Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Ian Mayes: ‘Ombudsman e observatórios podem caminhar juntos’

O jornalista britânico Ian Mayes é editor de leitores – ou ombudsman – do jornal londrino The Guardian. Preside a Organização Internacional de Ombudsman de Imprensa, criada em 1980, instituição que reunirá em São Paulo, entre 7 e 10 de maio, delegados de vários países para sua 26ª Conferência Anual. Mayes foi o primeiro ombudsman de imprensa da Inglaterra, e desde 1997 publica no Guardian a coluna ‘Corrections & Clarifications’ (correções e esclarecimentos), cujos textos já editou em livro (Only Correct, The Best of Corrections and Clarifications, Guardian Books, 2005).


Nesta entrevista feita em Londres, que o Observatório na TV apresentou em seu programa de aniversário (2/5) e cuja íntegra o OI aqui transcreve, Mayes afirma que a existência de poucos ombudsmans na imprensa é uma questão cultural – ‘Ninguém gosta de ser vigiado’ –; e defende que são compatíveis, apesar das diferentes funções, as várias formas de acompanhamento da mídia, como o ombudsman e os observatórios: ‘Essas iniciativas podem caminhar juntas’.


Sua entrevista:




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O ombudsman consegue evitar a influência de questões internas das empresas jornalísticas?


Ian Mayes – Essa é uma pergunta muito boa. Às vezes é bem difícil, depende muito da intenção da empresa. Se ela tiver intenções cosméticas não vai dar certo. Mas se tiver intenções sérias, de gerar um melhor serviço e desenvolver uma relação melhor com seu público, então o ombudsman terá um contrato. Meu contrato garante minha independência em relação ao editor: ele não pode me atingir, não diz o que devo escrever, não muda o que escrevo, então tenho um contrato muito bom. Há nove anos trabalho assim, em completa independência.independentemente.


O ombudsman é uma solução contra a arrogância das empresas jornalísticas?


I. M. – Sim, essa pergunta devemos nos fazer desde o início. Por que uma organização, um jornal em particular, que por definição existe para questionar os outros não seria ela própria questionada? Todos deveriam perguntar-se isso e pensar a respeito disso.


Em sua opinião, por que há ombudsman em tão poucos jornais no mundo?


I. M. – Essa pergunta é estreitamente relacionada à anterior. É uma questão cultural. Ninguém gosta de ser vigiado e questionado. A resistência cultural ao questionamento é muito forte. A idéia de que jornal não erra, como imaginam os profissionais da área, nunca é verdadeira.


As iniciativas como a Watchdog são mais eficientes do que o ombudsman?


I. M. – Pode ser, não sugiro que o ombudsman seja a única forma de acompanhamento. Cada situação é única. Eu nunca indiquei a alguém o caminho a seguir, digo que esse é um caminho a ser considerado. Há o Watchdog [Nieman Watchdog Project, da Nieman Foundation for Journalism, da Universidade Harvard], a Press Complaints Commission, a comissão britânica de queixas contra a imprensa, e há o ombudsman, na verdade em pequena quantidade nos jornais. Fui o primeiro ombudsman da Inglaterra, e isso foi apenas nove anos atrás. Não é o único caminho, na verdade todos são compatíveis – o Watchdog [cão de guarda da sociedade], a comissão de queixas, o ombudsman na própria empresa jornalística. O ombudsman transmite um sinal muito forte ao seu público de jornal, TV, rádio, de que quer uma relação aberta, direta – e esta é a diferença entre um ouvidor individual numa organização jornalística e as demais iniciativas. Essas diferentes iniciativas têm funções diferentes, mas podem caminhar juntas.

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Repórter da BBC em Londres