Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo



CENSURA
Reportagem Local

Ministro é contra a censura no caso Kroll

‘O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio de Mello se opuseram à decisão judicial que proíbe a Folha e a Folha Online de divulgar informações sobre o processo criminal que apura a contratação da Kroll para espionagem empresarial. Thomaz Bastos a considerou ‘uma espécie de censura’. Marco Aurélio de Mello, ‘um passo demasiadamente largo’.

Ao contrário do que a Folha publicou ontem, a determinação partiu do juiz titular da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Silvio Luis Ferreira da Rocha. A Folha tomou conhecimento da decisão por meio de um ofício assinado pela juíza federal substituta Margarete Morales Simão Martinez Sacristan -o que levou o jornal a acreditar que a decisão havia sido dela. Sacristan disse ontem que apenas expediu o ofício informando o jornal sobre a decisão do juiz titular.

Bastos se disse ‘radicalmente contra’ a decisão. Segundo ele, ‘o sistema constitucional de direito brasileiro é um sistema que exerce um controle ‘a posteriori’ da atividade de imprensa. Nas suas palavras, ‘responsabiliza as pessoas pelo que elas fazem, mas não pode impedi-las de fazer’.

Para o ministro Marco Aurélio, não podem ser divulgados dados resultantes de quebra de sigilo, porém o restante do processo e dados gerais podem ser públicos.

‘Se são dados em geral, que não estão sob sigilo, você tem uma posição extremada, que contraria o direito básico à informação e também inviabiliza a atuação profissional do jornal’, afirmou.

Para o presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Rodrigo Tolentino de Carvalho Collaço, o sigilo de Justiça não permite a transcrição de partes do processo, porém informações transmitidas por advogados, pessoas envolvidas no caso ou outros tipos de dados ficam fora da proibição de divulgação.

‘O segredo de Justiça protege o processo. Tudo que não diga respeito à reprodução ou quebras de sigilo está fora. Se não, há o cerceamento da liberdade de imprensa’, disse Collaço.

Integrante do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o advogado Ademar Rigueira também é contra a decisão. ‘É um abuso. O sigilo só deve ser preservado dentro das garantias constitucionais, ou seja, em casos de proteção dos sigilos fiscal, bancário e telefônico.’

Censura prévia

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, também criticou a decisão. ‘É uma demasia que levou o juiz cometer um ato inconstitucional. O artigo 220 da Constituição garante a plenitude a liberdade de expressão’. Para ele, a decisão ‘instituiu novamente a censura prévia, que já foi abolida no país há mais de 20 anos’.

O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Jorge Antônio Maurique, defendeu a decisão, dizendo que, embora possa parecer censura, esse tipo de medida visa preservar a integridade dos envolvidos. ‘Uma vez divulgados os fatos, ainda que posteriormente a pessoa venha a ser absolvida, ela já foi na opinião pública condenada.’

Afirmando que ‘respeita a imprensa’, Maurique disse que houve cumprimento da Constituição. O advogado Alberto Toron, membro do conselho da OAB, segue Maurique. ‘A decisão foi absolutamente correta. Se o sigilo foi decretado nos autos, nada pode ser divulgado’, disse.

Em sua decisão, o juiz determinou que ‘cesse imediatamente qualquer forma de divulgação de dados pertinentes aos fatos e às pessoas envolvidas no processo em questão, seja por intermédio de notícia jornalística, televisiva, rádio ou qualquer outro veículo de divulgação, inclusive por meio de página da rede mundial internet, mantida por essa empresa, sob pena de infração ao artigo 10 da lei nº 9.296/96 e art. 153 do Código Penal, pois trata-se de processo no qual foi decretada a tramitação sigilosa’.

A Folha vai recorrer da decisão, porém já retirou da internet 165 páginas -57 da Folha Online e 108 da edição eletrônica do jornal- referentes ao tema.

O caso Kroll foi revelado pela Folha em julho de 2004. A Brasil Telecom contratou a empresa para investigar a concorrente Telecom Italia e acabou atingindo o primeiro escalão do governo Lula. A Folha procurou o juiz Silvio Luis Ferreira da Rocha, mas sua assessoria informou que não conseguiu localizá-lo.’



Thiago Reis

ANJ protesta contra grampo na Rede Gazeta

‘A Associação Nacional de Jornais emitiu uma nota ontem na qual ‘protesta com veemência contra a autorização judicial que permitiu a escuta telefônica da Rede Gazeta, do Espírito Santo’.

O caso começou após a interceptação telefônica autorizada pelo desembargador Pedro Valls Feu Rosa, que, em uma nota divulgada ontem, disse que foi induzido ao erro, pois pensou tratar-se do número telefônico de uma empresa de fachada, de nome Telhauto.

A escuta foi solicitada a um juiz por dois delegados da Polícia Civil em 23 de março deste ano. Cinco dias depois, o desembargador autorizou o grampo.

Os policiais investigam o assassinato do juiz federal Alexandre Martins, morto a tiros em março de 2003, em Vila Velha (ES). Os delegados apuram se a suposta empresa é de um dos possíveis envolvidos no crime. Sete já foram condenados pelo crime .

O secretário da Segurança do Estado, Rodney Miranda, disse que vai apurar o fato com rigor e saber com os dois delegados por que constava o número da Rede Gazeta no pedido feito à Justiça.

Na nota emitida ontem, o desembargador disse ainda que repudia toda e qualquer prática que venha coibir o exercício do jornalismo: ‘O erro é que os documentos oficiais que estavam no processo, e lá colocados antes do envio a mim, diziam que o telefone era da Telhauto, número na verdade que pertence à Rede Gazeta’, afirmou na nota.

‘Para máxima clareza: o equívoco da troca dos números foi praticado muito antes de o processo chegar às minhas mãos.’

De acordo com o presidente do Conselho Administrativo da Rede Gazeta, Carlos Lindenberg Filho, a escuta foi realizada durante dois meses (março e abril). ‘Isso me parece uma trama. Como é que os policiais que operam o sistema e ouviram as vozes dos jornalistas não pararam, então?’

Em nota, a rede afirmou que ‘indignação é pouco para definir o sentimento da Rede Gazeta’.’



TV DIGITAL
Marcos Magalhães

Os rumos da TV digital no Brasil

‘Às vésperas do veredicto do governo brasileiro que definirá o padrão da TV digital no Brasil, ainda é preciso considerar alguns aspectos para definir os rumos que o país deseja tomar com relação ao desenvolvimento tecnológico nessa área nos próximos 50 anos. O governo recebe, em breve, uma análise realizada por 90 centros de pesquisa brasileiros sobre o padrão mais adequado ao nosso perfil, e tem até o dia 10 de fevereiro de 2006 para se posicionar.

O que está em jogo não é se vai dar tempo de os brasileiros assistirem à Copa do Mundo de 2006 com uma imagem em alta definição e com interatividade, mas se estarão preparados para se manter dentro de um mercado globalizado que promete girar US$ 100 bilhões por ano e render divisas, a depender da escolha que será feita.

O primeiro desafio: adotar um dos três sistemas vigentes, os chamados europeu, japonês ou norte-americano, como vem se configurando na prática, ou desenvolver um sistema nacional, desembolsando a quantia de US$ 2 bilhões apenas a título de investimento inicial.

Visto que a última hipótese foi praticamente descartada sob risco de penalizar os cofres públicos e os bolsos dos contribuintes, resta ainda outra decisão. Adotar um padrão pronto e fechado, baseado num modelo de negócio importado e sob controle de governos de outros países, ou fazer parte de um consórcio privado internacional que propõe um sistema em evolução, cujos investimentos seriam pulverizados entre centenas de participantes e que poderia garantir royalties para o país, além de inúmeras vantagens tecnológicas para empresas e consumidores?

Os três sistemas em uso no mundo têm premissas de implementação diferentes, com adequação para situações de mercado distintas. O ATSC (Advanced Television Systems Committe) norte-americano, com início em 1998, tem foco na réplica do modelo de negócio já existente de televisão analógica, predominantemente privada, com uso de concessões de freqüências administradas pelo FCC (Federal Communication Committee). O cenário de desenvolvimento da TV digital naquele país é bastante limitado, já que 85% da população optou por usufruir da qualidade, da programação e da interatividade já disponíveis na TV a cabo paga -as três principais vantagens da transmissão de TV digital.

Implantado no ano passado em apenas duas cidades do Japão, Tóquio e Osaka, o sistema ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting) tem desempenho técnico adequado à necessidade local, onde as principais emissoras são estatais e a TV domina todos os meios de comunicação. O ISDB, assim como o ATSC norte-americano, é administrado pelo governo local. Planos de evolução, alteração ou inclusão de novos serviços estão sob controle governamental.

Originário de um consórcio privado de cerca de 300 indústrias e emissoras ao redor do mundo e com participação de centros de pesquisa, o sistema DVB (Digital Video Broadcasting) teve como cliente inicial a Comunidade Econômica Européia. Difere dos outros por ser o único sistema que pode adequar-se aos diversos modelos de negócios que ainda estão em experimentação no mundo. Somente o DVB permite que o Brasil se una a seu bloco de desenvolvimento, associando-se ao consórcio, para participar da sua evolução.

É possível, por exemplo, propor e levar adiante alterações ou implementações de modo coletivo. Para o governo brasileiro, isso pode representar mais arrecadação, uma interferência positiva no sentido de favorecer o perfil dos consumidores brasileiros, incentivo à pesquisa e uma boa perspectiva ‘individualizada’ de recebimento de royalties com o registro de patentes sobre as inovações que venham a ser adotadas pelo restante do mundo. O investimento seria cotizado entre os diferentes membros do consórcio.

Com a evolução para sistemas de compressão mais sofisticados e para um adendo que possibilita mobilidade com o mínimo de consumo de bateria, pode-se dizer que o DVB é o mais moderno tecnicamente e o mais flexível para qualquer modelo de negócio. A indústria também se beneficia da larga escala: aparelhos com a tecnologia DVB já são realidade nas lojas de diversos países na Europa, Oceania, Ásia e África. Passa a contar também com tecnologias abertas, oferecidas por uma gama variada de fornecedores.

Seja qual for a solução digital escolhida, o fato é que não se pode imaginar que seja estática. Seu dinamismo exigirá do país uma participação engajada na comunidade digital internacional e determinante para o futuro. Somente assim será possível participar de um processo evolutivo tão veloz quanto o próprio desenvolvimento da tecnologia, capaz de trazer inúmeros benefícios a uma nação que não pode prescindir da exportação, da transferência de serviços, da entrada de divisas, enfim, de seu crescimento.

Marcos Antonio Magalhães, 59, engenheiro com pós-graduação em telecomunicações pela Escola de Engenharia de Eindhoven (Holanda), é presidente da Philips para a América Latina.’



MEMÓRIA / MANECO MÜLLER
Luís Nassif

As lendas do Rio de Janeiro

‘Na quarta-feira passada, morreu Jacinto de Thormes, o Maneco Müller, a grande expressão do colunismo social do Rio de Janeiro dos anos 40. Apesar de sua morte, o velho Rio ainda resiste, em cidadãos de mais de 70 anos, muitos com mais de 80, que viveram o apogeu da cidade. São eles que cultivam as lendas que ainda cercam a cidade.

Como o caso de Margot Fonteyn, das maiores bailarinas do século, nascida em 1911, morta em 1991. Nos anos 40, a maior fortuna do Rio era a de Ernesto Fontes, dono de indústria têxtil no Brasil e em Londres. Quando veio para cá, deixou um irmão tomando conta dos negócios em Londres. O irmão foi o verdadeiro pai de Margot, o nome ausente em sua certidão de nascimento, que só mencionava a mãe.

Nos negócios imobiliários, muitas lendas cercam o nome e as festas do venezuelano Santes Vahlis. Em todo lugar do mundo, a gasolina de melhor qualidade era a verde. Aqui, o nome foi avacalhado depois que ele importou uma gasolina verde falsificada. Foi tão marcante o feito que, dali por diante, gasolina nobre virou azul.

Do mesmo modo, foi um feito gastronômico extraordinário do jovem playboy Eugeninho Raja Gabaglia, que mudou os hábitos forenses, impedindo a aceitação de originais de cheques sem fundos nos processos judiciais. Processado por ter emitido cheque sem fundos, Eugeninho foi ao fórum, pediu o processo, pegou o cheque e engoliu a prova do crime. Quando perceberam, escrivães e oficiais de Justiça cobriram suas costas de tapas, enfiaram o dedo em sua garganta. Mas o estômago de Eugeninho não lhe falhou em hora tão relevante, suportando estoicamente todas as investidas e destruindo a prova do crime com um suco gástrico da maior qualidade.

Quem visitar o Tribunal de Contas do Estado, ainda hoje, poderá conversar com a senhora Nicole Hime, miss Glamour 1948 e que nos anos 50 encantou e namorou o príncipe Ali Khan, o grande playboy internacional da época.

Ainda não foi escrita a história de Joaquim Rolla, o poderoso proprietário de uma rede de cassinos, entre os quais o Quitandinha e a Urca, e apontado certa vez por Assis Chateaubriand como dos dez homens mais influentes do país. Foi no antigo Cassino da Urca, doado por ele a Assis, que começou a TV Tupi. Pouco se contou, também, sobre o início da fortuna dos Peixoto de Castro. Quando o velho Peixoto, advogado de renome, apoiador de primeira hora da Aliança Liberal, ficou surdo, ganhou como recompensa o monopólio da Loteria Federal do país. Até a montagem das refinarias, foi a grande fonte de renda da família.

Seu grande concorrente era o uruguaio Ricardo Fazanello, que montou a rede concorrente em São Paulo -a ‘Fazanello… e nada mais’-, passou a explorar o jogo de bicho no interior do Estado do Rio. O filho Ricardinho era o terror das mais belas mulheres da época. Depois de namorar a inesquecível Elisinha Gonçalves, futura senhora Walther Moreira Salles, namorou Carmen Terezinha Solbiati, a mais bela mulher do seu tempo, antes de ela se tornar senhora Tony Mayrink Veiga. Quando foi deixado por Carmen, protagonizou um quebra-pau histórico com Tony em Nova York, que rendeu hematomas, mas não curou o cotovelo.

O velho Rio vive seus estertores, à medida que testemunhas como Maneco Müller vão embora. Mesmo assim, na terça, haverá o lançamento de um livro biográfico de Eliezer Baptista, dos grandes nomes do período. Alguns meses atrás, Antonio Bulhões de Carvalho lançou uma obra portentosa, em três volumes, esmiuçando o Rio dos anos 20, com seus músicos, políticos e aventureiros.

Quem bem procurar é possível até encontrar Leonor Amar, a brasileirinha que, aos 17 anos, mudou-se para EUA, no rastro de Carmen Miranda, filmou com Errol Flyn. Depois, tornou-se o grande nome de Acapulco, superando em popularidade até a belíssima Maria Félix, casou-se com o futuro presidente mexicano Miguel Aleman, com quem teve dois filhos.

Passa seus últimos anos em um apartamento em Copacabana, vivendo com as lendas e fantasmas que fizeram do Rio a mais bela cidade que o mundo conheceu.’



PUBLICIDADE
Adriana Mattos

‘Inflacionada’, Copa já mobiliza publicidade

‘Após a ‘Copa da Insônia’ de 2002, quando os anunciantes fizeram investimentos de mídia a conta-gotas para o evento esportivo transmitido principalmente na madrugada, as empresas mudaram de estratégia para a da Alemanha em 2006. Os trabalhos foram antecipados para colocar o evento na rua logo e gerar visibilidade para as marcas.

A Rede Globo, por exemplo, vendeu as suas seis cotas de patrocínio para anunciantes em setembro passado -seis meses antes do ocorrido no Mundial Coréia/ Japão, quando as últimas cotas só saíram da ‘prateleira’ às vésperas dos jogos, em março de 2002.

A área de criação das agências de propaganda estão agora pensando nas campanhas que podem vir a ocupar em junho os intervalos dos jogos da seleção brasileira. O material precisa estar pronto até o final do primeiro trimestre para que entre na grade de comerciais na TV após abril.

‘A partir deste mês, já começamos a discutir o trabalho com alguns clientes que podem se tornar potenciais anunciantes. O mercado está se movimentando muito e com antecedência para se preparar, após a apática Copa de 2002, em termos de investimento publicitário’, diz Sergio Amado, presidente da Ogilvy, agência de publicidade que tem como clientes Motorola e Unilever.

Ainda nessa linha, um dos maiores fabricantes de televisores no país, a Philips, decidiu investir no evento de 2006 após um 2002 de atuação para lá de discreta, admite a empresa. Anteontem, a empresa apresentou oficialmente a sua ‘Vila da Copa’, um investimento de R$ 10 milhões num espaço de 7.500 m2 no Jockey Club de São Paulo. No local, 11 tendas ocupam um espaço onde 8.000 pessoas poderão ver os jogos num telão de 120 m2. A empresa ainda comprou cota de patrocínio do canal a cabo SporTV.

Como ela, AmBev (com todas as marcas de cerveja), HSBC, McDonald’s, Telefônica e Vivo terão seus espaços nos canais SporTV, SporTV 2 e SporTV Copa, este último que será lançado apenas para cobrir o Mundial.

Itaú, AmBev cervejas, AmBev refrigerantes, Vivo, MasterCard e Ford também já adquiriram as suas cotas na TV Globo, ligeiramente ‘inflacionadas’. São R$ 59,8 milhões desembolsados por cada uma (preço de tabela, que pode ter desconto). Pelo direito de exibição, a empresa de comunicação desembolsou US$ 80 milhões (R$ 185 milhões) pagos à Fifa (entidade máxima do futebol). Isso inclui o direito de exibição também do SporTV, braço da Globo na TV fechada.

Em 2002, cada cota foi vendida pela rede carioca por R$ 35 milhões no Brasil. Mas, pela exibição, a rede teve de pagar muito mais -US$ 150 milhões (R$ 350 milhões, na época). Árdua negociação fez o preço inicial cair desta vez, apurou a Folha, depois de a rede ter ficado no zero a zero em 2002 -sem retorno do capital investido na veiculação das partidas, mesmo com a vitória da seleção. A Folha procurou a Globo, que não comentou os números ou essas informações.

Pela inflação (IPC-Fipe) acumulada entre julho de 2002 e junho de 2005, o valor da cota hoje, tendo como base os R$ 35 milhões cobrados quatro anos atrás, seria de R$ 46,3 milhões. Ou seja, cerca de R$ 13 milhões a menos que o acertado em tabela agora.

Patriotismo que vende

A motivação de anunciantes para colocar a mão no bolso nada tem a ver com um súbito ataque patriótico: o que há é uma série de fatores que colaboram para maiores investimentos e possíveis retornos positivos sobre a imagem da empresa.

Entre as razões, estão o melhor momento da economia hoje do que há quatro anos, na Copa de 2002. Naquela época, o país vivia sob a turbulência financeira da véspera da eleição presidencial. Era preciso lidar com a alta do dólar, que pressionava custos das companhias. A confiança do consumidor sofria revezes. O investimento em mídia naquele ano cresceu apenas 3,2%.

Para 2006, os economistas trabalham com expectativas positivas quanto a redução nos juros e estabilidade do dólar. O ambiente político, porém, ainda é incerto. Mas a confiança do consumidor, afetada até novembro, voltou a subir, e o mercado publicitário espera crescer dois dígitos em 2006: 13% de alta, se a economia tiver expansão de 2,5% a 3%.

Nessa conta, há outro fator de peso: nada de jogo de futebol às 5h -o que espanta potenciais consumidores de eventos e limita as ações de marketing. As partidas serão entre as 10h e as 18h no próximo ano, o que deve aumentar o número de espectadores em relação a 2002. ‘Como você vai investir, como vai bancar uma parceria para atrair o telespectador para um bar ou local público sabendo que ele pode nem mesmo acordar? Era desanimador’, diz Sergio Camargo, gerente-geral de marketing corporativo da Philips.

Segundo a Fifa, as 64 partidas da Copa de 2002 acumulam uma audiência de 30 bilhões de espectadores em 213 países. Para comparar, a Olimpíada de Sidney (2000) teve 16 bilhões de espectadores.’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Novela vai discutir obsessão pela magreza

‘‘Páginas da Vida’, novela que substituirá ‘Belíssima’ em meados de 2006, vai tratar de um tema em alta: a obsessão pela magreza (ou repulsa pelo excesso de peso).

Uma das principais histórias da trama será a da personagem da magérrima Deborah Evelyn. ‘Ela será uma mãe que, por não ter podido estudar balé, obriga a filha a ser bailarina e a se manter sempre magra etc. etc., numa escalada neurótica’, afirma Manoel Carlos, autor de ‘Páginas da Vida’.

O teledramaturgo diz que a anorexia (perda de apetite) ou a bulimia (distúrbio mental que consiste em comer muito e depois induzir vômitos) estão ‘entre as possibilidades’ para a pequena bailarina. ‘Ainda não me decidi. Não me agrada essa história de fazer a atriz emagrecer durante a novela. Não dá certo’, conta.

‘Páginas da Vida’ terá sete personagens centrais femininos e sete masculinos. Os femininos serão vividos por Regina Duarte (uma médica que adota uma criança com síndrome de Down), Ana Paula Arósio (galerista que disputará a criança com Regina), Debora Evelyn, Vivianne Pasmanter (uma fotógrafa especializada em casamentos), Letícia Sabatella (uma freira romântica), Natália do Valle (adúltera abandonada pelo marido) e Lília Cabral.

O elenco masculino será encabeçado por Marcos Caruso, Tarcísio Meira, Thiago Lacerda, José Mayer e outros três atores a serem escolhidos em testes, em janeiro.

OUTRO CANAL

Reserva 1 Escaldado com os problemas que autores da Globo vêm enfrentando para montar elencos, Aguinaldo Silva, que escreverá a novela das oito que só irá ao ar no final de 2007 (antes dele, haverá, além de ‘Belíssima’, ‘Páginas da Vida’ e uma trama de Gilberto Braga), já ‘reservou’ Suzana Vieira, José Mayer e Marília Gabriela.

Reserva 2 Na trama, que girará sobre a educação (todos os personagens estudam, precisam estudar ou enfrentam problemas por não terem estudado), Suzana Vieira será uma avó que presta vestibular. ‘Então aparece um professor de matemática que tem a cara do José Mayer e que tem um caso secreto com a dona de uma universidade, parecidíssima com a Marília Gabriela’, revela Silva.

Reserva 3Carlos Lombardi, que fará ‘Pé na Jaca’, substituta no início de 2007 de ‘Coração de Ouro’ (próxima das sete), já reservou Murilo Benício e Deborah Secco. Não quer passar pelo drama de João Emanuel Carneiro, que escreve ‘Coração de Ouro’ pensando em Bruno Gagliasso como protagonista, mas que não deverá tê-lo.

Reserva 4 Já Gilberto Braga, que voltará ao ar no início de 2007, ainda faz mistérios. ‘Estou começando sinopse com Ricardo Linhares, Angela Carneiro, Maria Helena Nascimento, Nelson Nadotti e João Ximenes Braga. Não temos nomes reservados. Vamos pedir atores à medida que tivermos personagens’, diz.’





Marcelo Bartolomei

Canais abertos testam séries para 2006

‘A julgar pelos testes de programação neste fim de ano na Globo e pela produção de uma temporada de 22 capítulos de um seriado para a Record, 2006 deve ser o ano das ‘sitcoms’ na TV aberta.

A fórmula dos seriados norte-americanos, que usa dramaturgia para contar histórias nem tão lineares quanto as das novelas, com ou sem a presença de uma platéia, é a grande aposta para a nova programação das emissoras, que tentam se renovar a cada ano.

‘Cada episódio é independente. Eles têm uma ligação, mas não é preciso acompanhar todos os capítulos para entender a história’, diz Mara Mourão, 40, diretora de ‘Avassaladoras’, a ‘sitcom’ mais ‘Sex and the City’ já produzida no Brasil, que estréia na Record em janeiro para falar das aventuras amorosas e sexuais de um quarteto de mulheres brasileiras ‘a perigo’. ‘Nossa expectativa é que esta seja apenas a primeira temporada’, afirma a diretora.

Assim, histórias de confusões em família, de solteirões -homens e mulheres- à caça do par perfeito, de amores às avessas e de gente tentando se dar bem na vida invadem a noite na TV. Apesar de já conhecidas, tais fórmulas disputarão a audiência e a possibilidade de emplacarem um lugar fixo nas apertadas grades das emissoras para todo o ano que vem.

Os alvos são os fãs de ‘Seinfeld’, ‘Friends’, ‘Everybody Loves Raymond’, ‘Sex and the City’ e outras séries encerradas da TV paga. Não é a primeira vez que a Globo testa antecipadamente o que pode incluir na programação do ano seguinte. Os semanais ‘A Diarista’ e ‘Sob Nova Direção’ são resultados do bom desempenho junto ao público em 2003. Em 2004, nenhuma das criações -como ‘Levando a Vida’, ‘Correndo Atrás’ e ‘Quem Vai Ficar com Mário?’, as três de volta neste fim de ano, com a mesma fórmula- satisfez às audiências.

Em meio a 54 projetos apresentados à emissora, estava ‘Toma Lá, Dá Cá’, escrito por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Se emplacar, marca a volta de Falabella à programação semanal, numa ‘evolução’ do extinto ‘Sai de Baixo’ -agora sem interferência da platéia, que aplaude e ri, mas não atrapalha o andamento das cenas, típico de ‘sitcoms’.

‘Eu fui aos Estados Unidos e acompanhei as gravações de sitcoms, que são exatamente assim. Existe uma quarta parede, que é invisível, porque o público está lá, mas os atores agem como se ele não estivesse’, afirma o autor, que protagoniza o seriado.

Também disputa um espaço na grade o seriado ‘Os Amadores’, dirigido por José Alvarenga Jr., drama com pitadas de humor que narra o encontro de quatro homens solteiros, todos na faixa dos 40 anos, com crises e reflexões sobre a vida; os quatro têm morte clínica diagnosticada e estão lado a lado no CTI (Centro de Tratamento Intensivo), até que acordam e percebem que suas vidas precisam mudar. ‘Três fatores ajudam uma série a emplacar na grade: audiência, custo da produção e a repercussão que gerar a partir do piloto’, diz o diretor.

Quarteto rosa

Para inaugurar um novo horário para produção nacional na grade, a Record estréia ‘Avassaladoras’ (segundas, às 23h30). Na ‘sitcom’, o tema é a eterna busca por um namorado empreendida por Laura, Betty, Teresa e Silvinha, as versões das personagens de ‘Sex and the City’, Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda.

A série parte do mesmo princípio do filme homônimo de 2002 e dirigido pela mesma diretora. ‘A idéia de ‘Avassaladoras’ surgiu antes de ‘Sex and the City’, defende Mourão. A série, produzida pela carioca Total Entertainment a um custo de US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,4 milhões), irá ao ar na Record e também no canal pago Fox (que ainda não divulgou sua grade de 2006), em regime de co-produção e garantia de exibição para a América Latina.’



Bia Abramo

Silvio de Abreu ameniza a mesmice de ‘Belíssima’

Uma imagem talvez não, mas às vezes um trocadilho vale por mil palavras. José Simão anda chamando a novela de Silvio de Abreu de ‘Mesmíssima’: ‘(…) é sempre a mesmíssima coisa: a vilã, a rica e o pobre e uma etnia engraçada! Mas a gente sempre quer ver a mesma coisa, é mais prático!’, diz o colunista no texto da última quarta-feira.

Gosto, sobretudo, da idéia de que é ‘mais prático’: de fato, a previsibilidade é uma das chaves do entretenimento. No mundo das novelas da Globo, há algo que se pode chamar de autoria, dentro do previsível: de Manoel Carlos se espera um roteiro leve e uma Helena marcante; de Aguinaldo Silva, os tipos populares; de Gilberto Braga, melodrama com inflexões realistas e assim vai.

Com Silvio de Abreu, claro, acontece o mesmo. Muitos dos elementos de suas novelas das oito vêm do horário das sete, no qual estreou como autor. Ele é, por definição, um autor de comédia, embora maneje muito bem os elementos do melodrama sobretudo o confronto entre bem e mal, cada um deles encarnado em pessoas da mesma família. Quando foi trasladado para o horário nobre, ele introduziu o elemento policial na combinação.

Trabalhando com pelo menos três registros do cômico, do melodramático e do mistério, Abreu consegue, normalmente, imprimir um ritmo diferente aos seus roteiros. Por conta das exigências de cada um desses registros, as histórias se desdobram em planos distintos, o que, se não é o suficiente para imprimir densidade, o é para complicar um pouco as relações entre os personagens.

Por ora, ‘Belíssima’ tem se mostrado interessante nesse sentido. Há muitas coisas acontecendo na novela, e, mais que isso, muitas pistas de o que mais virá pela frente vêm sendo estrategicamente espalhadas lá e cá. Alguns personagens ainda são bem obscuros e, supõe-se, irão dizer a que vieram bem mais adiante.

Apesar dessa urdidura um tantinho mais complexa, a mesmice se manifesta de diversas maneiras. O núcleo familiar movimentado e afetivo de imigrantes, São Paulo como cadinho de raças, casais movidos por atrações fulminantes, tipos no limite da caricatura e, claro, a luta da heroína contra as perversidades da vilã voltam em nova embalagem, mas essencialmente parecidos com de outras vezes.

O que, em alguns momentos, faz a diferença são os atores -neste caso, duplas de atores: Claudia Raia e Reynaldo Gianecchini, Glória Pires e Fernanda Montenegro e os ‘furacões de Cuba’ Carmen Verônica e Íris Bruzzi vem pontuando, aqui e ali, a previsibilidade com pequenas surpresas.’





Laura Mattos

Niemeyer faz 98, e Brasília vira estrela da TV

‘Oscar Niemeyer pretende ‘sumir’ na próxima quinta-feira. Não quer saber de comemoração do aniversário de 98 anos. ‘A vida não é tão boa para a gente estar comemorando, é difícil’, atesta o mais importante arquiteto do Brasil, que trabalha de domingo a domingo, das 9h às 20h.

Não, ele não se acha merecedor de festa ‘só’ pelo fato de continuar à frente de vários projetos no país e no exterior às vésperas de seu centenário. E mais: ‘Não gosto de falar a idade, não. É chato’.

Mas um presente, concorda, aceitaria de bom grado: a demolição de parte da marquise do Ibirapuera para a construção de uma praça entre a Oca e o auditório, conjunto de sua autoria. ‘Estou contando com o Serra. Ele me prometeu que iria examinar.’

E vamos encerrar de vez essa conversa de longevidade: ‘A gente vai se adaptando. Não tenho problema de saúde, a coisa vai andando. Vou completando minha passagem. Cada um de nós escreve uma historinha, e eu tenho uma página, mas não tem nada de especial’. Só ele acredita nisso.

Como se a brilhante carreira de 70 anos já não bastasse, Niemeyer continua a acumular projetos e mais projetos. Atualmente, entre outros, debruça-se na criação de um complexo aquático para a Alemanha, em uma encomenda ainda sigilosa do Principado de Astúrias, na Espanha, na nova sede do TSE, em Brasília, no Memorial Érico Veríssimo, em Cruz Alta (RS) e em uma torre com restaurante e mirante, em Natal (RN). ‘É, tenho trabalhado muito.’

Brasília, a grande obra do arquiteto, terá sua construção abordada em duas produções televisivas: na Globo, a minissérie ‘JK’, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, que estréia em 3 de janeiro, e na Record, a novela ‘Cidadão Brasileiro’, de Lauro César Muniz, exibida a partir de março.

A série narrará a vida de Juscelino Kubitschek, passando pela construção da capital. O terreno vazio, o lamaçal, as obras, o alojamento dos candangos e o Catetinho serão reproduzidos no Projac, no Rio. Haverá ainda computação gráfica e imagens atuais.

Para a parte arquitetônica, os autores contaram com a consultoria de Rodrigo Amaral, filho de Maria Adelaide, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Segundo ele, a minissérie não reconstruirá a cidade do ponto de vista técnico. ‘Vamos reconstruir Brasília através da emoção dos que a construíram. Queremos mostrar o lado humano da construção, desde o candango que veio da seca do Nordeste até o engenheiro que largou tudo em outra cidade e se mudou para lá’, diz Rodrigo.

O protagonista será interpretado por Wagner Moura (primeira fase) e José Wilker (segunda).

Já ‘Cidadão Brasileiro’, da Record, passa por Brasília em razão da trajetória do personagem-título. Antonio Maciel (Gabriel Braga Nunes) é contratado por uma empreiteira para a construção. O autor pretende ‘enfocar a gigantesca obra de Brasília através da ótica de um homem do povo, um pioneiro como tantos outros, que viram na nova capital uma oportunidade de ascensão econômica’.

As obras da capital serão reproduzidas numa fazenda em Bragança Paulista, no interior. A Record não economizou em sua primeira novela das oito da retomada da teledramaturgia. Além do autor-grife, contratou Lucélia Santos e outros ex-globais. Serão R$ 50 milhões de investimento, o maior do canal nessa área.

Niemeyer, claro, é fonte de pesquisa e inspiração das duas produções. Diante disso, a convite da Folha, Maria Adelaide e Muniz elaboraram perguntas ao arquiteto, que as respondeu. Leia a entrevista VIP nos textos abaixo.’

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‘O que o sr. condena na capital de hoje?’, pergunta Lauro César Muniz

‘Nascido no interior paulista, Lauro César Muniz, 59, é conhecido por introduzir crítica social em suas novelas. Autor de ‘O Salvador da Pátria’ (1989, Globo), ele não quer saber apenas o que Niemeyer pensa sobre Brasília.

Fundador da Associação de Roteiristas da TV, entidade que briga por melhorias profissionais, Muniz dá tom político à entrevista com o arquiteto. Até sobre a China de Mao perguntou. Confira.

Lauro César Muniz – Lindos versos de Ferreira Gullar fazem jus à sua genialidade: ‘Com seu traço futuro/ Oscar nos ensina / Que o sonho é popular…’. O sr. acha que esse ‘traço futuro’, a concepção nada convencional de Brasília, influenciou o espírito de quem participou da construção?

Oscar Niemeyer – Eu acho que os nossos irmãos operários que construíram Brasília e que de todos os cantos do país para ela acorreram cheios de esperança pensavam que na nova capital encontrariam uma vida melhor, sem a pobreza que até hoje nas cidades-satélite os acompanham.

Muniz – O personagem central de ‘Cidadão Brasileiro’, nossa novela, participa da construção desde a primeira hora, como chefe de obras. Como definiria esse pioneiro que veio construir a nova capital?

Niemeyer – Havia o exemplo de JK e o orgulho de construírem a nova capital, de participarem dessa grande e patriótica aventura.

Muniz – Nosso protagonista vive num barracão de madeira, onde trabalha e dorme, na Cidade Livre, como ficou sendo chamada a cidade provisória onde viviam os candangos. Sabemos que depois eles tiveram de abandonar os espaços nobres e foram para seus ‘devidos lugares’. Isso quer dizer que a utopia urbana sonhada pelos idealizadores de Brasília cedeu lugar à realidade social do país?

Niemeyer – Você está certo. Em princípio, acho que não deve haver numa cidade divisão entre pobres e ricos. As cidades não deveriam crescer sem controle, mas sim se multiplicar entre grandes espaços vazios. As cidades-satélite surgiram espontaneamente, a meu ver perto demais do Plano Piloto, agravando os problemas urbanísticos da nova capital.

Muniz – Quais os seus grandes temores durante a construção?

Niemeyer – Não havia tempo para isso.

Muniz – Quase 50 anos depois de iniciada a construção, quando a cidade já tem mais de 2 milhões de habitantes, o que o sr. mais admira e ama na Brasília de hoje? E o que o sr. mais lamenta e condena?

Niemeyer – O que mais admiro e amo na Brasília de hoje… é ver a cidade construída e ouvir dos que nela residem a afirmação de que gostam da cidade e dela não pretendem mais sair. Lamento não ter sido criado, em volta do Plano Piloto, o grande espaço vazio que toda cidade deveria ter.

Muniz – A China continua socialista sob o ponto de vista político, mas absorveu um tipo híbrido de economia de mercado. Essa experiência aponta para o futuro do socialismo ou outros caminhos aparecerão na dialética da história?

Niemeyer – É difícil prever o futuro. Há sempre o inesperado que tudo modifica. Mas a China teve Mao, e a sua memória compreende um exemplo que muita influência terá no futuro desse país.

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‘Teremos outro JK?’, indaga Maria Adelaide

Maria Adelaide Amaral, 64, nascida em Portugal e criada na capital paulista, é ‘louca’ por pesquisa. Virou a autora número um das minisséries da Globo, e sua especialidade é dar tom de folhetim a histórias reais, como em ‘Um Só Coração’ e ‘A Muralha’.

Em ‘JK’, contou com a consultoria de seu arquiteto predileto: Rodrigo, seu filho. Com a orientação dele também, ela elaborou as seguintes perguntas a Niemeyer, a quem Rodrigo chama de ‘Deus’.

Maria Adelaide Amaral – O sr. acha que seria possível, hoje, fazer Brasília novamente?

Oscar Niemeyer – Tudo é possível. O difícil seria encontrar um presidente com a determinação e o entusiasmo de JK.

Maria Adelaide – Há algum arquiteto urbanista vivo, com a genialidade de Lúcio Costa, apto a fazer um plano piloto como o de Brasília?

Niemeyer – Deve existir.

Maria Adelaide – Se o sr. tivesse que refazer os projetos, hoje, o que mudaria?

Niemeyer – Eu procuraria manter a mesma criatividade. Quem visita Brasília pode gostar ou não dos seus palácios, mas nunca afirmar que viu antes coisa parecida. E isso é boa arquitetura.

Maria Adelaide – Concursos, licitações, licenças ambientais e toda a burocracia permitiriam hoje tirar uma nova Brasília do papel?

Niemeyer – Levaria mais tempo, pelo menos. Brasília foi feita a correr, sem que para isso adotássemos uma arquitetura mais simples e fácil de realizar.

Ao contrário, foram soluções mais livres e audaciosas que adotamos. Um exemplo: teria sido mais fácil fazer as colunas do Palácio do Alvorada mais simples e convencionais do que construir as que desenhei.

Maria Adelaide – O próximo ano marcará 50 anos do governo JK. Teremos eleições presidenciais e muitos candidatos buscarão se comparar a JK. Será que um dia teremos outro Juscelino?

Niemeyer – É preciso ser otimista. A situação do Brasil é tão complexa, o país está tão ameaçado, que alguém corajoso, progressista e nacionalista deve aparecer.’



FSP CONTESTADA
Painel do Leitor

Porto

‘‘Em 13/11, foi publicada a reportagem ‘Empresa venceu duas concorrências no Paraná’ (Brasil, pág. A6), sobre a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina -Appa. A notícia veiculada sobre essa autarquia não corresponde à verdade e macula tanto a imagem da administração pública como a do superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina e a do governador do Estado do Paraná. A notícia afirma que, de 2003 a 2005, a empresa seguradora Interbrazil foi contratada para garantir o patrimônio da Appa. Em 2003, foi realizado o pregão eletrônico nº 6/2003, pelo Banco do Brasil, sendo que a empresa Interbrazil foi legalmente habilitada e ganhou o certame por apresentar o menor preço. Contudo o contrato foi celebrado por um ano, tendo expirado em outubro de 2004, ou seja, em 2005, não houve contratação com a aludida empresa. A notícia afirma que o patrimônio do complexo portuário deve superar R$ 1 bilhão. Trata-se de notícia inverídica, na medida que a atual administração constatou que, desde 1987, a Appa não efetuou levantamento detalhado de todos os bens que integram o patrimônio dos portos de Paranaguá e Antonina. A atual administração da Appa, em 26/6/03, indicou membros para a comissão especial de inventariança e solicitou ao Ministério dos Transportes que indicasse seus representantes, tendo sua conclusão em 5/10/05. É, assim, o primeiro porto público que tem seu levantamento patrimonial. Deve-se lembrar que, como autarquia, o levantamento patrimonial da Appa foi realizado com base no valor histórico de seus bens, não havendo, portanto, mensuração pecuniária. Afirma a notícia que o patrimônio da Appa está sem cobertura contra sinistros desde outubro, quando expirou o contrato com a empresa Interbrazil. Trata-se de notícia omissa e que deturpa a verdade. Primeiro, porque não explica que a Appa não firmou contrato de seguro contra sinistro desde outubro de 2004, o que induz o leitor a pensar que se trata do mês de outubro do corrente ano; segundo, induz o leitor a pensar que existe irregularidade, o que não reflete a verdade, eis que: a) não existe obrigação legal que determine a contratação de seguro do patrimônio da Appa; b) não se poderia firmar contrato de seguro sem o devido levantamento de seu patrimônio, como outras administrações, no passado, pactuaram.’ Paulo Nogueira Artigas, procurador Projur-Appa (Paranaguá, PR)

Resposta da jornalista Mari Tortato – Por falta de um valor oficial, a reportagem publicou uma estimativa do patrimônio, feita por dois conselheiros do porto. Ela inclui bens sob concessão temporária. Quanto à obrigatoriedade de seguro, o convênio de delegação do Ministério dos Transportes com o governo do Paraná diz que cabe ao administrador do porto (Estado) ‘manter seguros de responsabilidade civil e de acidentes pessoais para dar cobertura a suas responsabilidades com o delegante, usuários e terceiros’. Sobre a data do fim do contrato da Appa com a Interbrazil, leia abaixo a seção ‘Erramos’.’

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Folha de S. Paulo
Sábado, 10 dezembro de 2005



ENTREVISTA / LULA
Folha de S. Paulo

Alckmin deve ser candidato, avalia Lula

Embora tenha mais uma vez evitado admitir que será candidato à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou quem considera que será o seu adversário pelo lado do PSDB: ‘Parece-me que tudo caminha para ser o [governador Geraldo] Alckmin’, afirmou. Para Lula, aquele que aparece como seu adversário mais forte nas pesquisas de opinião, José Serra, ‘pagaria um preço enorme por abandonar São Paulo depois de um ano e quatro meses na prefeitura’.

As declarações foram publicadas na última edição da revista ‘Carta Capital’. Na entrevista, de 12 páginas, Lula creditou a maior parte da crise política que enfrenta a uma antecipação da disputa eleitoral pela oposição.

O presidente comparou os ataques ao seu governo aos sofridos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que chegou a ser vítima de uma tentativa de golpe mal-sucedida em 2002.

REELEIÇÃO

Questionado mais de uma vez, Lula não confirmou se será candidato. Repetiu que só deve anunciar sua decisão em fevereiro ou março do ano que vem, porque ‘muita coisa vai acontecer’ até lá. Indagado sobre o que aconteceria no período, disse: ‘O Natal e o Carnaval, pelo menos…’

Lula voltou a atacar o instituto da reeleição. ‘Espero que, em 2006, possamos discutir uma reforma política para que, a partir de 2011, o presidente possa gozar de um mandato maior, sem reeleição. Aliás, no Brasil era assim. E estava bom assim. Não fosse a vaidade de determinadas pessoas.’

ALIANÇAS

O presidente criticou a maneira como o PT fechou alianças em 2002, citando-as como uma das causas da crise política. ‘Eu acho que alguém sonhou demais. Os acordos partidários foram, na minha opinião, pelo menos, equivocados. Acho que o compromisso de dar dinheiro não é o mais correto, porque cada partido tem de fazer a sua campanha.’

PT

Ao se negar mais uma vez a especificar o nome daqueles por quem se sente ‘traído’, como declarou em discurso pela TV, em agosto, Lula se intitulou ‘pai do PT’. ‘ou uma espécie de pai do PT, e sei do sacrifício que fizemos para construí-lo. Ao dizer que me traíram não citei nomes, porque certamente não havia apenas um companheiro envolvido. O que eu disse foi o seguinte: essa prática política nunca foi aceita por nós como uma prática decente. Quem fez me traiu. Era desnecessário. Nós perdemos onde tínhamos de perder, ganhamos onde tínhamos de ganhar, não é o dinheiro que ganha eleição.’

Lula ironizou, porém, o cerne das denúncias contra o PT, o esquema montado pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o publicitário Marcos Valério de repasse de dinheiro a políticos da base aliada, cuja fonte seriam empréstimos nos bancos Rural e BMG. ‘Trata-se do ato de corrupção mais inusitado da história da humanidade, ou seja, alguém pratica corrupção com dinheiro emprestado e pagando juros, eu não consigo entender. Tem alguma coisa errada aí.’

FHC

Mesmo sem citá-lo durante a entrevista, Lula fez diversos ataques ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além das críticas à reeleição, Lula criticou os comentários que FHC faz sobre seu governo. ‘Eu não sei como um presidente da República pode ficar fazendo comentários sobre outro presidente sem olhar o telhado dele. (…) Por uma questão de educação, por uma questão de respeito e por outra ainda: toda vez que você der palpite sobre o que o outro está fazendo, você tem que olhar o que você fez.’

Lula também voltou a dizer que optou por não apurar as irregularidades na gestão do seu antecessor. ‘Eu considerei: estamos tomando posse, 2003 vai ser o ano mais difícil do ponto de vista administrativo, porque é pontapé. Se eu dedicar seis ou oito meses do meu mandato para ficar investigando, apurando, denunciando e brigando pela imprensa, vou deixar de governar um ano.’

OPOSIÇÃO

O presidente criticou a oposição por, segundo ele, ‘provocar a disputa eleitoral em 2005, com o intuito de desgastar a imagem do presidente e do PT’. Lula se disse vítima de um ‘massacre’ e se comparou ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. ‘Eu não quero ser que nem o Chávez nem o Chávez quer ser igual a mim. O Chávez é o Chávez, e eu sou eu. Agora, eles estão agindo no Brasil como a Fedecámaras [entidade empresarial venezuelana] agiu na Venezuela, sem respeitar o jogo da democracia.’

ESQUERDA

Embora tenha declarado que a América do Sul ‘está indo para a esquerda’, Lula se recusou a se rotular como tal. ‘Você sabe que eu nunca gostei de me rotular de esquerda. Eu sou torneiro mecânico e cheguei à Presidência por obra e graça da paciência.’

PIB E JUROS

Lula qualificou a redução de 1,2% no PIB no terceiro trimestre de ‘notícia péssima’. ‘Eu esperava que não caísse tanto, esperava que chegasse a zero’. O presidente disse, porém, que ‘não tem por que o Brasil não crescer 5%, ou acima de 5%, em 2006’.

O presidente criticou o fato de a taxa de juros ser ‘o único instrumento’ que o Banco Central tem para controlar a inflação. ‘Nós temos conversado sistematicamente e eu tenho mostrado que não se controla a demanda com taxa de juros. Aí controla-se mais o investimento do que a demanda’.

PALOCCI X DILMA

Lula qualificou de ‘normal’ a divergência entre os ministros Antonio Palocci e Dilma Rousseff (Casa Civil) em torno do superávit primário. ‘O Brasil é o único país do mundo em que as pessoas estranham divergências sobre a economia. Eu aqui, dentro da minha sala, inclusive incentivo.

O presidente defendeu Palocci, alvo de denúncias sobre sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto e de críticas sobre a condução da política econômica. ‘Se não fosse o Palocci, a gente não teria chegado nessa situação de confiabilidade do Brasil. (…) O que essa elite vendeu nos últimos 90 dias? Vendeu a idéia de que, se a economia está bem, não é por conta do governo. De onde não precisam mais do Palocci. E aí começaram a cutucar-lhe a vida. Eu estou preocupado, porque daqui a pouco eles vão querer analisar o passado do Palocci, e se ele não cometeu heresias até no ventre materno.’’

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‘Carta Capital’ apoiou Lula em editorial de 2002

‘Lançada em 1994 pelo jornalista Mino Carta, a revista ‘Carta Capital’ mantém um bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2002, a revista declarou apoio ao petista. A edição de 9 de outubro daquele ano trazia, em sua página 21, o seguinte editorial: ‘Escolhemos Lula há muito tempo. ‘Carta Capital’ continua com ele no segundo turno’.

Em 30 de agosto de 2004, o presidente participou da comemoração do aniversário da revista. Em seu discurso, criticou o ‘denuncismo’ da imprensa brasileira: ‘A ‘Carta Capital’ faz a diferença. É uma boa política não ter uma preocupação eminentemente de mercado. É preciso pensar na qualidade da informação. Principalmente num momento em que, muitas vezes, o denuncismo pelo denuncismo prevalece sobre a informação’.

Em 7 de novembro passado, Lula participou de uma premiação promovida pela revista, na qual tornou a elogiá-la: ‘Em 11 anos de circulação, a revista firmou-se como referência de jornalismo, ao mesmo tempo independente e de caráter nítido, conseqüente e provocador, sóbrio e arrojado’.

Na edição da semana passada, Mino Carta escreveu que ‘o governo Lula não nos nega seus anúncios, ao contrário do governo Fernando Henrique. De 1994 a 2002, fomos ignorados pela publicidade governista’. A revista teve tiragem de 35.300 exemplares em setembro.’



CENSURA
Folha de S. Paulo

Juíza manda Folha tirar caso Kroll da internet

‘A juíza federal substituta Margarete Morales Simão Martinez Sacristan, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, determinou à Folha Online que não divulgue reportagens da Folha sobre o processo criminal que apura a contratação da empresa Kroll, pela Brasil Telecom, para investigar a concorrente Telecom Italia.

Trata-se do caso de espionagem revelado pela Folha em julho de 2004 que, conforme noticiado na época, teria atingido figuras do primeiro escalão do governo Lula.

A juíza informa, em ofício de 21 de novembro último, recebido ontem pela redação da Folha Online, que acolheu solicitação de ‘um dos envolvidos’. O processo criminal nº 2004.61.81.001452-5, tramita sob sigilo. Nele são réus o empresário Daniel Dantas e mais 15 denunciados.

A Folha, que vai recorrer da decisão, retirou da internet 165 páginas -57 da Folha Online e 108 da edição eletrônica do jornal.

Sacristan determinou que ‘cesse imediatamente qualquer forma de divulgação de dados pertinentes aos fatos e às pessoas envolvidas no processo em questão, seja por intermédio de notícia jornalística, televisiva, rádio ou qualquer outro veículo de divulgação, inclusive por meio de página da rede mundial internet, mantida por essa empresa, sob pena de infração ao artigo 10 da lei nº 9.296/ 96 e art. 153 do Código Penal, pois trata-se de processo no qual foi decretada a tramitação sigilosa’.

Para a Associação Nacional de Jornais trata-se de um caso de censura. ‘A determinação fere o dispositivo constitucional que assegura a liberdade de imprensa e o direito de a sociedade ser informada’, diz Fernando Martins, diretor-executivo da ANJ.

‘Além de ser um caso de censura, a decisão é um fato extremamente lamentável, pois acontece quando o país atravessa um dos melhores momentos em termos de liberdade de imprensa.’

O processo que teve censura determinada pela juíza da 5ª Vara envolve a apuração de vários crimes, como quebra de sigilo telefônico, falso testemunho, falsa perícia, crimes contra a administração pública, crimes contra a paz pública e violação do segredo profissional. No inquérito policial, foram ouvidos servidores da Receita Federal, da Caixa Econômica Federal e da Polícia Civil paulista.

Além de Dantas e Carla Cico, ex-presidente da Brasil Telecom, são réus: Charles Carr, Omer Erginsoy, Eduardo Sampaio, Eduardo de Freitas Gomide, Vander Aloisio Giordano, Maria Paula de Barros Godoy Garcia, Júlia Marinho Leitão da Cunha, Tiago Nuno Verdial, Willian Peter Goodall, Karina Nigri, Thiago Carvalho dos Santos, Alcindo Ferreira, Antonio José Silvino Carneiro e Judite de Oliveira Dias.

Operação Chacal

Em outubro de 2004, a Polícia Federal realizou a Operação Chacal para apreender documentos sobre as espionagens da Kroll. Dois diretores e três funcionários foram presos na sede da empresa em São Paulo. A PF cumpriu 16 mandados judiciais de busca e apreensão em São Paulo, Brasília, Rio e Ribeirão Preto.’



PLAMEGATE
Eric Leser

Caso Plame oculta guerra de Cheney contra CIA

‘DO ‘LE MONDE’, EM NOVA YORK – O pano de fundo do ‘affaire’ Valerie Plame, a agente da CIA cuja identidade foi revelada à imprensa por membros da administração americana, é a guerra travada ao longo dos anos pelo vice-presidente Dick Cheney contra a CIA, a agência central de inteligência dos EUA.

Até março de 2003, ele tentava forçar a CIA a inflar a amplitude dos programas de armas de destruição em massa de Saddam Hussein, visando justificar a invasão do Iraque. No fim das contas, foi a agência que teve de arcar com a responsabilidade pelos erros, quando veio à tona que as armas não existiam.

Para Lewis Libby, chefe-de-gabinete do vice-presidente, os ataques do ex-embaixador Joseph Wilson, marido de Plame, que em 6 de julho de 2003, em artigo publicado no ‘New York Times’, denunciou a utilização pelo governo de informações falsas sobre a compra de urânio do Níger pelo Iraque, traziam a marca da CIA.

A agência procurava se proteger e se vingar. Aos olhos de Libby, isso foi comprovado pelo fato de Plame ser agente da CIA e de, em 2002, ela ter sugerido que seu marido fosse enviado ao Níger para averiguar as informações.

De acordo com as declarações da jornalista do ‘New York Times’ Judith Miller ao júri de inquérito que deve indiciar os culpados nesse caso, Libby estava enfurecido com a CIA, à qual atribuiu a responsabilidade pelos erros relativos às armas de destruição em massa iraquianas e as declarações inexatas de George W. Bush.

Cheney é adversário histórico da CIA. Secretário da Defesa na administração de George Bush, pai, e vice-presidente desde 2001, ele não parou de denunciar os fracassos e as deficiências da agência. Suas críticas começaram no final dos anos 1980, quando a CIA não foi capaz de prever o desaparecimento da ex-União Soviética, no final de 1991.

Cheney fez da Vice-Presidência um reduto da inteligência, um conselho de segurança nacional paralelo. Não apenas recebia relatórios diários da CIA como assistia a quase todas as reuniões de segurança nacional

Quando Saddam Hussein invadiu o Kuait, em agosto de 1990, Cheney, então secretário da Defesa, se declarou estarrecido com as poucas informações de que os EUA dispunham sobre o arsenal iraquiano. Libby, que já trabalhava com ele, recebeu a missão de investigar as capacidades biológicas do Exército iraquiano.

Conselho paralelo

Assim que George W. Bush tomou posse, em 2001, Cheney passou a fazer da Vice-Presidência um reduto da inteligência, um conselho de segurança nacional paralelo. Não apenas ele recebia relatórios diários da CIA como também assistia a quase todas as reuniões relativas à segurança nacional às quais o presidente também estava presente.

Quando a invasão do Iraque estava sendo preparada, Cheney foi dezenas de vezes à sede geral da CIA, em Langley, Virgínia. Nenhum vice-presidente jamais havia feito isso.

Ele fazia sempre as mesmas perguntas aos especialistas sobre as armas de destruição em massa e as ligações entre Saddam e a rede terrorista Al Qaeda, na esperança de obter respostas diferentes quando as que obtinha não lhe convinham. ‘Não há dúvida nenhuma quanto ao fato de que Saddam hoje mantém armas de destruição em massa. Não há dúvida nenhuma de que ele as armazena para utilizá-las contra nossos amigos, contra nossos aliados e contra nós’, declarou Cheney em agosto de 2002 a veteranos da Guerra da Coréia.

Aliados

Em sua luta contra a CIA, o vice-presidente contava com aliados poderosos, entre os quais o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e seu então adjunto Paul Wolfowitz, também eles adversários de longa data da agência. Wolfowitz pertenceu à famosa ‘equipe B’, criada nos anos 1970 por George Bush, pai, quando ele dirigia a CIA, para controlar o trabalho dos especialistas vistos como ‘brandos demais’ com relação à URSS.

Os relatórios alarmistas da ‘equipe B’ estiveram na origem do programa de rearmamento e da Guerra nas Estrelas do presidente Ronald Reagan.

Rumsfeld, por sua parte, presidiu em 1998 uma comissão do Congresso sobre os ‘Estados fora-da-lei’. Ele concluiu que a CIA era incapaz de obter informações sobre essas novas ameaças.

Logo depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o Pentágono criou o Birô de Planos Especiais (Office of Special Plans). Colocado sob a autoridade direta de Wolfowitz e administrado pelo subsecretário da Defesa, Douglas Feith, esse organismo era encarregado de analisar o material fornecido pela CIA e as informações militares e de levar suas próprias conclusões à Casa Branca.

Trabalhando a partir de depoimentos de exilados próximos do Congresso Nacional iraquiano e de seu presidente, Ahmad Chalabi, o organismo exagerou a ameaça das armas de destruição em massa. Desde então, foi fechado.

A partir do verão de 2003, quando os soldados americanos no Iraque não encontraram prova nenhuma de programas recentes de armas de destruição em massa, a administração começou a se assustar.

A CIA iria revelar as pressões às quais fora submetida. Os ataques de Joseph Wilson foram um começo. Era preciso, então, a qualquer preço, destruir sua credibilidade e desencorajar novas denúncias. Tradução de Clara Allain’



INTERNET
Sarah Kershaw

Terapias visam viciados na internet nos EUA

‘DO ‘NEW YORK TIMES’, EM REDMOND – A sala de espera do consultório de Hilarie Cash lembra a de muitos outros terapeutas: tem música clássica suave, pinturas de cisnes e flores e prateleiras cheias de folhetos sobre como obter ajuda de vários tipos.

Mas, junto com seus pacientes, Cash é pioneira em um nicho crescente do atendimento à saúde mental e recuperação de dependentes. Ela dirige um serviço de ajuda a dependentes da internet e dos computadores na cidade que abriga a sede da Microsoft.

Os pacientes são o que Cash e outros profissionais da saúde mental chamam de ‘onlineholics’ -viciados em ficar online. Existe até um diagnóstico para eles: desordem de dependência da internet.

Os especialistas estimam que entre 6% e 10% dos aproximados 189 milhões de usuários da internet nos EUA sofram de uma dependência que pode ser tão destrutiva quanto o alcoolismo ou a dependência de drogas, e, por isso, têm pressa para tratá-la. Mas alguns profissionais da área ainda vêem com ceticismo a idéia de que o uso intensivo da internet possa ser qualificado como dependência real. Uma acadêmica descreveu a desordem como ‘doença da moda’.

Os céticos alegam que mesmo o uso obsessivo da internet não causa prejuízos tão graves à saúde e à vida familiar quanto as dependências convencionalmente reconhecidas como tais. Já os profissionais da saúde mental que defendem o diagnóstico dizem que muitos internautas obsessivos são, além disso, viciados no jogo ou em pornografia ou tiveram sua dependência desses vícios acentuada pela onipresença na rede.

Outros usuários, porém, apresentam dependência menos específica. Eles passam horas todos os dias navegando na rede, comprando e vendendo ações, ou escrevendo e lendo blogs e mensagens instantâneas. Um número que cresce rapidamente está criando dependência dos jogos online.

Hilarie Cash e outros profissionais dizem que os internautas abusivos costumam ser pessoas que enfrentam outros problemas, como depressão e ansiedade. Mas, afirmam, a oferta onipresente que a internet faz de meios de escapar da realidade, seu preço baixo, sua acessibilidade fácil e a garantia de anonimato podem atrair pessoas de outro modo saudáveis para a dependência.

Mike, 34, é um paciente de Hilarie Cash que optou pelo anonimato para proteger sua privacidade. Depois de ter combatido a dependência de álcool e drogas e a depressão, ele corria alto risco de tornar-se viciado na internet. De uma lista de 15 sintomas de dependência da rede utilizados pelo Serviço de Dependência de Internet e Computadores para fazer o diagnóstico da desordem, Mike apresentava 13, entre eles desejo intenso de usar o computador, mentir sobre quanto tempo passa online, afastar-se de seus hobbies e de interações sociais, apresentar dor nas costas e ganho de peso.

Um número cada vez maior de terapeutas e centros de reabilitação vem tratando viciados na rede com a mesma abordagem utilizada para o tratamento de dependências químicas, incluindo programas de 12 passos.

Como a condição não é reconhecida pela psiquiatria como uma desordem, as seguradoras não reembolsam os pacientes pelo tratamento. Ou os pacientes pagam o tratamento eles mesmos, ou então os terapeutas e centros de tratamento incluem outros problemas na conta, entre eles a desordem não específica de controle de impulsos.

Existe pelo menos um programa de internação hospitalar -no Hospital Proctor, em Peoria, Illinois- voltado à recuperação de pacientes que fazem uso obsessivo do computador. Especialistas afirmam detectar nesses pacientes sinais de afastamento do convívio social semelhantes aos apresentados por dependentes de álcool ou drogas, incluindo transpiração abundante, ansiedade extrema e sintomas de paranóia.

E a presença generalizada de outras tecnologias -como os aparelhos de e-mail portáteis BlackBerry, às vezes chamados de CrackBerries por serem considerados tão indutores ao hábito, e o Treo, que combina celular, câmera e assistente pessoal eletrônico do tipo Palm, além de receber e-mails- vem criando uma dependência mais generalizada, segundo Rick Zehr, vice-diretor dos serviços comportamentais e de dependência do Hospital Proctor.

O programa de tratamento do hospital junta todos os pacientes para terapia de grupo e outros trabalhos de recuperação, quer seu vício seja a cocaína ou o computador. Falando da dependência de tecnologia e internet, Zehr comentou: ‘Duvido que isso vá sumir. Pelo contrário, imagino que se torne cada vez mais presente’.

Existem programas de terapia familiar para os viciados em internet, e há terapeutas especializados em intervir junto a viciados em computadores.

Um dos programas oferecidos pelo Centro de Dependência Online de Bradford, Pensilvânia (fundado em 1995 pela conhecida pesquisadora Kimberly Young) são grupos de apoio a ‘ciberviúvos’ (cônjuges de pessoas que têm casos extraconjugais online), tratamento de dependência do eBay e terapia comportamental intensiva -em pessoa, por telefone ou online- para ajudar os pacientes a se libertarem da dependência da rede.

Outra especialista nesse campo é Maressa Hecht Orzack, diretora do Centro de Estudos em Dependência de Computadores do Hospital McLean, em Belmont, Massachussetts, e professora assistente da Escola de Medicina de Harvard. Ela abriu uma clínica para viciados em internet no hospital em 1996, uma época em que, contou, ‘todo o mundo achou que eu estivesse maluca’.

Orzack contou que teve a idéia depois de perceber que estava viciada em jogar paciência online, a ponto de, por conta do jogo, adiar tarefas e perder horas de sono e de tempo com a família.

Quando ela abriu a clínica, recebia no máximo dois pacientes por semana. Agora ela recebe dezenas, além de uma média de cinco ou seis telefonemas por dia de pessoas de outras partes do país em busca de tratamento. Mais e mais dessas ligações vêm sendo feitas por gente preocupada com familiares viciados em videogames na rede como EverQuest, Doom 3 e World of Warcraft.

Mesmo assim, existem poucas evidências científicas definidas sobre a dependência da internet.

‘Acho que uso a internet de certas maneiras que podem prender muito minha atenção, mas não sei se isso difere de um vício de tocar violino ou jogar boliche’, comentou Sara Kiesler, professora de ciência da computação e interação humanos-computadores na Universidade Carnegie-Mellon. ‘Não existe evidência alguma de que passar tempo online, trocando e-mails com familiares e amigos, cause o menor dano às pessoas. Sabemos que pessoas deprimidas ou ansiosas tendem a buscar um válvula de escape online, e que isso as ajuda.’

Foi Kiesler que descreveu a dependência da internet como ‘doença da moda’. Para ela, a dependência da TV é mais grave.

A professora está concluindo um estudo com usuários intensivos da rede, que constata que a maioria reduziu em muito o tempo passado com o computador ao longo de um ano, o que indicaria que mesmo o uso problemático da rede é algo que se autocorrige.

Para Kiesler, descrever esse uso como dependência ‘amesquinha as doenças realmente sérias, que são coisas como a dependência dos jogos de azar, quando a pessoa rouba dinheiro da família para pagar suas dívidas de jogo, dependência de drogas ou de cigarros’. Ela acrescentou: ‘Essas são dependências fisiológicas’.

Mas Hilarie Cash, que começou a tratar dependentes da internet há dez anos, disse que a dependência da rede é, sim, uma doença potencialmente grave. Ela contou que já tratou pacientes com tendências suicidas que perderam seus empregos e cujos casamentos acabaram em função da dependência.

Cash contou que anda recebendo mais pacientes como Mike, que admitiu ser viciado em pornografia online, mas disse que também é obcecado por conectar-se à internet com outras finalidades. Ele contou que ficou obcecado com o uso da rede durante a eleição presidencial de 2000 nos EUA e que hoje sente ansiedade se não visitar vários websites por dia, sobretudo sites de jornalismo e esportes. ‘Ainda estou lutando com a idéia de que isso possa ser um problema, porque é algo que gosto muito de fazer’, disse ele.

Mike revelou que três horas ininterruptas navegando na rede é uma dose pequena para ele. A internet parece satisfazer ‘qualquer desejo que passa por minha cabeça’.

Vários psicólogos e outros especialistas disseram que o tempo gasto diante do computador não é tão importante no diagnóstico da dependência da rede. Para eles, a questão é saber se o uso da rede provoca problemas sérios para o internauta, tais como a perda do emprego, dificuldades conjugais, depressão, isolamento e ansiedade. Também é importante saber se o usuário não consegue parar. Para Zehr, do Hospital Proctor, ‘o alerta de perigo com a dependência da internet dispara quando a pessoa não consegue controlar o desejo de navegar na rede’.

Cash e outros terapeutas contam que vêm recebendo como pacientes cada vez mais adolescentes e jovens que cresceram passando horas diárias diante do computador, jogando e trocando mensagens instantâneas. Esses pacientes parecem apresentar problemas significativos de desenvolvimento, incluindo a desordem de déficit de atenção e falta de habilidades sociais.

Um relatório divulgado este ano pelo Pew Internet e o Projeto Vida Americana constatou que, de fato, o tempo que os adolescentes passam online vem aumentando: hoje 51% dos internautas adolescentes se ligam à rede diariamente, contra 42% em 2000. Mas o relatório não descobriu uma redução das habilidades sociais, tanto que observou que a maioria dos adolescentes ‘mantém redes fortes de amigos’.

Alguns terapeutas e centros de tratamento da dependência da internet oferecem aconselhamento online, incluindo pelo menos um programa em 12 passos para viciados em videogames, o que constitui uma medida polêmica.

Os críticos dizem que, embora essa possa de fato ser uma maneira de chamar a atenção de alguém que precisa de tratamento cara a cara, é comparável a tratar um alcoólatra dentro de uma cervejaria, sobretudo porque os viciados em internet precisam romper o ciclo de viver no ciberespaço.

Entretanto, uma diferença crucial entre os tratamentos da dependência de Internet e os de alcoólatras e dependentes de drogas é que, no caso destes, costuma ser recomendada a abstinência total das drogas ou do álcool, enquanto, no caso das dependências comportamentais, o objetivo é assegurar a moderação no hábito.

No Arizona, o hospital psiquiátrico e centro de saúde comportamental Sierra Tucson, que trata pacientes com dependências comportamentais e de substâncias, vem recebendo um número crescente de viciados em internet. Segundo sua gerente Gina Ewing, quando esses pacientes concluem o tratamento, os psicólogos do centro os ajudam a planejar maneiras de reduzirem o tempo passado diante do computador. No caso de pacientes que não precisam da rede para seu trabalho, o centro recomenda que se afastem por completo do computador.

Ewing disse que o centro incentiva seus clientes viciados em internet, quando deixam o tratamento, a participar como ouvintes de reuniões abertas dos Alcoólicos Anônimos ou Narcóticos Anônimos, que não se restringem apenas a dependentes de drogas ou álcool. Se encontrarem outras pessoas que enfrentam o mesmo problema, ou se os outros participantes das reuniões concordam, eles também podem falar nas reuniões. ‘É uma prática inovadora’, disse ela. ‘Uma dependência é sempre uma dependência.’ Tradução de Clara Allain’



Juliana Carpanez

Banda larga chega a 1 bilhão de pessoas no mundo em 2005

‘Cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo terão acesso a conexões de banda larga até o final de 2005, segundo estudo divulgado ontem pelo Computer Industry Almanac. Em 2010, o acesso à banda larga deve chegar a 1,8 bilhão de pessoas.

Nos EUA, o número de internautas com acesso à conexão rápida baterá em 198 milhões ainda neste ano.

A pesquisa não revela o número de usuários de outros países, mas especifica valores relacionados aos assinantes -uma casa pode ter, por exemplo, um único assinante e quatro usuários da conexão rápida.

O número de assinantes de banda larga em todo o mundo chegará aos 215 milhões até o final deste ano -em 1999, eram 5 milhões, enquanto 67 milhões de pessoas contrataram o serviço até 2002. No final de 2010, o acesso deve chegar a 500 milhões.

Ranking elaborado pela organização mostra que os EUA lideram a quantidade de assinantes do serviço: são 46,9 milhões de pessoas ou 21,6% do total. Em seguida estão a China (35,9 milhões), Japão (26,4 milhões), Coréia do Sul (13,1 milhões) e França (9,6 milhões).

O Brasil é o 13º, com 3 milhões de assinantes. Segundo números do Ibope/NetRatings -que utiliza metodologia diferente em seus estudos-, cerca de 55% dos 11,7 milhões de internautas residenciais usam a banda larga.’



TV DIGITAL
Clarice Spitz

TV digital terá 1ª transmissão no país em setembro de 2006

‘A TV digital terá sua primeira transmissão comercial no Brasil em 7 de setembro de 2006, segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Ele afirmou ainda que nessa época deve ser iniciada a comercialização dos terminais de conversão do sistema analógico para o sistema digital.

Segundo Costa, as seis principais redes de TV brasileiras se comprometeram com a transmissão em setembro. A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) e a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), segundo o ministério, também já deram o sinal verde para que a TV digital.

‘Adiantamos o processo da TV digital, e comercialmente ela já tem condições de ser iniciada em 7 de setembro’, afirmou. O ministro disse que, em princípio, o custo mínimo dos terminais será de R$ 60 e máximo de R$ 400.

Já em junho, durante a Copa do Mundo, devem ocorrer os testes com a TV digital. Só em São Paulo, Costa estima que ao menos 10 mil aparelhos estejam em teste.

Costa afirmou que o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, deverá apresentar na próxima semana uma linha de crédito especial para auxiliar a indústria na fabricação dos terminais.

Até 10 de fevereiro, o governo anunciará oficialmente a escolha do sistema de TV digital a ser adotado no país. Além do brasileiro (em fase de teste), há o norte-americano, o europeu e o japonês. O prazo para a escolha foi estabelecido, por decreto, em 2003.

Durante o discurso a empresários ligados a fabricantes de eletroeletrônicos, ele pediu uma reserva de mercado para o setor, mas depois recuou, ao dizer que a frase foi ‘equivocada’.’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Desempregado, João Kléber vai à Justiça

‘Há um mês, João Kléber estava em primeiro lugar no Ibope (freqüentemente, superava o ‘Programa do Jô’). Desde ontem, ele está desempregado. Na noite de quinta-feira, o apresentador e a Rede TV! chegaram a acordo e rescindiram contrato que iria até maio. Com isso, só de salário fixo João Kléber perdeu R$ 800 mil.

O apresentador se diz vítima de censura. E agora vai à Justiça contra o Ministério Público Federal (MPF), que moveu a ação que tirou seus dois programas do ar.

Em outubro, o procurador da República Sérgio Suiama pediu na Justiça a suspensão do programa ‘Tarde Quente’, por causa de pegadinhas homofóbicas.

A Justiça Federal proibiu o programa por 60 dias. A Rede TV! tirou o ‘Tarde Quente’ do ar, mas não exibiu no lugar o que a Justiça determinava. Foi punida com a suspensão de seu sinal em São Paulo, durante 25 horas, em pleno aniversário (15 de novembro).

Para voltar ao ar, a Rede TV! aceitou um acordo com o MPF que inviabilizou os programas de João Kléber, que saíram definitivamente do ar. O apresentador não concorda com esse acordo e o está contestando na Justiça. O próximo passo será uma ação de responsabilidade civil contra o MPF, que poderá resultar em uma indenização milionária por todos ‘os enormes prejuízos sofridos’.

‘Foi tudo muito violento, um ataque à liberdade artística’, diz Thaís Losso, advogada de Kléber.

OUTRO CANAL

Academia 1 A minissérie ‘JK’, que estréia em janeiro, foi tema de um seminário anteontem na Universidade de São Paulo, que reuniu os especialistas em Juscelino Kubitschek Cláudio Bojunga (PUC-RJ) e Maria Victoria Benevides (USP).

Academia 2 O tom do encontro foi o de que os acadêmicos aprovam minisséries históricas como ‘JK’, mas se sentem frustrados com a falta de profundidade e a supressão de passagens históricas importantes. Reconhecem, contudo, que esse formato de minissérie tem alto poder didático e estimula o aprofundamento, ao provocar o lançamento de livros.

Castigo 1 A exibição, no ‘Show do Tom’ da última segunda-feira, de imagens de um jogador de futebol que expõe toda a sua genitália ao disputar um lance com outro atleta causou uma CPI na Record.

Castigo 2 Com direito a replay e câmera lenta, o material chocou diretores e telespectadores da rede (que é da Igreja Universal e se define como ‘de toda a família’). Um produtor foi demitido.

Vermelho A TV Cultura tentou convencer o narrador Luiz Alfredo, que integrava o extinto núcleo de transmissões esportivas, a apresentar o ‘Cartão Verde’. Em solidariedade aos 27 outros profissionais demitidos, rejeitou a oferta.’



Laura Mattos

No especial da Globo, Roberto Carlos está igual, mas diferente

‘Com duas horas de atraso, Roberto Carlos surge no palco do Credicard Hall, em São Paulo, anteontem, e surpreende a platéia. Veste um terno azul escuro, quase grafite, bem diferente de seu habitual tom ‘calcinha’. Os cabelos brancos também desapareceram, disfarçados por uma tintura castanha. Seu rosto está menos magro, menos triste, mais saudável.

Será outro o Rei do especial da Globo deste ano (no ar dia 21), para o qual esse show foi realizado. Em tratamento contra TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), que o leva a exagerar em superstições, como o uso do azul, Roberto Carlos faz piada com seu avanço: ‘Sou eu mesmo. Só troquei de roupa [risos]. De cor… Na verdade de tom de azul [risos]’.

Bem humorado, nem parece o mesmo que na gravação do ano passado se irritou com um cadillac cenográfico que deveria ser inflado no palco mas falhou. ‘Pára, pára, pára. É um programa de TV, temos que fazer a coisa certa.’

Desta vez, seu perfeccionismo estava contido, e tudo saiu perfeito. ‘Gostaria de dizer tantas coisas para vocês… Mas acho que vou dizer melhor cantando’, declarou, após a piada sobre a roupa nova.

O repertório, porém, caminhou justamente na contramão da mudança do astro ‘analisado’. Logo ao abrir o espetáculo, cantarolou trecho de ‘Pra Sempre’ e deixou claro: o Rei sempre será o Rei, e o especial de fim de ano do Roberto Carlos sempre será o especial de fim de ano do Roberto Carlos ‘por séculos, milênios, dimensões, qualquer lugar’ e ‘assim sempre será, nada vai mudar’.

Foi uma seqüência de duas horas de hits, quebrada apenas por ‘Arrasta uma Cadeira’, com participação de Chitãozinho e Xororó (do álbum que será lançado na próxima semana) e uma regravação de ‘Loving You’, de Elvis Presley. ‘Queria fazer uma versão dessa música há muito tempo, mas era difícil combinar a melodia, as palavras e manter o sentido. Aí tive o atrevimento de gravar em inglês mesmo’, contou.

Além da dupla sertaneja, RC cantou ao lado de Claudinha Leite, do Babado Novo. Visivelmente nervosa, a neo-Ivete Sangalo fez com o Rei um dueto de ‘Amor Perfeito’. O anfitrião também dividiu o palco com Jota Quest, segundo ele, ‘a grande banda de rock do Brasil’. O vocalista, Rogério Flausino, provocou: ‘Vai encarar um rock’n roll?’. ‘É…’, respondeu o líder da jovem guarda. ‘Você é que começou tudo, meu!’, reparou o convidado.

A parceria em ‘Além do Horizonte’ foi um dos melhores momentos do show, capaz de animar a platéia comportada de VIPs, celebridades e afins, todos sentados.

Em tempos de reflexão, Roberto Carlos ‘discutiu a relação’ com a música ‘Outra Vez’ e o público. ‘Em momentos muito alegres, cantei canções tristes. Em momentos muito tristes, cantei canções alegres… Nesse meu momento, sei lá… O tempo passa, as coisas mudam. E nem sempre as coisas do passado fazem sentido, principalmente em termos de música. Mas eu sei que vocês gostam muito dessa música, então…’

E entoou, sob aplausos agradecidos dos fãs: ‘Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci…’

Transitando entre o novo e o velho Rei, RC continua a fugir da letra original de ‘É Preciso Saber Viver’: ‘…se o bem e o mal existem’ ainda é ‘se o bem e o bem existem’. E ‘Jesus Cristo’ segue firme como encerramento da apresentação e fundo para outra mania: reservar o primeiro punhado de rosas vermelhas e brancas, distribuir outras para fãs à beira do palco e sair de cena com as primeiras, guardadas para Maria Rita. Em homenagem a mulher, morta em 99, cantou ‘Amor Sem Limites’ e ‘Acróstico’.

Teve ainda ‘A Volta’ (música-tema de Jatobá, de ‘América’, que estava na platéia), ‘Café da Manhã’, ‘Detalhes’ (em tom acústico, com RC ao violão), ‘Índia’ (com imagens da ‘indígena’ Priscila Fantin na novela ‘Alma Gêmea’, no telão), ‘Ilegal, Imoral ou Engorda’, ‘Cavalgada’, ‘É Proibido Fumar’, pot-pourri de ‘Por Isso Corro Demais’, ‘Como É Grande o Meu Amor por Você’, ‘Os Seus Botões’ e outros velhos sucessos do novo (?) Rei.’



Marcelo Bartolomei

Dia da Criança na TV tem nove horas de programação

‘Amanhã é Dia da Criança, ao menos na televisão. Criado há 12 anos pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o Dia Internacional da Criança na TV promove, todo dia 11 de dezembro, uma série de atividades em mais de 2.000 emissoras de rádio e TV do mundo, que dedicam suas programações à infância e à adolescência. É a oportunidade que duas emissoras públicas brasileiras, a TVE Brasil e a TV Cultura, têm para apresentar suas novas atrações para 2006, em mais de nove horas de programação infanto-juvenil.

Uma delas é a série ‘A Árvore Mágica’, do polonês Andrzej Maleszka, ficção dedicada a crianças de seis a 12 anos com episódios de 30 minutos cada um. O primeiro, ‘O Trenó’, será exibido às 13h e às 20h, na TVE. Na produção, o cineasta exerce sua visão sobre a programação infantil, numa superprodução rica em detalhes e efeitos especiais, que mistura realidade e magia em aventuras que falam de divórcio -tema em discussão na Polônia-, amizade, diferenças, escolhas e influência da mídia na vida das crianças.

Maleszka, 50, ainda não tem filhos, mas ainda acha possível ser pai. Ele está no Rio para realizar uma oficina de programação infantil para profissionais de TV, que acontece hoje. Traz, na bagagem, uma indicação ao Emmy e importantes premiações como a do Festival Internacional de Filmes Infantis de Chicago e do alemão Prix Jeunesse, entre outros obtidos em Montevidéu (Uruguai), Canadá e Cairo (Egito). Atualmente com seis episódios -outros sete já estão em produção-, a série já foi vendida para 18 países e vai virar filme em 2006.

A fórmula para fazer um programa infantil? Nada de apresentadoras loiras, animais que falam ou desenhos animados. Para Maleszka, as crianças querem ver outras crianças na TV, como se estivessem se olhando no espelho.

‘Crianças são espontâneas, têm uma energia incrível, e o mais importante para elas é brincar’, diz. Ele desaprova que os pais deixem os filhos assistirem às novelas, inclusive as brasileiras, que passam na Polônia, pelo conteúdo adulto e, às vezes, erótico. ‘São temas que não interessam à criança, pois são adultos, mas causam curiosidade porque se aproximam da vida que eles vêem em casa.’

Crítico de Harry Potter (acha o livro ‘feminino’, pela riqueza de detalhes; e o filme, ‘uma maneira de ganhar dinheiro’), Maleszka afirma que baniria da programação os animes japoneses (‘uma explosão de cores e violência que não ficam na memória das crianças’) e prega que os pais devem controlar o que as crianças vêem, tanto na TV quanto na internet, evitando que a programação seja somente de desenhos (‘um perigo, pois não há realidade, tampouco diversidade humana neles’), mas inclua também noticiários, exceto as cenas de violência.

A TVE também apresenta amanhã um ‘aperitivo’ da série ‘O Menino Maluquinho’, que ainda não tem data para estréia, com um videoclipe do cantor Arnaldo Antunes, tema da atração, que deve entrar na grade da emissora só no ano que vem.

Já a TV Cultura aproveita o domingo para incluir um novo personagem na ‘Turma do Cocoricó’, o Pato Torquato, em sua produção de maior sucesso na retomada da produção de programas infantis desde 2002. Segundo Mauro Garcia, diretor de programação da emissora, chegarão à TV sete novos programas para o público infantil no ano que vem. ‘A TV Cultura entende que deve investir na programação para crianças’, diz.’