianne’ está propondo a criação de uma comissão, formada por personalidades independentes, com a única tarefa de lançar ‘uma grande campanha nacional pela independência da imprensa’, como diz Maurice Szafran, diretor da revista.

A idéia é reunir até 40 milhões (cerca de R$ 112 milhões), a serem redistribuídos a jornais em dificuldades.

Recorrer à sociedade é uma idéia bem melhor e mais sadia do que a do governo petista de dar dinheiro público para publicações ‘amigas’, ou seja, para o popular jornalismo chapa-branca.

Ainda assim, e mesmo que o público francês compre o ‘bolsa-mídia’, não vai resolver o problema, O jornalismo impresso vive uma crise que é, sim, financeira, mas é acima de tudo uma crise de destino.

Explícita ou implicitamente, vivemos sob a cultura do lema do ‘New York Times’, qual seja, publicar ‘all the news that is fit to print’. Hoje em dia, todas as notícias que estão prontas para publicação aparecem antes que os jornais comecem a rodar -ou na TV, ou na internet, ou no rádio.

Logo, a rigor, não há mais notícias ‘fit to print’ que sobrevivam até o dia seguinte, quando os jornais começam a circular. É claro que sempre sobra alguma rebarba de informação exclusiva, mas é pouco para uma indústria tão cara.

O jornalismo impresso precisa reinventar seu destino. Eu tenho até alguns palpites, mas, como não passam disso, o melhor é tirar férias. Na volta conversamos.’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo veta comercial com chef da Record

‘A TV Globo vetou a exibição de um comercial da Unilever, um dos maiores anunciantes do país, protagonizado por um apresentador da Record, o chef Edu Guedes.

O comercial anuncia uma promoção em que o consumidor troca rótulos de uma marca de maionese por um livro de receitas assinado por Guedes, do programa ‘Hoje Em Dia’.

Em todas as TVs, menos na Globo, é Guedes quem apresenta a promoção, em uma cozinha. Na Globo, o chef não aparece. Seu nome só é citado porque está no título do livro.

A Folha apurou que essa peça foi produzida especialmente para a Globo, a toque de caixa.

O motivo do veto ainda não está claro. Uma das hipóteses seria a de que o anúncio remete ao programa da Record, o que é proibido pelo ‘Manual de Práticas Comerciais’ da Globo.

Procurada, a Unilever deu resposta genérica. Afirmou que ‘produz os comerciais de suas marcas seguindo critérios técnicos’ e que ‘há casos em que uma promoção ou campanha pode ter mais de um filme diferente em veiculação, de acordo com a estratégia’.

A Globo não nega o veto. ‘As relações comerciais entre a TV Globo, as agências e os clientes são pautadas por uma tradição comercial saudável e regidas pelo ‘Manual de Práticas Comerciais’. As negociações são restritas às partes envolvidas e, portanto, não as comentamos’, disse em nota.

BEM NA FITAO seriado ‘Antônia’ agradou tanto no Ibope que a Globo já pensa em encomendar à produtora O2, de Fernando Meirelles, uma segunda temporada, para 2007. O programa foi um dos assuntos mais comentados em reunião de cúpula da rede na semana passada.

MUSICAL NACIONALA Disney está negociando com a Globo uma parceria para promover um concurso para escolher o elenco de versão do musical ‘High School Musical’, fenômeno do Disney Channel, que será encenado no Brasil.

PAQUITOO ator e ex-paquito Claudio Heinrich gravou sexta-feira o piloto de um novo programa da Record, um ‘game show’ de namoro às escuras que deve estrear em janeiro próximo.

RACISMO NA NOVELA 1A novela ‘Páginas da Vida’, de Manoel Carlos, que adora uma polêmica, vai tratar de preconceito racial nos próximos capítulos. A vítima será a médica Selma (Elisa Lucinda).

RACISMO NA NOVELA 2Na trama, finalmente Selma conhecerá a ex-mulher e a filha de seu marido, Lucas (Paulo Cesar Grande), respectivamente Angélica (Cláudia Mauro) e Gabriela (Carolina Oliveira). As duas reagirão com atitudes racistas ao descobrirem que a mulher de Lucas é negra.

BLOCKBUSTERSO canal Telecine já anuncia os filmes que exibirá em 2007. ‘King Kong’ (em janeiro), ‘O Diabo Veste Prada’, ‘Missão Impossível 3’, ‘O Jardineiro Fiel’ e ‘Brokeback Mountain’ encabeçam a lista.’

Lúcio Ribeiro

Heróis da audiência

‘Liderado por uma loirinha chefe de torcida cuja vida representa o futuro da humanidade e por um japonês nerd que consegue parar o tempo fazendo caretas, o novo seriado ‘Heroes’ é a sensação da TV americana e larga na frente na corrida dos estúdios para revelar o ‘novo ‘Lost’.

Com o mantra ‘Save the cheerleader, save the world’ já percorrendo o universo pop, ‘Heroes’ estreou no último dia 25 de setembro trazendo a história de pessoas normais que de repente vão descobrindo que têm superpoderes.

Quem de cara mostrou superpoderes foi a série. Sua estréia atraiu 14,1 milhões de telespectadores e aumentou em 48% a audiência da NBC em relação à média da temporada anterior no mesmo horário, além de garantir os melhores números de um drama estreante da emissora em cinco anos.

‘Heroes’ é a série nova mais vista no segmento favorito dos anunciantes (18-49 anos) e não faz feio entre as veteranas. Com apenas dois meses, já é o sexto favorito entre os adultos, perdendo apenas para pesos-pesados como ‘CSI’, ‘Desperate Housewives’, ‘Lost’ e o futebol americano de domingo.

‘Heroes’ dá pinta de ir longe: sua audiência já ganhou mais um milhão de telespectadores desde a estréia, e o canal garantiu a encomenda da temporada completa. Foi o primeiro programa da nova temporada a conseguir o feito.

A série está salvando o orçamento de 2006 da Universal Studios. Única grande corporação de entretenimento que não tinha um seriado de sucesso, a Universal ficou tão empolgada que está voltando a maior parte de seu orçamento para seriados de TV, apertando o cinto com cinema e música.

Mistura de ‘X-Men’ com ‘Arquivo X’ e ‘The OC’, ‘Heroes’ mistura ação, mistério, aventura, drama teen, quadrinhos e ficção científica -tudo num só show. E está fazendo seus atores virarem estrelas instantâneas. ‘O seriado não mudou muito minha vida cotidiana. Eu ainda caminho tranqüilamente pelas ruas, vou a restaurantes, lanchonetes e tudo continua o mesmo’, disse à Folha Milo Ventimiglia, o ator relativamente mais conhecido de ‘Heroes’, que participou de ‘Gilmore Girls’.

‘Mas não se esqueça de que você mora em Los Angeles, e todos são blasé quando vêem as estrelas na rua. No máximo eles dão uma piscadinha e dizem ‘bom trabalho’, se o reconhecem’, diz Adrian Pasdar.

Pré-hit

Ventimiglia e Pasdar, os irmãos de ‘Heroes’ que levam vidas ordinárias em Manhattan e se descobrem com poderes de voar, concederam no começo do mês duas horas de teleconferência para a imprensa americana, da qual a Folha participou (leia mais ao lado).

‘Heroes’ não é um hit instantâneo. É o que se pode chamar de pré-hit -já era sucesso antes de chegar à TV. O episódio piloto caiu na rede bem antes da estréia na NBC e já garantiu a formação de fãs. Entrou na lista dos melhores programas da temporada dos críticos. O boca-a-boca fez o resto: quando chegou a vez de debutar no horário nobre, ‘Heroes’ já estava preparada para arrebanhar o público.

No Brasil, a série deve estrear entre fevereiro e março, na TV paga (Universal). A Record já garantiu os direitos de exibição da série na TV aberta.

Mas, seja onde for, a história não vai pegar todos os brasileiros de surpresa. No comércio paulista de DVDs piratas, montados a partir de downloads da internet (com legendas em português), ‘Heroes’ já é consumido em alta velocidade. Sai mais do que DVDs de outros seriados. ‘Heroes’, no Brasil, também já é pré-hit.’



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Candidatos choram, desmaiam e pedem dinheiro para o ônibus

‘A Folha acompanhou com exclusividade as gravações das audições de ‘Ídolos’ em Campinas, no último dia 16.

As gravações ocorreram no hotel mais luxuoso da cidade. Uma das salas de convenções foi transformada em estúdio. A ante-sala virou o ‘Corredor da Morte’, como a produção do programa chama a fila dos candidatos que estão prestes a enfrentar os jurados.

‘Está chato hoje’, reclama Arnaldo Saccomani. ‘Só passamos dois de 20 candidatos’, completa. O jornalista e produtor musical Carlos Eduardo Miranda mostra para a reportagem o iPod em que assiste a desenhos para driblar o tédio.

Entra a candidata Ana Lúcia Borges Ferreira. Ela entoa ‘Festa’, de Ivete Sangalo, bem acima do tom. Reprovada logo de cara, conta que veio de Brasília, que é empregada doméstica desempregada. ‘Você veio de Brasília pra fazer isso aí? Só posso te dar ‘não’, sentencia Miranda. Ela implora outras chances, mas não convence. ‘Eu posso melhorar’, insiste.

A empregada deixa o estúdio, mas continua no hotel, sem pressa de ir embora. O apresentador Beto Marden descobre que ela não tem dinheiro para voltar a Brasília. E faz uma ‘vaquinha’ na produção para ajudar a moça.

Graziele Salgado César entra em seguida. ‘Você tomou café da manhã?’, pergunta Cyz. ‘Eu jogo futebol’, responde a garota, que engasga com mais uma de Sangalo, ‘Levantou Poeira’. ‘No meu time você não ficaria nem no banco’, despacha Roth.

A modelo Karen Bejarano Pinto mal tem tempo de cantar ‘Tu és divina e graciosa, estátua majestosa’ -de ‘Rosa’, composição de Pixinguinha e Otávio de Sousa- e é ‘gongada’. ‘Aí não dá! Uma gata como você cantando uma música velha dessas eu não posso aprovar’, reprova o ranzinza Saccomani.

Ela tenta uma música dos anos 70. ‘Essa é nova, de uma mocinha chamada Rita Lee’, ironiza Miranda. O júri dá mais uma chance. Ela engata ‘Ave Maria’, mostrando algum talento para o lírico. Divide os jurados, mas é reprovada, apesar do choro. ‘Ela cantou bem ‘Ave Maria’, mas não é isso o que a gente procura’, lembra Cyz.

A tensão entre os jurados é quebrada por Kelly Silva de Almeida, que entra no estúdio servindo uvas. ‘E aí, gente bonita!’, saúda. Canta ‘Alô, Alô Marciano’ num tom tão agudo que fica engraçado, caricatural. ‘Você sabe que não é cantora’, diz Roth. Ela concorda, dizendo que trabalha na roça. E solta um funk carioca, para diversão geral.’

Bruno Segadilha

Britney Spears inspira ‘Law & Order’

‘Há mais de 16 anos no ar, os investigadores e advogados de ‘Law & Order’ se preparam para uma nova série de casos: histórias inspiradas em crimes reais e escândalos envolvendo celebridades.

Em sua 17ª temporada, que estréia amanhã, às 23h, no Brasil, no Universal Channel, a série incorpora algumas novidades à antiga e consagrada fórmula que lhe vem garantindo, todos os anos, um posto entre os 20 programas mais assistidos da TV norte-americana.

A primeira mudança está no elenco. Com a saída do ator Dennis Farina, que interpretava o detetive Joe Fontana, os produtores da série tiveram de procurar um novo parceiro para o detetive Eddie Green (Jesse L. Martin). A escolhida foi a atriz Milena Govich, que assume o papel da novata investigadora Nina Cassady. Ela inaugura uma nova fase da série, que traz, pela primeira vez, uma dupla de protagonistas formada por um homem e uma mulher. Além dela, o promotor Jack McCoy (Sam Waterston) também ganha uma ajuda: a assistente Connie Rubirosa (Alana de La Garza).

Além do reforço no elenco feminino, a série aposta, na nova temporada, em histórias reais que chamaram a atenção da opinião pública americana. O primeiro episódio da nova leva se inspira nos escândalos envolvendo a cantora pop Britney Spears e seu filho Sean Preston, 1. Na história, os detetives Green e Cassady trabalham em um caso de fotografias roubadas que denunciam negligências com o filho e problemas conjugais de uma celebridade.

As semelhanças com a vida da musa teen não são coincidência: no começo ano, Britney teria recebido a visita de oficiais do setor de proteção à criança por ter dirigido com seu filho no banco da frente do carro e por deixá-lo cair de cabeça no chão.

Mel Gibson também contribuiu para o programa com sua cota de escândalos. As declarações anti-semitas proferidas a policiais de Los Angeles, em julho deste ano, renderam o episódio ‘In Vino Veritas’, em que Chevy Chase interpreta um ator problemático.

A série abre espaço ainda para o caso Rachelle Waterman, que se tornou conhecida nos EUA ao publicar mensagens na internet sobre o assassinato de sua mãe. As mensagens foram usadas contra ela no julgamento do caso.’

Laura Mattos

7ª temporada traz ótimos episódios e material inédito

‘Nos extras da sétima temporada da histórica série ‘Seinfeld’, que acaba de ser lançada em DVD, seu criador e protagonista Jerry Seinfeld comenta o fato de grande parte das histórias do programa serem reais: ‘O truque é ver que aquilo foi engraçado do jeito que aconteceu’.

Incrível como tudo soa genial em ‘Seinfeld’. De repente, as mais bestas frustrações do cotidiano se transformam em piada boa. Nessa temporada (quatro DVDs, com 24 episódios), Jerry e George Constanza percebem que dispensam garotas por motivos idiotas só para fugir de compromisso sério. E constatam: são moleques, não homens. ‘A vida é só isso [escapar de casamento e tomar café com os amigos]?!’, questiona George, indignado com a insignificância de sua existência. ‘É, é só isso’, sentencia Jerry.

O debate filosófico resume por que ‘Seinfeld’, ‘a série sobre o nada’, como é definida, fez tanto sucesso. Aparentemente ‘losers’ (perdedores), os protagonistas tornam-se heróis ao mostrar que a vida é mesmo só isso, mas pode ser muito divertida, simples assim.

A sétima temporada é imperdível como todas. Entre os episódios clássicos, estão ‘The Soup Nazi’ (do maluco que só vende sua deliciosa sopa a quem segue regras rígidas de comportamento na fila e diante do balcão), ‘The Sponge’ (‘esponjas’ anticoncepcionais são retiradas do mercado, e Elaine transa menos para não gastar as últimas) e ‘The Invitations’ (o último da temporada, quando o noivado de George e Susan tem um fim inesperado).

Em ‘The Sponge’, destaque para a cena em que George não consegue abrir o pacote da camisinha a tempo. Em outro momento, pergunta a Jerry por que as embalagens são tão difíceis, ao que o amigo responde: ‘Talvez para que a mulher tenha chance de mudar de idéia’.

Mais extras

Os extras são atração à parte, com aproximadamente 15 horas de material inédito. O melhor são as entrevistas gravadas pelos atores em 2004, 15 anos após o início da série (que terminou em 1998). Seinfeld e Julia Louis-Dreyfus (Elaine) pouco mudaram. Jason Alexander (George) surge de barba, e Michael Richards (Kramer), envelhecido. Surpresa com ótimos coadjuvantes: Heidi Swedber (Susan, noiva de George) engordou, e Wayne Knight (o roliço Newman) está magro!

Roteiristas comentam detalhes das cenas, como bonecos de macarrão que enfeitam uma estante na casa de Kramer.

Tem fofoca também. Contam que o comediante Danny Hock foi convidado para ser o cara da piscina na academia de Seinfeld por conseguir fazer vários sotaques latinos. Mas se recusou a usar a pronúncia por achar que seria depreciativo com los hermanos. Foi aprovado mesmo assim. No entanto, ao encerrar sua participação, passou cinco anos fazendo shows em que detonava Seinfeld e dizia ter sofrido preconceito nos bastidores. (SEINFELD – 7ª TEMPORADA Criador: Jerry Seinfeld e Larry David Distribuidora: Sony (R$ 100 a caixa, em média))’

Bia Abramo

Nova novela da Band surpreende

‘A TV É pródiga em vender gato por lebre, mas ‘Paixões Proibidas’, a nova empreitada da Bandeirantes, parece estar fazendo o contrário.

Promovida pela própria emissora como uma trama de conteúdo forte -a estréia, duas semanas atrás, foi precedida, inclusive, de um programa especial que sublinhou as cenas de sexo e de violência -, a novela, na verdade, acaba surpreendendo pelo apuro da produção e pelo cuidado com o roteiro.

A reconstituição do século 19 dessa co-produção com a RTP (emissora pública de Portugal) apresenta alguns desvios interessantes em relação ao padrão global. Não por conta de precariedade, que é o habitual na concorrência, mas por uma coragem de lançar um olhar mais duro em direção ao passado.

Pobreza, sujeira, a presença escrava nas ruas e no ambiente doméstico vêm menos maquiadas e arrumadinhas do que as das novelas da Globo. Está certo que as locações em Portugal não escondem sua vocação quase turística, mas, em contraste, aparece também a precariedade do Rio de Janeiro antes da chegada da família real e da decadente Vila de Resende, em plena troca da monocultura açucareira para a cafeeira.

O excesso romanesco -natural, uma vez que se trata de uma adaptação a partir de três obras do ultra-romântico Camilo Castelo Branco-, paradoxalmente, também contribui para esse retrato menos edulcorado da história.

Os personagens meio misteriosos do escritor -o padre vingador, o escroque que faz fortuna com pirataria, a tísica vítima da crueldade do marido-, que parecem, à primeira vista, mirabolantes, acabam por representar certos aspectos de um modo de vida marcado pela condição subordinada das mulheres, pelo desprezo às leis e ao trabalho, pela violência da sociedade escravista.

Isso revela um dedo mais inteligente e crítico do que se espera de uma ‘novela de época’. Aimar Labaki, responsável pelo roteiro, é, além de dramaturgo, um teórico do teatro, e, por ora, vem conseguindo imprimir um teor de densidade que não se encontra com facilidade na televisão.

É pena que, aqui e ali, tenha que sobrar uma certa gratuidade na exposição de corpos, de relações sexuais e de chicotadas em escravos. Mas não deveria ser o suficiente para impedir o público de descobrir a novela.’



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