Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Gaza e a dificuldade da cobertura neutra

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


 


DOIS LADOS
Ethan Bronner, NYT


Cobrindo Gaza, onde cada lado tem sua própria verdade


‘GAZA – Faisal Husseini, líder palestino que morreu no começo desta década, costumava contar um caso da sua primeira visita a Israel. A Guerra dos Seis Dias (1967) acabava de terminar, as fronteiras haviam sido repentinamente abertas, e ele foi a Tel Aviv, onde se viu detido por um policial israelense. Pergunta daqui, responde dali, o policial disse: ‘Como um orgulhoso sionista, devo lhe dizer…’. E então Husseini explodiu numa gargalhada.


Qual é a graça?, quis saber o policial. Husseini respondeu: ‘Nunca na vida ouvi ninguém se referir ao sionismo senão com desprezo —e eu não tinha ideia de que o senhor poderia ser um orgulhoso sionista’.


Escrevo de forma intermitente sobre o conflito árabe-israelense há mais de um quarto de século e recentemente passei quatro semanas cobrindo a ofensiva israelense em Gaza. Para mim, o caso de Husseini resume como os dois lados falam línguas diferentes, como as próprias palavras que eles usam podem significar coisas opostas e como a guerra da linguagem pode confundir a tentativa de um repórter de narrar —ou a tentativa de um novo presidente de mediar— este conflito de uma forma que ambas as partes considerem justa.


Entre os judeus de Israel, praticamente não há valor mais elevado que o sionismo. Mas vá a qualquer outro lugar do Oriente Médio, e ‘sionismo’ significa roubo, opressão e segregação racial.


Vale a pena, portanto, fazer uma pausa para notar como tem sido difícil narrar este conflito da faixa de Gaza de um jeito considerado neutro. George Mitchell, enviado especial do presidente dos EUA, Barack Obama, para a questão israelo-palestina, deve ter encontrado algo similar ao chegar lá.


Adversários de Israel sentem que os combates de Gaza demonstraram (novamente) que Israel é uma espécie de Esparta que desumaniza os palestinos. As maneiras como Israel atacou —a força devastadora, as pichações racistas deixadas nas paredes— são o que se esperaria daquele Estado, dizem.


Já os que enxergam Israel como vítima, e nunca como agressor, também viram nesta guerra uma reafirmação das suas crenças —de que o Hamas, um grupo terrorista islâmico, esconde seus combatentes entre mulheres e crianças; de que o Exército de Israel foi um exemplo de moderação e respeito.


Sempre que deixo de contar uma versão que cada lado conta para si, aos olhos dessas pessoas eu fracassei no meu trabalho. E isso significa muitos fracassos acumulados.


Desde o início da guerra, em 27 de dezembro de 2008, recebi centenas de mensagens sobre minha cobertura. Em geral não são para cumprimentar pelo bom trabalho. ‘Graças a você e a outras escórias como você’, escreveu um leitor, ‘Israel agora pode matar centenas e vocês podem relatar tudo como se tivesse sido algum desastre aleatório de trem’.


‘Bronner’, acusou outro, ‘você voltou ao seu habitual blá-blá-blá a respeito apenas dos pobres árabes imundos —que votaram no pessoal do Hamas, que os colocou nessa situação— com incessantes e indiscriminados disparos de foguetes contra israelenses inocentes’.


Como Israel proibiu jornalistas estrangeiros de entrarem em Gaza até o fim da ofensiva, o ‘New York Times’ recorreu ao trabalho da minha colega palestina Taghreed El Khodary para relatar a situação no território.


A primeira parada dela costumava ser o hospital Shifa, para avaliar as baixas civis. No começo da guerra, no hospital, ela viu pistoleiros do Hamas assassinarem um suposto colaborador de Israel. Um dos pistoleiros disse a Taghreed que ela jamais poderia mencionar a ninguém o que vira. Ela respondeu que não haveria hipótese de se calar.


Dois blogueiros árabes dispararam contra Taghreed o pior insulto de que seriam capazes —sionista. Um leitor disse num e-mail que Taghreed ‘é completamente cúmplice das atrocidades que Israel comete contra os palestinos em Gaza e na Cisjordânia’. ‘Vocês fazem com que [o massacre] soe sem culpa e razoável’, acrescentou. ‘Essa é a missão de vocês.’


Ao mesmo tempo, autoridades de Israel e seus simpatizantes declaram que manter os jornalistas fora de Gaza foi correto, pois não poderia haver jornalismo independente numa área controlada pelo Hamas. Será que alguma dessas pessoas já leu o trabalho de Taghreed? Ou o trabalho de qualquer um de nós aqui?


Muitos leram, mas não importa, porque sua crença no seu próprio ponto de vista é tão dominante que qualquer coisa que o contradiga se torna um mero detalhe. Mas um leitor, de resto crítico, disse algo com o que concordo: ‘Você não deveria ser repórter se não está contando a história inteira, apenas as partes que vendem’.


Eu ofereceria o mesmo conselho a um mediador.’


 


 


DEMISSÃO
João Carlos Martins


A música continua


‘UM TURISTA , ao realizar viagem de ônibus pela Europa e pelo Oriente Médio, observou quatro advertências diferentes na porta que separa os passageiros do motorista em quatro países distintos.


Estas foram as recomendações: Portugal – é proibido falar com o motorista; França – quem falar com o motorista será multado; Rússia – quem falar com o motorista irá se justificar em uma delegacia; Líbano – o que você ganha falando com o motorista?


Esta é a razão pela qual eu me pergunto: o que eu ganho comentando a saída de John Neschling da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp)? No entanto, como músico brasileiro e paulistano, sinto-me no direito de expressar a minha opinião.


Dei nesses últimos anos inúmeras entrevistas nas quais sempre disse que vários governadores ou prefeitos do Brasil resolveram ter orquestras de qualidade inspirados pela excelência do regente, dos músicos e dos administradores da Osesp. Rio, Brasília e Minas estão na metade dessa jornada, mas outros Estados também já iniciaram a caminhada em benefício da música e da cultura em nosso país.


Infelizmente, a saída do meu amigo John, do qual sou admirador, causou inúmeras polêmicas e, felizmente, todas as opiniões ressaltam o excepcional trabalho por ele realizado. Não há dúvida de que é seu mérito ter mostrado a Mario Covas e Marcos Mendonça a importância de uma orquestra de ponta no Brasil. Dessa forma vieram os recursos do governo, que hoje somam R$ 43 milhões anuais.


Não há dúvida de que Neschling organizou temporadas da mais alta qualidade na Sala São Paulo, tampouco de que ele iniciou a valorização dos nossos músicos de forma exemplar.


Lamento que o maior regente da história do Brasil, Eleazar de Carvalho, que antecedeu Neschling, não tenha tido apoio financeiro do governo para levar a Osesp à situação em que se encontra hoje.


Por outro lado, entendo a atitude do Conselho e do presidente da Fundação Osesp, Fernando Henrique Cardoso, pois uma transição não se faz com entrevistas, mas com diálogos entre as partes. Imaginem vocês, embora este assunto não tenha nada a ver com a nossa orquestra, se a fusão do Itaú com o Unibanco fosse realizada por meio de entrevistas -certamente não teríamos a união.


O Conselho, cujos membros têm um passado de enormes serviços prestados ao Brasil, não poderia ter sido surpreendido por entrevistas em que o maestro disse que a transição estava sendo conduzida com irresponsabilidade. Certamente em qualquer lugar do planeta a mesma atitude teria sido tomada pela direção.


Creio que a Osesp, que hoje está entre as 50 melhores orquestras do mundo, com ótimas apresentações no exterior subsidiadas pelo governo de São Paulo, encontrará o seu caminho com o francês Yan Pascal Tortelier, magnífico maestro -mas, se eu pudesse dar um palpite, recomendaria Isaac Karabtchevsky, o maior regente brasileiro da atualidade e figura carismática no cenário nacional.


Vejo muitas reações válidas do público, mas seria bom perguntar para os próprios músicos da Osesp se eles ficaram bem ou mal no ‘day after’, afinal, eles fazem parte da alma da orquestra. Esses mesmos músicos, cujos salários são bons, mas não de Primeiro Mundo -diferentemente do salário de alguns maestros brasileiros-, podem aparecer em uma foto tocando na Osesp, em outra aparecem na minha Bachiana Filarmônica ou em outras orquestras e, infelizmente, para poderem sobreviver, também podem aparecer em uma foto tocando em algum casamento.


Eles deram a vida, assim como John, para o progresso dessa sinfônica. O grupo que criou essa fantástica Sala São Paulo atuou de forma coletiva, com o apoio do governador, de secretários, assessores, arquitetos e do próprio Neschling, e será lembrado não só pelo teatro, mas também pela revitalização do centro de São Paulo.


Li uma entrevista do nosso maestro em que ele menciona a preocupação na Europa pela sua saída. Tenho certeza de que, nessa hora, fica difícil dar entrevistas, pois pode haver um pequeno exagero. Será que no Brasil alguém ficou preocupado, por exemplo, com a saída de Zubin Mehta da Filarmônica de Nova York, uma das melhores orquestras do mundo?


Sendo essa a realidade, acredito que a Europa acolherá o nosso ótimo maestro, da mesma forma como a Osesp continuará honrando nosso Estado e nosso país.


PS: Escrevi estas linhas por não concordar com o título do artigo do crítico francês Alain Lompech, ‘Adeus à música’ (Tendências/Debates, 25/1), pois a música em nosso país não depende de uma única pessoa, mas de milhares de músicos brasileiros, clássicos e populares, que sempre a dignificaram.


JOÃO CARLOS MARTINS é regente da Bachiana Filarmônica.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Sob mira


‘As coisas vinham bem demais, até o meio da tarde. O site do colombiano ‘El Tiempo’, ligado ao ministro da Defesa e presidenciável Juan Manuel Santos, ilustrava sua manchete on-line com um vídeo do canal venezuelano Telesur, ligado a Hugo Chávez, mostrando os helicópteros brasileiros de saída para o resgate negociado dos reféns. ‘Livres os quatro’ era o enunciado.


Fim da tarde, no entanto, e a Telesur anunciou que ‘Exército colombiano obstaculizou liberação’, enquanto o ‘El Tiempo’ passou para ‘Preocupação por versões contraditórias sobre liberação’. A comissão que negociou a libertação afirmou que esteve sob risco, o que incluiria a tripulação brasileira que realizou a operação, por perseguição de aviões da Colômbia.


DA AGÊNCIA EFE


A exemplo do espanhol ‘El País’, sites e portais brasileiros acompanharam, nas manchetes ao longo do dia, a cobertura da agência Efe para a libertação dos reféns -que entrou pela noite sem registrar problemas na operação.


DOS EUA À CHINA


Além da agência espanhola e das coberturas colombiana e venezuelana, a libertação foi seguida, desde seu princípio, por despachos da chinesa Xinhua, do canal Al Jazeera, do Qatar, e do jornal americano ‘Miami Herald’, entre outros.


LAMA E INCERTEZA


Enunciado da americana Associated Press, ‘Fórum Social termina em lama, otimismo, incerteza’. Da France Presse, ‘Soluções para a crise eludem Fórum Social Mundial desorganizado’. Da britânica Reuters, ‘Fórum esquerdista termina na Amazônia; o capitalismo é dado por moribundo’. Stuart Grudgings, enviado da última, foi especialmente sarcástico e fechou reclamando do custo da água mineral, supostamente vendida pelos mesmos ‘nativos’ que cobravam direitos nos seminários do encontro.


CAÓTICO


O escritor Bruce Sterling, que seguiu o fórum ‘caótico’ pelas agências, para a Wired, encerrou seu acompanhamento dizendo que o ‘Fórum Social não tem ideia do que fazer e demanda que os caras ricos arrumem tudo para eles’.


PROFÉTICO


Fechando sua cobertura, a Al Jazeera entrevistou em Belém o sociólogo filipino Walden Bello, para quem o ‘Fórum Social foi voz profética’, sobre a crise do capitalismo.


JOVEM


Os enviados do UOL, no alto da home, avaliaram que ‘organização precária e adesão jovem marcam Fórum Social Mundial em Belém’. Logo abaixo, o destaque de que a trilha sonora foi ‘do carimbó de protesto ao tecnobrega’.


SEM MASSA


Na manchete da estatal Agência Brasil, o sociólogo Emir Sader criticou o Fórum por se limitar às ONGs. ‘Onde estão as massas?’, cobrou, pedindo ‘movimentos sociais’.


REVOLUÇÃO SILENCIOSA


No ‘WSJ’, a chilena Michelle Bachelet, dada como modelo da ‘revolução’ que acontece por trás da estridência populista


O ‘Wall Street Journal’ deu o longo artigo ‘A revolução silenciosa da América Latina’, de Stephen Haber, do conservador Instituto Hoover, de Stanford. Saúda reformas econômicas e sociais de Chile e outros, inclusive Brasil, chegando a defender o Bolsa Família. Para Venezuela e Argentina, críticas. Da Colômbia, sintomaticamente, nada.


DILMA PERDE


Do blog de Josias de Souza, Folha Online: ‘Não importa o resultado. Vença quem vencer, Lula sai do confronto no Congresso como derrotado’.


DILMA VENCE


Do post de Kennedy Alencar, Folha Online: ‘Vitória de Michel Temer e José Sarney no Congresso beneficia aliança formal para Dilma 2010’.


NOTÍCIA SEM LUCRO


Sites e blogs de mídia nos EUA avisam que o ‘WSJ’ é o novo foco, com queda de avaliação financeira e demissões.


Por outro lado, um artigo no ‘NYT’, ‘Notícia que você pode doar’ ou patrocinar (endow), oficializou o debate sobre apoio de fundações aos jornais americanos em crise (ilustração acima). A ideia foi elogiada na ‘New Yorker’, mas questionada no site da fundação Nieman, de jornalismo -citando o bem-sucedido Joshua Marshall, do Talking Points Memo, para quem jornalismo ‘nonprofit’, não voltado a lucro, perde independência.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Disney dispara no Ibope e derruba Cartoon


‘O Cartoon não é mais o número um da TV paga brasileira.


O canal infantil, que liderava o ranking dos mais vistos desde 2001, foi ultrapassado pelo Disney Channel em 2008.


Isso indica que desenhos animados (‘especialidade’ do Cartoon) estão perdendo prestígio entre crianças e adolescentes. Em alta está a programação ‘live action’, os conteúdos feitos com ‘gente de verdade’ (séries, games). O Disney é forte nisso -’High School Musical’ e ‘Hannah Montana’ são fenômenos de ‘live action’.


O Cartoon perdeu audiência em 2008. Caiu de 20,9 mil domicílios atingidos por minuto das 8h da manhã à 1h da madrugada, em 2007, para 17 mil em 2008, segundo a medição do Ibope em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.


Já o Disney, que era apenas o sexto canal mais visto em 2007, com 12,1 mil domicílios/minuto, saltou para 22 mil. Esse crescimento também está relacionado à melhor distribuição.


Na média diária, os três canais mais vistos em 2008 foram infantis -o terceiro foi o Discovery Kids (segundo em 2007).


Houve mudança também no ranking dos canais ‘adultos’. O SporTV destronou o TNT.


No horário nobre (19h/1h), o novo líder geral também é o Disney, seguido de perto pelo SporTV. Entre os dez primeiros, Universal Channel, Fox e Telecine Pipoca subiram. Multishow e Globo News caíram.


NO CAMINHO 1


A Globo vai antecipar as pesquisas com grupo de telespectadores para avaliar ‘Caminho das Índias’. As sondagens, normalmente por volta do 40º capítulo, serão nesta semana, a terceira da novela.


NO CAMINHO 2


Mas, segundo a autora Glória Perez, isso não tem a ver com a audiência (na faixa dos 35, baixa para a Globo). É por uma questão de agenda. Se não fosse feita agora, a pesquisa só aconteceria após o Carnaval.


NO CAMINHO 3


Glória acredita que ‘Caminho das Índias’ vai deslanchar quando acabar o horário de verão e passar o Carnaval -ou seja, só em março. ‘Os tempos são outros. O bom é que conseguimos uma audiência estável no ponto de partida’, afirma.


PRAIA CINZA


‘Três Irmãs’, a novela das sete, é a mais nova preocupação da Globo. Na quinta passada, marcou só 20 pontos, menos do que ‘Negócio da China’, ‘Malhação’ e a reprise de ‘Mulheres Apaixonadas’.


MERCHANDISING


A Globo exibiu durante cinco segundos, no ‘Bom Dia Brasil’ da última sexta, material ao vivo da prova do líder de ‘BBB’. As imagens cortaram uma entrevista do ministro Guido Mantega (Fazenda). Por ironia, mostravam em primeiro plano a marca de um patrocinador.


LANGO LANGO


A Globo está se superando no esforço para alavancar o ‘Globo Esporte’. Sexta-feira, o apresentador usou bonecos manipulados com as mãos para introduzir uma reportagem.’


 


 


Janaina Fidalgo


‘Menu Confiança’ leva vinhos à praia


‘Sem Renato Machado, com a praia do Arpoador ao fundo e um menu apropriado para o lugar, o ‘Menu Confiança’ ficou mais pop, descontraído. Os vinhos continuam presentes, mas quem faz a dobradinha com Claude Troisgros agora é a sommelière Deise Novakoski.


No início desta nova temporada, que recomeça hoje no canal pago GNT com um especial de verão, Deise ainda parece pouco à vontade diante da câmera. Natural numa estreia.


E o primeiro desafio vem caprichado. Com qual vinho harmonizar biscoitos de polvilho?


Comidas simples, grandes vinhos. Brincadeira gostosa que pouca gente faz.


Troisgros faz e dificulta ao acrescentar curry, parmesão e chocolate à massa-base, criando três versões do clássico de praia carioca.


Deise escolhe um Gewürztraminer Les Princes Abbés 2004 e um Passito di Pantelleria 2006. Segundo ela, o primeiro combina bastante com comidas condimentadas, enquanto o vinho italiano vai bem com chocolate.


As sugestões de Deise agradam o veterano de ‘Menu Confiança’ e os convidados, entre eles a atriz Betty Goffman e um outro casal que estava na praia.


Se continuarem assim, descomplicando o vinho e a comida, a nova dupla promete.


MENU CONFIANÇA


Quando: hoje, às 22h


Onde: GNT


Classificação indicativa: não informada’


 


 


CULTURA
Álvaro Pereira Júnior


A Ilustrada, ou por que a gente é assim


‘LEIO, VIDRADO, EM CÓPIA emprestada de um amigo, ‘Pós-Tudo – 50 Anos de Cultura na Ilustrada’, o almanaque de aniversário do caderno cultural da Folha. Vou direto, é claro, às páginas que tratam dos anos 1980. Não há como descrever, a um leitor jovem, a importância da Ilustrada para minha geração. Lá escreviam Paulo Francis e Pepe Escobar. A Ilustrada era o canal.


Francis era a metralhadora furiosa que apresentou de tudo a um monte de moleques com alguma aspiração intelectual, mas que não vinham de nenhuma tradição artístico-literária. De Italo Calvino a Gay Talese, de Edmund Wilson a Norman Mailer, da ‘Esquire’ à ‘New York Review of Books’ e à ‘New Yorker’.


E Pepe trouxe erudição e inquietude à crítica brasileira de música pop, cinema e literatura. Um viajante extremo, cosmopolita, amado e odiado em igual intensidade. Pepe é ouvido em ‘Pós-Tudo’. Aliás, o único entrevistado ao qual se fazem perguntas mais duras, inclusive extrajornalísticas (como foi a briga com o Nasi? e aquele soco numa festa?).


‘Pós-Tudo’ é um panegírico. Não se pode esperar que aborde criticamente seu objeto. Ainda assim, a meu ver, exagera na leveza. Inicia perguntas com frases do tipo ‘você foi possivelmente o maior cronista de comportamento jovem dos anos 1980’ (entrevista com Angeli) e ‘você, que foi também um excelente pauteiro da Ilustrada’ (entrevista com Leão Serva).


A Ilustrada da minha época já como jornalista (nunca trabalhei no caderno, mas era colaborador e vizinho) praticamente inexiste em ‘Pós-Tudo’. André Forastieri e Carlos Rennó são citados uma só vez, e nomes como Thales de Menezes e Marcos Smirkoff, nem isso.


Por fim, o livro aborda como processo contínuo algo que, a meu ver, representou na verdade uma forte ruptura. O relaxamento da atitude essencialmente crítica, representada por gente como Pepe e Forastieri, para, a partir dos anos 1990 de Érika Palomino, abraçar também um tipo de jornalismo amigo e ‘construtivo’, participante de cena que cobre, ao menos na área pop.


Mas, enfim, cada geração com sua bronca. Essa é a minha.


P.S.: Vá correndo à página 176, onde Pepe Escobar escreve sobre o Clash.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


 


CRISE
O Estado de S. Paulo


Revista da ‘AE’ orienta como se prevenir na crise


‘O agravamento da crise internacional sobre a economia brasileira aumenta as chances de o cidadão ser atingido em vários aspectos da vida financeira. Por isso, o poupador deve se antecipar. ‘Disciplina será a palavra-chave em 2009, tanto no consumo como nas escolhas de investimento’, afirma o consultor financeiro Gustavo Cerbasi.


Providências simples fazem diferença para cada frente de atenção do poupador, como investimentos, financiamento imobiliário, emprego e negócio próprio. Uma medida é organizar as finanças na ordem correta de prioridade – primeiro as dívidas, depois as despesas e, por fim, os investimentos.


A incerteza no mercado de trabalho exige reforço das reservas. ‘A poupança deve ser suficiente para enfrentar ou até superar 12 meses, porque a espera por recolocação na crise, tende a aumentar’, diz o especialista em planejamento financeiro Fabiano Calil.


A edição de fevereiro da revista AE Investimentos, nas bancas a partir de quinta-feira, apresenta as vantagens e desvantagens da compra de renda vitalícia. Investidores na faixa dos 60 anos que disponham de valores a partir de R$ 300 mil, por exemplo, podem comprar uma renda mensal vitalícia de R$ 2 mil. A operação tem seus contras, como o preço, e seus prós, como garantir fluxo estável de renda na aposentadoria.


Outras possibilidades avaliadas são os CDBs – que, apesar da segurança, podem render abaixo do esperado se mal usados pelo poupador – e os imóveis no litoral. O leitor encontra também análises e perspectivas para a Bolsa, para os fundos e para o dólar. E ainda balanço dos principais erros dos investidores nos últimos meses, um roteiro para controle de dívidas e a visão de observadores, como o ex-banqueiro Charles Morris.


CORREÇÃO


Na edição de 31 de janeiro, o título de uma da notas da pág. B11, informa erroneamente queda das ações da Sadia com rumores de aporte do BNDES. As ações subiram.’


 


 


EXPERIÊNCIAS DIGITAIS
Marili Ribeiro


Publicitários se inspiram em encontro de tecnologia


‘Um laboratório de oportunidades. Com essa expectativa, publicitários de várias agências invadiram a praia dos aficionados em tecnologia durante a Campus Party, evento realizado em São Paulo e que reuniu mais de seis mil participantes entre os dias 19 e 25 de janeiro. Os profissionais estavam ali em busca de experiências digitais que pudessem ser aplicadas nas propostas de comunicação para seus clientes.


Alguns dos publicitários presentes ao evento já traziam na bagagem histórias de sucesso sobre experiências na edição anterior da Campus Party. É o caso de Aline Gonzales,da agência LongPlay, do grupo Newcomm. ‘Descobri em minha andanças do ano passado formas mais eficientes para a utilização de blogs, e aplicamos isso no blog que criamos para o Imedeen, um complemento nutritivo do laboratório Ferrosan’, disse. ‘No evento, percebi que, para tornar blogs corporativos atraentes, é fundamental abri-lo com total liberdade à participação dos internautas.’


Números levantados em pesquisa feita na própria Campus Party mostram 87% dos entrevistados possuem perfil em algum site de relacionamento. Desse total, 17% atualizam o perfil diariamente e 34% deixam mensagens no perfil de outros. Mas, apesar da relevância crescente dessas redes, Rodrigo Cordelini, da área de planejamento da agência Lodduca, ficou surpreso com o que chamou de ‘sentimento de pertencimento’ que detectou em sua primeira visita ao evento.


‘Os recursos tecnológicos convidam ao isolamento, mas o que mais me chamou a atenção foi a necessidade de as pessoas se sentirem integrantes de um grupo: o dos fanáticos por tecnologia, com quem queriam trocar contato’, disse. ‘Por isso, concluí que não dá para abrir mão da comunicação pessoal e física nas ações de marketing.’


Abel Reis, presidente da AgênciaClick, patrocinadora de alguns debates na Campus Party, define a presença dos profissionais de propaganda no evento como uma consequência direta da ‘experiência transdisciplinar’. ‘É a possibilidade de se partilhar ideias sem barreiras entre diversas áreas do conhecimento, o que empolgou nossos clientes’, disse.


A agência levou ao evento duas propostas para discussão: como pagar contas daqui a 10 anos e como usar a tecnologia em postos de gasolina. As duas atendiam a demandas dos clientes Credicard Citi e Ale Combustíveis. Ambos, por sinal, apreciaram as sugestões aprovadas: uso de cartão com tecnologia Wi-Fi, capaz de acionar promoções em qualquer lugar, e uso do postos como área de convivência de internautas.


Extrair ideias de um espaço onde não há limites para trocas foi o maior estímulo a profissionais como Eduardo Nasi, da AlmapBBDO, que viu ali uma oportunidade de ‘experimentar campanhas e ver como elas se espalham para fora da Campus Party’, e Bartira Pontes, da área digital da agência Borghierh/Lowe, que viu ali oportunidades práticas para futuras ações de marketing.’


 


 


PASQUIM
Lauro Lisboa Garcia


Música, birita e língua solta


‘Para Tom Jobim, pior do que ser concorrente de um festival era participar como jurado. Só por isso ele inscreveu a nada popular Sabiá (parceria com Chico Buarque) no 3º FIC (Festival Internacional da Canção), em 1968, do qual saiu campeão sob uma chuva de vaias. Chico, por sua vez, disse que a peça Roda Viva, como texto, ‘não era nada’, só ganhou força na encenação. Moreira da Silva admite que comprou seu maior sucesso, Na Subida do Morro, de Geraldo Pereira. Falastrões e machistas como Waldick Soriano e Agnaldo Timóteo desciam o malho nos expoentes da ‘elite’ musical, especialmente Caetano Veloso. Este se declarava um músico inferior. Lupicínio Rodrigues e Martinho da Vila nem encaravam a música como atividade profissional de futuro.


Numa roda de jornalistas bem-humorados e provocadores, com boas doses de uísque, chope ou caipirinha e em clima de absoluta descontração, uma infinidade de gente soltou a língua para o jornal O Pasquim, rendendo pérolas reveladoras como as citadas acima. Dez dessas entrevistas com personalidades da música estão reunidas no livro O Som do Pasquim (Editora Desiderata, 277 págs., R$ 39,90), que foi editado pela primeira vez em 1976 e dedicado a Lupicínio.


O responsável pelas duas edições é o jornalista Tárik de Souza, ex-integrante da equipe do jornal que se distinguia pelo estilo polêmico e irreverente e vendia 250 mil exemplares por semana. O novo livro tem as mesmas fotos e ilustrações de Nássara (leia abaixo), melhor revisão de textos, mas três entrevistas a menos: Roberto Carlos, Maria Bethânia e Ângela Maria, que não autorizaram a republicação. Além dos citados no início deste texto, permanecem nesta edição Luiz Gonzaga e Raul Seixas.


Pode ser que, como Agnaldo Timóteo, os ausentes tenham se arrependido de algo que disseram. Roberto confessou que chegou a traçar uma(s) fã(s) e revelou quanto pagou de imposto de renda em 1970. Imagine se isso seria possível hoje. No novo prefácio do livro, Tárik lembra que nos anos 70 não havia ‘as implacáveis barreiras entre os artistas e jornalistas, erguidas por marqueteiros, assessores de imprensa e incontáveis aspones’. Daí que o contato era direto e todo mundo de abria para o Pasquim, ainda mais depois de uns tragos. ‘E também não havia o politicamente correto, as pessoas podiam dizer as maiores barbaridades’, observa Tárik.


Timóteo liberou sua entrevista, mas pediu para ser publicado um adendo, em que se desculpa com Caetano Veloso e Maria Alcina e reconhece que a história de Chico Buarque, Milton Nascimento e Tom Jobim ‘está acima de uma análise ignorante e preconceituosa de décadas atrás’, observa o cantor e político.


É curioso reler entrevistas feitas há quase 40 anos, para entender como eram certas coisas no meio musical naquele período. ‘Tem coisas antecipadoras’, diz Tárik. ‘Moreira da Silva canta uma música em que sonha com a ressurreição da Lapa, que naquela época era ultradecadente. Ninguém imaginava que a Lapa fosse ressurgir.’ Caetano também fala da ‘assintonia que havia entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos em relação à cultura’. A imagem do Brasil lá fora era aquela coisa de ‘macumba pra turista’. ‘Eles só foram descobrir o tropicalismo 30 anos depois.’


Só dá Caetano


Para o bem e para o mal, um dos temas que mais rendem entre os entrevistados reunidos no livro é Caetano Veloso. Se Tom Jobim deu nota 10 para ele, Lupicínio Rodrigues o elogiou (‘é ótimo compositor’), bem como Chico Buarque, sobre sua memória musical, e Luiz Gonzaga o agradeceu em forma de música, sobraram alfinetadas de Waldick Soriano (‘como gente é bacana demais, como artista não é’), Moreira da Silva (‘é um chato’) e Agnaldo Timóteo (‘não tem voz e não pode cantar’).’


 


 


IMAGEM
Camila Molina


O melhor do fotojornalismo de 2008


‘A máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras se exprime na mostra FotoContexto 2008 – 4ª Mostra Anual de Fotojornalismo, que se abre hoje, às 19 h, no Conjunto Nacional. Como lembra o jornalista José Hamilton Ribeiro, ‘os grandes momentos do jornalismo – para não dizer da História – ficam guardados numa foto’ e, sendo assim, é possível passar os olhos por todo o ano de 2008 – e relembrar seus acontecimentos no Brasil e no mundo – na seleção de 85 fotografias abrigadas nos 82 painéis que compõem a exposição, organizada pela Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo (Arfoc-SP).


As reportagens escritas ganham força com o bom trabalho do fotorrepórter, bem lembra José Hamilton Ribeiro no texto que acompanha a mostra. Mas o interessante de uma coletiva de fotojornalismo é a oportunidade de poder não só homenagear esse árduo trabalho, mas adentrar em tantos fatos como numa retrospectiva ou até mesmo deixar a mente interpretar os registros com certa liberdade, além das palavras. Numa mostra heterogênea como essa, com obras de 62 profissionais, de revistas e jornais, entre eles diversos a Agência Estado, estão nas imagens cenas de tristeza e dificuldade, assim como passagens felizes e leves de 2008 – com os registros das conquistas esportivas na Olimpíada na China.


Nem é preciso dizer quanto foi difícil para Paulo Whitaker, presidente da Arfoc-SP, Flávio Florido, editor de fotografia do UOL, e J.F. Diório, repórter fotográfico da Agência Estado, a tarefa de selecionar 85 entre as cerca de 300 imagens enviadas pelos associados. O desespero das vítimas das inundações de Santa Catarina em novembro, que buscam alimentos e boiam dentro de um supermercado tomado de água, está condensado numa imagem feita em Itajaí. Ao lado, podemos ver a foto da atleta brasileira Maurren Higa Maggi, medalha de ouro em Pequim, durante o salto a distância no evento. Ou mesmo é possível relembrar que o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de 1998, esteve no Brasil aos 86 anos porque escolheu lançar mundialmente aqui seu livro A Viagem do Elefante. Já a tomada aérea da Avenida Paulista fotografada com uma lente ‘olho de peixe’ parece nem ser realidade.


Serviço


FotoContexto 2008 – 4.ª Mostra Anual de Fotojornalismo. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073, 3257-3991. 7h/21h (sáb. e dom., 10h/21h)’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Globo cancela séries


‘A nova grade de programação da Globo ainda não está fechada, mas pelo menos três produções perderam lugar em 2009: Guerra e Paz, Faça Sua História e Casos e Acasos não voltarão ao ar na emissora no primeiro semestre.


A decisão foi comunicada às produções dias atrás. Das três, somente Faça Sua História já estava na berlinda, pois seu protagonista, Vladimir Britcha, tinha pedido para deixar a atração.


Já o cancelamento de Guerra e Paz e Casos e Acasos pegou muita gente de surpresa. O próprio autor Carlos Lombardi, de Guerra e Paz, chegou a dizer que não sabia como iria conciliar este ano a série com uma nova novela, encomendada a ele pela Globo.


Apesar de a rede anunciar que é comum essa rotatividade de produções, é fato que se a audiência das séries em questão fosse muito boa, elas não sairíam do ar. Das três, apenas Faça Sua História chegou a passar a casa dos 20 pontos de média com certa frequência.


Na fila para preencher as vagas abertas estão a sitcom Aline, dirigida por Maurício Farias, e uma nova fornada de Decamerão, de Guel Arraes.’


 


 


 


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