Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grande mídia totalmente perdida

A grande crise mundial desnudou completamente as verdades econômicas neoliberais que os países ricos vendiam a preços caros para os países pobres e emergentes, utilizando como canal de propaganda ideológica a grande mídia, compradora dos argumentos da ideologia econômica neoliberalizante. Tais verdades, como a grande crise em marcha demonstra, não valem mais nada. Quebraram. Agora, se vê claramente que os ricos, ameaçados de se tornarem pobres, sequer seguem o que antes recomendavam a estes enquanto se situavam na condição poderosa daqueles. No momento, teriam que agir como os pobres, sob pressão dos ricos, agiram dos anos de 1980 em diante, quando estourou a crise monetária que levou os Estados Unidos a puxarem violentamente a taxa de juros de 5% para 17%, quebrando o mundo a fim de salvar o dólar, afetado pelos elevados déficits.

Como nem os Estados Unidos, nem a Europa, depois de setembro de 2008, podem mais lançar mão dos juros como política de estabilização monetária, visto que estão excessivamente endividados, correndo perigo de estouros hiperinflacionários, o que fazem? Cortam os gastos? Não! Ampliam a oferta de dinheiro. Querem zerar a dívida mediante juro negativo, a nova arma imperialista americana.

Enquanto isso, tentam, por meio do poder midiático teleguiado de Washington, continuar vendendo à periferia o velho peixe podre, de cortar gastos, até no talo, para que, naturalmente, sobre mais dinheiro para pagar os juros. O presidente Lula fugiu dessa armadilha, no auge da crise. Em vez de cortar, elevou os gastos. O que aconteceu? Aumentaram o investimento e a arrecadação, tocando a economia a taxas fortes, enquanto os ricos embicavam para baixo. Ficou evidenciado que sustentar superávit primário elevado é suicídio. Agora que, sem superávit alto, escorchante, o país cresce, o que vêm dizendo os países ricos, na tentativa de enganar, mais uma vez a periferia, por intermédio dos seus porta-vozes? Sim, chegou a hora, não mais do superávit primário, armação contábil elaborada nos anos de 1980 pelo FMI e credores, mas do superávit nominal. Zerar o déficit nominal e partir, posteriormente, para o superávit nominal, eis o nome do jogo.

Colunistas dominados pela perplexidade

Diferencia entre um e outro: superávit primário é receita menos despesas, exclusive pagamento dos juros; superávit nominal é tudo junto, receita mais despesas, inclusive pagamento do juro. Apenas tira-se a máscara contábil. Mas seria o caso de seguir a orientação, como tentam ainda determinar os credores internacionais, completamente, falidos?

O que eles não aceitam é o grito de independência que o governo Lula deu ao não aceitar o jogo que antes impunham. Se o titular do Planalto, que deixa o poder com apoio de mais de 80% da população, tivesse seguido as eternas recomendações neoliberais – que a grande mídia, neste momento, insiste em defender, como se ainda fosse solução e não desastre, como demonstra a realidade mundial –, a economia brasileira estaria ou não mergulhada em profunda crise cambial? E quem estaria faturando? Claro, a bancocracia, que sempre ativou as ondas especulativas, para, na hora H, promover fuga de dinheiro, ganhando os tubos nos juros.

Os editoriais do Estadão e do Globo, as vozes norte-americanas na mídia nacional, vocalizam solução que se transformou em desastre. Nem os Estados Unidos, nem a Europa seguem o que eles estão recomendando. Ao contrário, fazem o oposto. Obama, em vez de cortar despesas, especialmente, as de guerra, aumenta-as, ao mesmo tempo em que tenta, heterodoxamente, diminuir a dívida, não fazendo economias, mas expandindo a própria dívida. Para tanto, tenta, com o dólar que ele vai barateando via juro negativo, exportar para os outros os problemas que recusa revolver, na base da recomendação econômica clássica, ortodoxa, monetarista etc.

Há, neste instante, profunda crise ideológica, no plano econômico, porque as armações da ideologia econométrica, construída em laboratório, deixaram de ser úteis. No entanto, esse discurso, não mais praticado entre os ricos, busca manter sua vivacidade falida nos editoriais da grande mídia nacional. As e os colunistas econômicos estão literalmente dominados pela perplexidade, quanto mais se evidencia que as recomendações de Tio Sam, antes consideradas verdades absolutas, dogmáticas etc., são inconvenientes.

Editoriais destacam que gastos são déficit

Observa-se, justamente, o oposto. A economia brasileira, ao fugir do dogmatismo washingtoniano neoliberal, que recomendava cortes de gastos, contenção dos salários, aumento de impostos, parará caixa de fósforo etc., provou sua potencialidade forte ancorada no mercado interno. O que ocorreu? Melhor distribuição da renda, via sustentação da valorização média dos salários, mais o incremento dos programas sociais sustentaram consumo que se transformou em crescente arrecadação cuja tradução é poupança interna capaz de incrementar investimentos. Mesmo sem a CPMF, a arrecadação subiu, sem precisar aumentar a carga tributária. Por que? Porque o povo passou a comer mais, elevando, consequentemente, os ingressos tributários.

Talvez seja essa razão que leva os próprios grandes banqueiros a destacaram, agora, diante da onda de pregações de reformas, que não se faz necessário reformar muita coisa. Deixar como estar para ver como é que fica , talvez seja, para eles, o melhor, porque se mexer no que está dando certo, pode atrapalhar os ganhos deles. Afinal, com um Congresso de maioria governista que prega uma política de aprofundamento da divisão da renda nacional, para sustentar o desenvolvimentismo, pode sobrar para quem acumulou demais, que é o caso da bancocracia.

O que a grande mídia não quer discutir de jeito nenhum é o passo seguinte ao da libertação econômica sul-americana, como as ações que os asiáticos já começam a empreender, qual seja, a união dos asiáticos, para evitar os prejuízos decorrentes da jogada monetária imperialista dos Estados Unidos. Se todos forem na onda dos editoriais do Estadão e do Globo – e, também, da Veja –, cada país aprofundando cortes de gastos, para produzirem superávits nominais etc., desestruturando a economia, perdendo arrecadação etc., o resultado seria vantagem para o discurso externo que sempre ditou as políticas internas.

Como a grande mídia vocaliza o pensamento de fora para dentro e não o oposto, seguir seu conselho é produzir, na conjuntura, crime de lesa pátria. Por exemplo, um crime de lesa-pátria que tentam implementar: buscam os editoriais destacar que os gastos do governo, transferidos aos bancos oficiais, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica etc., para incrementar a produção, são déficits. Se o dinheiro é aplicado na produção que gera emprego, consumo e renda, como é que significa déficit, se o capital investido terá retorno seguro?

Teleguiados por orientações alienígenas

Não falam o que está no seu inconsciente. Querem supressão desse repasse de dinheiro público para os bancos públicos, que emprestam a juro baixo para que tal grana seja canalizada para os bancos privados particulares, que emprestam a juro alto. Se o governo empresta a juro baixo, claro, força o banco privado a emprestar, também, barato, pois, caso contrário, ficará com dinheiro em caixa. O que fará? Pedirá socorro ao governo, como aconteceu na época do lançamento do plano real, em que os juros subiram tanto em meio ao fim da inflação que tiveram, com dinheiro em caixa sem poder emprestar, de serem salvos pelo tesouro nacional. Terão que ser salvos, novamente, se o governo insiste em apoiar as agências oficiais de crédito, para forçar a bancocracia a emprestar mais barato?

A mídia, que está na caixinha dos grandes bancos, faz o discurso deles, acriticamente, enquanto considera o juro mais baixo praticado pelos bancos oficiais déficit, e não renda que se realiza no ato da produção. Mas, não era assim na Era FHC, em que o FMI obrigou a contabilidade oficial considerar déficit investimentos da Petrobras?

Os grandes veículos de comunicação no Brasil, que historicamente se subordinaram às ordens de Washington, não sabem o que fazer, quando essa voz não é mais aquela brastemp. Estão como cachorro que cai do caminhão de mudança e não sabe alcançar o caminho por si mesmo, já que foram, sempre, teleguiados pelas orientações alienígenas.

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Jornalista, Brasília, DF