Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Gato por lebre

É impressionante como os editores de economia se guiam e aceitam as informações oficiais. Os endereços de suas fontes estão na Esplanada dos Ministérios ou na Avenida Paulista. Agora mesmo, está em tela um caso seriíssimo: a rejeição da soja brasileira pelos chineses. Um problemão, visto que somente no Mato Grosso há cerca de 3,5 milhões de toneladas para serem comercializadas da safra de 2003/2004 – algo entre 25% a 30% de uma produção estadual de 14,5 milhões de toneladas, que não têm mercado comprador.

Com a rejeição chinesa, estão sendo devolvidos milhões de toneladas de soja. Mas as editorias de Economia não investem como deveriam para terem uma visão de curto, médio e longo prazo do problema. Aceitam e reverberam a euforia do governo federal sem ter a coragem de ir até a ponta da questão.

Nas matérias sobre o assunto são raros os depoimentos dos sojicultores, que em última análise serão os maiores prejudicados com a jogada dos chineses.

Além do problema chinês, existe um mais grave que é a degradação do solo onde hoje é plantada a soja, principalmente na região do cerrado. Portanto, a euforia do governo brasileiro esconde uma série de contradições – as mesmas da cana de açúcar, do café, da borracha e do cacau em tempos passados.

Tradição mantida

O Brasil é useiro e vezeiro nesse tipo de ufanismo desde a monarquia. O que não se pode admitir é que depois de tanto tempo a imprensa continue a ter a mesma atitude de concordância.

Está na hora de as editorias de Economia deixarem de lado o conforto e luxo das salas da Esplanada dos Ministérios e da Avenida Paulista e irem em busca do outro lado da informação sob o sol escaldante do Centro-Oeste brasileiro, pois a verdade que está sendo usurpada dos leitores, ouvintes e telespectadores permite que todos os governos brasileiros utilizem esta mesma fórmula rota para continuar governando para 1% da população.

A maioria dos jornalistas econômicos está vendendo lebre e entregando gato, ao trombetear e reverberar o ufanismo governamental de que a soja é uma saída para o crescimento econômico do país. Na verdade, o país continua a exercitar a sua tradição de ciclos de riquezas que se exaurem pelas mais diversas circunstâncias – no caso atual, talvez, pela esperteza chinesa.

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Jornalista