Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fórum Nacional debate a imprensa na democracia

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 22 de maio de 2009


 


MÍDIA
Adriana Chiarini


Fórum Nacional debate o papel da imprensa nas sociedades democráticas


‘A importância da imprensa para o aperfeiçoamento de uma sociedade democrática foi o tema reservado ontem para o encerramento do 21º Fórum Nacional, organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sob o título A Imprensa/TV/Rádio (Mídia) e a Sociedade Ativa e Moderna, o painel contou com a participação de representantes de alguns dos principais veículos de comunicação do País. Entre os desafios levantados, estava a manutenção da oferta de informação de qualidade diante do surgimento das novas mídias.


O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, disse estar convencido de que é imprescindível para a sociedade a manutenção dos valores tradicionais do jornalismo. ‘Essa atividade sempre se pautou por perguntar o que não quer ser dito, revelar o que está oculto e ser um instrumento de fomentar o antagonismo e incomodar’, disse. Nesse sentido, pediu ‘um marco regulatório claro que proteja a imprensa e a sociedade’.


O redator-chefe da revista Exame, André Lahoz, citou pesquisa que detectou a deterioração da qualidade política local com o fim do único jornal da cidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. Embora o veículo não tivesse tiragem muito expressiva, observou-se nas eleições locais seguintes o aumento da vantagem dos que tentavam a reeleição, além da diminuição do número de candidatos e dos que compareceram para votar, já que naquele país o voto não é obrigatório.


Também participaram do evento a editora executiva da Folha de S. Paulo, Eleonora de Lucena, e o editor de Opinião de O Globo, Aluízio Maranhão. Houve ainda apresentações específicas do diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, do diretor do Observatório da Imprensa, Alberto Dines, e do diretor-presidente do Centro de Liderança Política, Luiz Felipe D?Ávila.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Reality da balada


‘O você vai fazer neste fim de semana? A rotina de baladas, trabalho e amigos de quatro jovens durante o final de semana é o tema de um novo reality do Multishow. Produção da Conspiração Filmes, o programa, batizado de Findi (de fim de semana) , já está sendo gravado.


A produtora está acompanhando a vida de seis jovens, dois de São Paulo e quadro no Rio, de sexta-feira até domingo à noite. Desses, apenas quatro personagens ficarão no programa. A ideia é mostrar como os jovens usam sábado e domingo para armar encontros, se divertir, namorar e estudar.


Um dos personagens é um garçom de um badalado restaurante paulista que sonha em ser cantor profissional.


Findi, que deve estrear este ano, entrará no lugar de Retrato Celular, também da Conspiração Filmes. A atração, dirigida por Andrucha Waddington, não ganhou nova temporada no Multishow, abrindo brecha no canal para um novo reality com o dia a dia de jovens, campo já bem explorado também pela MTV, e com bom retorno comercial.


Procurados, Multishow e Conspiração não quiseram dar detalhes sobre a produção de Findi.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 22 de maio de 2009


 


HQ
Paulo Ramos e Waldomiro Vergueiro


O óbvio: quadrinhos não são só para crianças


‘REPORTAGEM DESTA Folha publicada na última terça-feira (dia19) revelou que uma obra em quadrinhos com palavrões e conotação sexual seria distribuída pelo governo paulista a alunos do terceiro ano do ensino fundamental. Em nota, a administração estadual reconheceu a falha e mandou recolher os 1.216 exemplares adquiridos.


O governador José Serra prometeu punição aos responsáveis e instaurou uma sindicância. Em entrevista ao telejornal ‘SPTV – 1ª Edição’, da TV Globo, classificou o livro em quadrinhos como um ‘horror’, obra de ‘muito mau gosto’.


É preciso olhar criticamente esse noticiário, pois corre o risco de haver generalizações e reprodução de discursos antigos a respeito das histórias em quadrinhos. É o caso da associação delas somente às crianças.


A obra em pauta -’Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol’- não é direcionada ao público infantil. O álbum foi pensado para o leitor adulto, como confirmam o organizador da publicação, o ilustrador Orlando Pedroso, e outros desenhistas do livro.


O governo de São Paulo acerta ao não distribuir a obra a estudantes de nove anos. Nessa idade, o aluno não está preparado para uma leitura nesses moldes. Seria um desserviço pedagógico. Mas parece estar por trás dessa questão um olhar ainda estreito sobre as histórias em quadrinhos, herdado das décadas de 1940 e 1950.


Tal olhar ainda está presente também em parte da imprensa. Reportagem sobre o assunto, exibida na edição noturna do ‘SPTV’, começava com a frase ‘as histórias são em quadrinhos, mas o conteúdo não tem nada de infantil’. É um discurso que enxerga a linguagem como feita exclusivamente para crianças. É claro que o conteúdo não é infantil: a obra foi direcionada ao leitor adulto. A falha, assumida pelo governo do Estado, foi direcioná-la ao ensino fundamental.


Os quadrinhos, assim como a literatura, o teatro e o cinema, possuem uma diversidade de gêneros. Um deles é o infantil, do qual faz parte a Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. Mas há muitas outras produções, direcionadas a diferentes leitores. Inclusive aos adultos, como provam muitas livrarias e as tiras publicadas neste jornal.


O mesmo discurso tende a ver os quadrinhos de forma infantilizada ou não séria. Essa generalização evidencia desconhecimento sobre as histórias em quadrinhos e sua produção e afastou das escolas, por décadas, essa forma de leitura.


Os primeiros passos para a inclusão ‘oficial’ dos quadrinhos no ensino ocorreram no fim do século passado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e, pouco depois, nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, quando o atual secretário estadual da Educação, Paulo Renato Souza, era ministro da Educação e do Desporto. Os parâmetros traziam orientações para as práticas pedagógicas dos ensinos fundamental e médio.


Outra medida que levou as obras em quadrinhos às escolas ocorreu na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir de 2006, publicações em quadrinhos foram incluídas na lista do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), que distribui livros para escolas de todo o país. A prática foi repetida nos anos seguintes e também no edital deste ano.


Em 2008, a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, do Instituto Pró-Livro, revelou que as histórias em quadrinhos encontram forte eco entre os brasileiros. É o gênero mais lido entre os homens e o sétimo mais listado pelas mulheres. Especificamente entre estudantes até a quarta série, os quadrinhos são o terceiro item mais mencionado (36%).


São corretas as iniciativas de levar histórias em quadrinhos à sala de aula e ao roteiro de leitura dos estudantes. No entanto, há dois cuidados que deveriam ser óbvios, mas que o noticiário recente revelou que não são. O primeiro é haver uma seleção do material, de modo a separar as obras de melhor qualidade e destiná-las a seu público ideal. ‘Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol’ tem qualidade. Mas não é destinada ao leitor juvenil.


O segundo cuidado é o de não associar as histórias em quadrinhos somente ao público infantil. Do contrário, corre-se o risco de repetir a falha agora vista e de generalizar discursos adormecidos, que são despertados em situações-limite como essa.


PAULO RAMOS, 37, é jornalista e professor adjunto do curso de letras da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo). É autor de ‘A Leitura dos Quadrinhos’.


WALDOMIRO VERGUEIRO, 52, é professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenador do Observatório das Histórias em Quadrinhos, da mesma universidade. É organizador do livro ‘Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula’.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Descolamento 2.0


‘Com o enunciado ‘Os maiores emergentes vão se recuperar mais rápido do que a América’, editorial da nova ‘Economist’ saúda a volta do ‘descolamento’, ‘decoupling’, entre países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Nos últimos seis meses a teoria foi até ‘ridicularizada.


Mas talvez ela tenha sido dispensada muito cedo. Ainda que a produção dos EUA continue fraca, há sinais de que alguns emergentes poderiam ver uma recuperação decente’. Detalha a China e diz que ela ‘estimulou o preço das commodities que, por sua vez, iluminaram o futuro para o Brasil’. Então ‘não era uma má ideia, afinal’.


Na edição, sob o título ‘Não’ em português, a revista elogia a ‘provocação’ da SR Ratings de Paulo Rabello Castro, de dar nota aos títulos americanos, já que ‘por alguma razão o processo não funciona’ e eles não vêm caindo. Deve ser AA, não AAA.


E O DESEMPREGO CAIU


Dias antes, o presidente do Banco Central previa um ‘retrocesso de dois anos’ no desemprego.


Mas ontem veio a manchete da Reuters Brasil, ao longo do dia inteiro, ‘Desemprego no Brasil surpreende e cai’, contrariando ‘a expectativa de economistas’.


Nas buscas de Brasil no exterior, a AP dizia que o desemprego por aqui ‘cai levemente’ e a Bloomberg apontava no título o ‘declínio inesperado’.


JURO VAI SUBIR


Mais do presidente do BC. Ontem ele saiu falando em ‘sinais claros de recuperação da economia’, segundo o Valor Online, ‘no que foi interpretado como uma possibilidade de menor corte dos juros’. O resultado foi alta nos ‘contratos de juros futuros’, para 9,34% (janeiro de 2010) e 10,75% (2012).


NÃO, VAI CAIR


No enunciado da Bloomberg, ‘Prognóstico realista no Brasil mostra taxa abaixo de 9%, diz Setubal’. O presidente do ‘maior banco do país’ afirmou em Nova York, em entrevista à agência, que a queda ‘será maior do que estimam economistas’ ouvidos no BC. ‘O Brasil está superando a crise brilhantemente.’


ROUBINI ENTRE NÓS


‘Dr. Doom’ ou Dr. Apocalipse, no enunciado célebre do perfil no ‘New York Times’, falou ontem no Brasil. No Valor Online, ‘Nouriel Roubini é cauteloso sobre rali dos mercados’. No Yahoo Notícias, ‘Roubini pede mais calma na precificação do otimismo com a economia’.


No portal Exame, ‘Commodities podem atrasar a recuperação do Brasil, diz Roubini’. No site de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘Desafio do Brasil é crescer a taxas chinesas, diz Roubini’.


DO DÓLAR AO YUAN


Em destaque no ‘China Daily’, ‘Yuan pode ser moeda de reserva até 2020’. Um executivo da comissão bancária disse que a ‘internacionalização do yuan’ já está em teste nos acordos de ‘swap’ com seis bancos centrais e num ‘sistema piloto que vai começar em Hong Kong, usando a moeda nos acordos com empresas’.


Por outro lado, o ex-presidente do BC Gustavo Franco disse à Bloomberg que a ideia sino-brasileira de usar yuan e real é ‘conversa de gente ociosa’.


EUA, ÁFRICA E OS MARES


Um dia antes, a Reuters destacava a busca de ‘aliança’ com africanos pelo Brasil, ‘preocupado com as nações desenvolvidas’ no Atlântico Sul.


E ontem o ‘Washington Post’ deu reportagem sobre o ‘esforço naval para construir estabilidade e confiança nos mares da África Ocidental’.


Enviada da ‘cidade petrolífera’ de Port Gentil, no Gabão, descreve a missão do USS Nashville, ‘treinando marinhas africanas para policiar o Golfo da Guiné’. E dá foto de operação que flagrou um navio chinês.


PROGRESSO


Com atraso, a ‘Economist’ avalia o embate entre Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. Dá foto do primeiro e sublinha sua sintonia com a opinião pública. Mas diz que ‘Mendes fez algumas melhorias. Em particular, tirou proveito das reformas do sistema judiciário feitas pelo governo do presidente Lula em 2004 para as coisas se moverem mais rapidamente’.


Sobre o embate, diz que confrontou ‘filosofia judicial’, opondo o ‘ativismo judicial’ de Barbosa à ‘visão mais conservadora’ de Mendes. Afirma que ‘isso é um degrau acima do debate usual no e sobre o Supremo e soa como progresso. Mas ainda há caminho a percorrer e muitos processos a tirar’ das pilhas.


‘THE RISE OF THE C CLASS’


A ‘AdAge’ deu a reportagem ‘A ascensão da classe C no Brasil’, dizendo ‘Por que a M&C Saatchi abriu lá’.


Em 2008, ‘20 milhões passaram a fazer parte da classe C’, que foi a 86 milhões, ‘mais do que a população dos três Estados mais povoados dos EUA’. Diz o presidente global da agência que ‘a presença eleva chance de trabalhar com empresas brasileiras em expansão internacional e com as empresas internacionais que entram’.


GOOGLE E OS JORNAIS


Sob o título ‘Google desiste da ideia de comprar jornal’, o ‘Financial Times’ deu entrevista em que Eric Schmidt admite ter pensado em aquisição e também no apoio a algum jornal, no modelo ‘sem fins lucrativos’.


Evitou dizer se era o ‘NYT’. Temendo ‘cruzar a fronteira’ da tecnologia para o conteúdo, desistiu, ‘provavelmente’. E agora vem trabalhando com ‘publishers’ para fazer os sites ‘trabalharem melhor’ com publicidade.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV de sindicato de Lula vai tirar canal do ar


‘O ato do governo federal que concedeu um canal de TV a uma fundação mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, berço político do presidente Lula, desrespeitou a lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço.


A TV do sindicato irá ocupar o canal 45 em São Caetano do Sul. Mas o canal 45 de São Caetano já está ocupado. Hoje irradia a programação da Rede Brasil (que não tem nada a ver com a TV Brasil, a rede pública federal), cujas estrelas são Celso Russomano e Alessandra Scatena (ex-banheira do Gugu).


O Plano Básico de Distribuição de Canais, documento oficial da Anatel, confirma a confusão. Lá estão registrados o canal 45 em nome da Sociedade de Teleeducação Comunitária Cultural de São Caetano (a fachada da Rede Brasil) e o canal 45 da Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho (do sindicato). Ambos em São Caetano do Sul, sob as mesmas coordenadas geográficas e especificações técnicas.


A diferença é que o canal da Rede Brasil é uma RTV (retransmissora), e o do sindicato, uma TV (geradora). A geradora exige concessão pública e a retransmissora não. Como a retransmissora é outorgada em caráter primário, ou seja, de forma precária, será cassada. Segundo o Ministério das Comunicações, a outorga usada pela Rede Brasil será revogada, e o canal sairá do ar para dar lugar à TV dos metalúrgicos.


BOLA FORA 1


Fátima Bernardes, apesar da experiência em Copas do Mundo, soltou no ‘Jornal Nacional’ de anteontem uma gafe imperdoável para os boleiros.


BOLA FORA 2


Ao vivo de Porto Alegre, o locutor Luís Roberto mostrava a recepção da torcida ao time do Inter, que jogaria contra o Flamengo, na chegada ao estádio Beira-Rio. ‘Olha o calor humano. Ou seja, William [Bonner] e Fátima, os artistas, pelo fato de estarem jogando em casa, sentem esse calor. Vocês não entendem assim também?’, perguntou o narrador.


BOLA FORA 3


‘Ah, certamente, [a torcida] é aquele 13º jogador mesmo’, respondeu Fátima. A torcida, ensina o clichê futebolístico, é o 12º jogador, e não o 13º.


SEM QUERER 1


A Record improvisou esticando o ‘Hoje Em Dia’ até as 14h, para cobrir o buraco do ‘Balanço Geral’, e acertou. Anteontem, o ‘Hoje Em Dia’ deu 8 pontos nas quase cinco horas em que ficou no ar. Chegou a empatar com o ‘Vídeo Show’ nos 15 minutos finais, em 11 pontos. Nesse horário, dificilmente o ‘Balanço Geral’ alcançava essa audiência.


SEM QUERER 2


Por tabela, o ‘Hoje Em Dia’ ressuscitou o ‘Programa da Tarde’, que ficará no ar só até julho. A atração marcou 6,3.


RH


O ‘Toda Sexta’, programa de Adriane Galisteu na Band, vai lançar um quadro para receber novos humoristas. A ideia da emissora é contratar os melhores para futuros programas.’


 


 


Audrey Furlaneto


Abaixo o realismo na TV


‘Numa casa de madeira em que tudo remete ao século 19, há uma caneca de plástico esquecida sobre a mesa. Nela, lê-se a frase de Rimbaud: ‘Jamais réel et toujours vrai’ [Nunca real e sempre verdadeiro]. Foi escrita à mão por Jorge Furtado porque sintetiza sua busca como diretor de cinema e televisão: quer estar distante da realidade e perto da mágica.


‘A TV vive a ‘doença do realismo’, afirma ele, que acumula trabalhos com a Globo, desde roteiros e direção de episódios até a criação de projetos completos, como ‘Dóris para Maiores’ (1990), ‘Agosto’ (1992), ‘Comédias da Vida Privada’ (de 1995 a 1997), entre outros.


Às vésperas de completar 50 anos, Furtado dirige agora ‘Decamerão’, especial que se transformou em série e tem estreia prevista para o segundo semestre na própria Globo. Como se quisesse um antídoto para a doença que aponta, ele faz o novo trabalho longe dos estúdios da emissora e da produção tradicional de televisão.


Para criar o roteiro, trabalhou com o diretor Guel Arraes por mais de um ano. Como locação, usa uma fazenda colonial cravada no pé de uma montanha em Garibaldi (RS). Levou para lá 65 funcionários, 80 figurantes, sete atores principais e 74 rolos de película -’Decamerão’ será captada em 16mm e depois digitalizada.


‘O tipo de televisão que eu faço é para prestar atenção’, diz. ‘Cada plano é pensado. A gente não só escreveu o roteiro inteiro já marcando as cenas, como depois ensaiou com os atores [num hotel do Rio de Janeiro, em abril], decupou o roteiro, plano por plano, desenhando story-board e tudo. Isso faz diferença no resultado, porque não tem nada gratuito. Na televisão, é muito comum ver algo que vai do plano aberto para o close e, de novo, do plano aberto para o close. É um negócio que não tem muito sentido em termos narrativos, mas que é usado para dar ritmo.’


O resultado, diz ele, é a transformação da TV numa espécie de rádio, que as pessoas ‘vêem de costas, olham, saem e voltam’. Furtado afirma que seu trabalho é em outro sentido: ‘Faço uma coisa que, teoricamente, é para a pessoa sentar e assistir. Para assistir a tudo, prestando atenção’.


O próprio texto de ‘Decamerão’, baseado na coletânea de contos de Giovanni Boccaccio (1313-1375), vai exigir atenção do espectador: as falas são em versos, escritos por Furtado e Guel Arraes a partir do original. ‘Ninguém fala em verso. Quando tem uma coisa em verso, tu estabeleces imediatamente um distanciamento do realismo.’


‘TV portaria’


Para que não reste dúvida sobre a proposta antirrealista de ‘Decamerão’, há ainda a questão do tempo em que se passa a história, que é indefinido -ou definido pelo diretor como aquele tempo do ‘há muito tempo, num lugar distante’.


Mas, se ficar tão longe da realidade como deseja seu diretor, a série não corre o risco de perder público? ‘Essa era minha maior dúvida’, diz Furtado. ‘Por isso, a gente fez um antes [o especial de um episódio, exibido em janeiro] para ver qual é que era, porque poesia tende a ser assim: ‘Ah, coisa chata, erudita’. ‘A Pedra do Reino’, por exemplo, era mais hermético, não tinha uma comunicação. Mas não é o nosso caso. São poemas de linguagem popular.’


O que importa é ganhar o público sem apelar para o que chama de ‘TV portaria’. Em 2002, hospedado com a equipe num hotel para as filmagens de ‘O Homem que Copiava’, Furtado descobriu na TV do quarto um canal que exibia imagens da recepção em tempo real. ‘Eu ficava olhando a TV no quarto e me dei conta de que toda a equipe assistia’, lembra, rindo.


‘Tem uma compulsão pela realidade, com ‘Big Brother’, todos os realities, os blogs, o YouTube. E o atrativo é: isso realmente está acontecendo. Tudo bem. A ‘TV portaria’ está realmente acontecendo. O cara está realmente chegando com a pizza, está realmente entregando a pizza para a pessoa. E daí? Qual é o valor dramatúrgico disso? O que eu aprendo com isso? É quase que um voyeurismo, e eu acho que a poesia é outra coisa. A arte é uma outra coisa. Ou, pelo menos, pode ser outra coisa que não tem nada a ver com a realidade.’’


 


 


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Comédia dell’arte inspira série


‘‘Jorge! Jorge! Tem um ‘então’ a mais aí no texto!’, avisa um dos assistentes de Jorge Furtado no set de ‘Decamerão’. ‘Corta! Vamos fazer de novo!’, diz o diretor aos atores Edmílson Barros e Lázaro Ramos, na última segunda, em Garibaldi (RS).


Na série com texto em verso, nenhuma palavra pode ser acrescentada ou suprimida das falas, sob risco de se perder a rima e o ritmo da poesia. ‘É um texto bem cartesiano. Você precisa dizer cada preposição, cada artigo’, explica Drica Moraes, 39, no elenco de sete pessoas de ‘Decamerão’.


São apenas sete os atores, explica Furtado, porque a inspiração vem da comédia dell’arte, forma de teatro popular italiano com personagens recorrentes. São eles: o burguês avarento, interpretado por Matheus Nachtergaele; uma mulher devassa (Deborah Secco); o amante (Lázaro Ramos); um casal de namorados (Daniel Oliveira e Leandra Leal) e um casal de criados (Drica Moraes e Edmílson Barros). ‘Eles têm como motivação as questões básicas da humanidade: sobrevivência, reprodução e status’, afirma o diretor, que se diz um ‘compulsivo’ por Shakespeare, comédia dell’arte e outras comédias -seu cineasta preferido, por exemplo, é Billy Wilder, de ‘Quanto Mais Quente Melhor’ (1959).


O tom de humor e farsa permeia ‘Decamerão’. ‘De naturalista, já basta a vida’, diz Drica Moraes. Sentada sob o sol da locação, onde a temperatura não passou de 15C, a atriz lamenta o fim das novelas de realismo fantástico.


Deborah Secco, 29, que estreou na TV aos 15 anos, concorda. ‘Não se vê mais algo como ‘Tieta’ ou ‘Roque Santeiro’. E a televisão não tem tempo de produzir produtos como essa série’, avalia Deborah, que, inclusive, pediu autorização da Globo para ficar afastada de novelas em 2009. Só assim, poderia ser protagonista de ‘Decamerão’.’


 


 


Diogo Bercito


Neil Gaiman analisa sua obra-prima


‘Vira e mexe, alguém fala de Neil Gaiman, o escritor inglês responsável pelo roteiro de ‘Sandman’, história em quadrinhos do final dos anos 80.


Isso hoje, quase duas décadas depois. Na época, revela o autor, a obra não causou muito furor -e demorou para ser considerada uma obra de arte.


A afirmação foi feita à jornalista Tania Menai durante a entrevista que Gaiman concedeu ao Canal Futura, em Santa Monica (EUA). O compacto vai ao ar hoje, em três horários (veja abaixo), e reprisa na terça-feira.


A entrevista, que, sem intervalos, dura pouco mais de 20 minutos, está recheada de comentários relevantes de uma personalidade que tem bastante a dizer -seja a respeito de sua própria obra, seja sobre a literatura em si.


‘O primeiro país no mundo que começou a reeditar ‘Sandman’ foi o Brasil’, Gaiman conta à jornalista. ‘É como minha primeira namorada.’


A entrevista gira bastante em torno de ‘Sandman’, aliás. Faz sentido -nas palavras de Gaiman, sem essa obra ‘eu não teria uma carreira, foi a coisa mais importante que já fiz’.


Há também menções ao filme ‘Coraline’ (2009), baseado no seu livro de mesmo nome, já que a entrevista vem na esteira do lançamento do longa, que chegou ao Brasil em fevereiro.


SALA DE NOTÍCIAS ENTREVISTA


Quando: hoje, às 12h30, 17h30 e 21h30; terça, às 12h30 e 17h30


Onde: Canal Futura


Classificação: não informada’


 


 


 


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